Marco do Saneamento: Sozinho não vai
(..) O planejamento urbano e territorial é uma tarefa de
Estado que precisamos construir tanto para rompermos o ciclo de pibinhos pífios
que nos assolam há tempos como para reduzir a desigualdade intraurbana, que a
pandemia escancarou. Até aqui os governos têm ouvidos moucos para o tema urbano.
Ignoram o enorme potencial que o investimento em cidades significa para a
economia e para o desenvolvimento social.
Talvez as novas empresas de saneamento possam compreender que o sucesso de seu desempenho depende da inserção do setor no âmbito da cidade complexa, a ser planejada e ser tratada. E possam ajudar na mudança de rumo. Sem coordenação de políticas, o esforço será frustrado. Sozinho, não vai. O Brasil não precisa de outras décadas de abandono da cidade. Precisa qualificá-las para alcançar o desenvolvimento. (O Estado de S Paulo / coluna Opinião)
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Ainda não há cadáver, mas o Estadão já está cuidando do álibi. Se fracassar a meta da privatização do saneamento - 90% de cobertura até 2033 -, a responsabilidade terá sido uma vez mais do próprio Estado, que não planejou as cidades tão sábia e eficientemente como fazem os empresários com seus negócios.Por que, então, não entregar de uma vez os próprios governos à iniciativa privada, mediante licitações insuspeitas a cargo de consultorias de arbitragem?
De duas uma: ou daria certo, e ingressaríamos numa nova Golden Era de prosperidade privatista, ou daria errado e teríamos de concluir que já não há álibi possível: os robôs teriam, de acordo com as Leis de Asimov, de demitir o patronato e instaurar o governo planetário dos computadores quânticos.
Para bem da civilização.
2020-07-29