quarta-feira, 29 de junho de 2022

Vem aí o Cimento Verde-Amarelo


Construa Negócios 21-06-2022
Construtoras reclamam de preço de cimento ao governo

Empresários da construção voltaram a levar ao governo as queixas da indústria sobre o preço do cimento. A pressão do setor contra os reajustes foi forte nos últimos anos e deve voltar a crescer nos próximos meses.

Em reunião com o Ministério da Economia na semana passada, o SindusCon-SP (sindicato da construção civil) diz que entregou um documento sobre o impacto da escalada do produto nos custos das obras.

A entidade afirma que também relatou ao secretário-adjunto de advocacia da concorrência, Alexandre Messa, que as cimenteiras têm enviado às construtoras muitos avisos de novas tabelas de preços.

No documento levado ao órgão, a entidade aponta que as altas do cimento, superiores à variação do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), afetam os valores de concreto, argamassas e blocos.

Os aumentos provocam desequilíbrio econômico-financeiro nos contratos, encarecem a execução das obras públicas e ameaçam programas de governo como o Casa Verde e Amarela, segundo o SindusCon.

2022-06-29

 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Aluguel e rendimento familiar: uma nota


Folha de S Paulo 09-06-2022
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/06/aluguel-compromete-38-da-renda-familiar-em-sp-diz-pesquisa.shtml


Não será a diferença de 11% o ágio, ou “imposto sobre a pobreza”, que as famílias de menor rendimento pagam à propriedade por não terem acesso ao financiamento imobiliário? 

A regra geral do mercado de alugueis residenciais parece ser a de que, quanto mais baratos os imóveis em termos nominais, mais caros em termos reais, isto é, mais pesam sobre o orçamento das famílias; não por acaso, a razão entre o valor médio do aluguel e o valor médio de compra-venda dos apartamentos de tamanho similar é sistematicamente maior nos bairros menos valorizados.

Fonte: Àbeiradourbanismo

E dado que “38% do rendimento mensal em aluguel” provavelmente não inclui condomínio e IPTU, que nas áreas formais são parte do pacote, é provável que o peso da moradia (de aluguel) sobre o orçamento das famílias de baixos rendimentos não seja inferior a 40%.

2022-06-22

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Home equity strikes again


The Guardian 09-06-2022, por Bob Kerslake

Right to Buy (Direito de Compra) é um instituto em vigor no Reino Unido (salvo Escócia desde 01-08- 2016 e País de Gales desde 26-01- 2019), que dá aos inquilinos das moradias do Estado e de algumas cooperativas habitacionais o direito de comprar, com grande desconto, os imóveis em que residem. Para os inquilinos de imóveis cooperativados construídos com subsídio público após 1997, existe também o Right to Acquire (Direito de Aquisição), com um desconto menor. De 1980 a 1997, mais de 1.700.000 moradias sociais foram vendidas no marco dessa política, tida como uma das principais causas da drástica redução da quantidade de moradia social no Reino Unido, que caiu de quase 6,5 milhões de unidades em 1979 para cerca de 2 milhões em 2017, e como o fator principal do aumento de 15% no índice de casa própria, que passou de 55% dos domicílios em 1979 para 71% em 2003 (63% em 2017 na Inglaterra). [1]

A privatização pulverizada dos estoques de habitação social do Reino Unido no âmbito das reformas econômicas thatcheristas foi um componente-chave da política de sustentação do nível de consumo à base de empréstimos pessoais lastreados na expectativa de valorização do solo nas grandes metrópoles.

Este é um aspecto central de O Mundo em Queda Livre (2009), livro de J Stiglitz, ex economista-chefe do Banco Mundial, sobre a debacle financeira de 2008. Nele se lê que a indústria do refinanciamento hipotecário foi uma forma de os estadunidenses "tomarem emprestado e consumir como se os seus rendimentos estivessem crescendo". [2]

O mesmo juízo reaparece, com uma análise mais ampla e historicamente situada, no livro Rethinking the Economics of Land and Housing, dos britânicos Ryan-Collins, Lloyd e Macfarlane [3]:

“(..) no Reino Unido e nos EUA, os empréstimos pessoais garantidos pelas residências (EGR) produziram um aumento do consumo: quanto maior o valor da garantia, maior o nível de consumo. (..) Desde a desregulamentação do crédito na década de 1970, a EGR contribuiu de forma importante para a demanda do consumidor no Reino Unido, ainda que somente nos períodos de alta dos preços da moradia (..). Tanto Margaret Thatcher (1979-92) quanto Tony Blair (1997-2007) desfrutaram, em seus mandatos, grandes booms de consumo parcialmente impulsionados pelo EGR, que contribuíram significativamente para o crescimento do PIB. A década anterior à crise financeira registrou níveis sem precedentes de EGR, com proprietários valendo-se do aumento dos preços das residências para tomar mais empréstimos e consumir mais. O sociólogo Colin Crouch (2009) descreveu o fenômeno como uma espécie de 'keynesianismo privatizado': ao passo que no período 1950-70 a demanda foi sustentada pelo Estado pela via da expansão fiscal, no período 1980-2007,  de declínio dos salários médios, ela foi alimentada pela dívida hipotecária”. [4]
 
Não surpreende que, como explica Muellbauer no prefácio da obra, "no longo prazo, as famílias altamente endividadas [tenham ficado] vulneráveis ​​à queda dos preços imobiliários". [5] Nos EUA, o colapso financeiro de 2008 significou que "pelo menos 10 milhões de pessoas perderam suas casas, quase 9 milhões perderam seus empregos e, quatro anos depois, 46,5 milhões viviam na pobreza [6].

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[1] WIKIPEDIA: "Right to Buy".
https://en.wikipedia.org/wiki/Right_to_Buy

[2] STIGLITZ J, O Mundo em Queda LivreOs Estados Unidos, o mercado livre e o naufrágio da economia mundial. Trad. José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Cap. 1: A formação da crise

[3] RYAN-COLLINS, LLOYD e MACFARLANE, Rethinking the Economics of Land and Housing. Zed Books 2017, edição do Kindle, p. 146.

[4] “(..) in the UK and the US, the home-equity withdrawal [HEW] channel boosts consumption as existing homeowners are able to finance higher consumption on the back of higher collateral values. (..) Since the credit deregulation of the 1970s HEW has made important contributions to consumer demand in the UK but only in certain periods when house prices have been rising (..). Both Margaret Thatcher (1979–92) and Tony Blair (1997–2007) enjoyed major consumption booms partially driven by HEW, with equity withdrawal contributing significantly to GDP (..) in both their tenures. The decade before the financial crisis saw unprecedented levels of home equity withdrawal as homeowners used rising house prices to increase their borrowing to fund consumption. The sociologist Colin Crouch (2009) has described this as a form of ‘privatised Keynesianism’, with the large injections of mortgage debt via equity withdrawal propping up consumer demand in the face of declining median wages, in contrast to the state supporting demand via fiscal expansion as in the 1950–70 period.”

[5] MUELLBAUER J, "Foreword", em RYAN-COLLINS, LLOYD e MACFARLANE op. cit.
 
[6] “The financial crisis hit 10 years ago. For some, it feels like yesterday”. Los Angeles Times 15-09-2018, por Colleen Shalby

2022-06-15

domingo, 12 de junho de 2022

Rio de Janeiro, por Luiz Behring

Imagem e texto: Luiz Behring
Sorte de Fotógrafo

Já estava a alguns minutos fotografando, e havia feito algumas fotos, todas medíocres. E é nessas horas, que o anjinho e o diabinho, começam a sussurrar nos meus ouvidos.

- Vamos embora, essa foto já foi feita.

- Nada disso! Fica! Quem sabe o inesperado acontece?

- Que besteira! Vamos!

E foi em algum momento desses, que percebi uma garça branca se aproximando pela direita. Posicionei a câmera no enquadramento previamente decidido e esperei um ou dois segundos para fazer a foto.

Mas foi aí, exatamente aí e antes de tirar os olhos do visor que meu quadro foi literalmente invadido por um bando de Biguais.

Fiz uma sequência de disparos com um frio no estomago e sem respirar. Estava usando uma zoom regulada em 300mm, o que é um ângulo muito restrito. Um espanto!

Nesses momentos, sempre me lembro de um amigo que não está mais aqui. E sempre que eu contava sobre alguma foto e dizia que havia tido sorte em consegui-la, ele me enterrompia e dizia.

- Isso não é sorte não Bhering! Isso é sorte de fotógrafo! Isso só acontece por seu desejo e persistência!

Abraços Antonio Cleber!!!

2022-06-16

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Associação da Moradia Social: urgente!


O Globo 07-06-2022
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2022/06/projeto-que-permite-um-imovel-como-garantia-de-varias-dividas-pode-virar-pesadelo-para-familias-pobres.ghtml

A moradia é, por motivos óbvios, “financeirizada” pelo menos desde que começou a ser produzida para o mercado.                                                            Ocorre, porém, que a faculdade que tem o solo urbano em geral, e muito especialmente o das grandes metrópoles planetárias do século XXI, de se valorizar continuamente mesmo em períodos recessivos, tornou a moradia objeto prioritário de desejo de gestores de capital de investimento, de mega-imobiliárias que operam na compra-venda e no aluguel, de bancos que emprestam a juros variáveis tendo o imóvel como garantia e de mercadores de títulos de dívidas imobiliárias. Todos operando num ambiente de negócios intrinsecamente especulativo e cada vez mais 
desregulamentado e internacionalizado

A “financeirização da moradia” é, portanto, um aspecto ineludível da economia de mercado contemporânea. Creio ser impossível cogitar o seu fim à margem de um programa econômico e político de transição para uma economia planetária social e ambientalmente sustentável, essencialmente planejada. 

Mas medidas defensivas imediatas são possíveis, e cada vez mais urgentes. Tudo considerado, a criação de uma Associação Internacional da Moradia Social, com seções em todos os países, seria um fato para lá de auspicioso.

2022-06-08

quarta-feira, 1 de junho de 2022

A gente quer inteiro, não pela metade


O Globo 30-05-2022 
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/05/chuvas-em-pernambuco-para-especialistas-falhas-no-planejamento-urbano-e-na-resposta-a-crise-explicam-tragedia.ghtml
My News 29-05-2022
https://canalmynews.com.br/mais/sobe-para-56-o-numero-de-mortes-registradas-em-pernambuco-vigilancia-em-saude-do-estado-aponta-70-obitos-urbanista-explica-culpa-nao-e-das-chuvas/


Toda vez que ocorre uma tragédia socioambiental urbana no Brasil, os jornalões vêm com a mesma lenga-lenga: “falta planejamento”!

Não conheço os “especialistas” consultados pel’O Globo, mas acho que não faz a menor diferença: é muito possível que o editor tenha selecionado, em seus depoimentos, aspectos técnicos secundários e frases que eludem questões constrangedoras, ou mesmo que as perguntas críticas sequer lhes tenham sido feitas.

Não me espantaria, considerando que a foto que ilustra a matéria mostra um automóvel de boa qualidade trafegando por uma avenida alagada, e não, como seria de esperar, os efeitos da enxurrada em uma área de risco densamente ocupada por habitações.

Por isso justapus à imagem d’O Globo uma foto publicada no MyNews, seguida do trecho de um depoimento digno de ser lido.

É preciso insistir: não falta planejamento. Todas as grandes cidades brasileiras dispõem de instituições de planejamento de grande tradição e pessoal técnico altamente capacitado. Faltam, sim, condições materiais e políticas para que o planejamento urbano possa produzir efeitos relevantes e não apenas “migalhas para os pobres”, como recém denunciou a urbanista e professora Nadia Somekh*.

Falta gasto público em infraestrutura urbana e moradia social; faltam impostos sobre a renda fundiária, incluído o capital investido em rendas fundiárias, para financiá-las; falta intervenção estatal no mercado de terras e benfeitorias para permitir o acesso dos trabalhadores às localizações centrais e pericentrais já urbanizadas. E faltam, sobretudo, rendimentos que permitam às famílias trabalhadoras ter acesso à moradia de qualidade como quaisquer outros cidadãos. 

Nada disso é simples de fazer no plano técnico e menos ainda no político. Mas eu diria que a primeira providência é deixarmos, os planejadores e os trabalhadores,  de nos contentar com migalhas.
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*“'O que o Plano Diretor deu aos pobres foi migalha', diz urbanista”. Folha de S Paulo 25-05-2022
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/05/o-que-o-plano-diretor-deu-aos-pobres-foi-migalha-diz-urbanista.shtml


2022-06-01