quarta-feira, 19 de abril de 2023

Lambança olímpíca


O Globo 18-04-2023
https://oglobo.globo.com/blogs/ancelmo-gois/post/2023/04/stf-julga-a-destruicao-de-uma-obra-de-r-1-bilhao-e-decide-o-destino-do-vlt.ghtml

O Supremo Tribunal Federal começou, sexta passada, o julgamento virtual de um recurso da Advocacia Geral da União que pode definir o destino da construção do VLT (veículo leve sobre trilho) ou BRT (bus rapid transit) entre Cuiabá e Várzea Grande, no Mato Grosso, uma obra orçada R$ 1 bilhão.

A AGU pediu que o STF derrube liminar do ministro Dias Toffoli, que autorizou o governo estadual a abandonar as obras do VLT e construir o BRT. Pelo cronogrogama oficial, falta apenas 30% do trabalho para a conclusão do VLT. Mas, mesmo assim, o governador Mauro Mendes decidiu desmontar os trilhos e construir, no mesmo trecho, o BRT.

A Procuradoria-Geral da República e o Tribunal de Contas da União se posicionaram contra a substituição de um modelo, quase pronto, para outro. As obras, que deveriam ter sido concluídas antes da Copa de 2014, já consumiram R$ 1 bilhão.

2023-04-19

quinta-feira, 13 de abril de 2023

A tarifa zero e o consumo das famílias

Última edição 18-08-2023

BBC News Brasil 13-04-2023
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy65e4qnjjpo

Montagem:Àbeiradourbanismo
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Como estudioso da organização espacial urbana, me chama a atenção nessa matéria a constatação de que as famílias, liberadas do gasto imediato com tarifas de transporte, tendem não só a deslocar-se mais como a consumir mais.

Fica, portanto, uma dúvida, que pesquisas futuras poderiam ajudar a esclarecer, a respeito da ideia bastante difundida entre adeptos - como eu mesmo - da recuperação da renda do solo, de que toda redução de gastos com transporte público será necessariamente anulada pelo aumento dos alugueis. Sua origem é assim resumida na Economia Regional de Richardson 1975: “A análise de Wingo [custos constantes de localização, 1961] mantém a hipótese de complementaridade entre os gastos de aluguel e os custos de transporte apresentados mais de três décadas antes por R. M. Haig, que, por sua vez, formulou um paralelo urbano ao modelo agrícola de Von Thunen [1826]”.

Vale lembrar, no entanto, que a redução o poder de compra com o aumento da distância, e respectivo gasto de transporte, entre a residência e o comércio de varejo é uma premissa logicamente inquestionável da Teoria dos Lugares Centrais de Walter Christaller, 1933: [1]

"(..) um consumidor que tenha de se deslocar a um lugar central para adquirir um bem terá menos dinheiro disponível do que um que viva no próprio lugar central, porque tem de pagar o custo do transporte. Ficará, assim, sujeito a comprar menos. Este efeito de fricção da distancia, causado pelo custo do transporte (pressuposto 1) provoca o decréscimo da procura com a distância ao lugar central."

Como já tive ocasião de sugerir em mais de uma postagem neste blog, [2] [3] a interdependência econômico-espacial entre o polo de varejo/ serviços / pequena indústria e as famílias residentes ao seu redor seria o fundamento histórico da estrutura tendencialmente radioconcêntrica da cidade capitalista, cabendo à renda da terra, primordialmente, o papel de imposto privado sobre as vantagens materiais objetivas - por oposição a "preferências", que supõem certa folga orçamentária - dessa configuração: mais poder de compra e oportunidades de trabalho para famílias residentes, maior receita de vendas e oferta de mão de obra para as firmas.

Famílias não buscam morar perto do Centro para pagar mais aluguel; pagam mais aluguel (por m2) para estar no lugar da cidade onde é mínimo o custo de deslocamento e máxima a oferta de mercadorias, serviços e empregos. Tampouco os varejistas se estabelecem no Centro para pagar mais aluguel: pagam mais aluguel para estar à menor distância possível do conjunto das famílias e aí se aglomeram, em mercados e arruamentos tão compactos quanto possível, para que nenhum consumidor “perca a viagem” e a força de trabalho seja a mais farta e barata possível. 

Sob este ângulo, a configuração radio-concêntrica da cidade moderna aparece como um dispositivo de economia social facilitador e acelerador da produção de riqueza sob a forma histórica do capital.

A ideia da vantagem locacional reciprocamente determinada de residentes e varejistas, sugerida por Hurd em 1903, [4] tem estado obscurecida pelo sucesso do modelo de William Alonso em representar a distribuição de firmas e famílias urbanas, sempre e por definição individualmente consideradas, ao redor do Centro segundo sua capacidade de ofertar renda pela terra-localização. [5] Permanece, no entanto, a questão: de onde vem o Centro? Por qual razão as firmas, cuja aglomeração constitui o próprio Centro, ofertariam as maiores rendas da cidade para estar o mais perto possível... de si mesmas? 
Tenho para mim que as declarações de Josué Ramos, prefeito de Vargem Grande Paulista, e Celso Haddad, Diretor da ETP de Maricá, reproduzidas na matéria da BBC Brasil, contêm ao menos parte da resposta:

"É uma questão muito maior do que a de mobilidade. Existe a questão social, a de geração de recursos, porque na hora que eu implantei a tarifa zero, aumentou o gasto no comércio, a arrecadação de ICMS, de ISS"

"Em 2022, foram R$ 160 milhões que as famílias deixaram de gastar com transporte, o que é injetado diretamente na economia da cidade"

______
[1] BRADFORD M G e KENT W A, Geografia Humana e Suas Aplicações (Tradução do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Supervisão de Raquel Soeiro de Brito e Paula Bordalo Lema)
https://www2.ufjf.br/nugea//files/2014/09/Bradford-e-Kent_Teoria-dos-lugares-centrais-1.pdf

[2] “Distância, aglomeração, centralidade: uma hipótese” 08-03-2021

[3] “Apontamentos: HURD 1903 - crescimento urbano axial e central” 15-03-2023

[4] HURD R M, "Excerpts on axial and central growth", extraído de Principles of City Land Values, New York: Record and Guide 1903, por JORGENSEN P.
https://docs.google.com/document/d/15g10RjkDmqBxl9onF5OPYvHBRrmGiE1A6McoKzBeSeE/edit?usp=sharing

[5] ABRAMO P (2001) Mercado e Ordem Urbana: do caos à teoria da localização residencial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 2001, pp. 65-87

2023-04-13

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Socialismo de rendas: contas a pagar


Público 01-04-2023
https://www.publico.pt/2023/04/01/fotogaleria/manif-porto-410021


Milhares de pessoas por todo o país saíram à rua este sábado contra a crise nacional na habitação, com preços cada vez mais altos a obrigar muitos a abandonarem os centros urbanos. As cidades de Lisboa, Porto, Viseu, Aveiro, Coimbra e Braga encheram-se de cartazes a pedir o direito a viver, com dignidade, nas cidades. "Queremos casas para viver", "Ter casa é um direito, não um privilégio", e "Tanta gente sem casa, tantas casas sem gente" foram alguns dos slogans exibidos durante a tarde. O PÚBLICO preparou uma fotogaleria dos protestos no Porto e em Lisboa.
 

2023-04-05