domingo, 30 de maio de 2021

Primórdios da urbanização de mercado no Brasil: Rio de Janeiro

Observatório das Metrópoles 2015, por QUEIROZ RIBEIRO, Luiz Cesar (1991).
https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/wp-content/uploads/2020/07/Livro-Dos-Corti%C3%A7os-aos-Condom%C3%ADnos-Fechados_2edicao.pdf

Dos Cortiços aos Condomínios Fechados - As formas de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro (Caps 5 e 6).

Capítulo 5: Transformações do Parque Imobiliário - 1870/1930

O nosso objetivo neste capítulo é construir, com base nos dados dos censos disponíveis, um quadro histórico do período compreendido entre 1870 e meados dos anos 30. Trata-se do momento de transição das relações sociais que fundam a nossa sociedade. Com efeito, a partir de 1870 entra em crise a economia mercantil- escravista e, pouco a pouco, afirma-se uma economia urbana organizada com base no trabalho livre; por outro lado, expande-se a intervenção sobre a cidade, através da legislação urbana e dos investimentos urbanos realizados pelo poder público e pelas empresas privadas. Os anos iniciais deste período serão também marcados por um extraordinário crescimento demográfico. Estes fatores terão importantes impactos sobre a produção de moradias, criando as bases para a mercantilização da moradia e do solo. (..)

5.1 A emergência da escassez de moradias - 1870/1890

5.2. Emergência da Crise de Moradia - 1890-1906

5.3. Expansão da Malha Urbana - 1906/1920

 

Capítulo 6: Da Propriedade Fundiária ao Capital Imobiliário

A partir da segunda metade do século XIX, especialmente depois de 1870, a cidade do Rio de Janeiro sofre importantes transformações urbanas geradas pela ação de um conjunto de capitais que passam a investir sobre o espaço urbano. Entre eles, o que poderíamos chamar de capital imobiliário, aplicado na produção de moradias para aluguel e na compra, parcelamento e venda de lotes de terras anteriormente utilizadas para fins agrícolas. A origem deste capital, as condições históricas que presidem o seu investimento no imobiliário e as formas de produção da moradia que ele assume serão analisadas neste capítulo. (..)

6.1. Origem do Capital Imobiliário

6.2. A Produção Rentista da Moradia: cortiços, casas-de-cômodos e estalagens

6.3. A Crise da Produção Rentista

6.4. Emergência do Mercado Urbano de Terras: separação entre propriedade fundiária e capital imobiliário

6.5. A Produção Imobiliária Pequeno-Burguesa: “as vilas, avenidas e ‘correres de casas’”

6.6. Expansão do Mercado de Terras: periferia, autoconstrução e especulação


Acesse versão online do livro pelo link

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Diga que irá Irajá Irajá

Foto: Daniel Aguiar
Esta belíssima foto foi postada no Facebook, em 7 de maio, por Daniel Aguiar, da comunidade Vicente de Carvalho da Depressão. Diz o autor:

“Não tem uma vez q eu pegue metro em Iraja q eu não fique olhando fixamente pra essa belíssima arquitetura de 6 andares com o penúltimo em madeira.”

Sem dúvida que é um ótimo exemplo, a merecer de quem a estuda um comentário sobre a arquitetura da construção informal.  

Mas o que chama de imediato a minha atenção, embora não surpreenda, é justamente o fato das construções nas imediações da estação do Metrô serem todas, salvo melhor juízo, informais. Nada contra, mas me traz de volta a um tema antigo: a decisão governamental de construir a Linha 2 em superfície, protegida por muros de concreto de grande altura. Mesmo com estações elevadas, ela não contribuiu em nada, quando muito muito pouco, para impulsionar o desenvolvimento urbano, e com ele um modesto incremento que fosse dos rendimentos de negócios e famílias em áreas inteiras da Área de Planejamento 3, a grande Zona Norte do Rio de Janeiro estruturada pelos ramais ferroviários, com mais de 2 milhões de habitantes.

Uma ferrovia urbana é um objeto feito para durar um século. A muralha que dividiu em duas a AP-3 numa época em que a imensa maior parte dos deslocamentos urbanos já eram feitos por ônibus e automóveis é um considerável obstáculo ao desenvolvimento urbano de toda a região, capaz de neutralizar, quem sabe, boa parte das vantagens econômicas e urbanísticas derivadas da própria operação do Metrô. 

Não se trata, é certo, de um caso isolado e não desconheço que o hardware urbano da segunda metade do século XX foi globalmente tratado como custo necessário do desenvolvimento econômico. Incontáveis projetos de transporte, principalmente elevados rodoviários, destruíram lugares urbanos para servir outros, em muitos países e várias escalas urbanas.

Mas há projetos e projetos. No Rio de Janeiro, o elevado da Perimetral foi demolido para a construção do Porto Maravilha com fanfarras olímpicas e augúrios de “renascimento das boas práticas urbanísticas”, mas não o viaduto Paulo de Frontin (imaginem!) tampouco o elevado da Rua Bela. Em alguns casos, como o viaduto sobre o Canal do Mangue e o Mergulhão de Niterói, seria de exigir ao menos um pouco mais de apuro projetual e cuidado urbanístico. Sem falar que, para economizar no curto prazo em desapropriações que respondem por boa parte de seu custo total, grandes projetos de transporte como o Metrô Linha 1 e a Linha Amarela, em vez de criar lotes lindeiros estruturados que teriam enorme valor de venda no médio e longo prazos, legaram à cidade colchas de retalhos urbanos virtualmente inadministráveis.

Considero o projeto da Linha 2 uma tragédia urbanística que pode ter causado, também, fabulosas deseconomias urbanas. Para se ter uma ideia do problema, basta entrar no Google Maps e aproximar a imagem ao longo da linha e ao redor das estações: o que se vê é o pesadelo de quantos urbanólogos, desde Richard Hurd em 1903, tenham alertado para os efeitos contraditórios do sistema ferroviário de superfície, origem da acessibilidade suburbana em boa parte do mundo, sobre a qualidade do ambiente e o valor das propriedades em urbanizações de alta densidade.

Em 40 anos, o corredor rodo-metroviário da Avenida Automóvel Clube / Metrô Linha 2 não gerou um único sub-centro digno de nota, apesar de seccionado por grandes avenidas históricas que interligam os dois grandes ramais ferroviários radiais da cidade: Leopoldina (Penha, Olaria, Bonsucesso) e Central (Deodoro, Madureira, Engenho de Dentro, Meier).

Curiosamente, nunca vi nem ouvi falar de estudo algum, governamental ou acadêmico, que fizesse uma apreciação dos efeitos da Linha 2 sobre a geografia, a economia e o ambiente urbano da AP-3. 

Fosse professor de urbanismo, eu incentivaria os alunos a estudar a fundo este caso. Ele me lembra um comentário que me soprou o ilustre planejador espanhol Ezquiaga, convidado a um seminário que organizamos, em parceria com o prof. Pedro Abramo, da UFRJ, na Secretaria Municipal de Urbanismo quando lá exerci a função de Coordenador Técnico: "Seria altamente educativo publicarmos uma enciclopédia dos nossos grandes fracassos urbanísticos". A Linha 2 do Metrô do Rio seria verbete obrigatório.

Talvez um dia eu mesmo escreva, neste blog, um artigo sobre o assunto.  

2021-05-26

sábado, 22 de maio de 2021

Dubliners' conundrum

Deu no Bloomberg CityLab
17-05-2021, por Peter Flanagan

Dublin’s Bulk Home Sales Spur Backlash Against Big-Money Buyers

A private equity firm’s swoop for family-friendly homes sparks uproar over crowding out individual buyers.

Empreendimento Mullen Park, Maynooth, Irlanda
Foto (detalhe): Paulo Nunes dos Santos/Bloomberg
The mass purchase of affordable houses — on the market for about 400,000 euros ($490,000) — set off a public firestorm and highlights the growing tension over the squeeze in urban housing and the role of large investors.
 
“These big wealthy funds can swoop in and gobble up those houses that workers and families should expect to be able to afford,” said Mary Lou McDonald, who leads Sinn Fein, Ireland’s main opposition party. “No person trying to buy a home could possibly compete with them.”

(..)

Authorities broadly welcomed their arrival for stabilizing the sector and replacing local landlords who were decimated when the fallout from 2008 financial crash dried up their funding. But in the media, investment firms have been regularly portrayed as “vultures” for buying debt and property at depressed prices and crowding out private buyers.

Even so, there are few alternative sources for that kind of capital, according to Ronan Lyons, an economist at Trinity College in Dublin who compiles the Daft.ie report on the Irish rental market.

“The presence of these investors is more part of the solution than the problem,” he said. “When we had small mom and pop landlords we didn’t want them, now we have large institutions we don’t want them either. What do we want?””

2021-05-22

terça-feira, 18 de maio de 2021

15 minutos de prudência

Deu no CityLab 14-05-2021, por Richard Florida

The Death and Life of the Central Business District
Offices are not going back to the way they were pre-pandemic, and neither are the downtown neighborhoods that house them.

"(..) far from killing them off,
the shift to remote work will
ultimately change their form
and function in more subtle
ways. Given their strategic
locations at the very center
of major metro areas, Central
Business Districts are perfectly
positioned to be remade as
more vibrant neighborhoods
where people can live and
play as well as work — a
leading-edge example of what
many urbanists are now calling
15-minute neighborhoods. And
with conscious and intentional
action on the part of urban
leaders and assistance from the
federal government, these CBDs
can be rebuilt in ways that are
more inclusive and affordable.
(...)"

Foto: Alexander Spatari/Moment/CityLab
Sugiro cautela com esse tipo de análise. A concentração do crescimento urbano nas grandes metrópoles nacionais não é uma opção cultural, mas uma imposição da competição econômica global - que continuará tão ou mais encarniçada do que antes.

Muitos artigos publicados na imprensa têm mostrado que a maioria dos home-officers que fugiram da pandemia não foram para o campo, nem para cidades médias, mas para a periferia de suas próprias metrópoles, ao alcance do seu "CBD", que assim estaria ampliando, não diminuindo, o âmbito territorial da sua atratividade.

De resto, a localização de start-ups comerciais e financeiras em novas centralidades dotadas de parques residenciais e hoteleiros destinados à sua população mais ou menos flutuante já vinha acontecendo em alguma medida em todas as grandes metrópoles. Ou não terá sido a combinação finança + turismo + hotelaria + residência de alta rotatividade o programa da quase totalidade dos Grandes Projetos Urbanos dos anos 1980-2010?

A ideia, muito difundida entre urbanistas, de que a ausência de diversidade nas zonas centrais das grandes metrópoles resulta de legislações inspiradas no princípio modernista da separação de usos é bastante discutível.

A formação dos CBDs, culminação de um longo processo de especialização econômico-espacial iniciado com a migração residencial das famílias dedicadas ao comércio, dos sobrados centrais recém-valorizados para localizações circundantes à cidade proto-capitalista [1] [2], decorre, antes de mais nada, dos imensos benefícios proporcionados às empresas pela aglomeração central, a incluir, de um lado, o acesso físico imediato a uma vasta cadeia de prestadores de todo tipo de serviços e, de outro, a máxima disponibilidade de mão de obra ao mínimo custo de transporte.*

A mescla de atividades nessas áreas só poderia ser garantida, ela sim, por legislações, ou planos, que a impusessem como critério de interesse público às expensas do que, em economia da localização, se chama “o maior e melhor uso” (MMU) do solo - como é o caso, no Brasil, das Áreas de Especial Interesse Urbanístico (AEIUs) e Áreas de Preservação do Ambiente Cultural (APACs), muitas delas situadas nos próprios centros  urbanos ou em suas imediações.

“CityCenterDC is a mixed-use
development consisting of two
condominium buildings, two
rental apartment buildings, two
office buildings, a luxury hotel,
and public park in downtown
Washington, D.C. 
It encompasses 2,000,000 
square feet (190,000m2) and
covers more than five city blocks.
Salvo por tipologias de interesse direto das próprias empresas, como parece ser o caso de certos conjuntos de unidades de pequeno tamanho e alta rotatividade destinadas a trabalhadores qualificados mais ou menos temporários, jovens em sua maioria, a residência no CBD, que demanda a proximidade de todo tipo de equipamentos públicos e firmas “sub-MMU”, é, por definição, antagônica às vantagens econômicas privadas da aglomeração central.

Os grandes proprietários de escritórios e terrenos em localizações centrais hipervalorizadas (CBDs) não se renderão, portanto, tão facilmente. E eles podem esperar. Se a recuperação econômica acontecer, ainda que lentamente, os escritórios acabarão sendo ocupados mesmo que parte dos trabalhadores permaneçam em home-office – que, aliás, tende a ser apenas parcial. Pode haver um período relativamente longo de altas taxas de vacância e alguma baixa de preços e alugueis. Mas a conversão desses edifícios para habitação pela via do mercado é muito cara para tornar-se lucrativa e a opção de produzir moradia nova nessas localizações só atende a uma parcela bastante específica e relativamente restrita da demanda.

O que me parece provável, por outro lado, é que toda essa crise, que traz consigo o aumento da pobreza e da insegurança laboral, esteja acelerando processos de deterioração e abandono progressivo de edifícios comerciais "sub-prime" - pela antiguidade, localização ou ambos - dos grandes centros. E nesse caso, como sabemos, ou as prefeituras intervêm a tempo para transformá-los em habitação decente com preços / alugueis subsidiados, se necessário, ou eles acabarão sendo ocupados como habitação precária.

2021-05-18

* Nova redação 04-11-2023:

“(..) imensos benefícios proporcionados às empresas pela aglomeração central, a incluir (1) as vendas turbinadas pela mínima distância agregada ao conjunto das famílias, (2) a máxima disponibilidade de mão de obra ao mínimo custo de transporte – consequentemente menor preço da força de trabalho – e (3) acesso imediato a uma vasta cadeia de prestadores de todo tipo de serviços.”

_________
NOTAS

[1] "The physical evolution of a large city from a small one results not only from increased population and added industries, but also from continual specialization in business and differentiation in social grades. The first step is the separation between business and dwellings, the original buildings used for business below and dwelling above being replaced by separate business and residence buildings." [HURD R M, Principles of City Land Values. New York, Record and Guide 1903, p 75.]
https://archive.org/.../principlesofcity.../page/n4/mode/1up

[2] "Observamos que as freguesias que compunham o centro histórico da cidade continuam a perder população, fruto da tendência verificada desde o fim do século XIX desta parte da cidade especializar-se como zona comercial [QUEIROZ RIBEIRO, Luiz Cesar. Dos Cortiços aos Condomínios Fechados - As formas de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro. 2015, p. 180.]"
https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/wp-content/uploads/2020/07/Livro-Dos-Corti%C3%A7os-aos-Condom%C3%ADnos-Fechados_2edicao.pdf


sexta-feira, 14 de maio de 2021

República do Instagram

Deu no Infomoney
25-04-2021, por Mariana Fonseca

“República do século XXI”: por que a Yuca aumentou sua aposta na moradia compartilhada

Imagem: Internet / Web Quarto


Matéria emblemática da corrida pela renda da terra e seu corolário, a financeirização imobiliária na metrópole contemporânea.

Chamam a atenção a franqueza com que o editor qualifica a “moradia compartilhada” de “República do século XXI” e a clareza com que o empreendedor entrevistado exibe o seu próprio negócio como simbiose de capital de empréstimo de curto prazo para a produção de unidades com capital de investimento em rendas de localização:

“(..) Temos de gerar yield, então não podemos entrar em projetos de longo prazo. Optamos pelo financiamento de construção e já recebemos juros durante esse prazo. Depois, recebemos por unidades locadas a um preço anteriormente acordado. Vai de recebimento de juros para recebimento de aluguel. (..)”

A Yuca, que tem por objetivo se tornar “a maior gestora residencial da capital paulista”, está “firmando parcerias com incorporadoras e fundos para gerir as unidades que funcionam como flats”. 

Não é por acaso que os urbanistas paulistanos estão preocupados com o vertiginoso crescimento, de “quase 500% na comparação do período 2014-2018 com os quatro anos anteriores”, de unidades habitacionais de até 35 m² nos eixos de transporte preconizados pelo Plano Diretor.*

E a cereja do bolo, como de praxe, é a profissão de fé num mítico "equilíbrio entre oferta e demanda":

“Temos visto que esse é um produto que realmente atende os anseios de jovens profissionais em grandes cidades, onde existe uma assimetria entre oferta e demanda por apartamentos nas melhores regiões”, explica Steinbruch. “A oferta é de imóveis com três ou quatro dormitórios em bairros como Jardins, mas a procura costuma ser por um imóvel de um ou dois dormitórios. Buscamos reequilibrar essa equação.”

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Apontamentos: Hurd 1903, o pioneiro do espaço intra-urbano

HURD R M, "Chapter XI - Summary", em Principles of City Land Values. New York: Record and Guide, 1903
https://docs.google.com/document/d/1DpC1cKyp8bHu_MAyegpfnGOYmlcZoYR18urRW1w_BUQ/edit?usp=sharing


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Embora rotineiramente mencionado em textos de economia regional e urbana como um dos precursores dessa ciência no início do século XX, Richard Melancthon Hurd (1865-1941) não pertence à ilustre linhagem de autores dos modelos ditos "de equilíbrio" que constituem o cerne da teoria econômica da localização.

Sua presença na árvore genealógica da economia espacial, em cujo tronco figuram nomes como Ricardo (1817), Von Thunen (1830), Haig (1920), Christaller (1933), Losch (1940), Isard (1956), Wingo (1961) e Alonso (1964), é geralmente associada, quase diria limitada, a uma célebre formulação relativa ao problema crucial do custo da distância, apresentada em seu livro de 1903 intitulado Principles of City Land Values:

Dado que o valor [da terra] depende da renda, a renda da localização, a localização da conveniência e a conveniência da proximidade, podemos eliminar os passos intermediários e dizer que o valor [da terra] depende da proximidade. [1]

É na imediata continuação desse aforismo, contudo, geralmente esquecida pela literatura econômica, que reside a essência do pioneirismo de Hurd no campo dos estudos urbanos:

A pergunta que se segue é, proximidade a que? — o que nos conduz aos requisitos dos diferentes aproveitamentos da terra, sua distribuição na área urbana e a consequente criação e distribuição de valor.[2]

Ao contrário do que sugere o título, Principles of City Land Values é uma obra precursora, se não da economia - creio que também é, sob um aspecto que comentarei adiante -, mas da geografia urbana e, por extensão, de um urbanismo que acolha em seu âmbito o estudo dos processos de estruturação, obsolescência e reestruturação das cidades modernas, aí incluídos os bairros, os parcelamentos, as ruas e as edificações. Para provável surpresa do urbanista contemporâneo, todas essas dimensões do espaço construído têm lugar no estudo de Hurd.

E por um bom motivo. No prefácio da obra, seu autor resume em poucas linhas as circunstâncias peculiares em que o economista e avaliador Richard Hurd se defrontou com o problema dos valores do solo urbano e o modo como se propôs a resolvê-lo:

Ao assumir, em 1895, a direção do Departamento de Hipotecas do U. S. Mortgage & Trust Co., [Hurd] buscou em vão, na Inglaterra e nos EUA, livros sobre a ciência da propriedade imobiliária urbana que o ajudassem no trabalho de avaliação. Tendo encontrado apenas artigos fragmentários e, nos livros de economia, somente breves referências ao solo urbano, decidiu esboçar uma teoria da estrutura das cidades e, com base nela, estabelecer as escalas de preços médios gerados pelos diferentes aproveitamentos da terra. (Itálico meu).[3]

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Se a pretensão de “esboçar uma teoria da estrutura das cidades” parece remeter à tradição dos grandes tratados de meados do século XIX - como é o caso, em nossa disciplina, da Teoria Geral da Urbanização, de Ildefonso Cerdà -, o resultado final da obra, atendendo ao objetivo precípuo de “estabelecer as escalas de preços médios gerados pelos diferentes aproveitamentos da terra”, condiz muito mais com a cultura técnico-científica proveniente do establishment industrial e comercial de sua época, cultura que no âmbito dos estudos urbanos antecedeu, na Inglaterra e Estados Unidos, à consolidação da universidade como usina e agência reguladora da produção do conhecimento na segunda metade do século XX. Ainda em 1925, no clássico The City: 
Suggestions for Investigation of Human Behavior in the Urban Environment, uma espécie de programa da vertente sociológica que veio a ser conhecida como Escola de Chicago, Park e Burgess mencionam o papel decisivo das concessionárias de serviços públicos e grandes cadeias varejistas na produção de conhecimentos relacionados à organização espacial urbana:

O recente desenvolvimento de cadeias de varejo tornou a localização um tema de grande interesse para as empresas. O resultado foi o surgimento de uma nova profissão. [ Existe agora uma classe de especialistas cuja única ocupação é descobrir com precisão científica, levando em conta as mudanças esperadas das tendências atuais, os melhores endereços para restaurantes, tabacarias, drogarias e outras unidades varejistas cujo sucesso depende fortemente da localização. [4]

Salvo melhor juízo, Richard Hurd é o fundador da linhagem de “urbanólogos de mercado” a que pertencem dois outros eminentes economistas-avaliadores, o estadunidense Homer Hoyt, criador do modelo de estrutura urbana por setores de círculo, em 1939, e o colombiano Oscar Borrero, especialista contemporâneo em preços imobiliários, recuperação de mais-valias fundiárias e organização espacial urbana na América Latina.

Um notável exemplo da conexão técnico-científica entre Hurd e Borrero é a importância que ambos atribuem ao ciclo de vida do valor imobiliário, conceito fundamental para a compreensão das mudanças na estrutura e composição do espaço urbanizado. Os mesmos processos de valorização e desvalorização das localizações descritos por Hurd e por ele sintetizados, em 1903, com uma analogia caracteristicamente organicista

A vida do valor do solo, seja de uma cidade inteira, de um setor urbano ou de um simples lote de terreno, guarda uma estreita analogia com a vida de tudo mais: um pequeno começo, o crescimento e fortalecimento graduais até o ápice, seguindo-se um declínio mais ou menos prolongado (..) um ciclo de mudanças que vai da não-existência à extinção, ou renascimento, quando o processo se repete sobre o mesmo solo. [5]

reaparecem muito mais precisa e detalhadamente explicados por Borrero, um século depois, na linguagem da análise matemática:

Os estudos citados permitiram concluir que o comportamento da valorização real do solo (em pesos constantes) de uma área se assemelha a uma curva de Gompertz ou a uma função logística (..) [6]

No plano estritamente econômico, foi Hurd quem formulou, em 1903, o princípio fundamental da preempção da terra-localização urbana pelo uso - negócio ou residência - que puder fazer por ela a maior oferta de renda. 

Em geral, a base da distribuição de todos os usos comerciais é puramente econômica: a terra é arrematada pela maior oferta e o ofertante aquele que pode obter dela o maior ganho. Observe-se que quanto melhor a localização maior a quantidade de usos que ela pode ter e, consequentemente, maior a quantidade de ofertantes. A base do valor da terra de uso residencial, por sua vez, é social, não econômica – ainda que também arrematada pela maior oferta: os ricos escolhem as localizações que mais lhes agradam, os de rendimentos médios procuram estar o mais perto deles que consigam, e assim por diante na escala de riqueza, ficando os trabalhadores mais pobres nas piores localizações, como as adjacências de fábricas, ferrovias, docas etc., ou longe da cidade. [7]

Na terminologia contemporânea de Smolka e Goytia,

A concorrência entre pretendentes com diferentes funções de oferta de renda define os padrões de uso do solo, correspondendo o aproveitamento econômico da terra ao seu maior e melhor uso. Este conceito, baseado na técnica da avaliação imobiliária, postula simplesmente que a atividade que extraia o maior benefício de uma dada localização é aquela que provavelmente fará por ela a maior oferta de renda. (..) Enquanto houver um uso superior competindo pela localização, o proprietário receberá uma oferta maior pelo terreno. Quando cessarem as ofertas, o terreno terá alcancado o seu 'maior e melhor uso'. [8]

É significativo da primazia dos modelos econômicos de localização no moderno estudo da organização espacial urbana o fato de tal princípio só se ter tornado amplamente difundido e aplicado depois de ajustado por William Alonso, em 1964, à teoria econômica do consumidor.

*

Principles of Land Values é um livro de 160 páginas, profusamente ilustrado, que em muitos aspectos lembra um manual. 

Seu décimo primeiro e último capítulo, que trago ao leitor nesta postagem, é uma síntese dos dez anteriores, dos quais somente a primeira parte do Capítulo I - Princípios Gerais, parte do Capítulo VIII - Tipos de Edificações e a totalidade do Capítulo IX - Aluguéis e Taxas de Capitalização podem ser ditos especializados em teoria da renda da terra urbana e aplicações da ciência da avaliação.

Todos os demais capítulos constituem um estudo pioneiro da localização dos usos econômicos do solo, das mudanças relativas dessas localizações no processo de expansão urbana, da consequente valorização e desvalorização do solo e respectivas edificações e, mais amplamente, dos processos de estruturação e reestruturação espacial urbana. São eles:

Capítulo I - Princípios Gerais (2a. parte), onde Hurd postula o caráter não-aleatório do crescimento urbano como condição sine qua non da avaliação imobiliária e a sujeição da estrutura das cidades a um conjunto de leis, a primeira delas a da expansão em todas as direções a partir do ponto de origem;

Capítulo II - As Forças que Criam as Cidades, de viés sócio-histórico essencialmente funcionalista, talvez por isso mesmo o mais sucinto e insuficiente de toda a obra;

Capítulo III - Localização das Cidades, dedicado às condicionantes fisiográficas, econômicas e políticas do surgimento das cidades - dos EUA principalmente, foco principal do trabalho;

Capítulo IV - O Plano do Chão (título aqui traduzido literalmente com uma expressão cara ao urbanista português Nuno Portas), dedicado ao exame histórico e econômico dos arruamentos e parcelamentos do solo urbano;

Capítulo V - Direções da Expansão, estudo da influência dos corredores de acessibilidade na formação da configuração espacial da cidade; categoria analítica crucial na obra magna de Flávio Villaça “Espaço Intra-Urbano no Brasil” (1998);

Capítulo VI - Distribuição Espacial dos Usos, dedicado ao exame da especialização e diferenciação dos usos, de seus determinantes locacionais e de sua movimentação no espaço conforme o rumo da localização mais valorizada.

Capítulo VII – Feixes de Deslocamento, onde Hurd analisa as localizações dos distintos usos como categorias relacionais derivadas das viagens regulares dos habitantes urbanos e os impactos dessas mesmas correntes de tráfego e seus meios físicos e operacionais sobre o valor das localizações.

Capítulo VIII - Tipos de Edificação (parte), dedicado ao exame da adequação econômica do uso e arquitetura das edificações às localizações, incluindo problemas relativos à verticalização e espaço aéreo;

Capítulo X - Escala de Valores Médios, que traduz em mapas os esforços teóricos e analíticos de Hurd em termos de sua atividade-fim, a avaliação de terrenos, aplicada a um significativo número de cidades estadunidenses de sua época.
 
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As ilustrações são um capítulo à parte em Principles of City Land Values, não por serem belas e vistosas - muito ao contrário -, mas abundantes e comentadas. Incluem uma série de mapas da evolução de Paris entre os anos 56 a.C. e 1705  (ano de sua publicação) e uma preciosa coleção de imagens históricas de cidades dos Estados Unidos. Um interessante acervo fotográfico ilustra a crítica da arquitetura de grandes edificações centrais herdadas do século XIX por inadequação ao princípio do máximo valor da “frente de rua” ou à própria localização.

*

Foi por meio da proficiência técnica, principalmente, mas também do descortino cientificista de Richard Hurd que a grande cidade capitalista começou, em 1903, a tomar ciência de sua constituição espacial e da mecânica - não da natureza social e histórica, aspecto para o qual o economista pragmático e conservador não estava aparelhado - de suas transformações.

De seu objeto Hurd soube, no entanto, extrair e ensinar uma lição básica nada menos que revolucionária: a de que a cidade é uma entidade espacial maleável, cujas localizações são sempre relativas e seus valores uma estrutura em permanente estado de “equilíbrio instável” que arrasta consigo, para bem e para mal, o parque edificado:

Toda redução do custo das edificações, todos os aperfeiçoamentos na construção, todas as invenções tendem a destruir o valor das edificações existentes. Todas a melhorias em transportes, como os bondes, os elevados, o metrô, a bicicleta, o automóvel – e no futuro talvez as máquinas voadoras– tendem a destruir o valor das localizações que dependem dos transportes existentes. [9]

Faz todo o sentido que sua obra seja arrematada com um parágrafo que começa dizendo: “A mudança é a lei da vida”.

*

Flavio Villaça (1929-2021)
Até onde chegam meus conhecimentos atuais, Principles of City Land Values é o estudo pioneiro dessa categoria do espaço geográfico que o recém-falecido Flávio Villaça propôs designar, em discussão a que dedica toda uma seção de sua obra magna, como "intra-urbano"
[10]

título desta postagem é uma homenagem do blog ao notável arquiteto, urbanista, geógrafo, pesquisador e professor.    



Acesse HURD 1903 CHAPTER XI - Summary pelo link
https://docs.google.com/document/d/1DpC1cKyp8bHu_MAyegpfnGOYmlcZoYR18urRW1w_BUQ/edit?usp=sharing

___
NOTAS

[1] HURD R M, Principles of City Land Values. New York: Record and Guide, 1903, p. 13: “Since value depends on economic rent, and rent on location, and location on convenience, and convenience on nearness, we may eliminate the intermediate steps and say that value depends on nearness.”
https://archive.org/.../principlesofcity.../page/n4/mode/1up

[2] Id., p.13: “The next question is, nearness to what? – which brings us to the land requirements of different utilities, their distribution over the city's area and the consequent creation and distribution of values.”

[3] Id. Prefácio: “When placed in charge of the Mortgage Department of the U. S. Mortgage & Trust Co. in 1895, the writer searched in vain, both in England and this country, for books on the science of city real estate as an aid in judging values. Finding in economic books merely brief references to city land and elsewhere only fragmentary articles, the plan arose to outline the theory of the structure of cities and to state the average scales of land values produced by different utilities within them.”

[4] BURGESS E W, “The Growth of the City: An Introduction to a Research Project", em BURGESS, E W e PARK R E, The City: Suggestions for Investigation of Human Behavior in the Urban Environment, The University of Chicago Press, 1984: Chicago e Londres, p.5.
http://shora.tabriz.ir/Uploads/83/cms/user/File/657/E_Book/Urban%20Studies/park%20burgess%20the%20city.pdf

[5] HURD R M, op. cit., p. 18. "The life of value in land, whether the unit taken is a city, a section of a city, or a single lot, bears a close analogy to all other life in being normally characterized by a small beginning, gradual growth and increased strength, up to a point of maximum power, after the attainment of which comes a longer or shorter decline to a final disappearance.  (..) undergoes a continuous evolution from a state of non-existence through a cycle of changes to a final dissolution, or to a new birth, when the process is repeated on the same land.”

[6] BORRERO Oscar, “Formación de los precios del suelo urbano”, Lincoln Institute of Land Policy, Educación a Distancia, 2000, pp.27-28.  "Los estudios citados han permitido concluir que el comportamiento de la valorización real de la tierra (en pesos constantes) de un área se asemeja a una curva de Gompertz o a una logística (..) Partiendo de mínimo precio determinado, que puede ser el valor agrícola, al ser incorporada dicha área dentro del perímetro urbano, bien sea espontáneamente o en forma planificada, la tasa de valorización real se acelera inicialmente en los primeros años, debido al proceso de urbanización, hasta llegar a su máximo nivel de crecimiento que coincide con el punto inflexión de la curva, identificado en el gráfico como "B". A partir de entonces, el valor continúa aumentando en términos constantes (por encima de la inflación) aunque su tasa anual de crecimiento o valorización se hace cada vez menor. Al llegar al punto C, los precios del terreno están creciendo paralelamente al ritmo de valorización real es entonces cero. A partir de dicho momento, los precios no compensarían la inflación monetaria, o la pérdida del poder adquisitivo de la moneda y la tasa de valorización real es negativa. Por otra parte, en ciertas zonas centrales (o de aglomeraciones intensiva y consolidada de actividades económicas) que presentan síntomas de deterioro económico y/o físico, su renovación urbana como resultante de inversiones del Estado o de los particulares, puede hacer que en un momento dado la tasa negativa que venían registrando se frene y durante un tiempo se obtengan nuevas tasas positivas de valorización para luego continuar a un ritmo similar a la inflación durante el período que dure el efecto de la renovación. Este efecto de renovación urbana estaría representado en el Gráfico por la línea punteada a partir del punto "R".
https://drive.google.com/file/d/12719bJhO6ztK8uQ2cj6MhJzEwVuiH6Vv/view?usp=sharing

[7] HURD R M, op. cit., p.77-8: “In general the basis of the distribution of all business utilities is purely economic, land going to the highest bidder and the highest bidder being the one who can make the land earn the largest amount. We may note that the better the location the more uses to which it can be put, hence the more bidders for it. On the other hand, the basis of residence values is social and not economic—even though the land goes to the highest bidder—the rich selecting the locations which please them, those of moderate means living as near by as possible, and SO on down the scale of wealth, the poorest workmen taking the final leavings, either adjacent to such nuisances as factories, railroads, docks, &c., or far out of the city.”

[8] SMOLKA O e GOYTIA C, “Land Markets”, em The Wiley Blackwell Encyclopedia of Urban and Regional Studies 15-04-2019, Wiley Online Library: "Competition among users with different bid-rent functions thus defines urban land-use patterns, with land developed at its “highest and best use.” This concept, widely relied upon for real estate assessments, simply states that the activity drawing the most benefit from a certain location is likely to be in a position to offer the highest bid for that location. (..) As long as there is a superior use competing for a location, the landowner receives a higher bid for the parcel. When the bidding stops, the parcel is said to be at its highest and best use.

[9] HURD R M, op. cit, p. 159: “All cheapening of the cost of buildings, all improvements in construction, all inventions, tend constantly to destroy the value of existing buildings. All improvements in transportation, such as the trolley, the elevated, the underground, the bicycle, the automobile - and in future possibly the flying machine - tend to destroy the value of these locations which depend on existing transportation.”


[10] VILLAÇA F (1998), Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: FAPESP 2001


2021-05-10

quinta-feira, 6 de maio de 2021

A expansão de Brasília: 1961-2021

Deu na BBC Brasil
S/data, por equipe de jornalismo visual da BBC News Brasil
https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-143f8aa4-dbeb-4f4d-86a8-eeb3b0ac7191


Brasília 60 anos: como a realidade transformou a cidade idealizada por Lúcio Costa e Niemeyer

No final da década de 50, no meio de seu Planalto Central, o Brasil construiria uma nova capital em apenas três anos. Nas décadas seguintes, Brasília se tornaria o principal símbolo da arquitetura modernista no mundo e a única cidade feita no século 20 a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco.  

Distrito Federal: mancha urbana e cidades satélites de Brasília 
Fonte: 
http://www.codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/03/S%C3%A9rgio-Jatob%C3%A1.pdf


 “(..) "A metrópole Brasília hoje não está mais no Plano Piloto desenhado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, está em Taguatinga ou em Ceilândia. O plano hoje é um bairro da metrópole, na minha interpretação. Numa lógica europeia, seria um dos centros históricos da cidade, ou o bairro central", diz Sylvia Ficher.

Assim foi a expansão do Distrito Federal:

1961-2019 O 'avião' cercado

O Plano Piloto, a capital original, tem hoje pouco mais de 220 mil habitantes, cerca de 7,3% do total de Brasília, o Distrito Federal. Os outros 2,78 milhões de habitantes da capital brasileira estão distribuídos em 33 regiões administrativas, entre elas as extensões do Plano e as cidades-satélites.

1956 Os primeiros assentamentos

Os assentamentos de Candangolândia e Núcleo Bandeirante abrigavam os funcionários da construtora, operários e demais responsáveis por erguer Brasília. Mesmo despois da inauguração do Plano Piloto, eles ainda concentravam boa parte do comércio local.

1959 Brasília antes de Brasília

Considerada a primeira cidade-satélite, Taguatinga foi inaugurada antes do previsto, e dois anos antes de Brasília, para abrigar mais trabalhadores migrantes. Cruzeiro, feita logo em seguida, foi desenhada também por Lúcio Costa, para funcionários públicos que foram do Rio de Janeiro para a nova capital.

1960 Cada vez mais ‘satélites’

Com o passar do tempo, mais cidades e bairros residenciais tiveram que ser construídos para atender a demandas previstas – como a produção agrícola que abasteceria a capital, caso de Gama e Sobradinho. Houve também demandas imprevistas, como o reassentamento de moradores de favelas que se formaram em Brasília. Estas novas zonas foram feitas com graus de planejamento variados e, em geral, sem a qualidade e a quantidade de serviços do Plano Piloto.


O Plano Piloto, a capital original, tem hoje pouco mais de 220 mil habitantes, cerca de 7,3% do total de Brasília, o Distrito Federal. Os outros 2,78 milhões de habitantes da capital brasileira estão distribuídos em 33 regiões administrativas, entre elas as extensões do Plano e as cidades-satélites. (..)”

2021-05-06


domingo, 2 de maio de 2021

Associação Internacional da Moradia Social

Deu na Gazetaweb.com
05-04-2021, por Thiago gomes
Corte no Orçamento deve extinguir 3 mil empregos e paralisar 5 mil imóveis de programa federal em AL

Previsão foi dada pelas entidades da construção civil em Alagoas, após anúncio de repasse menor para o Programa Casa Verde e Amarela

Montagem: àbeiradourbanismo


Não creio que os construtores de habitação social tenham apreço pela habitação social para além de seu interesse direto e imediato na habitação social, qual seja construí-la e vendê-la com lucro suficiente. Mas, nas circunstâncias, botar a boca no trombone em uníssono é absolutamente necessário.

Não seria o caso, aliás, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto - MTST assumir o papel de uma Associação Nacional Pró-Habitação Social? Ou de ajudar a criar uma? Ou se espera que um possível novo governo Lula a torne supérflua? Terá sido suficiente o Minha Casa Minha Vida? Com milhões de moradias populares em periferias distantes como impõe o mercado de terras?

A propósito, Guerra dos Lugares, o excelente livro de Raquel Rolnik sobre a financeirização da moradia em escala planetária, me frustrou num ponto crucial: de tudo o que li no livro eu esperava que a conclusão fosse a proposta de uma Associação Internacional da Moradia Social. Já tinha até na cabeça três nomes para o seu comitê fundador: Raquel Rolnik, Guilherme Boulos e Ada Colau.

Fica a ideia.

2021-05-02