segunda-feira, 28 de maio de 2012

Outorgolândia ou Onerópolis II: entre receitas e custos do adensamento urbano

Alguns leitores enviaram-me e-mails pedindo a minha solução para o “caso” Outorgolândia X Onerópolis. Pois aí vai.

Começando pelo fim, a minha resposta é uma pergunta: a campeã da Outorga Onerosa do Direito de Construir é a cidade que arrecada mais dinheiro ou a que recupera uma proporção maior da renda fundiária?

Não é preciso ser nenhum Sherlock para perceber que o mote dessa discussão é a Outorga Onerosa tal como se aplica em Niterói, cidade da RM do Rio de Janeiro onde nasci e voltei recentemente a residir (ver postagem "Em Niterói, o que o IPTU faz a OODC desfaz"). [1]

Para mim, a campeã é Onerópolis, que recupera quase 30% da renda gerada na incorporação de um terreno de 1000m2 contra 20% de Outorgolândia para um terreno de igual tamanho e uso.

E por que a proporção da renda fundiária gerada é mais importante do que a quantidade de dinheiro arrecadado? Porque, como apontou com argúcia a arquiteta-leitora Ti, estamos falando do valor da contrapartida privada pelo aumento da densidade construtiva na cidade.

Ti se propôs a calculá-lo supondo o Coeficiente Básico 1 para ambas as cidades. Concluiu que, para cada 100% de aumento de densidade, Onerópolis cobra R$ 373.333,00 por 1000m2 de terreno e Outorgolândia cerca de metade desse valor, isto é, R$ 187.500,00.

Levando mais a fundo a linha de raciocínio de Ti, talvez fosse mais exato dizer que se trata da relação entre o adensamento construtivo urbano e o valor da contrapartida necessária para financiar o aumento de oferta de serviços básicos.

Visto sob este ângulo, o montante absoluto de arrecadação com Outorga Onerosa do Direto de Construir pode ser enganoso: tanto por ocultar um nível relativamente baixo de recuperação da renda fundiária (caso de Outorgolândia) quanto – o que é mais importante – por resultar de um adensamento que gera custos maiores do que o acréscimo de receita da OODC e até da receita fiscal total (provavelmente o caso de Niterói).

No plano teórico, podemos considerar o problema à luz do comportamento provável das curvas de custos e receitas públicas em face do aumento da densidade urbana. Supomos ambas as curvas crescentes, mas com convexidade invertida. A curva de receita subiria a taxas decrescentes porque, mesmo em potentes surtos construtivos, o escasseamento do solo numa região urbana traz consigo a desaceleração do crescimento do estoque de benfeitorias. Além de certo limiar de adensamento, os aumentos exponenciais de custos - em infraestruturas e sistemas de serviços, especialmente transportes - já não podem ser cobertos pelo aumento das receitas correntes, quer oriundas do solo, como o IPTU e a Outorga Onerosa do Direito de Construir , quer de outras fontes potencialmente beneficiárias do adensamento, como o ICMS e o ISS. Passamos do campo das economias para o das deseconomias de urbanização.

Isto quer dizer que as infraestruturas e serviços demandados pelo adensamento só são “autofinanciáveis” em determinado intervalo – acima e abaixo de “limites críticos” mínimos e máximos de adensamento, como sugerido na Fig. 1.

Fig 1
O fato de a determinação do Coeficiente de Aproveitamento médio dos terrenos acima do qual o adensamento já não é autofinanciável – assim convertendo a Outorga Onerosa do Direito de Construir em um “tiro no pé da própria cidade” – ser uma questão metodologicamente controversa e, em qualquer caso, específica de cada cidade e respectiva etapa de crescimento, não significa que esse coeficiente não exista. Podemos sugerir como guia para a sua determinação a questão: qual a relação entre o aumento da receita do adensamento em dado período e o investimento necessário para atender aos novos requerimentos de infraestrutura e serviços – por exemplo, a renovação da rede de abastecimento d’água, a ampliação da capacidade de fornecimento de energia e um novo sistema de transporte público de alta capacidade?

Observe-se, por outro lado, que todas essas considerações repousam exclusivamente sobre o conceito de “autofinanciamento” do adensamento, sem levar em conta o uso dos recursos da sobrevalorização do solo em ações de urbanização e habitação social em áreas relativamente desvalorizadas da cidade. Vale dizer que, se estipularmos uma “cota social” (redistributiva) de aplicação obrigatória das receitas do adensamento, reduzir-se-á, em igual valor, a capacidade de autofinanciamento das infraestruturas e serviços das regiões adensadas.

Fig 2
A Fig. 2 sugere que quanto mais próximo do CA crítico estiver o CA médio de serviço, menos recursos poderão ser destinados - se respeitado o princípio da autossustentabilidade do adensamento - à urbanização social. Podemos, também, postular como CA ótimo provável do ponto de vista da distribuição dos ganhos econômicos do adensamento aquele que maximiza o potencial de transferência de renda do solo para os Fundos Municipais de Desenvolvimento Urbano.

Uma cidade que recupere mais renda por unidade de adensamento terá, por conseguinte, não apenas menor gasto relativo com o autofinanciamento de suas infraestruturas como, também, maior capacidade de aplicação de recuperação da renda fundiária em programas de urbanização social.

Fig 3
A Fig. 3 sugere a posição relativa de Onerópolis, Outorgolândia e, supostamente, Niterói no gráfico que relaciona a densidade construtiva (medida pelo CA médio) aos custos e receitas do adensamento.

A conclusão é: tratar a questão da destinação dos recursos da Outorga Onerosa em termos exclusivamente distributivos pode ser um equívoco metodológico relevante, por ocultar, em regiões urbanas de alta densidade construtiva, a formação de crises urbanístico-ambientais a médio prazo (já que a longo, como lembrou Keynes, estaremos todos mortos) sob a cobertura conveniente - e eleitoralmente eficaz - de uma política robinhoodiana de recuperação da valorização do solo.

Lançando mão de uma "analogia edilícia", eu diria que a Outorga Onerosa do direito de Construir está para o adensamento urbano como uma viga para o conjunto do edifício: ela tem um peso próprio cuja sustentação há de estar assegurada antes de se começar a pensar em fazê-la suportar o restante da estrutura. Do contrário... a casa cai.

Nos próximos capítulos da série "Duas ou Três Coisas Que Sei Dela (a OODC)", darei minha visão sobre a estimativa da valorização fundiária na construção em altura e sobre o papel dos coeficientes máximo e básico na determinação do valor da contrapartida (preço da OODC). A conferir.
 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Se a memória não me falha e se a vista não me pisca, era tudo pra ser feito com dinheiro do Batista!

Deu no Destak SP 04-05-2012
Custo inicial com estádios triplica e vai a R$ 6,9 bilhões
Se bem me lembro, primeiro vieram as indefectíveis declarações dos interessados diretos de que seria tudo feito com dinheiro privado, ante o silêncio conivente das autoridades federais, estaduais e municipais, todas perfeitamente conscientes de que tal promessa não passava de uma conveniente mentira - como no Pan2007.

Todavia, um aspecto incontornável da política de gastos públicos (se não é política é o que?) com a Copa do Mundo e as Olimpíadas é deixarem-se de lado, ou postergarem-se, projetos alternativos. A propósito, vale refletir sobre  a notícia, publicada n'O Globo há algum tempo, de que o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro está quatro anos atrasado e terá o dobro do preço - de 536 milhões para mais de 1 bilhão! [*]

O trade off governamental entre  infraestruturas críticas e estádios de retorno duvidoso é um  interessante tema para um futuro desdobramento do artigo “Copa e Olimpíada: política anti-crise, de desenvolvimento ou de prestígio?”
postado em Uma estranha e gigantesca ave sobre Barcelona em 09-10-2011. 

O leitor pode acessá-lo pelo link

2012-05-25


terça-feira, 22 de maio de 2012

Postagem recomendada: "A Falácia do Mergulhão"

Recomendo a postagem “A Falácia do Mergulhão”, em Desabafos Niterioenses, como exemplar de como funcionam os projetos e obras públicas urbanas na era do triunfo do “planejamento estratégico”, isto é, os governos das empreiteiras, imobiliárias e concessionárias – quando o próprio “planejamento estratégico” tornou-se, por motivos óbvios, irrelevante. 

(Voltarei ao tema. O chamado Planejamento Estratégico da década de 1990 era mais propriamente uma transição da "cidade regulada" para a "cidade oligopolizada"). 

A propósito, a imprensa fluminense tem noticiado o descontentamento dos moradores de Pedra de Guaratiba com o "Transoeste", não porque são contra o novo meio de transporte, como bem explicou um cidadão entrevistado pela rádio Band News, mas porque o sistema implantado lhes estaria impondo um aumento de 8km no trajeto entre o bairro e a região de Santa Cruz. O projeto, "ninguém sabe, ninguém viu". Ele existe, decerto, mas eu aposto que dificilmente poderá ser encontrado, mesmo para consulta, em qualquer órgão do governo municipal. 

Outra importante característica das intervenções urbanas de nossa época é a utilização - no mínimo qualificável de propaganda enganosa - de "marcas" de prestígio nacional e internacional como "Jogos Olímpicos", "Copa do Mundo", "Guggenheim", "Oscar Niemeyer", "Jaime Lerner" etc. como uma espécie de "licença para matar": alguns governos usam-nas para eximir-se da obrigação de prestar contas ao público e para justificar, a priori, quaisquer políticas e intervenções que lhes convenham, à custa dos planos vigentes e até da malversação dos projetos originais.

Acesse a matéria de "Desabafos Niteroienses" pelo link
http://www.desabafosniteroienses.com.br/2012/05/falacia-do-mergulhao.html




2012-05-22


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Grandes Projetos Urbanos: Canary Wharf

Deu no The guardian
15-05-2012, por Owen Hatherley
The myth that Canary Wharf did east London any good
There are few places so utterly implicated in our discontents as this symbol of the ludicrousness of 'trickle-down' economics
Foto Oli Scarff / Getty Images / The Guardian
Canary Wharf, the "second City", an "evil twin" to London's financial district, has overtaken his ancient rival, according to the Financial Times. It wouldn't be altogether surprising if some saw this as a cause for celebration. Canary Wharf, and the 1980s Docklands development of which it was the most successful part, was an enterprise zone, an idea that the current government is trying to revive. As an enterprise zone it was deliberately unplanned, low-tax, and in theory low on "big government", except for the not-so-small matter of massive public investment projects such as the Docklands Light Railway or the cleaning, dredging and decontaminating of the old industrial sites. Regardless, if it has "worked", then surely the coalition's new zones can point to it as some kind of model. One form of industry, the dock labour of the Port of London, was replaced with another, financial services. Around 80,000 jobs in the former, 150,000 in the latter. What could possibly be wrong with this?
Everything. Canary Wharf has been for the last 20 years the most spectacular expression of London's transformation into a city with levels of inequality that previous generations liked to think they'd fought a war to eliminate. Very, very few of the new jobs went to those who had lost their jobs when the Port of London followed the containers to Tilbury; those that did were the most menial – cleaners, baristas, prostitutes. The new housing that emerged, first as a low-rise trickle in the 80s and 90s followed by a high-rise flood in the 00s, was without exception speculatively built. Inflated prices, dictated by the means of a captive market of bankers, soon forced up rents and mortgages in the surrounding areas, a major cause of London's current acute housing crisis. (Continua)

Acesse a matéria completa pelo link


 2012-05-17


quarta-feira, 16 de maio de 2012

"Pegadinha" urbanística com sabor histórico


A calçada da Avenida  Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, é solo público (com espaço aéreo privado edificável) ou solo privado (com servidão pública de passagem)?





sábado, 12 de maio de 2012

Eu sou você amanhã?

Deu no blog da Raquel Rolnik 
10-05-2012, por Raquel Rolnik

Eu sou você amanhã: a experiência chilena e o ‘Minha Casa, Minha Vida’
(..) “Implementado sistematicamente durante mais de três décadas, inclusive durante os governos da Concertación (coalizão de centro-esquerda), o modelo de política habitacional adotado pelo Chile é quase igual à fórmula do programa “Minha Casa, Minha Vida”: subsídios públicos individuais permitem às famílias de menor renda comprar no mercado produtos ofertados por construtoras privadas. O modelo se completa com disponibilidade de crédito: quanto menor é a renda, maior é o subsídio e menor é a parcela de crédito que entra para viabilizar a compra. (..)
As centenas de milhares de casas e apartamentos da supostamente exitosa política habitacional chilena produziram um território marcado por uma segregação profunda, onde o “lugar dos pobres” é uma periferia homogênea, de péssima qualidade urbanística e, muitas vezes, também, de péssima qualidade de construção, marcada ainda por sérios problemas sociais, como tráfico de drogas, violência doméstica, entre outros. (..)
Trata-se de um comentário breve e, creio eu, inconclusivo, mas absolutamente oportuno. Colocado em forma de indagação: "Eu sou você amanhã?", o tema merece um exame atento por parte dos estudiosos e executivos da habitação social no Brasil - com base na experiência prática, que a essa altura não há de faltar.

Uma importante contribuição é o artigo “Habitação, Emprego e Mobilidade: subsídios para o debate sobre a localização da HIS na cidade do Rio de Janeiro”, de Antônio Augusto Veríssimo, à disposição neste blog no link 

http://abeiradourbanismo.blogspot.com.br/2012/02/habitacao-emprego-e-mobilidade.html.  

O  blogueiro promete aos leitores olhos e ouvidos atentos para novos aportes disponíveis na rede e fora dela. Dicas serão bem-vindas.

2012-05-12


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Contribuição de Melhoria no Paraná


Nosso companheiro de estudos de recuperação da renda fundiária Alexandre Pedrozo, arquiteto e urbanista da Ambiens – Sociedade Cooperativa (http://www.coopere.net), Paraná, colocou à disposição de nossos leitores as lâminas da apresentação

SIMPOSIO TÉCNICAS Y MODELOS SOBRE CONTRIBUCIÓN DE VALORIZACIÓN: EXPERIENCIA NACIONAL E INTERNACIONAL - CONTRIBUCIÓN DE MEJORAS EN EL ESTADO DE PARANÁ, BRASIL (Gislene Pereira, Bogotá, abril de 2012), 

produzida no marco da investigação “Contribuição de Melhoria no Paraná", financiada pelo Lincoln Institute of Land Policy.

Vale conferir e estudar. A Contribuição de Melhoria é um importante instrumento fiscal, redistributivo e relativamente fácil de aplicar em grandes, médias e pequenas cidades.  

A apresentação pode ser acessada pelo link

Ver notícia sobre a ‘1ª Oficina de Contribuição de Melhoria no Paraná' em
http://www.coopere.net/noticias.php?c=45&id=45



terça-feira, 8 de maio de 2012

Vou mudar de professor

Deu no Lancenet 
05-05-2012
Fim do Autódromo do Rio de Janeiro está mais próximo
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, eliminou o último entrave jurídico para o fechamento e derrubada do Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Jacarepaguá, ao assinar um decreto que permite o uso da área para fins comerciais. Até ontem, o terreno de um milhão e duzentos mil metros quadrados só poderia ser utilizado para abrigar um circuito. 
No decreto n 35.551, publicado ontem no Diário Oficial, a prefeitura do Rio promove, juridicamente, a desafetação do autódromo. Isso significa que, a partir desse momento, o terreno do Nelson Piquet pode ser usado para, por exemplo, empreendimentos imobiliários.  (...)

Peço vênia aos meus amados gurus para mudar de professor. Gestão da valorização da terra urbana é, indiscutivelmente, com o Paes! A mesma terra que valia dezenas de milhões pelo uso “autódromo”, agora valerá centenas, talvez milhares, de milhões pelo uso “apartamentódromo”. Adivinhem quem vai embolsar a parte do leão? 

Eu tiro o meu blog da rede e vou criar galinha em Lumiar se a valorização do solo do autódromo for 100% recuperada pela Prefeitura  do Rio de Janeiro para, dentre outras coisas, pagar moradia bem urbanizada e localizada para os desalojados das obras olímpicas.

Em tempo: a desafetação de bem de uso especial do povo  (ou será apenas "bem de uso especial"?) não pode, que eu saiba, ser feita por decreto. Os vereadores têm de aprovar! Se liga, MP!

$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ Delícia.. Ai se eu te pego!


PS político-urbanístico:
Assim funciona o presidencialismo em geral e o carioca em particular: enquanto o legislativo encena o espetáculo da democracia, o executivo decide napoleonicamente 99% de tudo o que lhe interessa. Não admira que o Plano Diretor da cidade passe, autisticamente, a anos-luz de distância da "revolução olímpica": o prefeito da cidade não se sente minimamente obrigado a consultá-lo para gastar bilhões em obras públicas que convêm ao negócio olímpico tampouco é constrangido a propor, na forma de emendas ao PD, ou mesmo de um novo PD, o plano de cidade que sua "revolução" supõe, ou implica. Tornarei ao assunto.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Outorgolândia ou Onerópolis?

Onerópolis e Outorgolândia são duas cidades brasileiras na faixa dos 450 mil habitantes, com infraestruturas de serviços urbanos de capacidade equivalente e onde a indústria da incorporação imobiliária opera com preços médios de venda por m2 privativo de R$ 3.000,00. A legislação urbanística é bastante distinta: o máximo coeficiente de aproveitamento de terreno para novos condomínios residenciais é 2,5 em Onerópolis e 5 em Outorgolândia.

Em Onerópolis, terrenos de 1.000m2 incorporados a empreendimentos residenciais alcançam valor residual de R$ 1.875.000,00 e pagam à municipalidade, por Outorga Onerosa do Direito de Construir, R$  560.000,00.

Em Outorgolândia, terrenos de 1.000m2 incorporados a empreendimentos residenciais alcançam valor residual de R$ 3.750.000,00 e pagam à municipalidade, por Outorga Onerosa do Direito de Construir, R$ 750.000,00.

Pergunta-se: quem é a campeã da OODC? 

2012-05-04

terça-feira, 1 de maio de 2012

Em Niterói, o que o IPTU faz a OODC desfaz


Por surpreendente que pareça ao "leitor especializado", não posso estender a defesa do IPTU de Niterói à Outorga Onerosa do Direito de Construir tal como se aplica na cidade. Eu a considero um tiro no pé. Como tenho dito em outras postagens, a arrecadação aparentemente substancial de Niterói com a OODC tem sido obtida à custa de densidades de edificação que beiram a insanidade.

Em uma próxima postagem tentarei dar ao leitor uma ideia do significado urbanístico e ambiental de se  construir com coeficientes de aproveitamento de terreno 5, 6 e até 7! (no Rio, o máximo coeficiente fora das "áreas especiais" é 4) - sem falar do fato elementar de que, se a legislação não cria um mínimo de escassez, é impossível usar a Outorga Onerosa em permutas de edificabilidade por solo, técnica indispensável em projetos de  reestruturação do tecido urbano em geral e do sistema viário em particular.  

Deve ser por isso que a legislação urbanística de Niterói não tem a figura do Coeficiente de Aproveitamento – para não chamar a atenção. Ele resulta da aplicação, pelo incorporador, dos demais parâmetros urbanísticos e edilícios fixados pela norma para uma dada localização - gabarito, afastamentos, taxa de ocupação do terreno etc. O CA só aparece ao niteroiense depois que o mamute já está erguido, colossal, a centímetros do meio-fio, com dezenas de pavimentos assomando sobre a calçada, sem um m2 sequer de terreno natural desocupado para absorver a água da chuva e vomitando centenas de veículos por hora num sistema viário que já nasceu exíguo e hoje dá evidentes sinais de enfartamento.

De que vale a Outorga Onerosa do Direito de Construir se para cada 1 milhão arrecadado para aplicação em programas "sociais" ela mesma cria custos de, digamos, 10 milhões em novos problemas a resolver?

Em Niterói, o que o IPTU faz a Outorga Onerosa desfaz.

2012-05-01