quarta-feira, 23 de junho de 2021

Filme que não sai de cartaz

Deu no Notícias ao Minuto
11-06-2021, por Notícias ao Minuto

Proprietários de casas dos EUA ficaram mais ricos durante o 1.º trimestre

"(..) Isto representa um ganho de cerca de 2 mil milhões de dólares americanos. Por mutuário, o ganho médio foi de cerca de 33.400 dólares. A notícia é adiantada pela CNBC.

O ganho deve-se ao aumento dos preços das casas, que a CoreLogic revelou ter subido mais de 11% em março, em relação ao ano anterior, sendo o mais acentuado desde 2006, note-se. Salienta a CNBC que os preços aumentaram ainda mais 13% em abril.

(..) “O património do proprietário mais do que dobrou na última década e tornou-se um amortecedor crucial para muitos que estão a enfrentar os desafios da pandemia”, revelou Frank Martell, presidente e CEO da CoreLogic, em declarações à CNBC”. (Continua)

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"Casas", no jargão jornalístico português, significa moradia em geral.

Chama a atenção o fato de, mais de uma década depois da debacle de 2008, a valorização da propriedade imobiliária continuar sendo o único alento do “sonho americano” no século XXI. 

Não é irrelevante, aliás, para adeptos, como eu, da recuperação da renda da terra para fins de investimento público em urbanização e moradia social, que a mais-valia imobiliária, mais exatamente a expectativa de valorização, venha sendo há muito utilizada, principalmente nos EUA e UK, como alavanca para o consumo e consequente sustentação da atividade econômica em lugar da elevação dos salários - apreciação feita por ninguém menos que Joseph Stiglitz, Economista Chefe do Banco mundial 1997-2000, em seu livro O Mundo em Queda Livre, de 2010.

Donde se poderia concluir, quem diria, que a apropriação de uma parte não desprezível da renda da terra urbana por uma legião de pequenos proprietários imobiliários de futuro incerto, assalariados muitos deles, é hoje uma questão de sobrevivência do sistema econômico e estabilidade das instituições democráticas - não necessariamente nessa ordem.

Convém não esquecer, por outro lado, que as matérias do “jornalismo imobiliário” só tratam das espirais de valorização, alimentadas pela concentração dos rendimentos e patrimônios, incluindo poupanças, dos segmentos que não perderam empregos qualificados e negócios na pandemia. Como já dito em outro lugar deste blog, "imóveis de alto padrão são [hoje] o melhor veículo de investimento na concentração mundial da riqueza". [*]

Não me surpreenderá se, daqui a algum tempo, venhamos a registrar um acréscimo substancial de imóveis deteriorados nas periferias dos centros e subcentros e a consequente multiplicação de cortiços e moradias precárias.
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[*] “Círculo virtuoso II”, 10-12-2017
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2017/12/circulo-virtuoso-ii.html

2021-06-23