quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Smartland

Deu n’A Tarde
20-02-2021, por Fábio Bittencourt

Conceito 'smart' propõe imóvel compacto por preço mais acessível

Montagem: Avebarna
“(..) Segundo os especialistas, o nome "smart", originalmente, referia-se a um conceito de moradia mais "inteligente" e "conectada", com comandos por redes wi-fi e bluetooth, mas que, por aqui, serviu para designar também os chamados imóveis compactos. Microapartamentos com 20, 30, 40 metros quadrados, mas com infraestrutura completa.

No Jardim Brasil, o Barra Conceito, por exemplo, com três opções de planta (..) foi praticamente 100% comercializado em dois dias. Com o valor médio do metro quadrado (m²) em R$ 10 mil (..)”. 

2021-02-24

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Financeirização da moradia e das Casas Bahia

Deu no UOL Economia
09-02-2021, por João José Oliveira
Você pode ganhar aluguel de supermercados e bancos com fundo imobiliário

(..) De maneira geral, o investidor que busca fundos imobiliários pode escolher carteiras de três categorias: as que compram participações em imóveis, os chamados fundos imobiliários de tijolos; as que investem em títulos de renda fixa que financiam projetos imobiliários, os fundos imobiliários de papel; e os fundos imobiliários que investem em outros fundos, os chamados fundos de fundos.

Mas dentro de cada um desses tipos de fundos imobiliários existem as diferentes carteiras que buscam aplicar em segmentos de negócios. E um desses segmentos é o do varejo. (..)

2021-02-20  


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Apontamentos: Cruz-Muñoz 2021 e a metropolização latino-americana

CRUZ-MUÑOZ F, “Patrones de expansión urbana de las megaurbes latinoamericanas en el nuevo milênio”. EURE Vol 47, no. 140 (2021)
https://www.eure.cl/index.php/eure/article/view/EURE.47.140.02/1365  


Ótima proposta de comparar o processo de urbanização recente nas quatro maiores metrópoles da América Latina, mas não sei se bem resolvida dos pontos de vista técnico e  conceitual. Chama a atenção, por exemplo, a imensa disparidade - não explicada - de proporção de moradias periféricas sem serviços (Tabela 4) em São Paulo (0,08) e Rio (0,81) vs Buenos Aires (14,5) e Cidade (30,0) do México. Por si só essa disparidade deveria implicar uma diferença profunda de padrões de expansão urbana entre esses pares de cidades, dificilmente enquadráveis na mesma categoria analítica.
 
Direto ao ponto, considero exageradamente esquemático o conceito de “urbanização neoliberal” por oposição a “urbanização desenvolvimentista” ou “urbanização regulada e gerida pelo Estado”, tanto quanto a ideia de que “a visão do Estado a respeito da gestão urbana se transformou, passando de racionalista a empresarial”.

É evidente aqui a ressonância da proposição de ABRAMO:

Este predo­minio del mercado como mecanismo de coordinación de las decisiones de uso del suelo constituye un rasgo característico de la ciudad neoliberal, en contraste con el periodo del fordismo urbano, cuando el papel del mercado en la producción de las materialidades urbanas estaba fuertemente mediado por el Estado a través de la definición tanto de las reglas de uso del suelo como de las características de tales materialidades. La crisis del fordismo urbano implica, por tanto, el “retorno del mercado” como elemento determinante en la producción de la ciudad neoliberal. [1]

Não creio ser correto dizer que “as políticas neoliberais trastocan (perturbam, desorganizam, desestruturam) a urbanização, AGORA atrelada a uma lógica de mercado em que o setor imobiliário adquire um papel cada vez mais importante” (destaque meu). 

Penso que a urbanização brasileira, e a latino-americana também, está “atrelada à lógica do mercado” desde pelo menos o último quarto do século XIX; que desde então essa “lógica” desestrutura e reestrutura a urbanização no ritmo de suas necessidades; e que os setores imobiliário e de transportes jamais deixaram de ser os atores principais e maiores beneficiários de nossas “políticas urbanas”, independentemente de particularidades nacionais, flutuações cíclicas, compromissos, recuos e até eventuais revezes impostos por programas públicos de moradia, integração de transportes, preservação do patrimônio, conservação ambiental e recuperação de mais-valias. 

O fato de as instituições de planejamento urbano, habitação e transportes incluídos, terem perdido força e prestígio no século XXI não significa absolutamente que antes estivessem ‘no controle’ do desenvolvimento das cidades. Cabia-lhes fundamentalmente, como cabe ainda hoje, interpretar e traduzir em planos, projetos, obras públicas e regulações o ‘status’ da disputa histórica entre os interesses gerais e particulares envolvidos no processo de urbanização. Serem eles próprios forças vivas na formação desse equilíbrio não outorga aos quadros técnicos dessas instituições possibilidades ilimitadas, nem muito menos, mesmo em ciclos históricos favoráveis ao exercício da profissão de planejador. 

É inquestionável a exacerbação, a partir dos anos 1990, das tendências anárquicas da urbanização de mercado - metropolização imparável, fabulosas deseconomias urbanas, segregação espacial, explosão do preço da terra, fragmentação territorial, informalidade, espoliação de direitos, naturalização da precariedade, emergência de Estados paralelos etc. Mas a ideia de que o mundo anterior à desregulamentação neoliberal era um mundo "racional" em que o Estado tinha a primazia na condução do desenvolvimento é, ao meu juízo, equivocada, no plano da economia como no do urbanismo.

A "metrópole neoliberal" não é uma forma pura, sequer inteiramente nova, da urbanização de mercado. Todas essas tendências foram gestadas, nasceram ou já estavam presentes, em maior ou menor grau, na “cidade desenvolvimentista”, para usar um termo chancelado pelo autor. Por outro lado, essa mesma “urbanização neoliberal” não é capaz de livrar-se do passado “fordista” que carrega dentro de si. Dois exemplos desse entrelaçamento de ciclos e suas contradições ocorrem-me de imediato. 

No Brasil, a influência do neoliberalismo nas políticas urbanas pode ser tida como fator importante para a baixa eficácia, muito aquém das expectativas, das legislações urbanísticas distributivistas (recuperação da renda da terra urbana) criadas na esteira da Constituinte de 1988 e sacramentadas no Estatuto da Cidade de 2001. Contudo, os institutos legais criados sobrevivem, com raízes institucionais razoavelmente sólidas em algumas capitais e importantes redes de quadros técnicos municipais, estaduais e federais plenamente atuantes em sua defesa, difusão e aplicação. 

Já o programa habitacional Minha Casa Minha Vida, um inegável sucesso quantitativo criado por um governo progressista em plena época neoliberal (2009), não por acaso saudado pela construção civil como "a salvação do setor", [2] é amplamente criticado nos meios acadêmicos e profissionais, e com razão, por ter reproduzido em larga escala a dinâmica da urbanização "desenvolvimentista", isto é, o desterro das famílias de menor rendimento para as periferias mais distantes e sub-urbanizadas. [3]

O tema merece, portanto, um exame mais acurado, se não no plano técnico, com certeza do ponto de vista da interpretação histórica. 

PS: A boa prática acadêmica de referenciar os conceitos adotados, ou levados em conta, em uma exposição, pode se transformar num embaraço. São tantas e tão frequentes as referências neste texto, linha a linha, que o marco conceitual do autor vira uma colcha de retalhos.

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[*] ABRAMO P, “La ciudad com-fusa: mercado y producción de la estructura urbana en las grandes metrópolis latino-americanas”, EURE vol 38 no 114 mayo 2012 pp. 35-69
http://www.eure.cl/index.php/eure/article/view/68/556

[2] "Minha Casa, Minha Vida é a ‘salvação’ do setor". O Tempo 09-07-2014, por Thaís Pimentel.
https://www.otempo.com.br/economia/minha-casa-minha-vida-e-a-salvacao-do-setor-1.879386

[3] Ver por exemplo, neste blog, “Habitação, Emprego e Mobilidade: subsídios para o debate sobre a localização da HIS na cidade do Rio de Janeiro”. À beira do urbanismo 12-02-2012, por Antônio Augusto Veríssimo - Arq/Urb.
http://abeiradourbanismo.blogspot.com/2012/02/habitacao-emprego-e-mobilidade.html


Acesse o artigo de CRUZ-MUÑOZ pelo link
https://www.eure.cl/index.php/eure/article/view/EURE.47.140.02/1365

2021-02-16


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O mapa da mina

Deu no NY Times
02-02-2021, por Alice Park, Charlie Smart, Rumsey Taylor e Miles Watkins

An Extremely Detailed Map of the 2020 Election
 

Este precioso mapa mostra em detalhes um aspecto bastante comentado a respeito da eleição de Biden nos EUA: num ambiente de acirrada polarização, prevaleceu o peso das multidões urbanas, inclusive em estados tradicionalmente arquiconservadores.

Faz-me pensar num aspecto crítico da grande metrópole no mundo contemporâneo. O marxismo cultural não existe, mas o socialismo cultural sim, num sentido muito preciso: não como ideologia, mas como força material. É nas grandes metrópoles que o caráter social da (re)produção capitalista - fundamento de todas as variantes do socialismo moderno - torna-se visceralmente perceptível e faz emergir direitos coletivos como saúde pública, educação gratuita, moradia e transporte subsidiados e toda sorte de prerrogativas democráticas e reivindicações igualitaristas como aspectos “naturais” e imprescindíveis da vida dos cidadãos-trabalhadores. 

Eis aí a contradição essencial da grande metrópole contemporânea, essa armadilha civilizacional concentradora, diria quase monopolizadora, de crescimento econômico, inovação e acumulação de riqueza, portanto também de imensas deseconomias, desemprego, precariedade e pobreza.

Como livrar aquela força material das muralhas que a contêm é, já faz quase dois séculos, a “questão de um milhão de dólares”. Mas essa é outra história, que transcende em muito o escopo deste blog.  

2021-02-08


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Modelos?

Deu no Archdaily
30-01-2021, por Camilla Ghisleni
Cidades policêntricas: um velho novo conceito como futuro urbano pós-pandemia

Imagem ©Joana França /ArchDaily
Unidade de vizinhança, Brasília 


À parte a sugestão de que a pandemia fará as cidades se renderem à razão urbanística, chama a atenção nesse artigo - que não tem, evidentemente, pretensão acadêmica ou científica - a ideia de que a estrutura monocêntrica é um “modelo de urbanização ao qual nossas cidades são submetidas” e o policentrismo urbano um “modelo alternativo“ sobre o qual “pesquisadores e estudiosos têm se debruçado”.

Uma pergunta me ocorre. Quem teria criado tais modelos, em que circunstâncias históricas e por meio de quais instituições, instrumentos e mecanismos eles teriam sido, ou poderão ser, impostos às cidades?

Ecoando, talvez sem saber, o ilustre Peter Hall, a jovem autora parece propensa a associar tudo o que ocorre de relevante nas cidades a modelos criados pelos “seers” do urbanismo: Ebenezer Howard, Clarence Perry, Lucio Costa e, mais recentemente, Anne Hidalgo, a prefeita de Paris.

Talvez sejam apenas “maneiras de dizer”. Mas será que essas “maneiras de dizer” não traduzem uma percepção enganosa, essencialmente idealizada, de como se constroem e se estruturam as cidades?


2021-02-04