Este precioso mapa mostra em detalhes um aspecto bastante comentado a respeito da eleição de Biden nos EUA: num ambiente de acirrada polarização, prevaleceu o peso das multidões urbanas, inclusive em estados tradicionalmente arquiconservadores.
Faz-me pensar num aspecto crítico da grande metrópole no mundo contemporâneo. O marxismo cultural não existe, mas o socialismo cultural sim, num sentido muito preciso: não como ideologia, mas como força material. É nas grandes metrópoles que o caráter social da (re)produção capitalista - fundamento de todas as variantes do socialismo moderno - torna-se visceralmente perceptível e faz emergir direitos coletivos como saúde pública, educação gratuita, moradia e transporte subsidiados e toda sorte de prerrogativas democráticas e reivindicações igualitaristas como aspectos “naturais” e imprescindíveis da vida dos cidadãos-trabalhadores.
Eis aí a contradição essencial da grande metrópole contemporânea, essa armadilha civilizacional concentradora, diria quase monopolizadora, de crescimento econômico, inovação e acumulação de riqueza, portanto também de imensas deseconomias, desemprego, precariedade e pobreza.
Como livrar aquela força material das muralhas que a contêm é, já faz quase dois séculos, a “questão de um milhão de dólares”. Mas essa é outra história, que transcende em muito o escopo deste blog.
2021-02-08