Estamos numa pequena rua de Santa Rosa, ilhada por um tsunami de renovação imobiliária. A conservação do edifício não é das melhores, e sua valorização provavelmente fica abaixo das expectativas devido à incompatibilidade entre a área dos imóveis e a ausência de vagas de garagem.
Na onda de verticalização residencial das décadas de 1950 e 1960, os edifícios residenciais, inapelavelmente espremidos entre as duas empenas vizinhas, prestavam o inevitável tributo mercadológico ao modelo modernista tentando comunicar-se com o espaço público por meio de “pilotis” – expediente que consistia em soltar os pilares do pavimento térreo e preencher os espaços com vagas para automóveis, plantas em profusão e escadas de acesso à portaria principal.
Aqui temos algo bem mais interessante: o uso de uma estética sobriamente modernista na composição da fachada e tratamento da área de afastamento frontal, a serviço de uma implantação caracteristicamente pré-modernista.
Seus principais elementos são:
(1) A composição rigorosamente retilínea da fachada dos pavimentos-tipo, modulada, porém, por uma sutil alternância de planos – varandas “embutidas”, elementos estruturais ligeiramente salientes e claramente demarcados, painéis vazados das varandas e molduras das janelas levemente recuadas;
(3) O destacado recuo da fachada revestida em pedra do pavimento térreo, o pátio fronteiro e o muro recurvo vazado produzem o duplo efeito de dar ao apartamento ao rés-do-chão a intimidade própria de uma casa e à caixa de pavimentos-tipo o pleno aspecto de edificação multifamiliar.
Acentua-se, assim, a ambigüidade entre a estética modernista e a implantação pré-modernista deste singelo edifício de apartamentos.
2013-04-13