sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Desmercantilização planetária

Deu no Valorinveste Imóveis
27-07-2021, por Yasmin Tavares

Preço do aluguel de imóveis comerciais avança no primeiro semestre de 2021

Complexo da Maré - Nova Holanda
Rio de Janeiro
Foto: Rodrigo Maré Souza
“Preço do aluguel avança”, “desempenho negativo do preço de venda”. A linguagem dos cadernos de negócios dá pouca margem à dúvida: no ramo imobiliário, o sucesso econômico não se traduz em baixa dos preços resultante da concorrência, mas em seu contínuo aumento relativo. 

Arrisco uma generalização: na economia do século XXI, os ramos de negócio baseados em direitos de monopólio - patentes, marcas, royalties e terra-localização - são, para a valorização das carteiras de investimento privado, cada vez mais vitais por oposição aos ramos industriais em geral, onde, por força da concorrência, impõe-se o aumento exponencial e continuado da força produtiva do trabalho (maquinário e tecnologia) - portanto também do trabalhadorado redundante, do desemprego, da precariedade e do subconsumo - e o correspondente declínio das taxas de lucro.

O setor imobiliário teria, pois, para o capital, o papel estratégico de compensar a tendência estagnante das taxas de lucro na indústria com o aporte dia a dia mais significativo das rendas urbanas de solo-localização, cujas espirais de valorização são hoje claramente impelidas pela própria concentração incessante da riqueza. 

Depreende-se daí que essas tendências antagônicas da economia concorrencial tornam a humanidade inapelavelmente prisioneira das megalópoles, apesar do tamanho e gravidade de deseconomias como o preço exorbitante da moradia, o custo crescente dos transportes, a degradação continuada do meio ambiente, a expansão irrefreável das periferias sub-urbanizadas, favelas e informalidade em geral, a obsolescência e deterioração precoce de grandes estoques de edificações e infraestrutruras etc. 

A bandeira da “desmercantilização da moradia", que tem o meu apreço, supõe, por essa razão, uma profunda transformação dos fundamentos econômicos da sociedade, que se poderia resumir no conceito, tão caro aos urbanistas, de função social da propriedade – não apenas imobiliária, bem entendido, e em nenhuma hipótese restrita ao âmbito nacional, mas de todas as grandes cadeias de financiamento, produção e distribuição de bens em serviços em escala planetária. 

Uma economia global sustentável e, por isso mesmo, amplamente planejada, é o que se faz urgente. O futuro das cidades tais como as conhecemos é, sob este ponto de vista, uma questão totalmente em aberto.

2021-08-06