Mostrando postagens com marcador cidade medieval. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cidade medieval. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 22 de abril de 2025

Cidade feudal, cidade mercantilista, cidade capitalista: notas

Clique na imagem para ampliar
Última edição 03-06-2025 

A literatura dedicada à história da arte, da arquitetura e do urbanismo atribui, com bons motivos, uma enorme importância aos períodos classificados como renascentista e barroco, este último geralmente associado ao auge das monarquias absolutistas europeias.

Em se tratando de história urbana, porém, para a qual a arte, a arquitetura e o urbanismo aparecem, regra geral, como exteriorizações das conquistas culturais e materiais da parcela mais bem aquinhoada da sociedade, precisamos partir de uma periodização baseada na relação entre o processo de urbanização e o modo de produção e distribuição da riqueza em geral e, muito especialmente, dos bens e serviços urbanos.
 
Tomando em conta os ciclos geralmente reconhecidos pela literatura econômica, a cidade desse período de mais ou menos três séculos haveria de ser classificada como ‘mercantilista’. É o caso da urbe colonial latino-americana, nascida da revolução do comércio mundial associada às grandes navegações do século XVI. E não poderia ser diferente, uma vez que inexistiu nesse âmbito a cidade feudal - as cidades pré-colombianas e seus regimes sociais foram ambos destruídos pelos colonizadores espanhóis - e o capitalismo europeu era, se tanto, um embrião.

Cabe, no entanto, perguntar: não sendo um modo de produção, pode o mercantilismo ter gerado determinantes da estrutura urbana distintos daqueles dos modos de produção feudal-senhorial e capitalista? 

Mumford: um esforço de interpretação
Na abertura da seção 2 do capítulo XII - “El nuevo complejo urbano” de sua obra magna La Ciudad en la Historia, Mumford parece responder a essa questão, categoricamente, que sim!

“Entre los siglos XV y XVIII se configuró en Europa un nuevo complejo de rasgos culturales. En consecuencia, tanto la forma como el contenido de la vida urbana quedaron radicalmente alterados. El nuevo modelo de existencia surgió de una nueva economía, la del capitalismo mercantilista; de un nuevo marco político, principalmente el de una oligarquía o un despotismo centralizado, que se concretaba por lo común en un Estado-nación; y de una nueva forma ideológica, que procedía de la física mecanicista, cuyos postulados subyacentes habían sido formulados, mucho antes, en el ejército y el monasterio.” [1] [destaque meu]

Contudo, é o próprio Mumford quem nos adverte, na abertura deste mesmo capítulo 12, “La estructura del poder barroco”, para o fato de que 

“Las culturas humanas no mueren en un momento dado como si fueran organismos biológicos. Aunque a menudo parecen formar un conjunto unificado, es posible que sus partes hayan tenido una existencia independiente antes de integrarse en el conjunto y, por la misma razón, tal vez aún sean capaces de seguir existiendo cuando ya ha dejado de funcionar la totalidad en que otrora prosperaron. Tal es lo que ocurrió con la ciudad medieval. Los hábitos y las formas de vida medieval seguían activos tres siglos después de su «cierre», si se considera que el siglo XVI fue ese punto decisivo. (..) Incluso en el Nuevo Mundo las más antiguas leyes medievales del mercado permanecieron en vigor en las ciudades durante el siglo XVIII. [2]  

E conclui esta passagem dizendo:

"Así, solo en las ciudades recién fundadas, creadas para residencia del príncipe o para la colonización, crearon las instituciones postmedievales un estricto orden lógico, enteramente propio.” [3]

Ora, se em todas as cidades da época mercantilista - salvo as recém-fundadas - as “formas de vida [da cidade] medieval seguiram ativas até o século XVIII", somos obrigados a no mínimo relativizar, talvez mesmo deixar em suspenso, a proposição original de que “tanto a forma quanto o conteúdo da vida urbana foram radicalmente alterados pela “nova economia do capitalismo mercantilista” etc.

Com sua lógica irretocável, a citação acima nos alerta para uma interpenetração de épocas históricas, em ambas as direções. Assim como “certos aspectos da cultura humana podem continuar existindo mesmo quando a totalidade em que outrora prosperaram já deixou de funcionar” - as antigas muralhas das cidades, por exemplo, que existiram até muito depois de, nas palavras do próprio Mumford, se "terem convertido em fronteiras nacionais” dos Estados monárquicos absolutistas [4] - outros aspectos "podem ter uma existência independente antes de integrar-se no conjunto", isto é, de ter encontrado o seu lugar numa formação social madura. 

Tal me parece ser o caso do capital mercantil relativamente ao capital propriamente dito, consequentemente do papel estruturador do comércio de mercadorias nas grandes cidades europeias e capitais coloniais dos séculos XVI-XVIII relativamente à compra-venda generalizada de mercadorias, serviços e força de trabalho nas grandes metrópoles da segunda metade do século XIX.


O caso de Newcastle

Clique na imagem para ampliar
Consideremos por um momento, sob este ângulo, o que diz o geógrafo John Langton [5] sobre a organização espacial urbana de Newcastle, Inglaterra, no ano de 1665. Com base num detalhado exame estatístico dos registros do imposto sobre a propriedade urbana (Tax Assessment Return) daquele ano, uma época em que a oligarquia mercantil local desfrutava de significativas vantagens econômicas e políticas como principal fornecedora de carvão ao mercado londrino, Langton deduz que a cidade “era ainda sensivelmente setorizada por grupos ocupacionais”, com as maiores residências correspondendo aos ofícios mais prestigiosos. Embora não pudesse ser considerada multicêntrica, a cidade tampouco apresentava “um único centro ao redor do qual se distribuíam as atividades econômicas, como num central business district”. Ou seja, indústria e comércio ainda eram organicamente ligados à residência. E mesmo sendo a atividade portuária um elemento crucial de sua economia, atraindo para a beira-rio o salão da guilda mercantil, “seis dos nove mercados da cidade funcionavam, assim como as feiras semestrais, numa única praça de mercado centralmente localizada” [a single central market place of overwhelming predominance], não por acaso contígua à igreja - hoje Catedral - de São Nicolau, ponto de convergência da cidade medieval tanto pela função religiosa quanto pela relação espacial com suas portas.

Uma hipótese alternativa
Parto do que entendo por formação social feudal e capitalista:
 
"A sociedade feudal baseava-se na renda agrícola - em espécie ou tempo de trabalho nas terras do senhor e, mais tarde, também em dinheiro - imposta pela aristocracia guerreira sucessora do colonato romano e das comunidades tribais germânicas, à guisa de estabilidade e proteção, aos camponeses que ocupavam e cultivavam a terra com seus instrumentos de trabalho. A produção agrícola excedente às estritas necessidades dos servos rurais, apropriada pela nobiliarquia fundiária para seu próprio consumo, era a base da riqueza na sociedade feudal.

Em contraste, a sociedade capitalista, gestada durante séculos no seio da sociedade feudal europeia, baseia-se na produção generalizada de mercadorias por trabalhadores livres para vender, em troca de um salário, a sua força de trabalho aos proprietários das instalações, instrumentos e insumos da produção. A base da riqueza capitalista é o mais-trabalho assalariado, vale dizer o valor das mercadorias produzidas que exceda os custos totais de produção, incluídos os salários, apropriado pelos capitalistas como lucro." [6]

A cidade feudal europeia surgiu não da riqueza do comércio de longa distância, que servia primordialmente à nobreza encastelada, mas do secular desenvolvimento das forças produtivas na agricultura servil, com cujos produtos a aristocracia adquiria os bens de luxo trazidos de terras distantes pelos mercadores. [7] A riqueza mercantil impulsionou, por certo, as forças produtivas da nova economia urbana, porém muito lentamente, a partir de uma base não apenas instável devido às guerras e catástrofes naturais [8], mas também extremamente limitada: um mercado formado, de um lado, por demandantes urbanos que compravam para seu sustento uma parte ínfima da produção agrícola e, de outro, por demandantes rurais de ferramentas, utensílios domésticos, têxteis, artigos de couro etc., camponeses demasiado pobres para fazer transbordar a indústria urbana do protecionismo das guildas.

Por isso a cidade feudal europeia manteve, durante séculos, um tipo de estrutura que os historiadores modernos qualificam de multicêntrica, [9] [10] determinada pela interação espacial entre residentes ainda divididos entre a produção agrícola e a artesanal e (a) o castelo onde se exercia o poder temporal, (b) a igreja cujo pátio e imediações eram o lugar preferencial dos mercados varejistas periódicos, formais e informais, e (c) as portas para onde a passagem obrigatória de mercadores atraía armazéns, certas classes de artesãos e estalagens onde se fazia, dentre outras coisas, o comércio de atacado e de dinheiro. [11] Inexistia a própria noção de “centro urbano”. [12]

O mercantilismo, por outro lado, não era uma formação social, com um modo de produção próprio. Embora contribuindo decisivamente para impulsionar o desenvolvimento da produção capitalista - têxtil e metalúrgica, principalmente - 
nas regiões e países onde ela já emergira do artesanato feudal como manufatura, muito especialmente em Flandres, no norte da península itálica e, mais tarde, na Inglaterra, a riqueza mercantil não provinha da produção de mercadorias, mas da exploração das diferenças de preços dos excedentes de consumo das comunidades primitivas e da produção escravista, servil e despótica espalhada pelo mundo - diferenças que o desenvolvimento da produção capitalista se encarregaria, no seu devido tempo, de extinguir. Nas palavras de K Marx, “o desenvolvimento autônomo do capital comercial se apresenta na razão inversa do desenvolvimento econômico geral da sociedade. (..) Quanto menos desenvolvida é a produção, mais a riqueza monetária se concentra nas mãos dos comerciantes“. [13]

A despeito de sua longa duração, o período mercantil-absolutista foi o de uma sociedade em transição, em que formas feudais e capitalistas de organização e exploração do trabalho, portanto de criação e distribuição da riqueza e, com elas, de estruturação e apropriação das cidades, coexistiam e se interpenetravam ainda que com dinâmicas opostas:

“Essas duas formas eram tanto complementares (p. ex. quando um senhor feudal usava parte de sua riqueza para participar de empreendimentos comerciais que incluíam algum trabalho assalariado, ou quando um comerciante usava os lucros de sua atividade para estabelecer um feudo) quanto contraditórias (p. ex. quando comerciantes e senhores feudais guerreavam pelo domínio político das grandes cidades)." [14]

No que tange à sua estrutura espacial e dinâmica expansiva, e tendo em conta que a urbe carrega consigo, por definição, uma enorme força inercial relativamente às mudanças em curso na sociedade, a grande cidade mercantilista era como uma cidade feudal ampliada pela transposição de suas muralhas, adensada pelo significativo crescimento populacional vegetativo e, principalmente, migratório, [15] monumentalizada pelo fausto aristocrático e monárquico [16] e economicamente concentrada em sua ‘porta principal’ - o porto, [17] em cujas 
imediações se instalavam tanto as aduanas quanto os mercadores e artesãos - o mais das vezes em suas próprias casas -, as novas manufaturas e a ralé; um lugar urbano muito distante de poder ser chamado de “centro” - que supõe, dentre outras coisas, a separação de negócios e residências 
[18] e o claro e sistemático desenvolvimento de assentamentos residenciais pericêntricos e periféricos em bases capitalistas. Até meados do século XVIII, quando se acelera a transição da manufatura para a grande indústria e com ela a subordinação do capital de comércio, a urbe mercantilista não tinha um ‘centro’ propriamente dito: era ainda, em ampla medida, uma cidade com funções centralizadoras (palácio, sé, porto, aduana, rua ou bairro comercial) relativamente dispersas por oposição ao campo circundante e seus povoados proto-suburbanos - como a City de Londres e a Cité de Paris, recintos urbanos política, jurídica e culturalmente definidos, durante muito tempo, pelo perímetro cambiante de suas muralhas. [19]

Em Paris, que em 1800 era a segunda metrópole mais populosa da Europa, com cerca de 550 mil habitantes, a feudalidade tardia da urbe mercantil-absolutista se manifestou na construção em 1788, vale dizer em plena Revolução Industrial, de um muro chamado ‘des Fermiers Généraux’, destinado à cobrança de impostos sobre os produtos que eram trazidos à cidade. [20] 

Pode-se dizer que as muralhas das grandes cidades europeias contam, de um modo bastante peculiar, a história da lenta superação da economia e das instituições feudais - das quais eram parasitárias, cada uma à sua maneira, tanto as monarquias absolutistas quanto a burguesia mercantil [21] - pela formação social capitalista.


A renda do solo urbano
Um estudo aprofundado da transformação das rendas urbanas feudais em 
um único direito assimilável à forma-mercadoria capitalista me parece indispensável para o entendimento da 'cidade mercantilista' dos séculos XVI-XVIII como um fenômeno de transição.  

Limito-me aqui a recuperar uma observação de Mumford sobre a renda urbana na grande cidade pós-medieval, apontada por E Vance em seu clássico texto de 1971 “Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities” como o aspecto distintivo da cidade capitalista por oposição à pré-capitalista. [22] 

Embora compartilhe com Vance a concepção de “capitalismo” como “economia do dinheiro” decorrente do aumento explosivo, a partir do século XVI, da riqueza mercantil europeia, [23] consequentemente também da pequena produção artesanal e manufatureira e dos serviços pessoais, Mumford não sugere qualquer relação entre o aumento significativo das rendas urbanas nas grandes cidades comerciais do século XVII [24] e a existência, ainda que embrionária, de gradientes de preços do solo segundo a distância aos núcleos comerciais urbanos, mencionados sem referência factual por Vance como próprio da cidade capitalista nascida "em algum momento do século XVI", [25] mas somente observados, de maneira indireta - porque não era o objeto de sua análise - e ainda distante de sua forma madura, por Engels na Manchester industrial de 1845. [26]

Para Mumford se trata, essencialmente, nas grandes cidades do século XVII, do notável crescimento da população pobre e miserável combinado à peculiaridade de que a renda urbana cresce - exponencialmente - com a densidade da ocupação do solo, [27] àquela altura intensificada pela prática persistente da construção, ao redor das cidades, de muros destinados à defesa e outros fins. [28] Para ele, 

“O alojamento de grande parte da população - e não apenas mendigos, ladrões, trabalhadores ocasionais e outros párias - em cortiços e favelas foi a modalidade característica do crescimento urbano no século XVII”. [29]

*
Conclusão
O exposto até aqui sugere que o capital mercantil não trouxe consigo forças determinantes de um processo de estruturação urbana que lhe fosse próprio, distinto em forma e conteúdo tanto da cidade feudal como da capitalista.  

Foi somente com o pleno desenvolvimento da indústria capitalista em meados do século XIX, [30] subordinando por completo ao seu ciclo reprodutivo o comércio de varejo e atacado, nacional e internacional, que as cidades ganharam uma dinâmica espacial realmente nova: a expansão radioconcêntrica desigual, manifestação urbana da natureza expansiva desigual do próprio capital.

Impelida pela necessidade incontornável de redução da distância-custo entre os agentes envolvidos na compra-venda generalizada de mercadorias, serviços e força de trabalho que agora abarcava compulsoriamente a virtual totalidade da população urbana, e pela resultante competição espacial arbitrada pela renda da terra, a revolução da centralidade, pode-se dizer, é a marca historicamente distintiva do advento da cidade capitalista.

2025-04-22

____
NOTAS

[1] 
 MUMFORD L,  La Ciudad en la Historia. Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, Cap. XII, La Estructura del Poder Barroco, p. 579

[2] Idem, p. 577

[3] Idem, p. 577

[4] Idem, p. 614

[5] LANGTON J, “Residential patterns in pre-industrial cities: some case studies from seventeenth-century Britain”. Transactions of the Institute of British Geographers No. 65 (Jul 1975), The Royal Geographical Society, pp. 1-27.

[6] “A renda da terra e a cidade feudal: notas”. À beira do urbanismo (blog), 26-11-2024, por Pedro Jorgensen
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2024/11/a-renda-da-terra-e-cidade-feudal-notas.html

[7] “Os habitantes das metrópoles comerciais importavam de países mais ricos mercadorias refinadas e artigos de luxo caros, alimentando, assim, a vaidade dos grandes proprietários fundiários, que, com grande avidez, compravam essas mercadorias e as pagavam com grandes quantidades de produtos naturais de suas propriedades. [SMITH Adam (1776), Wealth of Nations. Londres, Aberdeen, 1848], livro III, cap. 3 p. 267, cit.em Marx K, O Capital, Livro III Boitempo cap 20 - Considerações Históricas Sobre o Capital Comercial, Nota 47]

[8] “Entre ese resurgimiento [do século XII] y el resurgimiento clásico del siglo XV había tenido lugar un gran desastre natural: la Peste Negra del siglo XIV, que eliminó entre una tercera parte y la mitad de la población, según los cálculos más moderados.” MUMFORD L,  La Ciudad en la Historia. Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, Cap. XII, La Estructura del Poder Barroco, p. 579

[9] "A cidade medieval é policêntrica. (..) O que estrutura a cidade é um certo número de lugares e monumentos que determinam até certo ponto o ordenamento das casas e das ruas e, sobretudo, a circulação. (..) Três elementos inscrevem na planta das cidades alsacianas um traço particularmente importante: o castelo senhorial, as igrejas e os mercados. Estes dois últimos elementos, aliás, estão às vezes associados. [LE GOFF J, O Apogeu da Cidade Medieval. São Paulo: Martins Fontes 1992, pp. 29-34.]
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3883019/mod_resource/content/1/LE%20GOFF%20jacques-o-apogeu-da-cidade-medieval.pdf

[10] “An analysis of the sample of 1665 demonstrates quite clearly, then, that (..) If it was not, perhaps, ‘many centred’, Newcastle was definitely ‘four sectored’: certainly, there was not a single ‘centre’ around which all activities were organized as they are around a central business district." [LANGTON J, “Residential patterns in pre-industrial cities: some case studies from seventeenth-century Britain”. Transactions of the Institute of British Geographers No. 65 (Jul 1975), The Royal Geographical Society, pp. 1-27].
https://www.jstor.org/stable/621831

[11] "The inn was a place in which corn might be factored, bills exchanged and bonds entered into, forwards in commodities bought and sold and information on the state of trade passed on, and as such a focus it developed and flowered between 1500 and 1700"; [Patten J, English towns, 1500-1700. Folkestone [England]: Archon Books 1978 p. 202.
https://archive.org/details/englishtowns15000000patt/page/22/mode/2up

[12] "la puerta produjo, sin normas especiales de distribución en zonas, los barrios económicos de la ciudad; y como no había solamente una puerta, la naturaleza misma del tráfico procedente de diferentes regiones tendió a descentralizar y diferenciar las zonas comerciales. Como consecuencia de esta disposición orgánica de las funciones, la zona interior de la ciudad no estaba recargada por tráfico alguno, pues solo circulaba el generado por sus propias necesidades." [destaque meu]. [MUMFORD L, op. cit. p. 512]

[13] MARX K, O Capital Livro III, Cap 20 Considerações Históricas sobre o Capital comercial.

[14] HARMAN C, “From feudalism to capitalism". International Socialism Winter 1989, pp. 35–87.

[15] “En tanto que la ciudad de viejo estilo estaba dividida en manzanas y plazas, y luego rodeada por una muralla, la nueva ciudad fortificada estaba proyectada ante todo como fortificación, y la ciudad propiamente dicha debía caber dentro de esta camisa de fuerza. (..) De hecho, el hacinamiento se había iniciado en las capitales ya antes del siglo XVII. (..) Pero, en el siglo XVII, estas prácticas se universalizaron: se inició la construcción sistemática de altos edificios de viviendas, que tenían cinco o seis pisos en la vieja Ginebra o en París, y a veces ocho, diez o más en Edimburgo." [MUMFORD L, op.. cit. pp. 600-602]

[16] "La mayoría de los palacios renacentistas de Florencia fueron construidos en angostas calles romanas y medievales." [MUMFORD L, op.. cit. p. 585]

[17] “El significado original de «puerto» deriva de este portal [medieval]; y a los mercaderes que se establecían en este «puerto» se les solía llamar «porteros», hasta que transmitieron el nombre a sus sirvientes”. [MUMFORD L, op.. cit. p. 512]

[18] "(..) nesta fase [a cidade mercantil] a dinâmica da acumulação comercial apresenta pouca influência sobre a estruturação interna urbana. (..) observa-se apenas o surgimento de uma classe de comerciantes e (..) uma dinamização da produção de mercadorias (..) entregue a múltiplos e pequenos estabelecimentos, em geral conduzidos pela conjugação dos meios de produção nas mãos do próprio trabalhador. (..) o locus da produção e o locus da moradia tendem a confundir-se, (..) dispersos de forma mais ou menos aleatória sobre o espaço geográfico. Em outras palavras, a separação entre o local de trabalho e de residência é ainda restrita, dada a pouca concentração dos meios de produção nas mãos de capitalistas. As condições de produção e mesmo de circulação estão ainda bem descentralizadas." [SMOLKA M, “Estruturas Intra-Urbanas e Segregação Social no Espaço: elementos para uma discussão da cidade na teoria econômica”. Programa Nacional de Pesquisa Econômica - PNPE, Série Fac-Símile no. 13, Rio de Janeiro, novembro de 1983]

[19] Ver WIKIPEDIA, "Eincentes de Paris", 22-02-2025

[21] “Braudel suggests that families rarely remained in trade for more than three generations before buying their way into the old ruling class”. [HARMAN C, “From feudalism to capitalism". International Socialism Winter 1989, pp. 35–87]

[22] VANCE Jr J E (1971), “Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities”. Economic Geography 47, 101-20.
https://docs.google.com/document/d/1hY5wr5SMbC34ni3Cs9jlKGrpKEiFyfUd/edit?usp=sharing&ouid=115443038285423072431&rtpof=true&sd=true

[23] "El paso de una economía de productos a una economía de dinero (..)"; "El crecimiento de la ciudad comercial constituyó un proceso lento, pues tropezó con resistencias, tanto en la estructura como en las costumbres de la ciudad medieval; aunque sacó partido de la regularidad barroca, siendo en realidad parcialmente responsable de ella, no le servían para nada las extravagancias de la ostentación principesca. Pero el resultado final del capitalismo consistió en introducir las modalidades del mercado, en forma universal, en todos los sectores de la ciudad: en adelante ninguna parte de la ciudad sería inmune al cambio, siempre que este significara lucro. Como ya hemos visto, este cambio se inició en la ciudad medieval, con el desarrollo del comercio a larga distancia." [MUMFORD L,  op. cit., pp. .608, 684]

[24] "De hecho, el hacinamiento se había iniciado en las capitales ya antes del siglo XVII. (..) Pero, en el siglo XVII, estas prácticas se universalizaron: se inició la construcción sistemática de altos edificios de viviendas, que tenían cinco o seis pisos en la vieja Ginebra o en París, y a veces ocho, diez o más en Edimburgo. Esta presión de la competencia por el espacio obligó a aumentar los precios de la tierra en las capitales políticas. [MUMFORD L,  op. cit., pp. 601,602]

[25] “Accepting the emergence of the capitalist system some time in the sixteenth century, we should then begin to discern the changes within cities. (..) The land assignment practices may be dealt with fairly quickly. In the place of the civic and social practices of earlier times, the capitalist city came to depend particularly upon the notion of the land-rent gradient. That trend surface might center either on a single peak or upon a number of fairly similar peaks.” [VANCE Jr J E (1971), “Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities”. Economic Geography 47, pp. 107-108]

[26] “De fato, as principais ruas que, partindo da Bolsa, deixam a cidade em todas as direções, estão ocupadas, dos dois lados, por lojas da pequena e da média burguesias, que têm todo o interesse em mantê-las com aspecto limpo e decoroso. É verdade que tais lojas se relacionam de algum modo com os bairros que estão em suas traseiras (..). É o que acontece, por exemplo, com a Deansgate, que parte em linha reta da igreja velha para o sul; no princípio, é ladeada por boas lojas e fábricas; seguem-se lojas de segunda categoria e algumas cervejarias; mais ao sul, quando deixa o bairro comercial, tem pelos lados negócios mais pobres, que, à medida que se avança, tornam-se sujos e intercalados por tabernas; enfim, na extremidade sul, a aparência das lojas não permite qualquer dúvida sobre seus fregueses: operários, só operários O mesmo se passa com a Market Street, que sai da Bolsa em direção ao sudeste: de início, (..). Sei perfeitamente que essa disposição urbana hipócrita é mais ou menos comum a todas as grandes cidades; também sei que os comerciantes varejistas, pela própria natureza de seu negócio, devem ocupar as ruas principais; sei igualmente que nessas ruas, em toda parte, encontram-se edificações mais bonitas que feias e que o valor dos terrenos que as rodeiam é superior ao daqueles dos bairros periféricos. (..) em Manchester, a urbanização, menos ainda que em qualquer outra cidade, não resultou de um planejamento ou de ordenações policiais: operou-se segundo o acaso.” [ENGELS F (1845), “As grandes cidades” (2a parte - Manchester). Em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra p. 90. São Paulo: Boitempo 2008]

[27] “Lo que las compañías navieras descubrieron en el siglo XIX, con su explotación de los pasajeros de proa, ya lo habían descubierto mucho antes los propietarios de terrenos: las ganancias máximas no se obtenían facilitando comodidades de primera clase para los que podían pagarlas a buen precio, sino hacinando en tugurios a aquellos cuyos peniques eran más escasos que las libras para un rico.” [MUMFORD L,  op. cit., p. 695]

[28] "Las nuevas fortificaciones no solo alejaron demasiado de la ciudad los suburbios, los jardines y las huertas, relegandolos a distancias a las que solo podrían llegar cómodamente los ricos, que podían permitirse el lujo de andar a caballo: los espacios abiertos en el interior fueron rápidamente cubiertos por la edificación, ya que la población era expelida de las tierras adyacentes por el miedo y la ruina o bien por la presión del cercamiento y el monopolio de la tierra." [MUMFORD L,  op. cit., p. 601]

[29] "El alojamiento en tugurios de una gran parte de la población, y no tan solo de los mendigos, ladrones, trabajadores ocasionales y otros descastados, se convirtió en la modalidad característica de la ciudad en crecimiento del siglo XVII". [MUMFORD L, op. cit., p 601]

[30] "O nome que esses beneficiários dos privilégios urbanos vão usar de preferência, burgenses, apenas continuará designando uma parte da população das cidades, mas a palavra francesa que o traduz, borjois, batizará uma classe social, a burguesia, que triunfará no século XIX com o capitalismo e uma nova revolução urbana, a da cidade, nascida da revolução industrial." [LE GOFF J, op. cit., pp. 29-34.]

terça-feira, 26 de novembro de 2024

A renda da terra e a cidade feudal: notas

https://www.historictownstrust.uk/maps/medieval-london 


Editado em 03-12-204

Em sua célebre contribuição do ano de 1971 intitulada “Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities”, o geógrafo estadunidense J E Vance Jr (1925-1999) sustenta que o uso, nas cidades do baixo medievo, da renda fundiária urbana como fonte de rendimentos regulares de uma nova classe de proprietários é o marco distintivo do que chama de “morfogênese” da cidade capitalista. [1]

Tendo em vista uma análise desse texto a ser proximamente publicada neste blog, e tomando como premissa a especificidade dos modos de produção feudal e capitalista, as notas que se seguem esboçam algumas ideias sobre a extensão da renda feudal às cidades e sua relação com a indústria artesanal urbana. 
*

A sociedade feudal baseava-se na renda agrícola - em espécie ou tempo de trabalho nas terras do senhor e, mais tarde, também em dinheiro - imposta pela aristocracia guerreira sucessora do colonato romano e das comunidades tribais germânicas, à guisa de estabilidade e proteção, aos camponeses que ocupavam e cultivavam a terra com seus instrumentos de trabalho. A produção agrícola excedente às estritas necessidades dos servos rurais, apropriada pela nobiliarquia fundiária para seu próprio consumo, era a base da riqueza na sociedade feudal.

Em contraste, a sociedade capitalista, gestada durante séculos no seio da sociedade feudal europeia, baseia-se na produção generalizada de mercadorias por trabalhadores livres para vender, em troca de um salário, a sua força de trabalho aos proprietários das instalações, instrumentos e insumos da produção. A base da riqueza capitalista é o mais-trabalho assalariado, vale dizer o valor das mercadorias produzidas que exceda os custos totais de produção, incluídos os salários, apropriado pelos capitalistas como lucro.

Com o ressurgimento das cidades na Europa do século XII - para uns o resultado da riqueza gerada pelo comércio de longa distância, para outros da riqueza criada pelo lento, mas efetivo, desenvolvimento da agricultura feudal entre os séculos VI e XI, e para outros ainda uma combinação das duas coisas [2] -, a renda fundiária estendeu-se ao âmbito urbano [3], para o qual se transferira a produção de utensílios e ferramentas até então limitada aos castelos e monastérios. Com as cidades veio também a necessidade de alimentá-las, consequentemente a permissão dos senhores feudais, e até o incentivo em muitos casos, para que os camponeses vendessem parte da sua produção aos citadinos.

Os produtos da indústria artesã, base da economia urbana feudal sem a qual a renda urbana não poderia existir, muito menos se enraizar, eram comercializados - à exceção, obviamente, das construções - em parte nas próprias oficinas-residências dos produtores, em parte nos mercados periódicos onde as famílias urbanas e rurais se abasteciam mutuamente - aquelas de produtos agrícolas indispensáveis à subsistência, estas de ferramentas, utensílios domésticos, vestimentas e artigos básicos ‘importados’, como o sal.

Por serem as catedrais os lugares mais frequentados das urbes feudais, seus pátios e áreas contíguas foram, inicialmente, os lugares preferenciais dos mercados periódicos. A centralidade urbana não era, contudo, claramente definida: como pontos de contato da cidade com o espaço rural à sua volta, e de recepção de peregrinos e mercadores, as portas das cidades, que mesmo na ausência de ameaças constantes não estavam lá por acidente, atraíam o assentamento intra-muros e extra-muros de armazéns, pousadas e tavernas, de algumas classes de artesãos e até de novos burgos.
[4] [5] [6] [7] [8]

Mas o mesmo sistema feudal que, com os progressos na agricultura e o aumento da riqueza, fizera ressurgir as cidades, era também, por outro lado, um obstáculo virtualmente intransponível à ampliação dos mercados consumidores da produção urbana, uma vez que a imensa maioria da população continuava habitando os campos e cultivando-os de sol a sol em condições de pobreza quase absoluta.

Por isso, ainda que empregando certa quantidade de jornaleiros libertos ou evadidos da servidão rural, os artesãos urbanos cuidavam antes de tudo - e o fariam durante muito tempo mais - de proteger seus privilégios de mercado por intermédio de guildas autorizadas pelos potentados feudais ou pela própria coroa. O mesmo vale para os mercadores: sua riqueza, proveniente da discrepância, tão rentável quanto incerta, entre os preços de compra e venda de artigos estrangeiros apreciados pela nobreza [9], era comumente aplicada na aquisição de feudos [10], ou seja, no prolongamento da ordem senhorial.

À exceção de uma ínfima minoria de senhores, muitos deles clérigos católicos, e mercadores ricos residentes nas cidades, a renda do solo urbano, que a espelho da própria hierarquia feudal consistia em um obscuro sistema de 'sublocações' sucessivas [11], só podia provir dos módicos ganhos da produção artesanal, dos serviços pessoais, do incipiente comércio de varejo e dos parcos rendimentos de algum trabalho já assalariado - às expensas, portanto, do poder de consumo das famílias e da consequente acumulação de capitais porventura investidos na produção e no comércio.

A renda urbana contradizia, de fato, o fundamento da sociedade feudal, mas apenas na medida em que os artesãos, que formavam a espinha dorsal da economia urbana e por isso mesmo pagavam os maiores aluguéis [12], produziam, tal como os futuros capitalistas, não para consumo próprio ou do senhor feudal, mas para a troca no mercado - por outros utensílios, por artigos importados e, principalmente, por produtos agrícolas, com maior ou menor interveniência da moeda.

Contudo, renda urbana e produção para o mercado estavam a léguas de significar, a essa altura, capitalismo, modo de produção da riqueza que supõe o encontro, no mercado, de detentores de riquezas previamente acumuladas com trabalhadores livres da servidão rural, mas expropriados de suas terras e ferramentas, portanto compelidos a vender sua força de trabalho para continuar vivendo. E não só: capitalismo supõe também certa escala de produção, comércio e consumo, portanto a ampla circulação da moeda em âmbitos territoriais bem definidos, que viriam a ser os Estados nacionais, sem o quê a parte do lucro não consumida nem entesourada não se converte em reinvestimento continuado e consequente acumulação. 

O lugar dos artesãos e mercadores na sociedade feudal e seu papel na formação da cidade capitalista é assim resumido por Le Goff:

O nome que esses beneficiários dos privilégios urbanos vão usar de preferência, burgenses, apenas continuará designando uma parte da população das cidades, mas a palavra francesa que o traduz, borjois, batizará uma classe social, a burguesia, que triunfará no século XIX com o capitalismo e uma nova revolução urbana, a da cidade, nascida da revolução industrial. [13]

Não surpreende, pois, que da análise de escrituras de transações imobiliárias do século XIII nos burgos ingleses de Coventry, Worcester, Warwick e Stratford, bem como de registros de arrendamentos em Gloucester no ano de 1455, Hilton tenha concluído não haver nesse material indicações de um significativo acúmulo de propriedade fundiária urbana até o século XIII, e que a relativa concentração observada nos séculos XIV e XV não se deu primordialmente em benefício de burgueses, mas de clérigos e instituições católicas. [14]

*

A próxima postagem desta série abordará os trabalhos de Hilton (1967) e Langton (1977) (ver Notas 9 e 10) sobre os registros de rendas urbanas em cidades das Midlands inglesas dos séculos XIII-XV, com foco nos problemas da organização sócio-espacial urbana.


2024-11-26

______
NOTAS

[1] “The main argument of this paper (..) is simply that the treatment of urban land as a source of income, which came in with the general conceptual baggage of the capitalist system as it developed, fundamentally transformed the morphology of the city. (..) The introduction of capitalism transformed the meaning of urban land. In place of land occupation primarily for the pursuit of a trade there came the viewing of land as property, most significant for its continuing economic return. Ownership was divorced from use and a class of capitalists arose that had little to do directly either with the productive and trading activities of the town or with the conduct of its government.” [VANCE Jr J E (1971), "Land assignment in pre-capitalist, capitalist and post-capitalist cities”. Economic Geography 47,101-20.
https://www.jstor.org/stable/143040

[2] Para Le Goff, "The towns were born not only out of the reawakening of trade, but also out of the growth of agriculture in the west, which was beginning to supply urban centres with a better supply of food and manpower." [LE GOFF J, Medieval Civilisation, p. 73–74]

[3] "O centro das cidades é por vezes tortuoso. É um dédalo de ruelas. Essa desordem provém da marca feudal muitas vezes impressa no solo urbano. Os limites dos feudos e das censives, espaço sobre o qual o senhor cobra um imposto em dinheiro, o censo, explicam-no frequentemente." [LE GOFF J, O Apogeu da Cidade Medieval. São Paulo: Martins Fontes 1992, pp. 29-4.

[4] "(..) la puerta produjo, sin normas especiales de distribución en zonas, los barrios económicos de la ciudad; y como no había solamente una puerta, la naturaleza misma del tráfico procedente de diferentes regiones tendió a descentralizar y diferenciar las zonas comerciales.” [MUMFORD L (1961), La Ciudad en la Historia, Capítulo X. Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, pp. 503-24]

[5] Para muitas cidades medievais, com efeito, é um problema alcançar a unidade a partir da multiplicidade dos núcleos que a princípio se justapuseram ou, em todo caso, da freqüente dualidade que opõe uma cidade antiga, a cité, cidade episcopal, senhorial, com grande proporção de eclesiásticos, a uma nova aglomeração nascida do artesanato e do comércio, o burgo. [LE GOFF J, op. cit.] [Itálico PJ]
 
[6] “Clear locational controls are apparent in another trade, that of the blacksmiths for they were mainly engaged in shoeing horses and clearly positioned adjacent to the main town gates where journeys started and finished.” [CARTER H, An introduction to urban historical geography - "Chapter 8 The Internal Structure of the City: the central area". London: E. Arnold 1983]
https://archive.org/details/introductiontour0000cart

[7] (..) A cidade medieval é policêntrica. (..) O que estrutura a cidade é um certo número de lugares e monumentos que determinam até certo ponto o ordenamento das casas e das ruas e, sobretudo, a circulação. (..) Três elementos inscrevem na planta das cidades alsacianas um traço particularmente importante: o castelo senhorial, as igrejas e os mercados. Estes dois últimos elementos, aliás, estão às vezes associados (..). [LE GOFF J, op. cit]

[8] “En efecte, és detectable, en nombroses ciutats medievals, l'existhncia d'un centre "doble" que, de fet, hereta, en molts casos, el ben conegut esquema de formació histórica "ciutat-burg": per una banda, un nucli polític, administratiu i religiós, entorn al qual s'acostuma a trobar l'area de residencia dels privilegiats (clergues, noblesa urbanitzada, oligarquies urbanes ennoblides...); per l'altra, un centre comercial i actiu, nucleat sovint entorn a l'antic burgus format a redós del primer mercat fora muralles, que inclou tant el comerq diari que abasteix la ciutat i la seva area d'influencia, com les activitats mercantils orientades cap a les transaccions a llarga distancia.”[ESPUCHE A G e GUÀRDIA M B , “"Transició” y ciutat: les transformacions de l’estructura del espai”. Manuscrits: revista d’història moderna, [en línia], 1987, Núm. 4, p. 143-70
https://raco.cat/index.php/Manuscrits/article/view/23116

[9] “Os habitantes das metrópoles comerciais importavam de países mais ricos mercadorias refinadas e artigos de luxo caros, alimentando, assim, a vaidade dos grandes proprietários fundiários, que, com grande avidez, compravam essas mercadorias e as pagavam com grandes quantidades de produtos naturais de suas propriedades. Por isso, naquela época o comércio de grande parte da Europa consistia no intercâmbio da própria produção bruta por produtos manufaturados de nações mais civilizadas." [SMITH Adam (1776), Wealth of Nations. Londres, Aberdeen, 1848], livro III, cap. 3 p. 267, cit.em Marx K, O Capital, Livro III Boitempo cap 20 - Considerações Históricas Sobre o Capital Comercial, Nota 47]

[10] “Braudel suggests that families rarely remained in trade for more than three generations before buying their way into the old ruling class”. [HARMAN C, “From feudalism to capitalism". International Socialism Winter 1989, pp. 35–87]

[11] "Thomas Payn, a Warwick burgess who bore the ephemeral title of ‘mayor’, held a dozen burgages for low rents from the Earl of Warwick and from a number of ecclesiastical landlords, as well as three of which he was principal landlord. His rent income from his sublettings was nearly four times as great as the rent he had to pay out." [HILTON R H 1967,  "Some problems of urban real property in the middle ages”. In Socialism, capitalism and economic growth; essays presented to Maurice Dobb. Cambridge: Cambridge University Press, 1967

[12] “£1 was the most common tenement rent and, as the averages show, tenements were generally let at considerably higher rents than cottages. Higher still, as one would expect, were the rents of tenements with shops, inns and bakeries and the principal tenement, whilst the shops without dwelling places were the cheapest buildings to rent, an index of their small sizes and flimsiness.” [LANGTON J, “Late Medieval Gloucester: Some Data from a Rental of 1455”. Transactions of the Institute of British Geographers Vol. 2, No. 3, Change in the Town (1977), pp. 259-277. The Royal Geographical Society (with the Institute of British Geographers)
https://www.jstor.org/stable/621831

[13] LE GOFF J, op. cit.

[14] HILTON RH 1967, op. cit.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Mumford 1961: A urbanização medieval (2)


Capítulo X, seções 4 e 5, extraídas de MUMFORD L (1961), La Ciudad en la Historia, Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, pp. 503-24
https://docs.google.com/document/d/1QmZp8z1vQXf9NtCfRx-mSH2MmsUhUBIf65UobgkgUv8/edit?usp=sharing

(..) Los elementos determinantes del plan medieval son válidos por igual para una vieja ciudad de base romana, como Colonia, o para una ciudad nueva como Salisbury. La muralla, las puertas y el núcleo cívico determinan las principales líneas de circulación.

Fonte: https://early-medieval-worlds.hist.sites.carleton.edu/wiki/koln-landscape-and-urban-environment/ 


En cuanto a la muralla, con su foso, canal o río exterior, convirtió a la ciudad en una isla. Como símbolo, la muralla era tan apreciada como las agujas de las iglesias; no se trataba, pues, tan solo de su utilidad militar. (..) Al espíritu medieval le daba sosiego un universo de definiciones cortantes, murallas sólidas y vistas limitadas; hasta el cielo y el infierno tenían sus límites circulares. (..)

No es posible dejar de considerar la muralla sin señalar la función especial de la puerta de la ciudad; que, mucho más que una mera abertura, era un «lugar de encuentro de dos mundos» el urbano y el rural, el conocido y el extraño. La puerta principal ofrecía el primer saludo al mercader, al peregrino o al caminante común; era a la vez aduana, oficina de pasaportes y punto de control de la inmigración, así como arco del triunfo, cuyos torreones y torres rivalizaban a menudo, por ejemplo en Lubeca, con los de la catedral o el ayuntamiento. (..) era por lo común cerca de las puertas donde se edificaban los almacenes y donde se congregaban las posadas y las tabernas, mientras que los artesanos y mercaderes instalaban sus tiendas en las calles contiguas. Así, la puerta produjo, sin normas especiales de distribución en zonas, los barrios económicos de la ciudad; y como no había solamente una puerta, la naturaleza misma del tráfico procedente de diferentes regiones tendió a descentralizar y diferenciar las zonas comerciales. Como consecuencia de esta disposición orgánica de las funciones, la zona interior de la ciudad no estaba recargada por tráfico alguno, pues solo circulaba el generado por sus propias necesidades. (..)

En general, la gran iglesia es el elemento central de la ciudad, en todo sentido, excepto el geométrico; y como congregaba las mayores muchedumbres, requería un atrio con suficiente capacidad para la entrada y salida de los fieles. (..) Cuando se descubre que la plaza del mercado se extiende frente a la catedral, o que se abre una cuña o un cuadrado en las cercanías, no se les debe asignar a estos datos el mismo valor que tienen hoy: el mercado era ocasional, en tanto que los servicios de la iglesia eran constantes y regulares. Al igual que en el caso del crecimiento inicial de la ciudad, el mercado se asienta cerca de la iglesia porque es allí donde los habitantes se reúnen más a menudo. (..).

2024-05-15

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Mumford 1961: A urbanização medieval (1)


Capítulo X, seções 4 e 5, extraídas de MUMFORD L (1961), La Ciudad en la Historia, Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, pp. 503-24
https://docs.google.com/document/d/1QmZp8z1vQXf9NtCfRx-mSH2MmsUhUBIf65UobgkgUv8/edit?usp=sharing

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Carcassonne 


(..) En general, las ciudades medievales pueden clasificarse en tres grandes tipos que corresponden a sus orígenes históricos, sus peculiaridades geográficas y su modo de desarrollo. (..)

Las ciudades que perduraron desde el tiempo de los romanos conservaron, por lo general, su sistema rectangular de diseño de manzanas, en el centro inicial, modificado por la construcción de una ciudadela o de un monasterio, el cual podría alterar la división uniforme en parcelas.
Las ciudades que crecieron lentamente a partir de una aldea o de un grupo de aldeas, al pie de un monasterio o un castillo, se ajustaban más estrictamente a la topografía, cambiando lentamente de generación en generación y conservando a menudo ciertos rasgos de su trazado que eran productos de los accidentes históricos y no de la elección consciente. Con frecuencia se considera que este segundo tipo de ciudad es el único auténticamente medieval: (..).
Por último, muchas ciudades medievales se proyectaron por adelantado para la colonización; frecuentemente, pero no siempre, estas serían trazadas con un estricto plano en damero, con una plaza central que se dejaba abierta para el mercado y la reunión pública.

Los tres tipos son igualmente medievales. Separándose o combinándose produjeron una variedad infinita de formas. (..)

2024-05-08

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Oxford UK, século XI


PARKER James, On the history of Oxford during the tenth and eleventh centuries, (912-1100): the material of a lecture delivered before the Oxford architectural and historical society, Feb. 28, 1871. Oxford: Oxford University Press 1871 
https://archive.org/details/39002011213312.med.yale.edu/page/2/mode/2up

Author: Either James Parker (1834-1912), or unknown.
The book makes no reference to an artist involved in the making of the map.

https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Map_of_11th_century_Oxford.jpg
Clique na imagem para ampliar 

(..)

The Streets, and the Parish Boundaries.

It is reasonable to suppose that before the close of the eleventh century, the city was divided into parishes. It is implied by the distinct mention of the "Parish Churches" in the Abingdon Abbey Chronicles, and further it may be inferred from the circumstance that the twelve churches of which we find mention as being within the walls, if taken as centres of small districts, occupy the whole of the space included within the wall with the exception of a small space at the south-eastern corner. Further consideration will confirm this view, for it will be seen by a reference to a plan of Oxford which I have appended, with the present boundaries of parishes marked upon it, that there is a certain system observable — partly depending on the churches, partly upon the streets, but also what appears to me to be of importance, partly upon the boundary of the city. I venture to infer from this, as we have certain knowledge of the names of the churches and of their actual sites, and a presumed knowledge of the general line of the city wall, that (a) we must fix the division of the city into parishes within the date of which I am writing; that (b) the subdivision was not a matter of chance, depending upon the gradual growth of the place, as new districts were added, but a systematic division of a definite space; and also that (e) with some exceptions the boundaries of the parishes have little changed. 

It will be observed that the general plan of the city is a rough parallelogram, with the sides converging somewhat as they tend to the west, in order to meet a circular outlier occupied by the Castle. From about the centre of the space so enclosed four chief streets diverge, running almost according to the points of the compass, due N., S., E. and W. That centre still bears the name of Carfax, corrupted from the Norman-French of Quatre-voies, i.e. where four ways meet. 

Of the four streets, the largest and most important, stretches eastward but bends a little to the south as it approaches the site of East-gate, and seems to have been called the High-street for a very long period of time. The names of North-street and South-street appear as late as Agas, in the former the Cornmarket stands, and the latter leads to S. Aldate's Church, whence now their respective names. The Western-street seems to have been called in part "The Baillie" and in part "Castle-street," but, so far as I have observed, no documents give us the names of any of the streets so early as the eleventh century.

At one of the corners where the four principal streets so meet stands S. Martin's Church.

(..) 

The Map of Oxford.

In attempting to illustrate the probable remains of the eleventh century on a map, I have mainly kept in view the identification of the sites named or referred to : I have therefore drawn Oxford as it is in brown lines. At the same time, I have brought out rather more clearly than is shewn in ordinary maps the line of the medieval city wall. There is no doubt of its exact course throughout.

On the map I have first of all added in black all the churches and chapels mentioned. I have also marked the Castle mound, and one or two other points. The black shading, which is supposed to represent the original ditch, must be taken only as approximately accurate, and as giving rather a general idea of the enceinte of the town, than a representation of actual remains. Along the north and eastern side I have little doubt the medieval ditch followed very nearly the line of the old one. On the south side, I confess I doubt if there was ever much of a ditch, — indeed there may have been none at all, and the stream may have been considered a sufficient defence.

I have coloured the streams blue, and it will be observed that there is a small one on the north side of the Broad Walk : it is shewn in all old maps. This stream, I believe, was once of much greater importance. It provided a communication from the Cherwell with the Trill p Mill-stream, — a little to the east of where it passes beneath S. Aldate's-street, and it was found to have existed beneath the site of the new buildings at Christ Church when they were digging the foundation. It passed along this north side of the Broad Walk, and joined the Cherwell just at its bend.

The light blue dotted line represents the modern parish boundaries, and is intended to illustrate what has been said on p. 66. The square form of the central parish is very apparent, others more or less retain the form of a square or a parallelogram. As already said, the parishes of S. Peter, S. Ebbe, and S. Aldate, seem to have been somewhat extended in later times.

The object of the map being to illustrate especially the remarks in the lecture, it is of course imperfect in many details which a full historical map of Oxford should give ; but as far as details are given, I think they may be relied on, as I have inserted nothing for which the authority has not been given already in these pages ; and the lines of streets, &c, have been taken from recent surveys.

(..)

2024-02-18

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Locorotondo, Apulia, Itália


(..) Locorotondo has very ancient origins, although the first written testimonies date back to the 12th century, when the village was surrounded by high walls of protection. The name Locorotondo comes from Latin “locus rotundus”, which means “round place”, to indicate the circular shape of the town.

The history of Locorotondo was marked by different dominations: first Byzantine, then Norman, then by the Knights of St. John of Jerusalem and finally Aragonese. In 1790 Locorotondo obtained administrative autonomy from the Benedictine monastery of Monopoli, to which it had been subjected for centuries. In 1807 the castle that stood in the center of the village was destroyed, as a sign of rebellion against the dukes Caracciolo di Martina Franca, who had oppressed the population with excessive taxes and torture in prisons. (..)

https://italysecretspots.com/locorotondo-the-city-of-cummerse/

2024-02-18

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

LE GOFF 1998: Ville, cité



LE GOFF Jacques, Por Amor às Cidades - Conversações com Jean Lebrun. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. - São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998
https://www.academia.edu/11656716/por_amor_as_cidades_jaques_le_goff


“(..) Não nos esqueçamos de que a palavra "ville", para designar aquilo que chamamos de cidade, é muito tardia. Até os séculos XI e XII, escreve-se quase que estritamente em latim e, para designar uma cidade, usa-se "civitas", "cite". Ou urbs, a rigor, mas basicamente civitas. E, quando as línguas vernáculas aparecerem, o termo "cite" vai permanecer por muito tempo. "Ville" tomará o sentido urbano apenas tardiamente, já que, como você lembrou, antigamente a palavra designava de fato um estabelecimento rural importante. Uma "villa" - não se deve pensar numa casa de subúrbio atual - é o centro de um grande domínio. Do ponto de vista dos materiais, a construção permanece em geral bastante modesta, mesmo quando se usa a pedra: não se pode falar de castelo. Enfim, a villa é um domínio com um prédio principal que pertence ao senhor; em consequência, é um centro de poder, não apenas de poder económico, mas também de poder em geral sobre todas as pessoas, os camponeses e os artesãos que vivem nas terras ao redor. Desse modo, quando se passa a dizer, em francês, "Ia ville" (o italiano conservará o termo citta), marcar-se-á bem a passagem do poder do campo para a cidade. O termo "villa", esse se aplicará à aldeia nascente a partir dos séculos IX e X. (..)”


2022-09-21

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Espuche e Guàrdia 1987: da cidade medieval à cidade moderna


ESPUCHE A G e GUÀRDIA M B , “"Transició” y ciutat: les transformacions de l’estructura del espai”. Manuscrits: revista d’història moderna, [en línia], 1987, Núm. 4, p. 143-70
https://raco.cat/index.php/Manuscrits/article/view/23116
Barcelona 1891
“(..) Residencia obrera i fabrica dominaran a les ciutats específicament industrials. Als centres urbans amb funcions metropolitanes s'hi trobarà també un teixit industrial, sovint constituit per petites empreses de característiques pre-industrials, però treballant articles de qualitat i amb una població normalment més preparada i combativa que la de les ciutats-fàbrica. De fet, però, el característic de la ciutat metropolitana serà la seva funció central en els negocis, en el tràfic i en les activitats mercantils, en els serveis, en el transport, en l'administració ..., i el seu paper com a lloc de residencia d'una àmplia població de classes mitjanes que van des del rendista a l'ocupat en el sector terciari o l'administraciò pública. En conseqüencia, és aquí on es desplegaran, fonamentalment, els signes de l'hegemonia d'una cultura burgesa que es manifesta en el paisatge urbà: l'autentic protagonista de l'urbanisme de les grans capitals serà la societat civil.

Alguns equipaments com passeigs, parcs, galeries comercials, teatres, atraccions..., sorgiran com a resultat de la nova sociabilitat burgesa que es desplegarà, en gran part, en aquests nous espais públics. Una intensa activitat urbanística, que s'inscriu en la gran expansió dels negocis immobiliaris durant el segle XIX, adequarà als requeriments de la nova classe en ascens, l'espai urbà heretat i les noves expansions necessaries a una ciutat sempre en creixement. (..)”


TRADUÇÃO DO BLOG
"(..) Residências de trabalhadores e fábricas dominarão cidades especificamente industriais. Nos centros urbanos com funções metropolitanas, haverá também um tecido industrial, muitas vezes constituído por pequenas empresas com características pré-industriais, mas que trabalham com artigos de qualidade e uma população normalmente mais preparada e combativa do que as das cidades-fábrica. Mas a característica da cidade metropolitana será a sua função central de negócios, transportes e atividades comerciais, serviços, transporte, administração..., e seu papel como lugar de residência de uma grande população de classe média que abrange de locatários a empregados do setor terciário e da administração pública. Consequentemente, é aqui que os sinais da hegemonia de uma cultura burguesa que se manifesta na paisagem urbana se desdobrarão fundamentalmente: o verdadeiro protagonista do urbanismo das grandes capitais será a sociedade civil.

Alguns equipamentos como calçadões, parques, shopping centers, teatros, atrações..., surgirão como resultado da nova sociabilidade burguesa que será implantada, em grande parte, nesses novos espaços públicos. Uma intensa atividade urbana, que se insere na grande expansão dos negócios imobiliários durante o século XIX, se adequará às exigências da nova classe em ascensão, ao espaço urbano herdado e às novas expansões necessárias para uma cidade em constante crescimento. (..)"

2020-08-03