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sexta-feira, 15 de junho de 2018

Holocausto carioca

Poluição visual ameaça Paisagem Cultural Mundial do Rio no Morro/Mirante do Pasmado
É possível fazer, hoje em dia, uma construção de 22 metros de altura em cima de um morro carioca, à beira da Baía da Guanabara, e que compõe a Paisagem Cultural Mundial do Rio? Claro que não!

Mas, a polêmica da construção de um monumento em memória ao holocausto dos judeus, na Europa, na 2ª Guerra Mundial, no Morro do Pasmado, chegou finalmente à grande mídia. Ainda bem que chegou, porque, até o momento, o assunto vinha sendo empurrado nos gabinetes da Prefeitura e nos corredores da Câmara Municipal sem que a sociedade civil tivesse sido consultada ou ouvida.

A sociedade civil, que tomou conhecimento do assunto por notícias esparsas, vem se manifestando, no mínimo, estarrecida. Vê-se isto nas páginas do Facebook do movimento SOS Patrimônio, na página da Associação de Moradores de Botafogo (AMAB), e nos comentários de sítios como a UrbeCArioca. Porém, nada oficial. 
(Continua)

2018-06-15


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Imóveis: subutilização, abandono e ruína

Deu no blog Sonia Rabello - A Sociedade em Busca de Seu Direito
24-07-2017, por Sonia Rabello
http://www.soniarabello.com.br/tres-questoes-distintas-com-diferentes-solucoes-imoveis-abandonados-sem-uso-e-imoveis-em-ruinas/

Três questões distintas com diferentes soluções: imóveis sem uso, imóveis abandonados, e imóveis em ruínas
Av Rui Barbosa 170 Rio de Janeiro
Fonte: Blog Sonia Rabello
Publicou-se, ultimamente, várias opiniões e manifestações sobre imóveis abandonados, vazios  e em ruínas. Estes últimos com ênfase naqueles preservados em centros históricos como Rio, Salvador, Recife, São Luís e outras inúmeras cidades brasileiras.
(..) As três palavras mais usadas quando se mencionam estes imóveis são vazios, em ruínas e abandonados. As três locuções significam diferentes problemas, seja quando o foco da questão for a preservação do patrimônio, seja quando formos tratar dos problemas urbanísticos, especialmente do acesso à moradia e o uso do estoque imobiliário das cidades.
(..) Cada uma dessas situações do patrimônio imobiliário de uma cidade são juridicamente distintas, embora, em muitos casos, possam estar sobrepostas.Mas, em todos os casos, as soluções não são pontuais, nem mágicas, e todas dependem necessariamente de um planejamento urbano bem construído, de medidas permanentes de médio prazo e, especialmente de órgãos e servidores públicos que construam e participem permanentemente de sua efetivação.
Sem eles, os servidores, nada poderá ser corretamente implantado e concretizado. (Continua)
Sonia Rabello é jurista e Professora Titular de Direito Administrativo da UERJ 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

“Porto do Rio sem habitação: encenação governamental” (Sonia Rabello,15-06-2013)

Publicado originalmente no blog Sonia Rabello - A Sociedade em busca do seu Direito

Cena 1: 2009. Por proposta do governo Paes (Rio), é aprovada a lei para realizar uma operação urbana na Região Portuária do Rio, sem qualquer previsão para destinação de percentual para habitação na área central e, muito menos, para habitação social (faixa de zero a seis salários mínimos). 

Fonte: Á beira do urbanismo

Cena 2: Em 2011, a Caixa Econômica Federal cria um fundo imobiliário especial, com recursos do Fundo de Garantia dos trabalhadores, para adquirir de uma vez só, em lote único, a totalidade dos títulos de potencial construtivo (CEPACs) do Porto, por R$ 3 bilhões à vista e sem qualquer reserva ou vinculação para edificação residencial e, muito menos, para habitação social. 
Cena 3: Durante o meu mandato como vereadora, proponho o projeto de lei destinando, obrigatoriamente, um percentual mínimo de 10% dos recursos públicos do potencial construtivo vendidos para serem aplicados em habitação social. E a destinação de um mínimo de 10% da área também para habitação social. 
Cena 4: Após tramitar pelas várias comissões da Câmara de Vereadores, o projeto para destinação de habitação social é, finalmente, incluído na pauta de votação. Quando está para ser votado, o líder do governo Paes e atual vice-prefeito do Rio (PT) apresenta uma emenda ao projeto (apoiada por outros 16 vereadores) que suprimia a destinação dos 10% dos recursos do CEPACs à habitação social. Com isso, também tira o projeto da pauta de votação. 
Cena 5: Para viabilizar a construção de prédio residencial para a chamada Vila de Árbitros, a Prefeitura subsidia o negócio, através de termo de compromisso de aquisição dos apartamentos para futura venda aos servidores, através de carta de crédito, com recursos públicos ao empreendimento privado. Valor anunciado: R$ 500 milhões.
Cena 6: No final de 2012, o prefeito Paes envia projeto de lei à Câmara de Vereadores modificando a vinculação dos títulos de potencial edilício (CEPACS) da área portuária para facilitar a sua utilização, sem qualquer menção a uma reserva necessária para aplicação em edificações residenciais e muito menos em habitação social. 
Cena 7: Acaba o meu mandato, em 2013 (não fui reeleita pelo PV), e o projeto de habitação social na área é mandado para o arquivo. Lá dormita sem que nenhum vereador tenha pedido até o momento seu desarquivamento (nem do governo, nem da oposição).
Cena 8:  Em 2013 ocorre, por determinação judicial, novo complemento do Estudo de Impacto de Vizinhança do Projeto do Porto “Maravilha”. Novamente a questão da moradia é levantada com veemência em Audiência Pública realizada na sede do Ministério Público. 
Cena 9: Os jornais começam a publicar críticas em relação à falta de previsão de moradias para o projeto do Porto, como se a questão fosse descoberta agora. O IAB diz que, agora, vai “constituir um grupo” para estudar a questão! 
Cena 10: O prefeito Paes, sempre “Ele”, do Rio, faz uma declaração no jornal  dizendo-se, agora, preocupado (?) com a questão residencial na área portuária.  Diz que não determinou um percentual de títulos reservados à habitação para não “desvalorizar” as CEPACs.  “Como eu queria vender aquele negócio, segurei, mas agora chegou o momento dessa discussão. Precisamos ter gente morando, para não virar o que virou o Centro. Este é o meu medo”. Não diga! 
Cena 11: Nós, atônitos, sem acreditar no que vemos e ouvimos.
Inocência, ignorância ou insensatez mesmo?
Sônia Rabello é advogada e, atualmente, presidente da Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro - FAM-RIO

Leia também, da mesma autora,

“Porto do Rio sem Habitação de Interesse Social? Ganância ou Ignorância?” (08-06-2015)


2015-06-25


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Porto do Rio sem habitação: “revitalização” para inglês ver? – por Sonia Rabello


Publicado em 28 | Outubro | 2013
http://www.soniarabello.com.br/


Em 2009, por proposta do então e ainda atual prefeito do Rio foi aprovada a lei para realizar uma operação urbana na Região Portuária do Rio, sem qualquer previsão para destinação de percentual para para habitação social (faixa de zero a seis salários mínimos).
Dois anos após, a Caixa Econômica Federal criou um fundo imobiliário especial, com recursos do Fundo de Garantia dos trabalhadores para adquirir de uma vez só, em lote único, a totalidade dos títulos de potencial construtivo (Cepacs) do Porto, por R$ 3 bilhões à vista e sem qualquer reserva ou vinculação para edificação residencial e, muito menos, para habitação social.
Como era de se esperar, segundo publicação feita no jornal JB Online, o projeto inicial de “revitalização” que deveria incluir, além das alterações em mobilidade urbana e na infraestrutura, a revitalização das moradias já existentes na região e a criação de novos complexos habitacionais, com o repovoamento da região, moradores afirmam que o local está sendo utilizado para a construção massiva de complexos empresariais, por seu caráter econômico mais vantajoso.
Em suma, o governo municipal privilegia complexos empresarias à construção de residências, tornando a Região Portuária uma extensão do Centro do Rio. E a derrubada da Perimetral, marco principal desse processo da propagada “revitalização”, mas que, segundo informa a publicação, “não livra a região do seu futuro iminente: abandono e esvaziamento”.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ), Agostinho Guerreiro, criticou a postura da Prefeitura e não acredita em uma revitalização que desconsidera a construção de moradias.
“Não é o ideal porque quando se falou em revitalização, a ideia é revitalizar o porto e com isso, incluir a população. Qual o conceito de revitalização? É não ter uma cidade morta em nenhum momento do dia. E o que acontece com a cidade do Rio na parte da noite é que uma grande parte da cidade é morta, exatamente pela prioridade que foi se dando à parte de edificações institucionais, voltadas para serviços e comércio. São atividades que transcorrem fundamentalmente durante o dia”, explica.
A presidente da Associação dos Moradores do Morro da Conceição, Márcia Regina, afirmou que nenhum tipo de investimento foi realizado na localidade e que a chegada de empreendimentos comerciais tem sido intensa. “Aqui no Morro da Conceição nada foi feito, a Prefeitura deixou muito a desejar aqui. Fizeram uma obra ‘para gringo ver’, abriram a rua toda porque iam fazer fiação subterrânea e a obra não foi finalizada. Tem uns postes aqui no meio da calçada, e as pessoas são obrigadas a andar no meio da rua. Tem dez dias que uma criança foi atropelada”, reclama.
Em berço esplêndido -
Durante o meu mandato como vereadora, propus um projeto de lei destinando, obrigatoriamente, um percentual mínimo de 10% dos recursos públicos do potencial construtivo vendidos e a destinação de um mínimo também de 10% da área para serem aplicados em habitação social.
Após tramitar pelas várias comissões da Casa Legislativa, o projeto foi incluído na pauta de votação, mas prestes a ser votado, o líder do governo Paes e atual vice-prefeito do Rio, apresentou uma emenda ao projeto (apoiada por outros 16 vereadores) que suprimia a destinação dos 10% dos recursos do Cepacs à habitação social.
Com isso, também tirou o projeto da pauta de votação que acabou sendo arquivado. Lá dormita sem que nenhum vereador tenha pedido até o momento o seu desarquivamento.
O “medo” tardio…
Ainda este ano, por determinação judicial, ocorre um novo complemento do Estudo de Impacto de Vizinhança do Projeto do Porto “Maravilha”. A questão da moradia é levantada com veemência em Audiência Pública realizada na sede do Ministério Público. A mídia se alvoroça através de críticas em relação à falta de previsão de moradias para o projeto do Porto, como se a questão fosse descoberta agora….
O prefeito, por sua vez, disse, então, estar preocupado (?) com a questão residencial na área portuária, afirmando que não determinou um percentual de títulos reservados à habitação para não “desvalorizar” as Cepacs.
“Como eu queria vender aquele negócio, segurei, mas agora chegou o momento dessa discussão. Precisamos ter gente morando, para não virar o que virou o Centro. Este é o meu medo”. Não diga!
E a sociedade, atônita, não acredita no que vê ou no que ouve. Será preciso esperar o fim desse enredo para se lamentar, como sempre ?

Sonia Rabello é professora de direito administrativo e urbanístico 




quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Vem pra Caixa você também

Publicado no Blog da Sonia Rabello 
02-09-2013, por Sonia Rabello 
http://www.soniarabello.com.br/operacao-urbana-de-niteroi-um-negocio-de-venda-do-patrimonio-urbanistico-da-cidade/

Operação Urbana de Niterói: um negócio de venda do patrimônio urbanístico da Cidade
(..) Se Niterói ainda não cumpriu a tarefa de rever seu Plano Diretor, na forma prevista no EC, esta OUC estaria também descumprindo, direta e indiretamente o próprio Estatuto da Cidade, lei federal de direito urbanístico.
Infelizmente o novo chefe do Executivo da cidade de Niterói está, com o PL 193/2013, tomando como exemplo o caminho tortuoso da lei carioca que instituiu a OUC do Porto Maravilha.
Quase tudo copiado: a proposta de criação de uma empresa de economia mista para acompanhamento da OUC, a autorização para se licitar um consórcio urbanístico privado para as obras públicas e prestação de serviços públicos locais com dinheiro da OUC e a alteração dos índices de edificabilidade no local, aumentando o gabarito da área. 
Com um detalhe: no PL niteroiense a previsão de obras a serem realizadas é muito mais pífia do que a do Rio: sem orçamentos, sem condicionantes e sem programação. É de “corar” qualquer gestor!
Será que o governo do PT de Niterói estaria também negociando com a CEF o uso do FGTS para a compra do patrimônio construtivo da área central da cidade, conforme feito na Operação do Porto Maravilha?
Seria então mais vergonhoso, dado o momento atual que estamos vivendo. Mas, se a CEF fez esta cortesia com o governo municipal do PMDB do Rio, por que não fazer com o governo do PT de Niterói?
Pode-se esperar portanto que, caso a Câmara de Niterói se veja na contingência de ter que aprovar este negócio urbanístico para o centro de Niterói, o consórcio de empreiteiras*(1) vencedoras da licitação que administrará as obras e serviços do centro de Niterói seja bem parecido com o consórcio de empreiteiras que já administra a área central portuária do Rio, pelos próximos 20 anos. Só atravessarão a ponte. (Continua)

2013-09-05


domingo, 23 de outubro de 2011

Do PL da vereadora Rabello ao monopólio da CEF: notas sobre a OUC do Porto do Rio

A propósito da minha manifestação de apoio ao PL da vereadora Sonia Rabello, do PV, que destina 10% da receita da prefeitura do Rio de Janeiro com a venda dos CEPACs na área do Porto do Rio a urbanização e habitação social em duas AEIS anexas, chegou-me por e-mail a seguinte ponderação de uma amiga petista:
“Os Certificados já foram todos adquiridos pela Caixa [Econômica Federal – CEF]. Não sei se um projeto de lei municipal pode incidir sobre uma ação da CEF, no caso dos 10%, já que ela [a] CEF vai vendê-los, é claro.”
É claro que há aqui um mal-entendido, cujo esclarecimento me dá, no entanto, uma boa oportunidade de refletir sobre a Operação Urbana Consorciada da Região do Porto do Rio.

Vejamos. 

Primeiro, cabe esclarecer, a CEF adquiriu os CEPACs do Porto Maravilha à prefeitura do Rio. 

O Projeto de Lei da vereadora propõe que a prefeitura, não a CEF, aplique 10% do valor arrecadado nas AEIS mencionadas. 

O que a vereadora propõe, portanto, é que o dinheiro arrecadado pela prefeitura (não os CEPACs da CEF), seja usado (10%) para subsidiar habitação social em dois setores, aliás bastante pouco valorizados, do espaço da OUC do Porto do Rio.

Ficaria assim minimamente assegurada a aplicação social da renda do solo recuperada pelo município, no âmbito da OUC, aspecto que, até onde posso perceber, a prefeitura virtualmente eliminou do projeto do “Porto Maravilha” na virada do governo. 

Aplicar a renda do solo recuperada pela municipalidade em habitação e urbanização social é muito diferente de aplicar em itens de valorização para o próprio projeto principal, voltado para habitação e espaços comercias “de mercado”. Trata-se, simplesmente, da diferença entre aplicar a renda recuperada para meramente promover a espiral de valorização da área ou para obter algum efeito redistributivo associado.

É certo que a viabilidade da própria OUC depende da aplicação da renda da terra recuperada por antecipação (via CEPACs) em itens de infraestrutura e urbanização que garantam a espiral de valorização do perímetro. Mas não é menos certo que o caráter minimamente redistributivo dessa recuperação depende ou bem de um plano urbanístico que contenha em si mesmo um zoneamento do tipo “inclusivo”, com obrigações para os incorporadores de mesclar empreendimentos de máxima rentabilidade como empreendimentos de rentabilidade “social” – como era o Plano sugerido pelo IPP e a consultoria francesa de 2008 – ou bem de medidas como a da vereadora Sônia Rabelo, que “carimba” parte da receita gerada pelos CEPACs para aplicação em projetos sociais em algum lugar do perímetro ou imediações. 

Ao final, o PL da vereadora dá à situação um aspecto similar ao das antigas Operações Interligadas paulistas: cobrar uma contrapartida de um plano de desenvolvimento urbanístico-imobiliário privado – no caso público, mas essencialmente privatista – para aplicar em urbanização e habitação social em benefício das populações circunvizinhas.

Nada disso, até aqui, tem a ver com a CEF, que entra no assunto como investidor-proprietário de certificados de potencial construtivo, vale dizer, como potencial incorporador. O papel da CEF é, até aqui, o mesmo dos investidores privados que, nas OUCs de São Paulo, adquirem os lotes de CEPACs colocados à venda, com preços ajustados, a cada etapa de desenvolvimento do projeto. E é aqui que começam as indagações mais intrigantes.

Primeiro, fica claro que a CEF assumiu um duplo papel: o de proprietária privada monopolista de todo o direito de construir na região da Portuária (à exceção dos coeficientes básicos) e também, portanto, de virtual agente público condutor do desenvolvimento do projeto. Com a venda de todo o potencial construtivo em um único lote a um agente público federal, a prefeitura do Rio de Janeiro, na prática, federalizou o projeto em troca da antecipação de toda (?) a receita de Outorga Onerosa do Direito de Construir na região, trocada pelos CEPACs adquiridos pela CEF. Em outras palavras, a prefeitura do Rio de Janeiro pode ter alienado a condução de seu mais importante projeto urbanístico a uma entidade – estatal, é verdade – de financiamento imobiliário. 

Em segundo lugar, ao vender a totalidade do potencial construtivo em um único lote a prefeitura do Rio renunciou também à possibilidade de ajustar tanto o planejamento de execução do projeto quanto o preço dos CEPACs de acordo com o ritmo de desenvolvimento das obras e da valorização de cada pedaço do perímetro. Caberá, daqui por diante, à CEF, exercer o papel de “regulador” da quantidade de CEPACs em circulação no mercado em face do nível da demanda, de maneira a evitar, por exemplo, a queda de seu preço, e ditar todos os aspectos fundamentais do projeto. 

(O adeus à autonomia municipal neste caso parece confirmar uma antiga tradição da prefeitura do Rio de Janeiro, de permitir, por exemplo, que o Metrô decida a totalidade dos aspectos urbanísticos envolvidos na sua implantação, de traçados e estações a elementos de engenharia no espaço público.)

Terceiro, tudo indica que a CEF entrou na operação, em comum acordo com a prefeitura e os incorporadores, como agente privado intermediário no mercado de CEPACs de maneira a assumir todos os riscos! Muito provavelmente, o leilão foi "pra inglês ver". Nenhum capitalista privado teve de adiantar um tostão para a prefeitura fazer qualquer obra. Se o Porto fracassar no mercado (coisa em que não creio, pelo menos por completo, dada a real escassez de terrenos nas proximidades do Centro do Rio) é a CEF que fica com o mico. 

Por outro lado, se o Porto for um sucesso de mercado, a CEF ficará com um lucro fabuloso. Nesse caso, a recuperação pública de renda do solo (dado que a CEF é um banco estatal) será dada pela exata proporção com que a CEF reparta esse lucro com os incorporadores, vale dizer, da relação entre o preço a que ela revender os CEPACs e o preço que o usuário final pagará pela terra (cota de terreno do m2 privativo adquirido). O que a CEF adiantou à Prefeitura é, na verdade, somente uma parte da renda potencial do solo a ser gerada na área. A "recuperação" pública (embora não municipal) da renda do solo só termina quando a CEF revender os CEPACs aos verdadeiros incorporadores e sua exata dimensão (proporção da renda) só se saberá quando for feita a venda do produto final. Eis um tema fascinante para os pesquisadores da Outorga Onerosa no Brasil.

Parece claro, também, que a CEF, como investidor estatal e principal agente da política habitacional do governo, tem a faca e o queijo na mão para interpretar a normativa municipal de modo a promover a habitação social na área. Produzir uma certa quantidade de imóveis menos rentáveis do que o mercado compraria, em benefício de um segmento determinado da demanda, é uma prerrogativa do proprietário dos CEPACs. Teríamos aqui um “segundo tempo”, agora federal, de aplicação social da recuperação da renda da terra na região portuária. Eu espero que a CEF o faça, assim contribuindo, dentre outras coisas, com uma certa heterogeneidade sócio-econômica na região – coisa que, aparentemente, o atual plano da Prefeitura vê com horror.

Passando a outro foco, eu não consigo encontrar, no saite do Porto Maravilha, um plano urbanístico minimamente completo para a área. Dá a impressão de que o ali contido são fragmentos de projeto, até bastante detalhados em alguns casos, arrumados de maneira a dar a impressão de que existe um projeto urbano – não vejo, por exemplo, o plano de massa, o desenho do cais com destinação dos armazéns, os espaços verdes adequadamente especificados, o plano de ocupação para o uso residencial, a localização de equipamentos básicos como escolas, delegacias, postos de saúde, hospitais etc. 

O projeto de circulação e transportes é o componente vital da inserção do novo Porto do Rio na trama urbana. Tampouco o que há no saite me convence: parece uma colagem apressada do antigo projeto VLT com os trajetos dos ônibus que hoje circulam por ali. Não está nada claro como é que esses elementos se integram nos grandes sistemas de trens, metrô e BRS da zona sul, como não sabemos como fica a ligação com São Cristóvão tampouco o destino da Rodoviária Novo Rio.

Fica-se a perguntar como foi que se colocou à venda todo o lote de CEPACs com base num plano tão precário. Será que basta o "mapa de potencial construtivo"? Dado que a CEF não botaria, eu imagino, essa montanha de dinheiro num plano esquemático, eu creio que um plano urbanístico completo deva existir em algum lugar. Mas onde está?

Dentre tudo o que falta no saite do Porto Maravilha, o mais importante é, sem dúvida, um quadro de contas especificamente desenhado para que o público possa entender a real distribuição de custos e receitas realizados e estimados da operação entre os principais agentes nela envolvidos – incluindo as empreiteiras contratadas para executar as obras, as incorporadoras que comprarão CEPACs e venderão os imóveis e os proprietários de terrenos. Tudo o que o público precisa saber e não está no saite eu considero, para todos os efeitos, "informação classificada". 

Até ter conseguido encontrar no saite do Porto Maravilha informações verdadeiramente esclarecedoras sobre a estrutura da operação, eu me recusarei a reconhecê-la como um empreendimento transparente. É responsabilidade da Prefeitura, da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP) – empresa de economia mista por ela controlada – e agora da CEF, a sócia maior do projeto – colocar tudo em pratos limpos, com uma linguagem destinada ao esclarecimento público. Transparência para brasileiro ver, já! Vamos ver aonde isso vai dar. 

Finalmente, como petista, mesmo desgarrado e de oposição, eu faço votos que a direção e os vereadores do PT encarem o PL da vereadora Rabello com espírito desarmado, se necessário propondo emendas comprovadamente do interesse dos trabalhadores. O princípio é o de sempre: o interesse dos trabalhadores está acima dos interesses particulares de quaisquer partidos – inclusive o nosso!

2011-10-23