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Eu não a conheço, devo admitir. Dizem que é uma cidade. Acredito até que em algum lugar das redondezas deva existir uma cidade. Mas o que aparece ao mundo é um mostruário de centros de negócios e hotéis de luxo verticais dentro de um circuito de Fórmula 1. Os paddocks, ao centro, não me deixam mentir.
Doha é, provavelmente, o paradigma do Grande Projeto Urbano da finança globalizada. Aquilo que todo, ou quase todo, GUP de nossa época gostaria de ser.
O Catar, seguramente, é o país que todo financista gostaria de chamar de seu: um emirado absolutista hereditário comandado pela Casa de Thani desde meados do século 19, com status de protetorado britânico até a independência em 1971 e, desde então, um dos Estados mais ricos da região devido às receitas do petróleo e do gás natural.
A população estimada é de 1,9 milhão de habitantes, dos quais apenas 250 mil nativos cataris. Os demais são trabalhadores de origem estrangeira, especialmente indianos (24%), nepaleses (16%), árabes (13%), filipinos (11%) "bangladeshis" (5%), paquistaneses (4%), "srilankis" (2%) e outros (7%).
A proporção da população por sexo é: 75,6% masculina e 24,4% feminina - o que talvez explique a atraente - e bota atraente nisso! - arquitetura da futura "Arena Al Wakrah".
Arena Al Wakrah |
As posições mais importantes do Estado são ocupadas por membros ou grupos próximos da família al-Thani. Não há partidos políticos, legislativo nem imposto de renda. A terra, eu não sei a quem pertence. Mas - convenhamos - não há muitas opções.
A Copa do Mundo de 2022 vai ser realizada nesta colônia à beira do extraterreno onde, segundo notícias recentes, 1 trabalhador imigrante "empregado" na construção de seus estádios, infraestrutura e equipamentos morre diariamente devido às condições desumanas de trabalho.
Continuo a meditar nas razões pelas quais a África do Sul, o Brasil, a Rússia e o Catar foram escolhidos, sucessivamente, para sediar a Copa do Mundo da FIFA.
Continuo a meditar, também, nas razões pelas quais muitos arquitetos e urbanistas, mesmo passados os anos sombrios em que qualquer edifício que brotasse em nossas cidades parecia melhor do que o solo estorricado da recessão econômica, ainda sonham com essa Ilha da Fantasia.
2013-12-14
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Legendas das fotos [Sorin Furcoi/Al Jazeera] de um estudo publicado naquele jornal online em 11-11-2013:
http://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/2013/11/pictures-qatar-construction-workers-2013119134756837268.html
- Qatar's wealth has led the country to rapidly develop.
- Qatar is undertaking ambitious development projects as it gears up to host the FIFA World Cup in 2022.
- Qatar has the highest percentage of migrant workers in the world. Eighty-eight percent of people living in the Gulf state are citizens of other countries.
- The vast majority of Qatar's migrant workers come from South and East Asia.
- Migrant labourers' contracts often differ significantly from what they were promised when they were recruited in their home countries.
- Employers often confiscate their workers' passports, despite a 2009 law forbidding them to do so.
- Many labourers work 12-hour shifts, with one day off per week.
- Temperatures regularly reach above 40 degrees during the summer months, making manual labour an often gruelling process.
- Some workers are housed in cramped living quarters, with as many as a dozen men sharing a single room.
- A lack of safety equipment is a major issue for construction workers.
- Francois Crepeau, the UN Special Rapporteur on the Human Rights of Migrants, said Qatar's labour laws "still lack implementation on the ground".
- Crepeau called for the establishment of a minimum wage, a more robust labour inspection system, and the abolishment of the kafala system, which binds migrant workers to a single employer.