terça-feira, 26 de novembro de 2024

A renda da terra e a cidade feudal: notas

https://www.historictownstrust.uk/maps/medieval-london 


Editado em 03-12-204

Em sua célebre contribuição do ano de 1971 intitulada “Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities”, o geógrafo estadunidense J E Vance Jr (1925-1999) sustenta que o uso, nas cidades do baixo medievo, da renda fundiária urbana fonte de rendimentos regulares de uma nova classe de proprietários é o marco distintivo do que chama de “morfogênese” da cidade capitalista. [1]

Tendo em vista uma análise desse texto a ser proximamente publicada neste blog, e tomando como premissa a especificidade dos modos de produção feudal e capitalista, as notas que se seguem esboçam algumas ideias sobre a extensão da renda feudal às cidades e sua relação com a indústria artesanal urbana. 
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A sociedade feudal baseava-se na renda agrícola - em espécie ou tempo de trabalho nas terras do senhor e, mais tarde, também em dinheiro - imposta pela aristocracia guerreira sucessora do colonato romano e das comunidades tribais germânicas, à guisa de estabilidade e proteção, aos camponeses que ocupavam e cultivavam a terra com seus instrumentos de trabalho. A produção agrícola excedente às estritas necessidades dos servos rurais, apropriada pela nobiliarquia fundiária, era a base da riqueza na sociedade feudal.

Em contraste, a sociedade capitalista, gestada durante séculos no seio da sociedade feudal europeia, baseia-se na produção generalizada de mercadorias por trabalhadores livres para vender, em troca de um salário, a sua força de trabalho aos proprietários das instalações, instrumentos e insumos da produção. A base da riqueza capitalista é o mais-trabalho assalariado, vale dizer o valor das mercadorias produzidas que exceda os custos totais de produção, incluídos os salários, apropriado pelos capitalistas como lucro.

Com o ressurgimento das cidades na Europa do século XII - para uns o resultado da riqueza gerada pelo comércio de longa distância, para outros da riqueza criada pelo lento, mas efetivo, desenvolvimento da agricultura feudal entre os séculos VI e XI, e para outros ainda uma combinação das duas coisas [2] -, a renda fundiária estendeu-se ao âmbito urbano [3], para o qual se transferira a produção de utensílios e ferramentas até então limitada aos castelos e monastérios. Com as cidades veio também a necessidade de alimentá-las, consequentemente a permissão, e até o incentivo em muitos casos, para que os camponeses vendessem parte da sua produção aos citadinos.

Os produtos da indústria artesã, base da economia urbana feudal sem a qual a renda urbana não poderia existir, muito menos se enraizar, eram comercializados - à exceção, obviamente, das construções - em parte nas próprias oficinas-residências dos produtores, em parte nos mercados periódicos onde as famílias urbanas e rurais se abasteciam mutuamente - aquelas de produtos agrícolas indispensáveis à subsistência, estas de ferramentas, utensílios domésticos, vestimentas e artigos básicos ‘importados’, como o sal.

Por serem as catedrais os lugares mais frequentados das urbes feudais, seus pátios e áreas contíguas foram, inicialmente, os lugares preferenciais dos mercados periódicos. A centralidade urbana não era, contudo, claramente definida: como pontos de contato da cidade com o espaço rural à sua volta, e de recepção de peregrinos e mercadores, as portas das cidades, que mesmo na ausência de ameaças constantes não estavam lá por acidente, atraíam o assentamento intra-muros e extra-muros de armazéns, pousadas e tavernas, de algumas classes de artesãos e até de novos burgos.
[4] [5] [6] [7]

Mas o mesmo sistema feudal que, com os progressos na agricultura e o aumento da riqueza, fizera ressurgir as cidades, era também, por outro lado, um obstáculo virtualmente intransponível à ampliação dos mercados consumidores da produção urbana, uma vez que a imensa maioria da população continuava habitando os campos e cultivando-os de sol a sol em condições de pobreza quase absoluta.

Por isso, ainda que empregando certa quantidade de jornaleiros libertos ou evadidos da servidão rural, os artesãos urbanos cuidavam antes de tudo - e o fariam durante muito tempo mais - de proteger seus privilégios de mercado por intermédio de guildas autorizadas pelos potentados feudais ou pela própria coroa. O mesmo vale para os mercadores: sua riqueza, proveniente da discrepância, tão rentável quanto incerta, entre os preços de compra e venda de artigos estrangeiros apreciados pela nobreza, era comumente aplicada na aquisição de feudos [8], ou seja, no prolongamento da ordem senhorial.

À exceção de uma ínfima minoria de senhores, muitos deles clérigos católicos, e mercadores ricos residentes nas cidades, a renda do solo urbano, que a espelho da própria hierarquia feudal consistia em um obscuro sistema de 'sublocações' sucessivas [9], só podia provir dos módicos ganhos da produção artesanal, dos serviços pessoais, do incipiente comércio de varejo e dos parcos rendimentos de algum trabalho já assalariado - às expensas, portanto, do poder de consumo das famílias e da consequente acumulação de capitais porventura investidos na produção e no comércio.

A renda urbana contradizia, de fato, o fundamento da sociedade feudal, mas apenas na medida em que os artesãos, que formavam a espinha dorsal da economia urbana e por isso mesmo pagavam as maiores rendas [10], produziam, tal como os futuros capitalistas, não para consumo próprio ou do senhor feudal, mas para a troca no mercado - por outros utensílios, por artigos importados e, principalmente, por produtos agrícolas, com maior ou menor interveniência da moeda.

Contudo, renda urbana e produção para o mercado estavam a léguas de significar, a essa altura, capitalismo, modo de produção da riqueza que supõe o encontro, no mercado, de detentores de riquezas previamente acumuladas com trabalhadores livres da servidão rural, mas expropriados de suas terras e ferramentas, portanto compelidos a vender sua força de trabalho para continuar vivendo. E não só: capitalismo supõe também certa escala de produção, comércio e consumo, portanto a ampla circulação da moeda em âmbitos territoriais bem definidos, que viriam a ser os Estados nacionais, sem o quê a parte do lucro não consumida nem entesourada não se converte em reinvestimento continuado e consequente acumulação. 

O lugar dos artesãos e mercadores na sociedade feudal e seu papel na formação da cidade capitalista é assim resumido por Le Goff:

O nome que esses beneficiários dos privilégios urbanos vão usar de preferência, burgenses, apenas continuará designando uma parte da população das cidades, mas a palavra francesa que o traduz, borjois, batizará uma classe social, a burguesia, que triunfará no século XIX com o capitalismo e uma nova revolução urbana, a da cidade, nascida da revolução industrial. [11]

Não surpreende, pois, que da análise de escrituras de transações imobiliárias do século XIII nos burgos ingleses de Coventry, Worcester, Warwick e Stratford, bem como de registros de arrendamentos em Gloucester no ano de 1455, Hilton tenha concluído não haver nesse material indicações de um significativo acúmulo de propriedade fundiária urbana até o século XIII, e que a relativa concentração observada nos séculos XIV e XIV não se deu primordialmente em benefício de burgueses, mas de clérigos e instituições católicas. [12]

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A próxima postagem desta série abordará os trabalhos de Hilton (1967) e Langton (1977) (ver Notas 9 e 10) sobre os registros de rendas urbanas em cidades das Midlands inglesas dos séculos XIII-XV, com foco nos problemas da organização sócio-espacial urbana.


2024-11-26

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NOTAS

[1] “The main argument of this paper (..) is simply that the treatment of urban land as a source of income, which came in with the general conceptual baggage of the capitalist system as it developed, fundamentally transformed the morphology of the city. (..) The introduction of capitalism transformed the meaning of urban land. In place of land occupation primarily for the pursuit of a trade there came the viewing of land as property, most significant for its continuing economic return. Ownership was divorced from use and a class of capitalists arose that had little to do directly either with the productive and trading activities of the town or with the conduct of its government.” [VANCE Jr J E (1971), "Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities”. Economic Geography 47,101-20.
https://www.jstor.org/stable/143040

[2] Para Le Goff, "The towns were born not only out of the reawakening of trade, but also out of the growth of agriculture in the west, which was beginning to supply urban centres with a better supply of food and manpower." [LE GOFF J, Medieval Civilisation, p. 73–74]

[3] "O centro das cidades é por vezes tortuoso. É um dédalo de ruelas. Essa desordem provém da marca feudal muitas vezes impressa no solo urbano. Os limites dos feudos e das censives, espaço sobre o qual o senhor cobra um imposto em dinheiro, o censo, explicam-no frequentemente." [LE GOFF J, O Apogeu da Cidade Medieval. São Paulo: Martins Fontes 1992, pp. 29-4.

[4] "(..) la puerta produjo, sin normas especiales de distribución en zonas, los barrios económicos de la ciudad; y como no había solamente una puerta, la naturaleza misma del tráfico procedente de diferentes regiones tendió a descentralizar y diferenciar las zonas comerciales.” [MUMFORD L (1961), La Ciudad en la Historia, Capítulo X. Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, pp. 503-24]

[5] Para muitas cidades medievais, com efeito, é um problema alcançar a unidade a partir da multiplicidade dos núcleos que a princípio se justapuseram ou, em todo caso, da freqüente dualidade que opõe uma cidade antiga, a cité, cidade episcopal, senhorial, com grande proporção de eclesiásticos, a uma nova aglomeração nascida do artesanato e do comércio, o burgo. [LE GOFF J, op. cit.] [Itálico PJ]
 
[6] “Clear locational controls are apparent in another trade, that of the blacksmiths for they were mainly engaged in shoeing horses and clearly positioned adjacent to the main town gates where journeys started and finished.” [CARTER H, An introduction to urban historical geography - "Chapter 8 The Internal Structure of the City: the central area". London: E. Arnold 1983]
https://archive.org/details/introductiontour0000cart

[7] (..) A cidade medieval é policêntrica. (..) O que estrutura a cidade é um certo número de lugares e monumentos que determinam até certo ponto o ordenamento das casas e das ruas e, sobretudo, a circulação. (..) Três elementos inscrevem na planta das cidades alsacianas um traço particularmente importante: o castelo senhorial, as igrejas e os mercados. Estes dois últimos elementos, aliás, estão às vezes associados (..). [LE GOFF J, op. cit]

[8] “Braudel suggests that families rarely remained in trade for more than three generations before buying their way into the old ruling class”. [HARMAN C, “From feudalism to capitalism". International Socialism Winter 1989, pp. 35–87]

[9] "Thomas Payn, a Warwick burgess who bore the ephemeral title of ‘mayor’, held a dozen burgages for low rents from the Earl of Warwick and from a number of ecclesiastical landlords, as well as three of which he was principal landlord. His rent income from his sublettings was nearly four times as great as the rent he had to pay out." [HILTON R H 1967,  "Some problems of urban real property in the middle ages”. In Socialism, capitalism and economic growth; essays presented to Maurice Dobb. Cambridge: Cambridge University Press, 1967

[10] “£1 was the most common tenement rent and, as the averages show, tenements were generally let at considerably higher rents than cottages. Higher still, as one would expect, were the rents of tenements with shops, inns and bakeries and the principal tenement, whilst the shops without dwelling places were the cheapest buildings to rent, an index of their small sizes and flimsiness.” [LANGTON J, “Late Medieval Gloucester: Some Data from a Rental of 1455”. Transactions of the Institute of British Geographers Vol. 2, No. 3, Change in the Town (1977), pp. 259-277. The Royal Geographical Society (with the Institute of British Geographers)
https://www.jstor.org/stable/621831

[11] LE GOFF J, op. cit.

[12] HILTON RH 1967, op. cit.

sábado, 23 de novembro de 2024

Subsídio é bom e eu gosto!


Infomoney / Estadão conteúdo 23-11-2023
https://www.infomoney.com.br/consumo/incorporadoras-do-minha-casa-minha-vida-vivem-fase-de-ouro-e-lucro-somado-sobe-143/

"As incorporadoras que atuam no Minha Casa Minha Vida (MCMV) apresentaram resultados bastante positivos no terceiro trimestre, confirmando o melhor momento do programa habitacional desde a sua criação, há 15 anos. (..) O aumento do lucro em um ritmo maior que o da receita se deve à diluição das despesas administrativas e comerciais, com melhora das margens de lucro. A margem bruta média do setor atingiu 34,7% alta de 2,8 pontos porcentuais. E a margem líquida chegou a 9%, avanço de 4 pontos porcentuais. O levantamento foi realizado pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) com os números das cinco incorporadoras do segmento econômico com ações listadas na bolsa de valores: Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano e Tenda. (..)
Montagem: Àbeiradourbanismo

2024-11-23

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Apontamentos: M Abreu e a transição urbana no Brasil


ABREU Maurício*, “Cidade brasileira: 1870-1930”
https://pt.scribd.com/document/162723437/62
(*) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro


Concordo inteiramente com Abreu que o período 1870-1930 é aquele em que “os processos capitalistas modernos firmaram-se solidamente nas cidades brasileiras”. Nelas surgiram, de fato, “relações de trabalho de tipo assalariado capitaneadas pela produção industrial e pelo setor de serviços urbanos” e “um mercado urbano de terras” coroado pela “promoção fundiária em grande escala, representada por empresas capitalistas dedicadas à produção e comercialização de lotes urbanos, em muitos casos em estreita associação com o capital bancário”. 

Por uma coincidência que nada tem de casual, foi este o exato intervalo temporal que deduzi, das leituras de Strohaecker sobre Porto Alegre [1], de Queiroz Ribeiro e Lima Barreto (!)  sobre o Rio de Janeiro [2] [3] e de outras mais sobre São Paulo, Salvador, Recife e Belo Horizonte, como sendo o do nascimento das metrópoles capitalistas brasileiras

Essa concordância, aliás, ocorre-me agora, é um bom motivo para escrever um comentário sobre o problema da periodização na história urbana brasileira.

Deixando de lado por ora - para focar no meu campo de investigação - o seu ótimo resumo do desenvolvimento do urbanismo e das políticas urbanas brasileiras nesse período, observo um aspecto do texto de Abreu em que não coincido, ao menos em parte: a assimilação do novo mercado de lotes suburbanos a um processo de “desconcentração urbana” [4]. 

É certo que “as cidades maiores abandonaram de vez a estrutura urbana anterior e passaram a crescer segundo vetores de expansão distintos, separando usos e classes sociais no espaço”. Por isso mesmo, me parece, a “desconcentração” é apenas relativa. Ao nascente espraiamento suburbano dessa época corresponde o início de uma radical transformação das cidades herdadas do período colonial, para se tornarem centros das metrópoles radiadas com aumentos brutais das densidades edificadas exigidos pelos negócios em geral e, principalmente, pelas grandes firmas comerciais e bancárias.

Como muito bem observou o economista e avaliador Richard Hurd em sua única obra Principles of City Land Values, publicada em 1903, a expansão da cidade do século XX é, ao mesmo tempo, periférica e central.

A ‘revolução da centralidade’, unindo num só movimento reciprocamente determinado o adensamento do núcleo central de negócios e o espraiamento residencial suburbano, com a relativa compactação do pericentro residencial e a proliferação de subcentros, é, a meu juízo, o fenômeno geográfico / urbanístico que melhor define o advento da cidade capitalista por oposição às urbanizações precedentes. 

2024-11-10

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NOTAS

[1] STROHAECKER T M, “Atuação do Público e do Privado na Estruturação do Mercado de Terras de Porto Alegre (1890-1950)”. Scripta Nova - Revista Electrónica de Geografía Y Ciencias Sociales / Universidade de Barcelona, Vol. IX, núm. 194 (13), 1 de agosto de 2005.
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-194-13.htm

[2] QUEIROZ RIBEIRO L C, Dos Cortiços aos Condomínios Fechados - As formas de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro, p. 32. Observatório das Metrópoles, 2015. Embora essa referência temporal permeie boa parte do texto, o Capítulo 5, especificamente, intitula-se “Transformações do parque imobiliário - 1870-1930”.

[3] LIMA BARRETO A H, Lima Barreto Completo I: Sátiras e Romances Completos. Edição do Kindle. 

[4] "Na esteira da redução da fricção do espaço, que bondes e trens proporcionavam, e do aumento da demanda por habitação, que o crescimento demográfico impunha, o retalhamento de terras se acelerou e a desconcentração urbana rapidamente se realizou, só que sob novas bases: transações com chácaras e lotes, antes realizadas principalmente em função de seu valor de uso, passaram a ser determinadas sobretudo pelo valor de troca. [ABREU M, “Cidade brasileira: 1870-1930”] [Destaque PJ]
https://pt.scribd.com/document/162723437/62

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Langton 1975: padrões residenciais urbanos na Inglaterra 1670-1750


LANGTON John, “Residential patterns in pre-industrial cities: some case studies from seventeenth-century Britain”. Transactions of the Institute of British Geographers No. 65 (Jul 1975), The Royal Geographical Society, pp. 1-27.
https://www.jstor.org/stable/621607


ABSTRACT

Newcastle 1745
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The models of pre-nineteenth-century cities formulated by Sjoberg and Vance are compared. The two writers postulated different kinds of social ecology because they based their deductions about spatial patterns upon different social structures, and this difference, in turn, resulted from their use of different economic variables as sociological determinants. An analysis of the hearth tax returns for three British cities, and of data produced by linking these returns with the admissions list of freemen in Newcastle, shows that neither of their models replicates what happened in these cities. In Newcastle, a merchant oligarchy existed, dominating a particular residential-cum-economic area, and the gild organization of crafts was reflected in the spatial zoning of occupational groups. Although some parts of Newcastle were occupationally mixed, this probably did not represent the emergence of ‘class zoning’.


In the literature of urban geography, little space is devoted to pre-nineteenth cities. When the subject is discussed it is usually treated with a bland lack of controversy: textbooks, and monographs and papers on historical and modern cities are alike in their exclusive and uncritical presentation of Sjoberg’s generalizations about what he termed the ‘pre-industrial city”1. The reasons for this situation are not, of course, hard to find. Until recently, this was the only set of generalizations available, and the continents in which much of the recent work in urban social geography has been done have no great fund of pre-nineteenth-century urban experience. The current preoccupation of urban social geographers with techniques of analysis which require large arrays of data, and with theories which link urbanism with industrialization or modernization, and thus define the pre-nineteenth-century city out of consideration, also contribute to this end. Moreover, the ease with which the processes which destroyed the ‘pre-industrial city’ can be thought of as synonymous with those which created the modern city has contributed to the development of the concept of ‘ecological transition’, and this fusion seems only to have bolstered the confidence of urban geographers in Sjoberg’s monolithic ideas about the nature of cities before the transition occurred.2 The result is a general agreement that urban society was segregated by wealth or status, with the rich and powerful living near to the centre and the poor and powerless on the periphery of cities before industrialization, or modernization. Afterwards, class-based segregation became manifest, and the social geography of cities, in terms of this two gross categories, was reversed. (..)

Acesse o artigo na íntegra pelo link (inscrição gratuita requerida)
https://www.jstor.org/stable/621607 

2024-11-06

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

M Abreu: A cidade brasileira 1870-1930

ABREU Maurício*, “Cidade brasileira: 1870-1930”
https://pt.scribd.com/document/162723437/62
(*) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro


(..)

Mercantilização: a formação de um mercado urbano de terras

Imagem: http://www.mauricioabreu.com.br/

Foi entre 1870-1930 que os processos capitalistas modernos firmaram-se solidamente nas cidades brasileiras. A nível da produção de mercadorias, foi nessa fase que as relações sociais de base capitalista se difundiram, substituindo aquelas que vigoraram em tempos anteriores. A escravidão  urbana, já em decadência em meados do século XIX, esgotou-se rapidamente. O trabalho familiar ainda mostrou algum crescimento. Mas foram as relações de trabalho de tipo assalariado, capitaneadas pela  produção industrial e pelo setor de serviços urbanos, aquelas que mais se expandiram nas cidades, tornando-as cada vez mais diferentes do campo, onde relações pretéritas de produção e de trabalho  ainda mantiveram-se predominantes. 

Foi nas cidades, e nesse período, que se verificou também uma outra faceta do enraizamento acelerado do capitalismo moderno. Trata-se da emergência de um mercado urbano de terras, que se estruturou primeiramente nas cidades que sofriam forte pressão imigratória (notadamente Rio de Janeiro e São Paulo), difundindo-se depois pelo restante das áreas urbanas. Transações com terras e moradias tiveram lugar no Brasil desde o século XVI. O que ocorreu de novo no final do século XIX - e nas grandes cidades - foi que ambas transformaram-se rapidamente em ativo  financeiro. Na esteira da redução da fricção do espaço, que bondes e trens proporcionavam, e do aumento da demanda por habitação, que o crescimento demográfico impunha, o retalhamento de terras se acelerou e a desconcentração urbana rapidamente se realizou, só que sob novas bases: transações com chácaras e lotes, antes realizadas principalmente em função de seu valor de uso, passaram a ser determinadas sobretudo pelo valor de troca. E algo mais ocorreu. O retalhamento deixou de ser produto da ação isolada de um proprietário fundiário que dividia sua chácara em poucos lotes urbanos. Surgiu a promoção fundiária em grande escala, representada por empresas capitalistas dedicadas à produção e comercialização de lotes urbanos, em muitos casos em estreita associação com o capital bancário. 

Como resultado, grandes loteamentos surgiram na paisagem urbana, tanto para a burguesia em ascensão quanto para o proletariado em formação. Diferenciaram-se uns dos outros por sua localização no tecido urbano, já que as cidades maiores abandonaram de vez a estrutura urbana anterior e passaram a crescer segundo vetores de expansão distintos, separando usos e classes sociais no espaço. Diferenciaram-se também pelo produto oferecido, que passou a variar da alta qualidade dos bairros criados para os mais abastados, inspirados no modelo howardiano da cidade-jardim e grandemente beneficiados pelo Estado com infraestrutura, ao nada urbanístico oferecido nos loteamentos proletários. Agravou-se a partir daí o processo de acesso diferencial dos grupos sociais às benesses urbanas, o que exigiu que os mais mais pobres passassem a lutar cada vez mais para obter do poder público os benefícios que este, não raro antecipadamente, concedia aos bairros mais ricos. 

A estruturação do mercado capitalista da habitação não se limitou, entretanto, à grande promoção fundiária, ainda que tenha sido essa a direção preferencial tomada pelo grande capital imobiliário até 1930. O rápido crescimento demográfico ofereceu também condições para o surgimento de um capital imobiliário mais modesto, em alguns lugares associado ao capital industrial, que produziu boa parte do estoque de habitações construído nessa época, simbolizado por vilas, avenidas e correres de casas. 

Crise e superação do pensamento sobre as cidades: do higienismo ao sanitarismo
(..)

Acesse o texto integral pelo link
https://pt.scribd.com/document/162723437/62