CAMPOS Eudes, “São Paulo antigo: plantas da cidade”. Informativo Arquivo Histórico Municipal, 4 (20): set/out.2008
A planta de 1897 (..) registra a verdadeira explosão urbana ocorrida na cidade durante a última década do século XIX, quando a população saltou de 65.000, em 1890, para 240.000 habitantes em 1900.
Como vimos anteriormente, desde o final dos anos 1850 se vinha desenvolvendo em São Paulo uma forte tendência especulativa, em razão da iminente construção da primeira ferrovia paulista (Santos-Jundiaí). Mais tarde, tornaram-se comuns os loteamentos particulares, sobretudo em consequência da crise inflacionária de 1875. E por essa mesma época, fizeram-se igualmente frequentes as manobras executadas pelas elites para atrair o desenvolvimento urbano para suas terras. (..)
Em virtude de todo esse processo especulativo, foi-se configurando em São Paulo uma nova estrutura urbana. A área central, chamada Triângulo, agora quase totalmente dominada pelo comércio e serviços, adensava-se e era tomada por nova tipologia arquitetônica: construções de três pavimentos que começavam a se alastrar pelo Centro a partir dos últimos anos 1880 – sedes de instituições bancárias e prédios com lojas no térreo e apartamentos residenciais ou salas de escritórios nos andares superiores. Concomitantemente, iam os loteamentos particulares tomando o lugar das antigas chácaras. Com suas ruas ortogonalmente dispostas, esses empreendimentos imobiliários, desde então, passaram a ser a forma característica de criação do espaço urbano paulistano.
Os terrenos mais procurados para a expansão da Capital eram os de melhor localização, encontráveis ao longo dos antigos caminhos que percorriam as terras altas, preferentemente os situados ao norte e a oeste, atuais bairros da Luz, Santa Ifigênia, Campos Elísios e, pouco mais tarde, nos anos 1890, Vila Buarque e Higienópolis (em geral bairros residenciais ocupados pelas camadas mais altas da sociedade). Os mais desfavoráveis eram os situados em regiões ribeirinhas, inundáveis durante o período das chuvas, em parte adquiridos pelas companhias ferroviárias que por aí estenderam suas linhas. A presença de linhas férreas nessas regiões desocupadas atrairia as primeiras indústrias e, consequentemente, as moradias da massa trabalhadora, sempre em constante aumento. Isso ocorreu no Brás, no Pari, na Mooca (cujas datas pantanosas já estavam sendo distribuídas a imigrantes em 1876) e no Bom Retiro, que segundo Raffard vinha sendo ocupado por operários desde 1890. Aos poucos, São Paulo adquire uma conformação tentacular, com grandes vazios em seu interior (compostos de glebas reservadas para a especulação e vales profundos de difícil acesso e ocupação), praticamente inexistindo ligações viárias entre suas diferentes partes.
Com a crescente atuação da iniciativa privada, deixa o Estado de ser o agente da produção do espaço da cidade, como ainda acontecia em meados do século XIX. Passa agora a atuar apenas normativamente, ou quando se torna necessário estabelecer a interligação entre os vários loteamentos esparsos, na busca de conferir alguma coesão à colcha de retalhos a que se reduz daí por diante a estrutura urbana paulistana.
Um relatório encaminhado em 1891 ao governo estadual descrevia muito bem a situação vivida por uma cidade submetida a um processo de intensa e descontrolada expansão. Embora fundada havia três séculos, São Paulo podia ser considerada uma cidade nova. (..)
Como vimos anteriormente, desde o final dos anos 1850 se vinha desenvolvendo em São Paulo uma forte tendência especulativa, em razão da iminente construção da primeira ferrovia paulista (Santos-Jundiaí). Mais tarde, tornaram-se comuns os loteamentos particulares, sobretudo em consequência da crise inflacionária de 1875. E por essa mesma época, fizeram-se igualmente frequentes as manobras executadas pelas elites para atrair o desenvolvimento urbano para suas terras. (..)
Em virtude de todo esse processo especulativo, foi-se configurando em São Paulo uma nova estrutura urbana. A área central, chamada Triângulo, agora quase totalmente dominada pelo comércio e serviços, adensava-se e era tomada por nova tipologia arquitetônica: construções de três pavimentos que começavam a se alastrar pelo Centro a partir dos últimos anos 1880 – sedes de instituições bancárias e prédios com lojas no térreo e apartamentos residenciais ou salas de escritórios nos andares superiores. Concomitantemente, iam os loteamentos particulares tomando o lugar das antigas chácaras. Com suas ruas ortogonalmente dispostas, esses empreendimentos imobiliários, desde então, passaram a ser a forma característica de criação do espaço urbano paulistano.
Os terrenos mais procurados para a expansão da Capital eram os de melhor localização, encontráveis ao longo dos antigos caminhos que percorriam as terras altas, preferentemente os situados ao norte e a oeste, atuais bairros da Luz, Santa Ifigênia, Campos Elísios e, pouco mais tarde, nos anos 1890, Vila Buarque e Higienópolis (em geral bairros residenciais ocupados pelas camadas mais altas da sociedade). Os mais desfavoráveis eram os situados em regiões ribeirinhas, inundáveis durante o período das chuvas, em parte adquiridos pelas companhias ferroviárias que por aí estenderam suas linhas. A presença de linhas férreas nessas regiões desocupadas atrairia as primeiras indústrias e, consequentemente, as moradias da massa trabalhadora, sempre em constante aumento. Isso ocorreu no Brás, no Pari, na Mooca (cujas datas pantanosas já estavam sendo distribuídas a imigrantes em 1876) e no Bom Retiro, que segundo Raffard vinha sendo ocupado por operários desde 1890. Aos poucos, São Paulo adquire uma conformação tentacular, com grandes vazios em seu interior (compostos de glebas reservadas para a especulação e vales profundos de difícil acesso e ocupação), praticamente inexistindo ligações viárias entre suas diferentes partes.
Com a crescente atuação da iniciativa privada, deixa o Estado de ser o agente da produção do espaço da cidade, como ainda acontecia em meados do século XIX. Passa agora a atuar apenas normativamente, ou quando se torna necessário estabelecer a interligação entre os vários loteamentos esparsos, na busca de conferir alguma coesão à colcha de retalhos a que se reduz daí por diante a estrutura urbana paulistana.
Um relatório encaminhado em 1891 ao governo estadual descrevia muito bem a situação vivida por uma cidade submetida a um processo de intensa e descontrolada expansão. Embora fundada havia três séculos, São Paulo podia ser considerada uma cidade nova. (..)