Manhatttan |
E a razão é simples: nossas leis urbanísticas e códigos de obras não permitem a abertura de janelas sujeitas - ainda que apenas teoricamente em uma infinidade de casos - a acabar bloqueadas por uma futura incorporação no lote vizinho.
Uma janela deve, obrigatoriamente, abrir para o espaço aéreo do lote em que está construída a edificação.
Ocorre que esta regra geral vigora também nos Estados Unidos! Uma rápida pesquisa na Internet me leva a pensar que a diferença reside na maneira como, nesse país, a norma tem sua aplicação balizada de um lado pela circunstância, de outro pelo mercado.
Manhattan |
Manhattan |
Outro aspecto da janela de empena norte-americana decorre do amplo desenvolvimento, no país, do mercado privado de espaço aéreo. Um incorporador que pretenda construir uma torre de 80 pavimentos colada a um antigo edifício de 10 ou 20 pode adquirir daquele condomínio, em perpetuidade, o direito ao espaço aéreo acima da sua cobertura, de maneira a tornar viável a produção de unidades dotadas de fachadas inteiras, envidraçadas inclusive, na empena lateral do lote.
Washington DC |
Do ponto de vista da experiência latino-americana, a primeira impressão é a substancial redução do número de “empenas cegas” virtualmente perenes, inconveniente estético e ambiental típico do processo de formação da cidade segundo o sistema de edificação lote a lote, amplificado nos grandes centros - que dirá nos grandes centros norte-americanos - pela superposição de ciclos de valorização imobiliária e seus respectivos gabaritos construtivos. As empenas cegas são, pode-se dizer, um traço distintivo da arquitetura das nossas grandes cidades.
O fato de o urbanismo contemporâneo ter encontrado na propaganda e na arte do grafitti - não necessariamente nessa ordem - usos públicos alternativos para as empenas cegas das edificações, com resultados ora detestáveis ora bem interessantes, não nega a dificuldade histórica da nossa disciplina de ajustar as mudanças abruptas dos paradigmas normativos, quase sempre ditadas por novos ciclos de valorização do solo, a uma reconstrução urbana satisfatória sob os ângulos estético, funcional e ambiental.
Janelas a título precário e mercado de espaço aéreo tampouco são respostas suficientes para a distopia que o cineasta e roteirista argentino Gustavo Taretto identifica como a segunda natureza da sua Buenos Aires: “Irregularidades estéticas - e éticas - de edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica, demonstrando total ausência de planejamento; exatamente como a nossa vida”.
Movido pela mesma perplexidade, eu escrevi esta postagem ruminando a ideia de que a poesia urbana quintessencialmente nova-iorquina de Medianeras talvez não pudesse ter sido concebida e realizada - que ironia! - em Nova York, a pátria dos arranha-céus e das lot line windows.
Janelas a título precário e mercado de espaço aéreo tampouco são respostas suficientes para a distopia que o cineasta e roteirista argentino Gustavo Taretto identifica como a segunda natureza da sua Buenos Aires: “Irregularidades estéticas - e éticas - de edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica, demonstrando total ausência de planejamento; exatamente como a nossa vida”.
Movido pela mesma perplexidade, eu escrevi esta postagem ruminando a ideia de que a poesia urbana quintessencialmente nova-iorquina de Medianeras talvez não pudesse ter sido concebida e realizada - que ironia! - em Nova York, a pátria dos arranha-céus e das lot line windows.
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* “Parede lateral da casa que se encontre na divisa do terreno” (Aulete online).
Leia mais sobre o tema pelos links
2017-07-11
* “Parede lateral da casa que se encontre na divisa do terreno” (Aulete online).
Leia mais sobre o tema pelos links
https://kanenlawfirm.wordpress.com/2013/10/17/what-are-lot-line-windows/
http://www.decodernyc.com/lot-line-windows-dob-2015-017/
http://www.decodernyc.com/lot-line-windows-dob-2015-017/
American Planning Association - Report 186 - Air Rigths
2017-07-11