segunda-feira, 7 de junho de 2021

Primórdios da urbanização de mercado no Brasil: Campinas

Vitruvius / Arquitextos, Jan 2021, por Vanessa FIGUEIREDO
Urbanização em Campinas - Como se construiu uma anticidade dispersa, fragmentada, extensiva e segregada

(..) O estudo aqui apresentado considera os períodos da urbanização brasileira, a chamada Pré-industrialização, as primeiras e segundas industrializações e a Reestruturação Produtiva, como estrutura basilar de análise. A essa estrutura foram identificadas as principais características da territorialização do processo de urbanização, da morfologia urbana, do urbanismo e da arquitetura, da mobilidade, dos equipamentos públicos, da política habitacional e ambiental, da legislação, dos planos, entre outros aspectos, com base em diversas fontes e autores.

Campinas Colonial-Imperial – Açúcar, café e a pré-industrialização
 
(..) O ano de 1850 marca o início da virada econômica, impulsionada pela impactante Lei de Terras, que imputaria à terra um valor imobiliário que até e então não havia, e pela supressão do tráfico negreiro e a paulatina transição ao trabalho assalariado. Como destaca Semeghini, em Campinas o número de escravos continuou crescendo até 1874, atingindo cerca de 13.685 para 31.397 habitantes livres. Em 1886, pouco antes da promulgação da Lei Aurea, este número havia caído para 9.986 escravos.

Neste momento, o declínio do ciclo do açúcar e o aumento da produção de café fez o número de engenhos reduzir a 44 em 1854. A partir de 1872, a implantação das ferrovias das companhias Paulista – Fepasa e Mogiana induzem a implantação de indústrias manufatureiras em suas margens e a expansão urbana direciona-se para dois lados opostos. Um em direção ao Centro constituindo o bairro do Cambuí, onde se instalariam, até os anos 1930, as elites agrárias e industriais em seus casarios ecléticos ou neocoloniais assobradados e ajardinados. O outro para lá da ferrovia, onde vilas e casas para operários constituíram a Vila Industrial. Este movimento traduz o primeiro fenômeno de segregação socioespacial na urbanização campineira.

Em 1880, a Resolução 20 instituiu o primeiro Código de Posturas com propósitos sanitaristas, jogando para os arrabaldes, “do lado de lá da ferrovia”, os curtumes, matadouros, fábricas de fumo, sabão, óleo, fundições, fogos de artifício, pólvora, asilos, sanatórios e os cemitérios. A lei obriga também o dessecamento de áreas alagadiças, cuidados com os resíduos sólidos e estabelece o mínimo de 15 metros para o tamanho das vias e implantação das edificações no alinhamento frontal do lote.

A riqueza do café fez com que Campinas se projetasse como importante polo da modernidade, com indústrias, comércio, serviços e cultura. Segundo Semeghini, em 1887, a cidade contava com uma população de 41.253 habitantes (quase a população da capital), 41 fábricas de manufaturas, 17 hotéis e restaurantes, 29 escolas, 1 orquestra, 2 teatros, 2 hospitais, 2 bancos, 3 jornais, luz elétrica, bondes com tração animal e companhia de água e esgoto.

Campinas padeceu, entre 1889 e 1897, com o surto de febre amarela, fazendo sua população chegar a cerca de 5.000 habitantes nos piores momentos da epidemia (6). Em 1896 seria elaborado, por Saturnino de Brito, um plano de saneamento, priorizando a canalização de córregos e dessecamentos de áreas úmidas, levando a urbanização de praças em áreas com nascentes, como a praça Carlos Gomes e o Largo do Pará (7). Logo em seguida a população voltaria a crescer chegando a 67.694 habitantes em 1900, com cerca de 20 mil imigrantes, momento em que Campinas registra 78 indústrias, sendo o segmento metal/mecânico o mais expressivo em função da ferrovia e da agricultura.

A Primeira Industrialização – a ferrovia, manufaturas e a cidade compacta

Na década de 1920, em razão da primeira guerra mundial, o café começa a perder espaço para a indústria. Semeghini destaca que as terras cultivadas com café diminuíram 26,6% entre 1905 e 1920 (de 217,8 para 159,7 ha) e as indústrias saltam para 91 estabelecimentos. Mesmo assim, Campinas se mantém como o principal produtor de café do Estado. A grande depressão de 1929 arrebata a economia cafeeira e faz o Brasil entrar definitivamente na primeira fase da industrialização, com produção de bens de consumo não duráveis. Proliferam as indústrias manufatureiras, economia que atrai mais população em busca de trabalho (112.038 mil habitantes), fazendo crescer a demanda habitacional e, com ela, a importância dos negócios imobiliários e a urbanização. Nas décadas de 1920, 1930 e 1940 são aprovados 24, 42 e 81 loteamentos, respectivamente, e a população atinge 129.940 habitantes em 1940. Esta crescente urbanização ocorre contígua à área central já consolidada, com exceção da longínqua área de pouso de Viracopos (usado apenas para operações militares) e de dois bairros mais distantes: o São Bernardo e o Parque Industrial, devido à topografia acidentada. Segundo Badaró, estes bairros apresentavam infraestrutura precária e lotes baratos, acessíveis às populações de menor renda. (Continua)

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2021-06-07