Você estranhou, leitor, os “aproximadamente” e “cerca de”?
Eu também. Em frente, porém.
Esclarece O Flu que “os [cerca de] 17 milhões serão pagos
ao proprietário do imóvel, a construtora Koppex, de Fernando Policarpo”, que
não aparece na foto. Que estaria fazendo na ocasião? Chorando? Gargalhando? Esfregando
as mãos?
Eu mesmo saudei a notícia da adoção do cinema pela UFF, ontem,
num breve comentário no Facebook, em que dizia, um tanto eufórico: “UFF para
prefeito de Niterói!”, mas dizia também que uma pulga se pusera atrás da minha
orelha sussurrando: “Perguhhhhnta quanto custohhhu, quem está pagahhhndo e quem
está recebehhhndo”.
Porque ria o prefeito? Porque ama a ciência e a
cultura? Por que ama Niterói? Ou porque 17 milhões de reais públicos saíram voando
por aí- o equivalente, quem sabe, à renda da terra que seria gerada por um edifício
residencial de 17 pavimentos... no terreno do Cinema Icaraí?
Atenção, leitores. O que importa para os “investidores” imobiliários
e seus intermediários não são os espigões, nem o retorno “normal” de capital, mas
o lucro extraordinário que eles geram em forma de renda da terra!
Há um detalhe, porém. Se a edificação estava tombada, na
melhor das hipóteses o seu aproveitamento econômico só poderia se dar em usos
como... cinema, teatro, casa de espetáculos etc, e mesmo assim, mediante vultosos gastos em reformas e instalações COMPATÍVEIS COM O TOMBAMENTO, que teriam de ser abatidos, junto
com depreciação, despesas correntes e retorno de capital, das receitas
estimadas no horizonte de projeto, para calcular o excedente de renda disponível para
a aquisição do imóvel. Este seria, grosso modo, o seu "valor de mercado".
O acordo firmado significa que, feitas todas as contas,
chegou-se à conclusão de que qualquer investidor que decidisse montar, no
antigo Cinema Icaraí, um negócio COMPATÍVEL COM O TOMBAMENTO DA EDIFICAÇÃO, auferiria, além do
retorno “normal” de capital, um lucro extraordinário em forma de renda da terra
equivalente ao de um edifício residencial de 17 pavimentos!!!
Pergunta-se: se espetáculos são tão bom negócio em Niterói, porque então
o Cinema Icaraí já não virou, há décadas, uma... Estação de Cinema? Um Moulin
Rouge Icaraí? Teria sido perfeito: bem ao lado do Petit Paris! (Quem se lembra?)
Como não sou especialista em avaliações, sou obrigado a dizer: o Cinema Icaraí NÃO PARECE valer 17 milhões ! A viúva PODE TER SIDO assaltada!
Ou será que ela decidiu, generosa que é, compensar o proprietário
do cinema pelo abuso “desses insensíveis que vivem prejudicando os proprietários
para proteger o patrimônio cultural?”
Com a palavra, os leitores. De minha parte, eu gostaria de
ver entrar em cena o Ministério Público e seus avaliadores profissionais e
recomendaria, como Deep Throat a Bob Woodward em Todos os Homens do Presidente: “Follow
the money”.
2011-12-07