Demanda de Transporte e Centralidade:
Um Estudo da Distribuição Espacial de Viagens
Um Estudo da Distribuição Espacial de Viagens
na Cidade do Rio de Janeiro
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - PET-COPPE-UFRJ - MARÇO DE 1998
CAPÍTULO 2
Metodologia
2.1 PIT-Metrô e PTM: uma evolução problemática em 25 anos de
modelo clássico de transportes urbanos no Rio de Janeiro
Para
o estudioso do planejamento de transportes urbanos, formado com toda certeza na
escola do “modelo 4 etapas”, a disponibilidade de duas grandes pesquisas O-D
subsequentes em uma grande metrópole como o Rio de Janeiro representa o
surgimento de um campo quase inesgotável de pesquisa e, mais objetivamente, a possibilidade de
proceder a um balanço dos planos passados, suas hipóteses e projeções, à luz
dos dados da realidade vivida. Essas duas pesquisas são o Plano Integrado de
Transportes (PIT-METRÔ), de 1975, e o Processo de Estruturação dos
Transportes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Plano de Transportes
de Massa - PTM/IplanRio), de 1995.
A
possibilidade de confrontar, 20 anos passados, os dados do PIT-Metrô com os
dados do PTM apresentar-se-ia seguramente como um fato de alta relevência para
urbanistas, geógrafos e sociólogos,
interessados todos na compreensão dos fenômenos da urbanização, da
organização espacial urbana e da produção e consumo de mercadorias e serviços
em meio urbano. Tal possibilidade decorre da própria natureza do método
“clássico” de planejamento de transportes, que se baseia na projeção de
tendências sócio-econômicas e locacionais de atividades e pessoas deslocando-se
em função dessas atividades.
O
período 1975-1995 não é para nosso tema um lapso temporal genérico mas, como
vimos, vinte anos que abrigaram justamente a incubação e impulsão do processo
reestruturação da economia brasileira para as novas condições da divisão
internacional do trabalho nascidas da revolução do mercado de informação,
serviços e lazer. Além de corresponderem aproximadamente ao típico horizonte de
planejamento dos planos de escala, os anos 1975-1995 podem ser considerados
representativos de dois momentos críticos no processo de mudança na trajetória
da economia mundial e do país.
Realizado
em 1975, o PIT-METRÔ veio à luz apenas 4 anos após a ruptura do “sistema de
Breton Woods” (1971) quando se experimentava, em nosso país, o ponto culminante
do “milagre brasileiro” —boom da
economia movida pelo investimento estatal em produção de infraestruturas e bens
intermediários[1]—,
apoiada nas doutrinas do desenvolvimento regional e metropolitano e suportados
pelo capital de empréstimo internacional.
O
PTM, por sua vez, vem à luz em 1996, época em que as estatísticas brasileiras
já começam registrar a profunda inflexão econômica inscrita no processo de globalização da economia. Para usar uma
imagem caricatural, quando o PTM chega
às ruas já lá estão, em grande número, os camelôs. O PTM vem à luz já em plena
era da “reestruturação produtiva”, do desemprego tecnológico e da economia
informal.
Desafortunadamente,
no entanto, o estudo comparativo dos resultados do PIT e do PTM —onde poderiam
estar caracterizados alguns fenômenos
espaciais relacionados com as transformações da economia urbana— não é
viável uma vez que as respectivas bases de dados (matrizes O-D) não são
metodologicamente homogêneas e que muito pouca informação está disponível,
especialmente sobre a pesquisa PIT-METRÔ. A realização de um tal estudo
comparativo supõe um detalhado estudo prévio das respectivas metodologias,
tarefa que escapa ao escopo deste trabalho e cuja factibilidade é vista com
reservas pelos especialistas consultados.
Outro
aspecto problemático desta comparação é o fato de que as matrizes de viagens
dos modelos de transporte se atêm, geralmente, aos quantitativos de viagens por
automóvel e por transporte coletivo por pares de zonas O-D, os “vetores”
formadores do gráfico de “linhas de desejo”. Os demais elementos da pesquisa de
viagens, notadamente aqueles que mais interessam a este trabalho, quais sejam
os motivos de viagem, não têm em
geral interveniência prática no processo de planejamento: não afetam o
carregamento dos corredores nem aparecem figurados no mapa das linhas de
desejo. São, em geral, mera informação adicional.
No
PIT Metrô os dados de motivos são apresentados de maneira superficial; no PTM,
as matrizes foram objeto de simplificações metodológicas que, ao apagar
diferenciações entre zonas, obscurecem a análise do espaço. (Apresentamos no Anexo alguns resultados comparativos
obtidos da homogeneização das matrizes de viagens 24 horas, por Regiões
Administrativas e Municípios, para automóveis e viagens totais, além das
matrizes de motivos do PTM).
Descartada
a hipótese de basear-se na comparação das matrizes O-D de 1976 e 1995, o estudo
da relação entre a demanda de viagens espacialmente distribuída e a
centralidade urbana no Rio de Janeiro há de se desenvolver exclusivamente como
“corte horizontal” efetuado sobre os dados da PESQUISA DOMICILIAR PTM-95, com
base em uma metodologia que procura fazer destacar a diferenciação dos atributos das viagens alocadas no espaço urbano em um momento dado.
2.2 A escolha da base de dados: matriz
O-D X pesquisa domiciliar
A
decisão de empreender o estudo da centralidade com base no cruzamento motivos/setores econômicos X distribuição espacial de destinos exclui
automaticamente a utilização das matrizes O-D geradas no PTM-95, uma vez que as
matrizes O-D constituem uma síntese particular dos dados da pesquisa domiciliar
voltada para a resolução do problema
definido no processo clássico de planejamento de transportes: os gráficos de
linhas de desejo (viagens totais, 24
horas) e de movimentação na hora-pico (manhã
e tarde, hora mais carregada). Com as primeiras, o modelo clássico
estabelece o mapa de distribuição da movimentação total de pessoas na região em
estudo na forma de links origem-destino
e portanto a importância relativa das ligações. Com as últimas, estabelece a
situação crítica de carregamento nos links,
que expressam por sua vez a máxima sobrecarga das infraestruturas, equipamentos
e mão-de-obra a serem alocados no processo produtivo dos transportes em um
sistema dado.
Os
motivos aparecem na sequência do
processo de análise da rede de transportes, não como atributo da região a ser
atendida, mas como fator de variação da distribuição temporal das viagens nos
corredores. Além disso, como já dito, as matrizes de motivos do PTM foram
objeto de simplificações que as tornam inadequadas ao estudo da centralidade (Anexo 6.3 A, B, C, D)
Decidimos,
pois, pelo desenvolvimento do estudo basedo na fonte primária: os dados da
Pesquisa Domiciliar.
2.3 Premissa metodológica I: motivos de
viagem X macro-setores econômicos urbanos
Os
elementos de análise da espacialidade urbana do Rio de Janeiro reunidos neste
trabalho se articulam como um esboço de interpretação do “sistema de atividades
urbanas” em termos de “setores da economia urbana” implícitos nos motivos de viagem levantados pela
pesquisa domiciliar de desejos de viagem PTM-95, quais sejam, trabalho, escola,
lazer, compras, saúde, serviços, outros (V. Apêndice Pesquisa Domiciliar
PTM-95).
A
transposição da estrutura locacional dos destinos de viagem declarados na
pesquisa domiciliar para o estudo da “centralidade” será feita mediante a
tradução/conversão da “estrutura de motivos” como “setores da economia urbana”:
produção/distribuição de bens e serviços e
consumo, o primeiro derivado
diretamente do dado viagem a trabalho
da pesquisa, o último como somatório dos motivos “4 a 8” —viagem a lazer, compras, saúde, serviços, outros.
A
fusão dos motivos 4 a 8 na categoria
“consumo” contém uma liberdade conceitual evidente, justificada no entanto pela
acelerada incorporação de todas as esferas da vida urbana no circuito
econômico, processo que abrange desde os grandes projetos governamentais e de
parceria para a “requalificação do espaço público” e a “reestruturação de áreas
degradadas” —que constituem importantes economias internas e externas para as
empresas beneficiadas/envolvidas[2]—
até as mais prosaicas atividades de prestação de serviços, como “arrumação de
guarda-roupas” e “organização da agenda
pessoal”, passando pela transformação de serviços financeiros em “produtos” da
indústria da informação [Sassen,1997,p.28], pela explosão da comida a quilo e
pela segmentação do mercado de
transporte de pessoas (ônibus micro e especiais, vans), novos ramos
claramente ligados, estes últimos, à incorporação da terceira idade (e da
“primeira” também) no mercado dos
serviços e lazer[3]
urbano, inclusive no âmbito de atividades que até há pouco poderiam ser
consideradas estritamente privadas (festas, refeição cotidiana, etc).
A
conceituação do agregado “consumo” como “setor” da economia urbana associado às
atividades particulares não produtivas expressas nos “motivos 4 a 8” está
inspirada, em primeiro lugar, na reconhecida importância do “planejamento do
consumo” ou do “consumo de massa” para a economia contemporânea, e cujo caráter
decisivo como resposta à crise crônica de superprodução de mercadorias já fora
adiantada a seu tempo por Galbraith e outros economistas[4] .
A mais óbvia expressão urbanística do “consumo ‘planejado’ de mercadorias” é o
surgimento, tardio mas impetuoso, no Brasil, de uma importante rede de shopping centers urbanos.
Em
segundo lugar, o setor “consumo” aqui considerado contém todos os serviços, pela simples razão de que, na
economia contemporânea, “serviço” designa a mercadoria imaterial que é
consumida no próprio ato de sua produção. Os “planos de saúde” são um bom
exemplos de como, mediante a formação de um circuito complexo de arregimentação
de mão de obra de nível profissional e engenharia financeira, a prestação de
serviços pessoais passa a estar totalmente integrada e subordinada ao regime da
grande empresa capitalista. O novo papel estratégico das cidades para a
economia mundial e para cada uma das economias nacionais está diretamente
ligado aos novos setores produtivos de ponta deste tipo —comunicação e
informática, diversões (ocio, em
espanhol), cultura de massa, turismo, sem falar da própria indústria privada da
saúde.
2.4 Premissa metodológica II: a
radioconcentricidade como lei geral de formação da estrutura espacial da cidade
moderna
O
estudo da estrutura urbana aqui desenvolvido é uma combinação da interpretação
da estrutura urbana da cidade do Rio de Janeiro a partir do suporte físico
proporcionado pelos meios históricos de transporte —esqueleto da construção do
espaço urbanizado— com a análise dos atributos qualitativa dos dados de
movimentação de pessoas disponibilizados pela pesquisa domiciliar PTM-Iplan Rio
de 1995, segundo diversos modelos de repartição do espaço urbanizado.
Os
modelos gerais de estrutura espacial mencionados no capítulo 1, que ordenam a
análise dos dados repousam, aqui como lá, sobre um princípio subjacente da
formação do espaço urbano, que é o da sua radioconcentricidade. Sem este
princípio em mente, seja de forma expressa ou intuitiva, pode-se chegar facilmente, pela simples experiência e mera
observação, aos corredores radiais, mas não aos “transversais”, uma vez que
estes últimos não redundam, em geral, diretamente da regra econômica elementar
que permeia, de uma ou de outra forma, as decisões locacionais individuais dos indivíduos e
empresas —transporte como custo de atrito associado à distância ao centro ou
subcentro de seu interesse—, mas da dedução do urbanista que intui o papel das
redes de transporte na formação das economias de aglomeração da cidade
contemporânea, em particular o processo de compactação e intercomunicação dos
subcentros e da difusão da centralidade,
dos quais deriva por sua vez a ocupação dos vazios intersticiais que tendem a
se formar entre os corredores radiais de qualquer metrópole em processo de
expansão.
Digamos,
a título de ilustração, que o corredor Barra-Penha, no Rio de Janeiro, que
aparece na pesquisa FUNDREM como o principal corredor transversal da cidade,
pode também ser considerado como prolongamento do eixo radial historicamente
formado a partir do subcentro Madureira.
2.5 Premissa metodológica III: a
concentração espacial de viagens como aspecto da centralidade
O
estudo da relação entre a demanda de transporte e a centralidade urbana com
base nos dados da Pesquisa Domiciliar de transporte parte do pressuposto de que
a distribuição espacial dos destinos de viagem está diretamente relacionada com
a estrutura locacional das atividades econômicas urbanas.
Definimos
“centralidade” de um modo genérico —uma vez que não pretendemos medi-la para
construir um modelo hierárquico das centralidades do Rio de Janeiro— como uma
síntese de atributos do espaço que exprime, por um lado, a aglomeração
espacial de capitais fixos invertidos na
produção, administração e comercialização de bens e serviços e, por outro, a
convergência cíclica diária das pessoas que realizam este processo de
produção-distribuição-consumo. Ao análisar a concentração dos destinos de
viagens urbanas estimamos poder fornecer um subconjunto de indicadores que
contêm não a totalidade mas uma parcela importante dos atributos da
“centralidade”.
2. 5 O
conceito de Viagens Motorizadas
não Destinadas ao Domicílio (MNDD)
Interessado
na relação entre a movimentação de pessoas e os padrões de organização
territorial da macro-estrutura da centralidade urbana, irei considerar, neste
trabalho: (1) as viagens motorizadas —aquelas
que já fazem parte ou são parcela potencial do “mercado de transportes
urbanos”: viagens nos meios de transporte público coletivo, de um lado, e
viagens por automóvel (inclusive táxi) ou meios coletivos privados, por outro; (2) as viagens não destinadas ao domicílio, que defino como produtivas, isto é, aquelas imediatamente associadas a operações
econômicas novas —trabalhar e adquirir uma mercadoria ou serviço. Ficam
excluídas da pesquisa, portanto, as viagens de retorno ao domicílio.
Em
termos dos “setores da economia urbana”, a viagem destino escola (motivo 2) poderia ser omitida em um plano de
análise simplificado como o que se propõe e considerada, tal como a viagem de retorno ao domicílio (motivo 3), como
associada ao fato econômico da “reprodução a longo prazo da força de trabalho”.
De outro lado, as viagens motorizadas à escola particular —em quantidade cada
vez maior— poderiam ser claramente associadas à função imediata “consumo de um
serviço”, mas somente se pudessem ser metodologicamente destacadas da viagem à
escola pública. Finalmente, dada a importância crescente do ensino na estrutura
tanto da economia quanto da geografia urbana (centros de pesquisa e pólos de
ensino privado associados às funções de comércio e serviços dos centros ou
formando micro-centralidades), e ainda considerando o impacto que o impacto das
viagens relacionadas ao ensino sobre o desempenho do sistema de circulação,
optamos por mostrar o motivo ensino em
separado, mantendo a apresentação de sua distribuição espacial.
2.6 A análise espacial da distribuição
das viagens MNDD: conceitos e metodologia
Nosso
estudo das relações entre movimentação e
espacialidade urbana parte dos conceitos básicos da matrizes de viagens
O-D resultante da restrição MNDD, mas irá se apoiar em um “método
de leitura” modificado, tendo em vista que o objetivo final do processo de
análise não é mais o link
(representação ideal da demanda de transporte entre as zonas), mas as
características geo-econômicas das próprias unidades espaciais, refletidas nos
deslocamentos a elas relacionados.
Em
nosso estudo, estamos interessados na distribuição
espacial da movimentação produzida pelo intercâmbio de bens e serviços
—incluído o salário—que constitui a vida econômica especificamente urbana, para
detectar a forma como esta movimentação resulta da (e ocasiona a)
(re)estruturação da rede de núcleos dinâmicos de atividades econômicas urbanas
(“centralidades”). Por isso, a atratividade em geral será redefinida segundo
três sub-categorias formadas pela combinação de viagens externas e internas
destinadas à zona, cada uma das quais exprime, supostamente, uma certa
qualidade (atributo) do sistema de atividades da zona ou região.
Os
principais indicadores formulados são:
·
[capacidade de] polarização de viagens das zonas
·
[capacidade de] absorção de viagens das zonas
·
[capacidade de] retenção de viagens das zonas
Cabe
notar que todos os indicadores a serem aqui estudados são relativos,
isto é, se referem à posição “hierárquica” das unidades espaciais resultante da
comparação de umas com as às outras em termos de porcentagens do total de viagens pesquisadas.
Assumimos como tecnicamente corretos os métodos e procedimentos de pesquisa
realizados pelo PTM-95 e, portanto, que os dados da Pesquisa Domiciliar
representam o universo das cerca de 8,5 milhões de viagens diárias realizadas
na Região Metropolitana, distribuídas proporcionalmente pelas zonas de origem.
2.7 Conceitos
A
atratividade em geral será primeiramente especificada como polarização. Polarização
relativa é a proporção em que as
zonas recebem o total de viagens
interzonais (expressas por uma matriz O-D em que às células da diagonal é
atribuído o valor “0” (zero)). O atributo espacial que se pretende expressar
através dessa categoria é o grau de
concentração e especialização das atividades econômicas em uma porção do
território.
A
polarização exprime o fato de que a
zona propicia uma oferta de mercadorias (aqui incluído o salário) e serviços
que as pessoas não esperam, não podem ou não tiveram a oportunidade de obter no
entorno de sua residência ou em outras zonas. Ela indica a existência de uma certa hierarquia funcional ou de
especialização de atividades entre as zonas.
Por
ser um conceito formulado para exprimir a atração
espacialmente concentrada, a polarização
deverá ser preferencialmente aplicada aos modelos mais detalhados de
repartição do solo, no caso, a própria zona de tráfego ou a Região Administrativa/Município. Esta
oferece, sobre a unidade “zona de tráfego”, a vantagem de uma maior homogeneidade
estrutural: apresenta-se como espaço constituído de um núcleo de atividades e
sua área de influência local, com o que se obtem menores distorções quanto
próprio conceito: viagens polarizadas são
oriundas de zonas que possuem o seu próprio núcleo histórico de atividades
econômicas. As zonas de tráfego se
apresentam, sob este aspecto, bastante diferenciadas: p.ex. Madureira é um
pequeno núcleo de atividades econômicas, Vila Isabel é toda a Região
Administrativa, com seu núcleo e sua área residencial. (Fig.1)
Fig. 1 Polarização de viagens nas zonas
O
segundo conceito derivado da atratividade é o de absorção de viagens, proporção em que se reparte o total de viagens
segundo o espaço em que ocorre a sua
destinação. Absorção diz
respeito, portanto, à capacidade que possui um determinado espaço (um conjunto
espacialmente delimitado de atividades instaladas) de atrair viagens externas e internas, portanto de
satisfazer em sua integralidade os requisitos dos motivos da demanda de viagem.
O
conceito de absorção está formulado para representar a atratividade espacialmente distribuída, ou “atratividade difusa”, que
poderia ser expressa na forma de uma rede
de centralidades, tipicamente, um conjunto de microcentralidades estruturadas
em torno de 1 ou 2 centralidades principais. Este conceito será, portanto,
preferencialmente aplicado às categorias mais abrangentes da coleção de
recortes espaciais (agrupamentos de Regiões Administrativas), p.ex. Áreas de
Planejamento, Setores Regionais Radiais, Setores Regionais Concêntricos).
A
absorção exprime, supostamente, uma combinação
de polarização e auto-suficiência, destacando o peso e a diversidade da
estrutura de atividades econômicas instaladas no território. (Fig. 2)
Fig. 2 Absorção de
viagens nas zonas
O
terceiro conceito é o de retenção de
viagens, que exprime a capacidade que tem uma região de satisfazer internamente
as demandas por mercadorias e serviços. Este conceito é aquele que, neste
modelo, melhor nos permite analisar atributos típicos dos corredores de transportes (movimentação linear). Será portanto
testado em sequencias lineares de zonas de tráfego. Como de resto na pesquisa
em seu conjunto, os corredores não serão
estudados em termos de demanda estimada de transportes, mas comparados entre si
em termos de índices de quantidade e qualidade de movimentação interna, com a
juda dos seguintes indicadores:
·
índice população residente / pop.
metropolitana
·
índice viagens retidas / viagens
metropolitanas
·
distribuição de motivos — específicos
(1 a 8) e por “macro-setores econômicos” (1, 2 e 4-8)
·
principais pólos por classe de motivo
(trabalho, escola e consumo)
·
distribuição temporal (por períodos de
4 horas e pico X fora-de-pico)
·
viagens de base não domiciliar (BND)
·
repartição modal —transporte público
coletivo (tpc) e individual/particular (out)
Fig 3. Retenção de viagens nas zonas
2.8 Os modelos de estrutura
espacial urbana
As
conclusões sobre a estrutura e dinamismo da rede de centralidades serão sacadas
da aplicação dos indicadores acima descritos a uma coleção exaustiva de modelos de repartição do espaço urbano do
Rio de Janeiro (modelos de representação da estrutura espacial urbana).
Todos
os modelos de representação do espaço municipal e metropolitano aqui
apresentados são oriundos de alguma aplicação científica ou administrativa em
uso durante certa época da história recente do planejamento urbano no Rio de
Janeiro.
O
problema dos modelos de estrutura espacial urbana é fundamental para a análise
do espaço. Qualquer modelo está assentado sobre um aspecto predominante do
espaço estruturado, refletindo desse modo, em alguma medida, a concepção e a
hipótese principal de trabalho do agente que realiza o estudo. Por exemplo, o
modelo das macrozonas estabelecido no estudo Estrutura Urbana da RMRJ
(FUNDREM 1984) baseava-se na noção de expansão de longo prazo do espaço
urbanizado da cidade tendo como suporte os ramais ferroviários e as vias
litorâneas (ímagem histórico-geográfica da estrutura espacial urbana). Outros
modelos privilegiam a premissa da expansão do espaço urbanizado em círculos
concêntricos que refletem mais ou menos
fielmente o valor econômico da acessibilidade (imagem econômico-geográfica da
estrutura espacial urbana). Outros ainda procuram refletir padrões
relativamente homogêneos de urbanização (imagem da composição técnica do espaço
urbanizado, p.ex.. Áreas de Planejamento)
Todos
os modelos guardam, no entanto, uma base comum, dada como restrição pela base
estatística, por sua vez estabelecida segundo a estrutura
político-administrativa vigente. No caso da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, geralmente esta base é de carárter misto, constituída pelas Regiões
Administrativas do Município do Rio e pelos próprios municípios periféricos,
cujos dados raramente aparecem desagregados por distritos. Esse critério foi
seguido pelo PTM-95 como unidade típica de agregação das zonas de tráfego.
A
coleção de modelos de repartição do espaço que será aqui utilizada constitui
uma adaptação dos modelos teóricos e de planejamento mais comuns à estrutura da
estatística existente e da matriz de viagens.
O
espaço metropolitano será considerado então segundo as seguintes repartições
(Anexo 1.1 a 1.6)
·
repartição macrorregional
(macrorregiões metropolitanas)
·
repartições mesorregionais
- por “áreas de planejamento”
- por “setores regionais radiais”
- por “setores regionais concêntricos”
- por “subsetores radio-concêntricos”
·
repartição microrregional (distritos
Rio e Municípios)
·
repartição por unidades de
pesquisa (zonas de tráfego)
[1] Ver gráfico PIB países
selecionados
[2] “Os agentes sócio-econômicos expressam
hoje uma demanda de recentralização de funções terciárias superiores não tanto
por exigências materiais de localização como pelo renovado prestígio dos
centros urbanos e por sua teórica polivalência. (...) Os preços do solo
dispararam nas áreas centrais, ao menos naquelas que realizam operações de
renovação urbana ou de requalificação do entorno (...)”.[BORJA, data n/d]
[3] Para Lester Thurow, são os idosos
queestarão, no futuro, impulsionando o sistema econômico. Por prudentes que
devamos ser em relação a este prognóstico, que em todo o caso se refere aos
EUA, é inegável que as vans e a comida a q uilo
têm demonstrado uma certa capacidade de integrar os idosos da classe média no
mercado de serviços urbanos das grandes cidades. [Nota do autor]
[4] Em Barcelona, onde só se
consome água potável industrializada, foi dito em certa reportagem de jornal que 90% do preço pago por um
garrafão de água correspondia ao custo da guerra publicitária entre as marcas.
A propaganda é a guerra permanente do capital contra o subconsumo crônico de
mercadorias e a griffe contemporânea
é a generalização da indústria da metamercadoria. [Nota do autor]