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Parque Aquático Júlio Delamare |
Para qualquer administrador público atento, a contiguidade do complexo
esportivo do Maracanã (Estádio do Maracanã, Ginásio do Maracanãzinho, Parque
Aquático Júlio Delamare e Estádio de Atletismo Célio de Barros) com os campi da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Escola Técnica
Federal Celso Suckow da Fonseca (CEFET), constitui uma circunstância
singularmente interessante e promissora.
Do outro lado da via férrea, eleva-se o maior parque do Rio de Janeiro, a histórica Quinta da Boa Vista, onde ainda dominam o Museu Nacional (URFJ) e o Zoológico da cidade.
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Estádio de Atletismo Célio de Barros |
Para um projeto olímpico identificado com o progresso da educação
esportiva e cidadã, esse conjunto de circunstâncias, combinado ao fato de estarmos no
coração da metrópole, com abundante oferta de todas as modalidades de
transporte público, seria – como diria o ex-presidente Lula – uma “oportunidade
extraordinária”.
Ora, se a estratégia urbanística do projeto olímpico de 2004 era “urbanizar”
a Cidade Universitária (UFRJ), na Ilha do Fundão, a do projeto olímpico de 2016,
sobretudo depois dos vultosos gastos feitos em todo o complexo do Maracanã para
os Jogos Panamericanos de 2007, bem poderia ter sido potencializar esse investimento
mediante a criação de um grande complexo desportivo-educacional UERJ-Maracanã-CEFET integrado a uma
“nova centralidade" urbana na região da Praça da Bandeira, abrangendo a Quinta
da Boa Vista e o Museu Nacional (UFRJ) e multiplicando as oportunidades de inserção econômica e social da comunidade da Mangueira.
A elaboração de um projeto urbano que materializasse tal estratégia
seria uma justa homenagem a várias gerações de urbanistas cariocas, que, há
décadas, percebem na lenta e caótica justaposição das infraestruturas do corredor rodo-ferro-metroviário da Avenida Radial Oeste a formação de um território profundamente fragmentário, inóspito e desumano – numa palavra, antiurbano – a exigir um projeto de renovação e integração.
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"Cidade Universitária" do Maracanã |
Algum pesquisador da história do urbanismo do Rio de Janeiro poderia, quem sabe, reunir um tesouro de preciosidades caso se dedicasse a desencavar, nos arquivos da municipalidade e nas gavetas de escritórios de arquitetura, idéias para a reurbanização desse segmento da cidade.
O último desses projetos, é preciso dizer, foi o de uma consultoria
francesa contratada pelo ex-prefeito César Maia, que apresentou publicamente suas
propostas para um ambicioso programa de desenvolvimento urbanístico e imobiliário da área no exato dia do ano de 2008 em que – ironia do
destino! – começava a desmoronar, nos Estados Unidos, a pirâmide financeira
mundial construída sobre a securitização das hipotecas imobiliárias.
Consumada, porém, a eleição de Eduardo Paes, atira-se na lata do lixo o projeto francês – que,
entre outras coisas, cometia a heresia de propor uma indispensável cota de
habitação social no Porto Maravilha – e inicia-se um novo ciclo de “urbanismo
olímpico” focado na convergência de todos os equipamentos, infraestruturas e
oportunidades imobiliárias na Barra da Tijuca e no Porto Maravilha e na
delegação de todos os planos e projetos da cidade aos escritórios das grandes
empreiteiras. No complexo esportivo do Maracanã, tudo o que constitui obstáculo à privatização escandalosamente facilitada e dirigida da nova arena de 1,5
bilhão de reais é condenado à demolição – a começar pelo Museu do Índio e Aldeia Maracanã e terminar pelo Parque Aquático Julio Delamare e pelo Estádio
de Atletismo Célio de Barros.
Para vislumbrar o imenso potencial social, educacional e urbanístico
do complexo esportivo do Maracanã seria necessário que os governantes de todas
as esferas fossem movidos pela tradicionalíssima ideia de que o esporte, antes que um lucrativo
ramo de negócios, é uma dimensão da cultura cidadã baseada na escola.
E seria necessário também que as administrações Lula e Dilma, governos comprovadamente interessados na melhoria das condições de vida da maioria dos brasileiros, tivessem
tido, como fiadores e financiadores de primeira e última instância dos projetos
Copa do Mundo FIFA 2014 e Rio Olímpico 2016, uma postura radicalmente diferente em relação às exigências da FIFA e do COI - entidades controladoras dos
direitos econômicos dessa marcas (como podem não ser Patrimônio da Humanidade?) e seus respectivos eventos.
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UERJ, EA Célio de Barros, Maracanã e Maracanãzinho |
Há vinte anos, quando as grandes metrópoles brasileiras eram o palco principal da devastação econômica imposta pelas medidas de austeridade do FMI, curvar-se ante as tirânicas exigências dessas entidades parecia ser o preço a pagar pela chance de poder disputar uma fração das receitas da indústria do turismo e dos grandes eventos internacionais.
Mas, e hoje, quando o nosso governo alardeia pelo mundo as suas façanhas econômicas e bate no peito a ditar cátedra desenvolvimentista aos antigos credores, prostrados pelas perdas sofridas na roleta imobiliário-financeira mundial?
Como pode a FIFA nos obrigar à construção de uma penca de estádios de futebol sabidamente inviáveis, elefantes brancos fadados, a exemplo do já ocorrido na Grécia, Portugal, China, África do Sul e Ucrânia, a sangrar indefinidamente as finanças locais a ponto de ter cogitada a sua inglória demolição?
Como pode o projeto olímpico de um país cuja renda per capita equivale
a ¼ da dos países ricos, e onde são dolorosamente escassos a infraestrutura em
geral e os equipamentos desportivo-educacionais em particular, exigir a demolição de unidades desportivas
completas, recém reformadas e plenamente operacionais como o Parque Aquático Júlio Delamare e
Estádio de Atletismo Célio de Barros, situadas quase dentro dos compactos campi
urbanos da UERJ e do CEFET?
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CEFET, PA Júlio Delamare, Maracanã e Maracanãzinho |
Como pode o projeto olímpico Rio 2016 exigir o descarte como inúteis, quando não o abandono e a
destruição, de instalações construídas e reformadas com
dinheiro público para os Jogos Panamericanos de 2007, como no o caso do velódromo da Barra da Tijuca e do Parque Aquático Maria Lenk?
Como pode o projeto olímpico Rio 2016 descartar a recuperação do CD Caio Martins, em Niterói, para apoio aos Jogos Olímpicos e posterior uso de seus cidadãos em geral e sua juventude estudantil em particular?
Como esquecer o vergonhoso silêncio de todas as esferas de governo ante
a cínica bazófia dos promotores e patrocinadores da Copa do Mundo FIFA 2014 e
dos Jogos Olímpicos 2016 a dizer que “tudo ser[ia] feito com recursos
privados”?
Como entender e aceitar o aval dos governos reformadores de Lula e Dilma à transformação da Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016 numa
orgia de destruição de bens públicos para a construção de outros tantos bens e equipamentos economicamente inviáveis com recursos públicos (isenções fiscais incluídas) invariavelmente a salvo de qualquer controle social a pretexto de "urgência de prazos" e garantidos pelos contratos draconianos firmados com os promotores?
“Empreiteiras, locupletai-vos” - parece até que foi esta a palavra de ordem transmitida de boca em boca em meio à ruidosa celebração dos anúncios "O país sede da Copa do Mundo FIFA 2014 é... o Brasil"; "A cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016 é... o Rio
de Janeiro!”
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UERJ |
A iminente demolição do Parque Aquático Júlio Delamare e do Estádio de
Atletismo Célio de Barros é um crime contra a educação e o esporte brasileiros,
em nome das necessidades comerciais da FIFA e do COI.
Ela traz à tona, de um modo particularmente doloroso para os amantes do futebol
e dos esportes olímpicos, a verdadeira natureza da Copa do Mundo da FIFA e dos Jogos
Olímpicos na era da finança globalizada: uma transação incontrolável entre capitais transnacionais sedentos de valorização com baixo investimento e governos nacionais enfeitiçados pelo potencial de publicidade e prestígio das marcas esportivas mais populares do planeta.
2013-04-01