terça-feira, 30 de agosto de 2022

Apontamentos: Herce Vallejo 2021 e a cidade capitalista

HERCE VALLEJO Manuel, "Las infraestructuras en la construcción de la ciudad capitalista". Café de las Ciudades Abril 2021.
https://cafedelasciudades.com.ar/sitio/contenidos/ver/459/las-infraestructuras-en-la-construccion-de-la-ciudad-capitalista.html

"(..) Es innegable que la ciudad moderna, producto de la revolución industrial, es distinta de cualquier tipo de ciudad anterior. Lo es porque es el espacio de concentración de los factores de producción, sobre todo del capital y la mano de obra y, por tanto, es el espacio de la reproducción de la fuerza de trabajo, por lo que favorece el incremento de productividad del trabajo y la rentabilidad del capital.

Pero lo es también porque ha concentrado en ella los factores de producción sobre la base de un nuevo sistema económico basado en el capital. Y en ese sentido, la ciudad es también un producto en sí misma, una sumatoria de mercancías inmobiliarias que añaden valor a la propiedad. Si la propia construcción de ciudad se convierte en negocio, en motor de desarrollo económico a través de la multiplicación del capital, es obvio que se ha tendido progresivamente a ampliar el campo de la producción inmobiliaria, del territorio de generación de plusvalía por su proximidad a los factores de producción. (..)" 
[destaque meu]

*
Para se ter uma ideia da relevância teórica e metodológica da formulação de Herce Vallejo acima citada, basta lembrar que Thomas Piketty, um dos mais notáveis intelectuais da social-democracia mundial e guru de boa parte da crítica contemporânea à desigualdade social e urbana, escreveu há não mais de 10 anos em O Capital no Século XXI:

Em todas as civilizações, o capital desempenha duas grandes funções econômicas: permite que as pessoas tenham onde se abrigar (..) e serve como fator de produção para confeccionar bens e serviços (..). Historicamente, as primeiras formas de acumulação capitalista parecem envolver tanto ferramentas (sílex etc.) como o aperfeiçoamento da terra (..), além de formas rudimentares de habitação (..), antes de evoluir para outras acumulações mais sofisticadas de capital industrial e profissional, assim como para locais de moradia cada vez mais elaborados.” [destaque meu] (p. 209 ed Intrínseca, Rio de Janeiro 2014).

Em minha opinião, a concepção de 'capital' de Herce é não apenas incompatível com a de Piketty como muito mais acertada e intelectualmente profícua do que ela - ainda que mais frustrante, talvez, por deixar em suspenso uma imensa gama de cenários urbanísticos que nossa imaginação é capaz de criar (ocorre-me de imediato o fracasso do urbanismo modernista em contraste com o relativo sucesso de sua arquitetura), sendo esta uma das razões pelas quais precisamos descobrir, com a urgência imposta pela crise climática e pelo retorno da ameaça nuclear, como passar à próxima fase.


30-08-2022

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Anscombe Flats, Nova Zelândia

Art Deco New Zealand
Anscombe Flats, Oriental Bay, Wellington
Built in 1937

Anscombe Flats is named for Edmund Anscombe (1873–1948) one of New Zealand’s most distinguished 20th century architects. He bought the land in 1933, and planned to sell the apartments and live on the top floor. The building was completed in 1937 and Anscombe lived there until his death in 1948. This is one of three celebrated apartment buildings he designed in Wellington. The Moderne style of the building is well demonstrated in the rounded corners and moulded window hoods. The semi-circular penthouse floor is a particular delight, although it was altered in 2002. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

O traçado de BH: uma nota

Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte MG. Em primeiro plano, a Rodoviária da capital.
Foto Gustavo Simões/Aboutripics 


Considerando que as direções principais de um plano de urbanização são dadas pela orientação geral das quadras, temos que em Belo Horizonte quase todas as grandes avenidas são diagonais, a começar pela principal, a Afonso Pena, que aqui temos em perspectiva.

A multiplicação de esquinas em ângulo agudo, se por um lado impõe uma interessante variedade arquitetônica aliás muito apropriada ao estilo decô, por outro torna muito mais complexa a engenharia dos cruzamentos e complicado o mais elementar dos movimentos urbanos - atravessar a rua. Eu, que pouco frequento o "Contorno" de BH, invariavelmente me confundo e me perco nessa singular superposição de tabuleiros.

Faz todo sentido associar o plano de Belo Horizonte ao de La Plata, Argentina, até porque são da mesma época e tradição conceitual. Contudo, embora não conheça a cidade arrisco dizer que o grid de La Plata é mais claro para o transeunte porque mais monumental, isto é, inequivocamente comandado pelo duplo eixo SW-NE para cujo ponto médio, que é também o centro do tabuleiro, convergem as duas grandes diagonais; as demais, nitidamente secundárias, convergem por sua vez para outros tantos pontos de destaque do eixo principal, definindo, ou pretendendo definir, a centralidade urbana. Princípio parecido foi adotado por Torres Gonçalves em Erechim, na primeira década do século XX.

Clique na imagem para ampliar

Embora primos-irmãos da família urbanística que alguns chamam “dos traçados” e outros tantos de “positivista”, vistos de perto os planos de Belo Horizonte e La Plata me parecem apresentar uma importante distinção: ao passo que o segundo tem um substrato cientificista a serviço de um ideal barroco, comandado, 
como um grande jardim francês, por um eixo monumental que é também de simetria e arrematado por uma perimetral que define o conjunto, o primeiro tem um aspecto modular precocemente modernista - seu eixo de simetria, quase imperceptível, é uma diagonal secundária desprovida de atributos de centralidade urbana e a Avenida do Contorno um limite irregular e circunstancial da urbanização que não integra a arquitetura do traçado.

2022-08-09

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Espuche e Guàrdia 1987: da cidade medieval à cidade moderna


ESPUCHE A G e GUÀRDIA M B , “"Transició” y ciutat: les transformacions de l’estructura del espai”. Manuscrits: revista d’història moderna, [en línia], 1987, Núm. 4, p. 143-70
https://raco.cat/index.php/Manuscrits/article/view/23116
Barcelona 1891
“(..) Residencia obrera i fabrica dominaran a les ciutats específicament industrials. Als centres urbans amb funcions metropolitanes s'hi trobarà també un teixit industrial, sovint constituit per petites empreses de característiques pre-industrials, però treballant articles de qualitat i amb una població normalment més preparada i combativa que la de les ciutats-fàbrica. De fet, però, el característic de la ciutat metropolitana serà la seva funció central en els negocis, en el tràfic i en les activitats mercantils, en els serveis, en el transport, en l'administració ..., i el seu paper com a lloc de residencia d'una àmplia població de classes mitjanes que van des del rendista a l'ocupat en el sector terciari o l'administraciò pública. En conseqüencia, és aquí on es desplegaran, fonamentalment, els signes de l'hegemonia d'una cultura burgesa que es manifesta en el paisatge urbà: l'autentic protagonista de l'urbanisme de les grans capitals serà la societat civil.

Alguns equipaments com passeigs, parcs, galeries comercials, teatres, atraccions..., sorgiran com a resultat de la nova sociabilitat burgesa que es desplegarà, en gran part, en aquests nous espais públics. Una intensa activitat urbanística, que s'inscriu en la gran expansió dels negocis immobiliaris durant el segle XIX, adequarà als requeriments de la nova classe en ascens, l'espai urbà heretat i les noves expansions necessaries a una ciutat sempre en creixement. (..)”


TRADUÇÃO DO BLOG
"(..) Residências de trabalhadores e fábricas dominarão cidades especificamente industriais. Nos centros urbanos com funções metropolitanas, haverá também um tecido industrial, muitas vezes constituído por pequenas empresas com características pré-industriais, mas que trabalham com artigos de qualidade e uma população normalmente mais preparada e combativa do que as das cidades-fábrica. Mas a característica da cidade metropolitana será a sua função central de negócios, transportes e atividades comerciais, serviços, transporte, administração..., e seu papel como lugar de residência de uma grande população de classe média que abrange de locatários a empregados do setor terciário e da administração pública. Consequentemente, é aqui que os sinais da hegemonia de uma cultura burguesa que se manifesta na paisagem urbana se desdobrarão fundamentalmente: o verdadeiro protagonista do urbanismo das grandes capitais será a sociedade civil.

Alguns equipamentos como calçadões, parques, shopping centers, teatros, atrações..., surgirão como resultado da nova sociabilidade burguesa que será implantada, em grande parte, nesses novos espaços públicos. Uma intensa atividade urbana, que se insere na grande expansão dos negócios imobiliários durante o século XIX, se adequará às exigências da nova classe em ascensão, ao espaço urbano herdado e às novas expansões necessárias para uma cidade em constante crescimento. (..)"

2020-08-03