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Parcelamentos informais no Municipio do Rio de Janeiro, 2004
Fonte: IPP-SMH
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Antônio Augusto Veríssimo (2005)
Dissertação de mestrado apresentada ao IPPUR/UFRJ no ano de 2005, realizada sob a orientação do Profº. Doutor Pedro Abramo e sob a coorientação da Profª. Doutora Rosângela Lunardelli Cavallazzi.
O objetivo desta dissertação, sob o ponto de vista acadêmico, é “identificar e analisar criticamente os fatores condicionantes da produção de parcelamentos não-regulares do solo (loteamentos e vilas irregulares ou clandestinos) disseminados no território do município do Rio de Janeiro, especialmente entre os anos 1940 e 2000” [Abstract].
No entanto, esta dissertação também teve um objetivo de caráter
mais pessoal, que foi o de empreender a sistematização de conhecimentos e
experiências, bem como tentar dar respostas a indagações acumuladas em
mais de 20 anos de trabalho, voluntário e profissional, dedicados ao
tema da urbanização e regularização fundiária de loteamentos e vilas da
cidade. Esta atividade teve início bem antes do começo da minha
atividade profissional como arquiteto na Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, quando, ainda estudante universitário, militava no Conselho de
União de Bairro (CUB), organização do movimento popular que reunia no
início dos anos 1980 lideranças dos bairros populares da Zona Oeste do
município na luta por infraestrutura e saneamento.

A mudança de lado do “balcão”, do movimento popular para a Prefeitura na segunda metade dos anos 80, acabou por aprofundar meu envolvimento com o tema, conduzindo-me por mais de dez anos à coordenação do Núcleo de Regularização de Loteamentos (NRL). Este percurso me levou também para outras funções na administração pública vinculadas à questão habitacional (urbanização e regularização fundiária de favelas e a produção de habitação de interesse social). O presente trabalho trata apenas dos loteamentos, os demais temas deverão ser o objeto da tese de doutorado atualmente em curso.
Antônio Augusto Veríssimo.
Parcelamento do solo na cidade do Rio de Janeiro: um estudo sobre a produção informal da década de 1940 aos anos 1990
INTRODUÇÃO
I. O PROBLEMA
I.1. A questão do parcelamento não-regular do solo no Brasil
A Pesquisa de Informações Básicas Municipais, realizada pelo
IBGE em 2001, informa que, dos 5.560 municípios existentes no Brasil naquele
ano, 24,3% afirmaram conter no seu território áreas urbanas informais do tipo
“loteamentos clandestinos”, 22,4% favelas e 8,9% cortiços.
O município de São Paulo é o local onde parcelamentos
não-regulares1 ocorrem com maior intensidade, habitando neste tipo de assentamento
mais de dois milhões de paulistanos, o que equivale a aproximadamente 20% da
população. (BOLDARINE, 2003).
Em Porto Alegre, segundo levantamento recente realizado pela Secretaria de Planejamento Municipal,
foram identificadas 736 ‘áreas irregulares’, sendo 35,2% parcelamentos
não-regulares e 64,8% ‘ocupações espontâneas’. Na falta de informações quanto
ao número de habitantes que vivem nessas ‘áreas irregulares’ pode-se avaliar a relevância
do problema pelo empenho demonstrado pela Corregedoria Geral de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul, que, desde 1995, já editou três provimentos2, denominados
More Legal 1, 2 e 3, destinados a regulamentar e orientar os processos de
regularização de parcelamentos não-regulares existentes nos municípios
riograndenses. Tal fato demonstra a importância que o tema tem para as cidades daquele estado do
sul do Brasil.
Providência semelhante foi tomada por iniciativa da
Corregedoria Geral de Justiça do Estado de Santa Catarina que, em 1999, instituiu,
através do Provimento 37/99, o Projeto Lar Legal, com o objetivo de regularizar
parcelamentos do solo urbano executados ilegalmente nos municípios daquele
estado.
No município do Rio de Janeiro, onde já há mais de vinte
anos se desenvolve um programa de regularização de parcelamentos3, estima-se
que vivam nessas comunidades mais de 600 mil habitantes, o que corresponde a
aproximadamente 10% da população, praticamente a metade da população residente
em suas favelas.
Os dados anteriormente apresentados dão uma idéia da importância
do tema para as cidades brasileiras, não só para os grandes municípios
com mais de 500.000 hab, onde os parcelamentos não-regulares ocorrem em mais de
87%, bem como para as cidades médias e pequenas.
Um grande percentual de moradores vivendo em parcelamentos
não-regulares não é, no entanto, um fenômeno característico apenas das cidades
brasileiras, esta é a realidade de muitas cidades da América Latina, do Leste
Europeu, da África e da Ásia (PAYNE, 2001).
O parcelamento e venda ilegal de terras nas periferias tem sido
a forma mais freqüente de expansão das grandes e médias cidades dos países do
terceiro mundo. Neste processo, a ‘urbanização’ avança sobre áreas do entorno
das cidades anteriormente destinadas ao uso agrícola ou pastoril
ou ainda sobre áreas virgens não exploradas. Este processo se diferencia, de
certo modo, do de favelização, que tem como característica mais freqüente a
ocupação de áreas, geralmente intra-urbanas, consideradas impróprias para a
ocupação ou que não são de interesse do mercado imobiliário e fundiário (aí
incluídas as suas vertentes formal e informal).
(Continua)
Para a íntegra da dissertação, clique em
http://teses2.ufrj.br/42/teses/638938.pdf
2014-08-05