ALONSO W, “The Historic and the Structural Theories of Urban Form: Their Implications for Urban Renewal”. Land Economics Vol. 40, No.2 (May, 1964), pp. 227-231. University of Wisconsin Press.https://docs.google.com/document/d/1-bHp274ABR8iKw3TvP4Et2Z6YOpjQbOq1ppaSC4mczk/edit?usp=sharing
Este não é, propriamente, um texto clássico, mas me parece
de algum interesse tanto para a história da ciência /disciplina /estudos da
organização espacial urbana quanto para a reflexão sobre a abrangência técnico-científica
do urbanismo contemporâneo.No mesmo ano (1964) da publicação de sua obra paradigmática
Location and Land Use, Willliam Alonso intervém no debate público sobre os planos de
renovação (hoje diríamos gentrificação) de áreas centrais obsolescentes de Nova
York alertando para os riscos da empreitada caso
seus mentores se mantenham aferrados ao que chama de “teoria histórica” da
ordem espacial urbana – baseada, segundo ele, nos “modelos” de Burgess
(Círculos Concêntricos, 1925) e Hoyt (Setores de Círculo, 1937).
Em termos visivelmente diplomáticos, Alonso propõe que se
leve também em conta os postulados da “teoria estrutural” da organização
espacial urbana, vale dizer as leis do mercado de solo, àquela altura fortemente
marcado pela preferência da ascendente classe média dos EUA pelas residências
unifamiliares em amplos terrenos suburbanos.
Depois de observar a contradição entre a “convicção, própria
dos planejadores, da necessidade de um plano geral” e o caráter espasmódico dos
projetos de renovação urbana - “um atrás do outro sem qualquer visão de
conjunto” -, Alonso afirma que a ausência da abordagem metropolitana impede
que os defensores dos projetos de renovação urbana tenham uma visão clara da relação
entre “os objetivos da comunidade [que para Alonso é, diga-se de passagem, a soma dos objetivos das famílias e firmas individualmente consideradas] e o entendimento de sua estrutura”.
Em linguagem mais direta, Alonso conclui dizendo que os
projetos de renovação urbana das áreas centrais “só dizem respeito a um setor muito
restrito e especializado do mercado” e “correm o risco de fracassar
completamente devido à incompreensão do funcionamento do sistema urbano e a uma
interpretação equivocada da estrutura da demanda.”
Desconheço - ainda - as consequências desse debate, mas creio
que Alonso tinha razão quanto à factibilidade dos projetos de renovação
urbana das áreas centrais na escala pretendida.
O mesmo não diria de sua concepção de “teoria histórica” e “teoria
estrutural” da ordem espacial urbana - tema para alguma reflexão e, com certeza, um futuro comentário. E é por isso que concluo afirmando: mesmo
não sendo um clássico, este artigo é notável pelo seu valor bibliográfico e epistemológico. Para estudiosos das estruturas espaciais urbanas e, particularmente, da urbanização nos Estados Unidos de meados do século XX, Alonso discutindo Burgess e Hoyt não é assunto de pouca monta.
2023-10-04