sexta-feira, 1 de junho de 2007

Apresentação


Demanda de Transporte e Centralidade: Um Estudo da Distribuição Espacial de Viagens
na Cidade do Rio de Janeiro 




DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - PET-COPPE-UFRJ - MARÇO DE 1998



Apresentação
  
Este é um estudo da distribuição de viagens urbanas na cidade do Rio de Janeiro que difere, tanto em seus objetivos quanto em sua metodologia, dos estudos de distribuição inscritos no método sequencial tradicional de planejamento de transportes, conhecido como “modelo 4 etapas”.

Nesse, a distribuição de viagens constitui uma das famílias de modelos matemáticos destinados à previsão da demanda agregada futura de transportes nas cidades a partir dos dados de deslocamentos apurados  na pesquisa domiciliar. Com base na hipótese de que o usuário realiza, a propósito de um deslocamento, cinco escolhas sucessivas e independentes, a saber (1) deslocar-se ou não, (2) a sua destinação, (3) o meio de transporte que utlizará e (4) o seu itinerário, cinco coleções de modelos foram desenvolvidas e sucessivamente aperfeiçoadas, desde os anos 50, batizadas respectivamente (1) geração de tráfego, (2) distribuição geográfica de viagens (origem-destino), (3) escolha modal e (4) alocação de rotas. No caso da distribuição de viagens, os modelos mais conhecidos são o modelo do fator de crescimentoo modelo gravitacional e o modelo de oportunidades.

O estudo aqui apresentado não tem por finalidade propor uma nova abordagem ao cálculo da demanda futura de viagens nos corredores ou um aperfeiçoamento dos métodos existentes. Ele constitui, antes, uma análise exploratória da relação entre as viagens e a estrutura urbana do Rio de Janeiro com base nas proporções com que os destinos das viagens declaradas na pesquisa domiciliar se distribuem pela cidade, com seus respectivos atributos qualitativos (modos, motivos, horários). A sua finalidade é extrair indicações sobre a relação entre a geografia dos deslocamentos urbanos e o crescimento da importância relativa do setor de serviços na economia da cidade e, por conseguinte, sobre o processo de reestruturação da rede de centralidades urbanas do Rio de Janeiro (Figura A.1)


Figura A.1


O Capítulo 1 fornece os marcos teóricos da pesquisa, segundo três vertentes. A primeira caracteriza a ascensão, no último quarto de século, da economia de serviços como decorrência da incorporação acelerada dos avanços tecnológicos da informática e das telecomunicações ao circuito capitalista de produção-distribuição-consumo e indica alguns de seus principais impactos sobre a vida e a gestão das grandes metrópoles, em especial sobre as premissas da estabilidade relativa e da previsibilidade dos quantativos e localização das viagens urbanas. A segunda aborda a relação entre o modelo racional-funcionalista de cidade e as premissas do modelo clássico do planejamento de transportes e discute o problema de sua adequação ao planejamento dos transportes nas megacidades. A terceira destaca os esforços históricos da economia espacial e da geografia para a construção de modelos de estrutura urbana, em que o problema da centralidade aparece como função direta das relações espaço-temporais do sistema de mercado. Ela sugere que a relação entre mobilidade acessibilidade agregadas é o aspecto chave da equação transportes X uso do solo em um ambiente de recentralização acelerada das atividades econômicas e fragmentação da estrutura do emprego.

No Capítulo 2 é descrita a metodologia do estudo de caso, que foi especificamente desenhada para extrair,  dos dados da Pesquisa Domiciliar de Transportes do Plano de Transportes de Massa da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (referido como PTM-95), os elementos da estrutura de viagens que refletem a inflexão da economia urbana do Rio de Janeiro na direção da economia de serviços e a correspondente reestruturação da rede de centralidades urbanas. A apresentação desta metodologia é antecedida da discussão de suas premissas, uma combinação de elementos teóricos da Teoria da Localização, Estrutura Urbana e Crescimento Regional (Richardson, 1975) e análises empíricas da relação entre redes de transportes e estrutura espacial urbana (Hutchinson, 1984; FUNDREM, 1984). Um breve comentário é apresentado sobre a hipótese de comparação das matrizes O-D (origem-destino) do Plano Integrado de Transportes —PIT/Metrô— 1975 e do Plano de Transportes de Massa —PTM— 1995.

O Capítulo 3 contém a análise da distribuição de viagens na cidade do Rio de Janeiro, nos termos propostos pela Metodologia, e as respectivas conclusões. Alguns dos temas abordados são: a macroestrutura das viagens metropolitanas; a abrangência e expansão do “Centro”; a estrutura das centralidades; a “cidade central de serviços”; a “semiperiferia”;  as “áreas periféricas”; os “corredores urbanos”.

O Capítulo 4 apresenta, em linhas gerais, o conceito de redes de acessibilidade estruturalmente diferenciadas, deduzido da combinação dos elementos teóricos apresentados e resultados obtidos na pesquisa. As redes de acessibilidade, extraídas da análise simultaneamente geográfica e econômica do papel dos sistemas de circulação e transportes na estruturação do espaço urbano, podem indicar uma linha de adequação dos métodos agregados de planejamento de transportes a ambientes urbanos marcadamente desiguais em seu desenvolvimento.

O Anexo contém a coleção de mapas e tabelas da pesquisa,  além de informação complementar referente às matrizes O-D do PIT-Metrô e do PTM.