quinta-feira, 11 de agosto de 2022

O traçado de Belo Horizonte: uma nota

Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte MG. Em primeiro plano, a Rodoviária da capital.
Foto Gustavo Simões/Aboutripics 


Considerando que as direções principais de um plano de urbanização são dadas pela orientação geral das quadras, temos que em Belo Horizonte quase todas as grandes avenidas são diagonais, a começar pela principal, a Afonso Pena, que aqui temos em perspectiva.

A disposição das esquinas principais em ângulo agudo, se por um lado impõe uma interessante variedade arquitetônica aliás muito apropriada ao estilo decô, por outro torna muito mais complexa a engenharia dos cruzamentos e complicado o mais elementar dos movimentos urbanos - atravessar a rua. Eu, que pouco frequento o "Contorno" de BH, invariavelmente me confundo e me perco nessa singular superposição de tabuleiros.

Faz todo sentido associar o plano de Belo Horizonte, Brasil (Aarão Reis 1897) ao de La Plata
, Argentina (Pierre Benoit 1882), até porque são produtos da mesma época, de um mesmo tipo de demanda - a criação de uma capital provincial - e da mesma cultura urbanística. 

Contudo, embora não conheça a cidade arrisco dizer que o grid de La Plata é mais claro para o transeunte porque mais monumental, isto é, inequivocamente comandado pelo duplo eixo SW-NE para cujo ponto médio, que é também o centro do tabuleiro, convergem as duas grandes diagonais; as demais, nitidamente secundárias, convergem por sua vez para outros tantos pontos de destaque do eixo principal, definindo, ou pretendendo definir, a centralidade urbana. Princípio parecido foi adotado por Torres Gonçalves em Erechim, na primeira década do século XX.

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Embora primos-irmãos da família de planos urbanísticos que alguns - como o português Nuno Portas - chamam “dos traçados” e outros tantos de “positivistas”, vistos com atenção os planos de Belo Horizonte e La Plata apresentam uma importante distinção. 

Ao passo que o de La Plata tem um substrato cientificista a serviço de um ideal barroco, comandado, como um grande jardim francês, por um eixo monumental que é também de simetria, e arrematado por uma perimetral que define o recinto, o de Belo Horizonte segue um princípio modular precocemente modernista em que, a despeito da monumentalidade da  diagonal principal (Av. Afonso Pena) com direção determinada pela perspectiva da Serra do Curral, a acessibilidade urbana é homogeneamente distribuída em todo recinto, os focos de centralidade multiplicados pelos cruzamentos da malha diagonal e a Avenida do Contorno um limite irregular e circunstancial da urbanização que não integra a arquitetura do traçado.

2022-08-09