sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Metapirâmide financeira

Deu no Estadão / Negócios
06-12-2021, por Paulo Silvestre
https://brasil.estadao.com.br/blogs/macaco-eletrico/por-que-alguem-pagaria-r-134-milhoes-por-um-terreno-que-so-existe-na-internet/

Por que alguém pagaria R$14,3 milhões por um terreno que só existe na Internet?

Para mim, trata-se de um entretenimento tão extravagante quanto os passeios espaciais dos multibiliardários. Um jogo de azar em que o apostador parte do princípio de que sempre haverá outro apostador que lhe cubra a parada. O que me mais me chama a atenção, embora não supreenda, é o destaque que lhe dão os cadernos de negócios especializados em... imóveis!

Imagine agora o leitor que, nessa mesma sociedade virtual em cujo mercado imobiliário especuladores reais aplicam o seu dinheiro, seja criado um entretenimento virtual em que os avatares dos avatares comprarão e venderão imóveis com dinheiro desses mesmos especuladores - e assim por diante até o dia em que estes se darão conta de que todo o seu capital desapareceu no infinito dos espelhos.

2021-12-27

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Decô soviético

Publicado no Facebook
07-12-2021, por Laurent Beaudouin, Arquiteto

Dans les parties semi-circulaires du bâtiment ont été placés un puisard, un château d'eau, des filtres américains, des pompes primaires et un réservoir d'eau sous pression. Le bâtiment à l'arrière abritait sept chaufferies. Le bâtiment a été récemment lourdement restauré.

Fábrica de tecidos Bandeira Vermelha ("Krasnoe Znamya"), Rua Pionerskaya, S Petersburgo, Rússia - 1925-1926, Erich Mendelsohn (1887-1953) e Iakov Tchernikhov (1889-1951).

2021-12-19

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A guerra pelos lugares centrais

Deu no El País Economía
06-12-2021, por José Luis Aranda
https://elpais.com/economia/2021-12-06/los-ricos-desalojan-a-los-pobres.html

Los alquileres destierran a los más débiles del centro de las ciudades

Puente de Vallecas, Madrid 
Imagem: Google Earth. Texto: El País. 
Este artigo nos obriga a refletir sobre o alcance da propalada “migração em massa” de trabalhadores qualificados aderidos ao home-office para o "interior", urbano ou rural, de seus respectivos países, na maioria dos casos cidades satélites e condomínios fechados na franja urbano-rural das próprias metrópoles. 

A proliferação de microapartamentos e do coliving nas regiões pericêntricas das grandes cidades - do Brasil, Europa, Ásia e até dos EUA, onde a classe média ocupa e seguirá ocupando vastas extensões suburbanas - é um claro indício de que, no pós-pandemia, as cidades globais continuarão sendo as usinas propulsoras do crescimento econômico planetário, fonte da imensa maior parte dos empregos e cenários permanentes da guerra pelos lugares centrais, cujo resultado é empurrar os trabalhadores de menor qualificação e as famílias de mais baixos rendimentos para bairros progressivamente mais periféricos, onde, de maneira geral, a localização é menos conveniente e a urbanização menos satisfatória.  

2021-12-23

domingo, 19 de dezembro de 2021

Bens públicos, negócios privados: a guerra das concessões

Deu n'O Globo 08-12-2021, por Geralda Doca
Governo avalia limitar expansão de voos no Santos Dumont e construir metrô até a Ilha do Governador para 'salvar' Galeão 

Montagem: À beira do urbanismo
Imagens originais: Internet

O governo trabalha em duas frentes para vencer resistências do governo do Rio à privatização do Santos Dumont. Autoridades locais temem um esvaziamento do Galeão (Tom Jobim), que pode perder ainda mais voos internacionais e isolar a cidade, com um eventual crescimento do terminal central da capital.

Uma das opções é limitar a expansão dos voos no Santos Dumont para dar tempo de recuperação do Galeão. Essa é uma das demandas das autoridades do Rio, que pessionam para liberar o avanço do Santos Dumont, inclusive para rotas internacionais, quando a cidade atingir patamares mínimos de passageiros.

A outra opção em estudo pelo governo federal é usar os recursos das outorgas da concessão dos terminais para a construção de um metrô ligando os dois aeroportos, projeto de R$ 5,5 bilhões.

2021-12-15

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Debate necessário

Publicado em Sin Permiso
02-12-2018, por Michael Roberts
https://www.sinpermiso.info/textos/financiarizacion-o-rentabilidad

¿Financiarización o rentabilidad?

La financiarización, como el neoliberalismo, es la palabra de moda entre los los economistas heterodoxos y de izquierdas. Domina las conferencias académicas de izquierda y círcula como el tema que supuestamente explica las crisis, así como una de las causas del aumento de la desigualdad en las economías capitalistas modernas, sobre todo en los últimos 40 años. La última manifestación de esta hipótesis de la financiarización es de Gracie Blakeley, una economista de izquierda británica, que parece ser una estrella emergente en el Reino Unido. En un artículo reciente, presenta todos los argumentos de la escuela de la financiarización.

Pero, ¿qué significa el término 'financiarización' y que valor añade a nuestra comprensión de las contradicciones del capitalismo moderno? y ¿nos orienta políticamente para cambiar las cosas? No lo creo. Esto se debe a que o bien el término se utiliza tan ampliamente que proporciona muy poca información adicional; o se concreta de manera tal que es tanto teórica como empíricamente equivocado. (Continua)


Acesse o texto completo pelo link
https://www.sinpermiso.info/textos/financiarizacion-o-rentabilidad

2021-12-23

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A febre do ouro

Deu no Monitor do Mercado 30-11-2021
https://monitordomercado.com.br/noticias/23642-eua-indice-sandamp-p-case-shiller


Preços de imóveis residenciais sobem 19,1% nos EUA

Montagem: Àbeiradourbanismo

O índice S&P/Case-Shiller, que mede os preços de imóveis residenciais nas 20 principais regiões metropolitanas dos Estados Unidos, subiu 19,1% em setembro na comparação com o mesmo período do ano anterior, depois de alta de 19,7% em agosto.

*

Headline inflation, including food and energy, rose at a 4.4% annual rate in September, the fastest since 1991. Core inflation, which is the Fed’s preferred gauge, increased 3.6% for the 12 months, the same as in August but still also the fastest pace in 30 years. Personal income declined at a faster pace than expected (..). (CNBC)

2021-12-07

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Coliving, micromoradia, renda do solo

Deu no G1
19-11-2021, por Gustavo Honório
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/11/19/a-vida-nas-casas-compartilhadas-de-sp-moradores-pagam-r-12-mil-de-aluguel-em-quartos-de-9-m.ghtml


A vida nas casas compartilhadas de SP: moradores pagam R$ 1,2 mil de aluguel em quartos de 9 m² 

Montagem: àbeiradourbanismo. Texto: Folha S Paulo
Incorporadoras e imobiliárias em geral garantem que a redução paulatina do tamanho das unidades habitacionais, incluindo a modalidade "moradia compartilhada", é um signo de progresso que lhes cabe materializar no interesse de inquilinos e compradores: as unidades são super-práticas e, o mais importante, aliviam o orçamento das famílias.
[1] 

De fato, quem alugava 15m2 a $100,00/m2 (=$1.500,00) e agora aluga 10m2 a $120,00/m2 (=$1.200,00), ainda que pagando mais caro pelo m2 passou a dispor de uma unidade habitacional mais acessível.

O que as imobiliárias não dizem é que quanto menor e mais próxima ao centro urbano (ou à praia, parque, etc.) a moradia, mais se paga pela terra-localização e menos pela benfeitoria - e isto é a alma do seu negócio. 

Uma unidade imobiliária é formada por dois ativos combinados, benfeitoria e solo, cujos valores de mercado têm natureza e comportamento distintos e por vezes até contraditórios. A benfeitoria é mercadoria durável, cujo valor gravita ao redor do preço de produção (custos totais + taxa média de lucro) e diminui inexoravelmente com o uso e o passar do tempo (depreciação); o solo é um bem natural pelo qual se paga um preço que nada tem a ver com a atividade produtiva, ou com a quantidade de trabalho nela empregado, consistindo simplesmente na maior oferta que lhe façam os demandantes pelo direito exclusivo de usufruir e dispor de suas vantagens de urbanização e localização, externalidades que, regra geral, propiciam a sua contínua valorização no processo de crescimento econômico e expansão da cidade. 

Ao passo que a benfeitoria está inexoravelmente sujeita à depreciação pelo tempo e pelo uso, a localização, embora possa desvalorizar-se relativamente a outras localizações, só em situações de degradação urbana sofre desvalorização absoluta, isto é, maior que a da moeda por efeito da inflação. [2]

O segredo do negócio imobiliário está em que, nas localizações preferidas pelos segmentos de médios e altos rendimentos, a renda do solo agrega considerável sobrelucro ao processo de produção de novas unidades e sua valorização no tempo muito mais do que compensa a inevitável depreciação das benfeitorias. A combinação benfeitoria-solo confere ao bem imobiliário a singular capacidade de ganhar valor de mercado e gerar renda até muito depois de cumprida a sua “missão” como mercadoria, isto é, de ter seu preço total quitado pelo adquirente e seus eventuais sucessores, consequentemente realizado o lucro do capital incorporador.

O exemplo mais simples desse efeito combinado é o do apartamento de três quartos que passa a ser alugado em regime de coliving. Dado que o valor da benfeitoria, no curtíssimo prazo, se mantém constante, a totalidade do aumento da receita de aluguel provém... da propriedade do solo - e o que é sumamente interessante, sem investimento algum! É pura renda de localização.

O princípio que rege a prática atual do coliving nos bairros de classe média é rigorosamente o mesmo que há mais de um século preside a formação de cortiços em zonas centrais desvalorizadas das grandes cidades. Ele foi assim descrito por Richard Hurd, pioneiro do estudo do espaço intra-urbano, em 1903:

(..) mansões obsolescentes convertidas em casas de cômodos geralmente perdem valor, efeito que tende a ser compensado pela utilização mais intensa do solo: mais pessoas pagando alugueis menores pode resultar em aumento da renda total. [3]

Na incorporação imobiliária, a redução do tamanho das unidades gera um resultado similar. Consideremos dois empreendimentos A e B, quase simultâneos (ou seja, a inflação é desprezível), vizinhos, de igual padrão de qualidade e mesmo tamanho total (3.000m2 privativos), em que a unidade de A (30m2) é vendida ao preço de R$150 mil (R$5.000,00/m2),  e a unidade de B (25m2) é vendida ao preço de R$135 mil (R$5.400,00/m2).


EMPREENDIMENTO A
3.000m2 com unidades de 30m2 à 100 unidades * R$150 mil/ un à receita total = R$15,0 milhões

EMPREENDIMENTO B
3.000m2 com unidades de 25m2 
à 120 unidades * R$135 mil/ un à receita total = R$16,2 milhões

Vendendo 120 unidades de 25m2 do Empreendimento B, 10% mais baratas no preço total ainda que 8% mais caras por m2 do que as do Empreendimento A, o incorporador obtém um aumento de receita de 8% com a mesma quantidade de m2 privativos produzidos.

Àbeiradourbanismo
Sim, o custo/m2 de construção de 3.000m2 privativos perfazendo 120 unidades é maior do que o custo/m2 de construção de 3.000m2 privativos perfazendo 100 unidades - devido, principalmente, ao maior volume de instalações. Basta, porém, que esse aumento de custo seja menos que proporcional ao aumento da receita - o que é muito provável em todos os casos que envolvam as localizações mais valorizadas na cidade -, para que o empreendimento B seja mais rentável do que o empreendimento A, acréscimo inteiramente derivado da renda da terra-localização.

*

Nas grandes cidades de todo o mundo, 
a produção de micro-apartamentos e a adoção da moradia compartilhada seguem num ritmo imparável. Significa que, por relevante que seja a maré de trabalho remoto trazida pela pandemia de Covid-19, para a imensa maioria dos assalariados a única opção continua sendo o trabalho presencial a 15, 30, 45, 60 minutos, ou até mais, de seus habitáculos, pelos quais são obrigados, além do mais, a despender parcelas cada vez maiores de seus vencimentos mesmo com o barateamento proporcionado, no curto prazo, pela redução do tamanho das unidades.

Assim se materializam as expectativas dos consultores das grandes organizações dedicadas ao desenvolvimento, para os quais as megalópoles contemporâneas em contínuo crescimento são, a despeito de suas fabulosas deseconomias e obscenas desigualdades, as insubstituíveis e benfazejas usinas da riqueza planetária.

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[1] "Os apartamentos com os quais a Vitacon trabalha são compactos para locação nas regiões mais procuradas de São Paulo. “Quem investe com a gente, investe em desenvolvimento urbano e atende uma alta demanda que procura por qualidade de vida, mobilidade, proximidade do trabalho e dos eixos estratégicos da cidade”, diz o empreendedor. [ Nos últimos 12 anos, a Vitacon desenvolveu mais de 70 projetos, visando uma cidade mais inteligente, dinâmica e acolhedora para todos." “Investimento em produtos imobiliários é alternativa na crise”. MoneyLab 30-11-2021
https://www.infomoney.com.br/mercados/investimento-em-produtos-imobiliarios-e-alternativa-na-crise/

[2] “A chave do tamanho” (08-03-2020)
http://abeiradourbanismo.blogspot.com/2020/03/tamanho-e-documento.html

[3] "(..) when these good residences become old-fashioned and are converted into boarding houses, a drop in value will ordinarily occur. This is sometimes offset by the more intense utilization of the land, a larger rent being earned from more people even at lower rates.(..)" HURD R M, Principles of City Land Values. New York, Record and Guide 1903, "VI - Distribution of Utilities", p. 87.
https://archive.org/.../principlesofcity.../page/n4/mode/1up

 
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Sobre este tema, ver também neste blog

“O traseiro da TV e o lucro imobiliário” (07-06-2011)
http://abeiradourbanismo.blogspot.com/2011/06/o-traseiro-da-teletela-e-o-lucro_07.html

‘O coeficiente de aproveitamento e a valorização do solo” (23-02-2013)
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2013/02/o-coeficiente-de-aproveitamento-e.html

“Dracula de Bram Stoker” (20-12-2019)
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2019/12/dracula-de-bram-stoker.html


2021-11-29