quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Círculo virtuoso

Deu n’O Globo on line 07-01-2014 por Renato Grandelle
http://oglobo.globo.com/ciencia/massa-de-ar-seco-faz-chuvas-de-verao-se-tornarem-raridade-11225292#ixzz2pvB6PlE3

Massa de ar seco faz chuvas de verão se tornarem raridade
"Aspirador de nuvens’ é formado pelo aumento da temperatura do oceano e maior circulação dos ventos

Círculo virtuoso dos campeões de vendas
http://www.aaetconsultoria.com.br/maisinfo.asp?CodProduto=775

Depois de ler essa matéria n'O Globo online, comecei a entender porque nós, niteroienses, nos damos ao luxo de cobrir o bairro de Icaraí – uma pequena planície costeira de cota baixíssima, poucos centímetros acima do nível do mar – com ciclópicas edificações a taxas de ocupação de terreno de quase 100%, o que equivale em todos os casos a 100% de impermeabilização do solo; sem falar que estamos cuidando, neste exato verão, de aplainar as ruas desta aprazível extensão de Icaraí onde eu resido, chamada Santa Rosa, um bairro de cotas ligeiramente mais elevadas e ruas calçadas de paralelepípedos, com novas e reluzentes (!) capas asfálticas.


http://www.vivareal.com.br
A coisa funciona assim: não havendo chuvas, libera-se a impermeabilização do solo. O calor aumenta, mas somos dele poupados pelos aparelhos de ar-condicionado de nossos automóveis, que não se danificam porque as ruas estão lisinhas – tão lisinhas que as águas da pouca chuva que cai, e cairá cada vez menos, escoarão rapidamente para os exíguos canais que as levam até o mar. Devidamente polidos os velhos arruamentos arborizados, todos os novos membros da classe B/C metropolitana que - a exemplo do que passou comigo mesmo há 4 anos - aspiram a um lugar de fama menos violenta para morar, vem se agregar a esse 1km3 de classe média que é Icaraí, demanda recebida de braços abertos pela indústria da incorporação imobiliária, por sua vez incentivada pelo governo municipal com coeficientes de aproveitamento (líquido!) próximos de 6, outorga onerosa do direito de construir a preço de liquidação e... taxas de ocupação de terreno que equivalem a 100% de impermeabilização do solo. Completada a impermeabilização de grandes extensões de solo, começam a faltar chuvas. Fecha-se o círculo virtuoso!

Em suma, impermeabilizar todo o solo privado e trocar ruas úmidas e levemente trepidantes por escaldantes canaletas de asfalto é, no longo prazo, uma política urbano-ambiental sagaz e eficiente. Os temporais que arrasaram o Morro do Bumba são coisa do passado.

2014-01-09