quarta-feira, 15 de julho de 2020

Correndo para não chegar

Deu no Guardian
07-07-2020, por Peter Beumont
'We squandered a decade': world losing fight against poverty, says UN academic
Goal to eradicate poverty by 2030 ‘completely off track’, says outgoing special rapporteur, with Covid-19 likely to impoverish millions more
A child in Kabul, Afghanistan, which is among the poorest countries in the world.
Foto e texto: Altaf Qadri / AP / The Guardian

Sou incondicionalmente favorável a iniciativas e programas governamentais compensatórios e redistributivos, em todos os campos a começar do meu - a gestão urbana -, incluindo aqueles cujos resultados são modestos, como a Outorga Onerosa do Direito de Construir e seus congêneres, aos quais dediquei bastante reflexão e certa quantidade de artigos neste blog.  

Muito especialmente, defendo a renda mínima, a educação e a saúde universais.

Como, porém, as políticas redistributivas, compensatórias elas próprias da concentração persistente da renda, são ciclicamente revertidas pela crises recessivas (como deixa claro a América Latina dos anos 2000 e 2010), resulta que esses pacotes, praticados ad infinitum, acabam por normalizar a pobreza e a desigualdade numa época em que a ciência e a técnica, muito especialmente o cálculo e o planejamento econômico, permitem prover a humanidade de tudo o que é necessário e muito mais - sem sacrifício do meio ambiente planetário.    

Há muito que a pobreza e a desigualdade não provêm da escassez, mas da inércia reprodutiva de um regime social incapaz de absorver, que dirá distribuir, a abundância por ele mesmo criada; um regime para o qual é um imperativo econômico - não uma opção ideológica, como quer Piketty - a destruição preventiva ou catastrófica de toda riqueza socialmente produzida que não conduza à valorização dos capitais privados concorrentes.

Esperar que o capital erradique a pobreza e a desigualdade e reverta a degradação do meio ambiente planetário é um exercício de auto-engano, tendente, eu temo, ao negacionismo científico. Muito mais provável é ele acabar com o que entendemos como civilização

Este deve ser o quadragésimo fracasso em 40 anos das metas da ONU para a erradicação da pobreza. Precisamos passar à próxima fase. Resta saber como


2020-07-14