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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Krugman: sobre a crise de moradia nos EUA

Substack 03-09-2025, por Paul Krugman 
https://paulkrugman.substack.com/p/yes-america-has-a-housing-emergency (pago)
 
Yes, America Has a Housing Emergency
But Trump will make it worse

(..) We do, in fact, have a housing emergency. Over the past decade home prices have risen much faster than the overall cost of living, so the popular perception that housing has become unaffordable is grounded in reality:

Why has this been happening? The home price surge since 2015 looks very different from the housing bubble of the 2000s. That bubble was largely driven by speculation, with house prices rising much faster than rents. The price surge also bypassed sunbelt cities like Atlanta, Houston and Dallas, where housing supply expanded to meet rising demand.

This time, however, we’re looking at a truly national phenomenon. As Edward Glaeser and Joseph Gyourko document in a recent paper, housing prices have risen rapidly, without eliciting a large increase in homebuilding, even in cities that avoided the 2000s bubble.

Back in July, looking at the case of Atlanta, I suggested that we might be looking at the limits of sprawl. In the 2000s cities like Atlanta could add housing by spreading ever further out, adding single-family homes at their edges. At this point, however, they’ve sprawled so far that this doesn’t work anymore. Another recent academic paper, by Orlando and Redfearn, argues that sprawl has been

pushing single-family home builders farther away from the amenities that make these urban areas attractive. Eventually, this progression reaches a limit in which commuting back to these amenities is too costly. At this point, the greenfield land is effectively “built out.”

The obvious answer is to turn inwards — to build more housing by increasing population density, in particular by building multifamily housing. As I noted in my Atlanta piece, sunbelt cities still have extremely low population densities compared with blue-state cities:

So they could add a lot more housing and bring prices down — if local politics would allow it. Unfortunately, it generally won’t. Glaeser and Gyourko conclude their paper on a despairing note, suggesting that all our major cities, in red states as well as blue, have become places where existing homeowners have become effective at stopping new construction.

Which brings me back to Bessent saying that we have a housing emergency. What will he do about it?

Another man, in another administration, might go YIMBY — “yes in my backyard” — and try to tackle the political obstacles to housing construction. But take a look at Mandate for Leadership, the manifesto issued by the Heritage Foundation’s Project 2025. It’s all for deregulation when it comes to things like pollution controls. But when it comes to housing, it goes full NIMBY:

Congress should prioritize any and all legislative support for the single-family home … American homeowners and citizens know best what is in the interest of their neighborhoods and communities. Localities rather than the federal government must have the final say in zoning laws and regulations, and a conservative Administration should oppose any efforts to weaken single-family zoning.

So no, the Trump administration won’t do anything to expand housing supply, which is the only way to make housing more affordable. (..)

domingo, 10 de março de 2024

Imóveis comerciais/ EUA: um resumo da crise


Valor Investe 07-03-2024, por Marília Almeida
https://valorinveste.globo.com/produtos/investimento-no-exterior/noticia/2024/03/07/queda-de-28percent-nos-precos-onde-pode-chegar-a-crise-do-imoveis-comerciais-nos-eua.ghtml
Segundo pesquisa de janeiro da WFH, a parcela de dias úteis completos trabalhados em casa ficou próxima a 30% desde o início de 2022. Ainda que tenha caído dos 60% registrados no meio de 2020, a porcentagem continua relevante. Com menos trabalhadores no escritório cinco dias por semana, a demanda por escritórios enfraqueceu e a vacância aumentou em 900 pontos percentuais entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2023.

Consequentemente, os valores de escritórios estão passando por uma correção de preços histórica. Desde que atingiram o pico cíclico em 2019, se deterioraram mais rapidamente do que a maioria dos setores imobiliários comerciais. Uma vez que a correção de preços termine este ano, a Oxford Economics projeta que os valores dos escritórios terão caído 28,6% desde seu pico em 2019. A intensidade da queda rivaliza com a desvalorização de 34,8% registrada entre os escritórios durante a crise financeira de 2008.

As implicações econômicas regionais variam. Mercados com uma concentração
maior de imóveis comerciais são mais propensos a sentir os efeitos do aumento da vacância e da queda nos valores. Ou seja, os distritos comerciais centrais (CBD) serão mais afetados do que os dos subúrbios.


Ao analisar os dados de vacância da MSCI por idade do edifício de escritórios, a Oxford Economics observa que a vacância aumentou em todas as idades e localidades entre 2019 e 2023. Mas edifícios mais antigos que 1989 e localizados nos centros comerciais centrais registraram aumento da vacância acima da média. Já edifícios mais novos, especialmente construídos após 1999 e localizados nos subúrbios, registraram cerca da metade do aumento geral da vacância de escritórios.

Os mercados com uma maior concentração de propriedades de escritório são mais propensos a sentir os efeitos do aumento da vacância e da queda nos valores. Boston, Los Angeles, Nova York, São Francisco e Washington DC representam 42% do número total de propriedades de escritório nos EUA, segundo dados da MSCI. Esses mercados são mais vulneráveis, especialmente os com edifícios mais antigos localizados no CBD. (..)”

 2024-03-10

domingo, 29 de outubro de 2023

Flatiron retrofit

 

Fonte: https://www.facebook.com/groups/2142240399343434

Inaugurado em 1902, o Flatiron Building foi um dos primeiros arranha-céus construídos em Nova York, mais exatamente entre a 5a Avenida, a Broadway e a 23rd St. Um dos mais altos do mundo à época de sua inauguração, com 87 metros de altura e 22 andares, acabou dando nome ao bairro onde está situado (Flatron District). Foi inscrito no Registro Nacional de Lugares Históricos em 1979 e designado Marco Histórico Nacional dez anos depois.

Projetado pelo arquiteto e urbanista Daniel Burnham no estilo Beaux-Arts, com fachada de calcário e terracota dividida em base, fuste e capitel, não foi, contudo, o primeiro do seu gênero: embora menores do que o Flatiron, o Edifício Gooderham de Toronto, construído em 1892, e o English-American Building de Atlanta, em 1897, são outros exemplos proeminentes. (WIKIPEDIA)

2023-10-29

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Apontamentos: Alonso 1964 - teorias histórica e estrutural da ordem espacial urbana


ALONSO W, “The Historic and the Structural Theories of Urban Form: Their Implications for Urban Renewal”. Land Economics Vol. 40, No.2 (May, 1964), pp. 227-231. University of Wisconsin Press.
https://docs.google.com/document/d/1-bHp274ABR8iKw3TvP4Et2Z6YOpjQbOq1ppaSC4mczk/edit?usp=sharing

Este não é, propriamente, um texto clássico, mas me parece de algum interesse tanto para a história da ciência /disciplina /estudos da organização espacial urbana quanto para a reflexão sobre a abrangência técnico-científica do urbanismo contemporâneo.

No mesmo ano (1964) da publicação de sua obra paradigmática Location and Land UseWillliam Alonso intervém no debate público sobre os planos de renovação (hoje diríamos gentrificação) de áreas centrais obsolescentes de Nova York alertando para os riscos da empreitada caso seus mentores se mantenham aferrados ao que chama de “teoria histórica” da ordem espacial urbana – baseada, segundo ele, nos “modelos” de Burgess (Círculos Concêntricos, 1925) e Hoyt (Setores de Círculo, 1937).

Em termos visivelmente diplomáticos, Alonso propõe que se leve também em conta os postulados da “teoria estrutural” da organização espacial urbana, vale dizer as leis do mercado de solo, àquela altura fortemente marcado pela preferência da ascendente classe média dos EUA pelas residências unifamiliares em amplos terrenos suburbanos.

Depois de observar a contradição entre a “convicção, própria dos planejadores, da necessidade de um plano geral” e o caráter espasmódico dos projetos de renovação urbana - “um atrás do outro sem qualquer visão de conjunto” -, Alonso afirma que a ausência da abordagem metropolitana impede que os defensores dos projetos de renovação urbana tenham uma visão clara da relação entre “os objetivos da comunidade e o entendimento de sua estrutura”.  

Em linguagem mais direta, Alonso conclui dizendo que os projetos de renovação urbana das áreas centrais “só dizem respeito a um setor muito restrito e especializado do mercado” e “correm o risco de fracassar completamente devido à incompreensão do funcionamento do sistema urbano e a uma interpretação equivocada da estrutura da demanda.”

Desconheço - ainda - as consequências desse debate, mas creio que Alonso tinha razão quanto à factibilidade dos projetos de renovação urbana das áreas centrais na escala pretendida.

O mesmo não diria de sua concepção de “teoria histórica” e “teoria estrutural” da ordem espacial urbana - tema para alguma reflexão e, com certeza, um futuro comentário. E é por isso que concluo afirmando: mesmo não sendo um clássico, este artigo é notável pelo seu valor bibliográfico e epistemológico. Para estudiosos das estruturas espaciais urbanas e, particularmente, da urbanização nos Estados Unidos de meados do século XX, Alonso discutindo Burgess e Hoyt não é assunto de pouca monta. 

2023-10-04

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Trabalho de Sísifo

The “Big Dig” was the largest, and most expensive, highway project of its kind in the United States. It included 7.8 miles of highway (161 lane-miles in all), about half of which tunnel under the city and its harbor. (..) The project was the result of more than 30 years of planning and 12 years of construction. (..) Its initial estimated cost was $2.56 billion. Estimates increased to $7.74 billion in 1992, to $10.4 billion in 1994, and, finally, $14.8 billion in 2007—more than five times the original estimate. The reported reasons for the cost escalation included inflation, the failure to assess unknown subsurface conditions, environmental and mitigation costs, and expanded scope. (..)

O maior feito do urbanismo dos anos 1990/2000 foi desconstruir o suporte material da expansão urbana dos 50 anos anteriores - para revalorizar as áreas centrais! 

Pois não se passaram nem 25 e já tememos que as novas áreas centrais estejam entrando em um novo ciclo de declínio causado pela mudança dos paradigmas da economia urbana.

A exemplo de Nova York, poderemos ver imobiliárias de Boston, que gastou 22 bilhões de dólares (atualizados) para construir o Big Dig e revitalizar o Centro, sugerindo subsídios públicos para converter endereços comerciais em edifícios residenciais. 

Talvez nem precisemos ir tão longe: o Rio de Janeiro já está subsidiando a construção e o retrofit habitacionais no Centro da cidade em troca de m2 de construção adicional na Zona Sul - um método mais de acordo com as nossas tradições.

As grandes metrópoles, asseguram-nos as agências internacionais de desenvolvimento, respondem pela criação da imensa maior parte da riqueza planetária. O problema é que essa riqueza, que se concentra a níveis nunca vistos, cresce junto com deseconomias megalopolitanas nunca contabilizadas, mas invariavelmente alocadas na rubrica dos custos públicos.

Mais do que um novo paradigma, precisamos é de mudar de fase.

2023-08-09

quarta-feira, 1 de março de 2023

Traçado ortogonal, cidade radial

Última edição em 30-07-2023

The Economist 20-12-2022
https://www.economist.com/interactive/christmas-specials/2022/12/20/the-decline-of-the-city-grid

Montagem: Abeiradourbanismo
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Esse artigo, como tantos outros dedicados ao tema fascinante da urbanização em grade ortogonal, também chamada malha hipodâmica, discute o seu objeto como se as estruturas espaciais urbanas fossem meras opções projetuais: “no último século a quadrícula saiu de moda”.

Um loteador poderá optar, de acordo com a preferência e o poder de compra de seus clientes, entre diversos tipos de traçado. Mas as circunstâncias que geraram o grid de Chicago nada têm a ver com critérios projetuais de urbanismo, preferências do consumidor ou modismos, embora o confirmem como o sistema mais simples e rentável de parcelamento e comercialização do solo: para financiar o Estado recém-criado, a Lei de Terras estadunidense de 1785 (Land Ordinance) dividiu os territórios do Oeste, ainda nem bem conquistados e essencialmente desconhecidos, em townships de 6x6 milhas, subdivididas em 36 sections parceláveis e renegociáveis de 1x1 milha, de modo a facilitar a venda de propriedades agrícolas a colonos nacionais e estrangeiros. Com referência ao uso urbano, que veio a se tornar um maná especulativo, diz a Britânnica de 1963: “Sua vantagem particular era que uma nova cidade podia ser planejada nos escritórios das imobiliárias do Leste e as terras vendidas sem que nem comprador nem vendedor tivessem nunca visto o lugar". [1]

Apesar de generalizado nos Estados Unidos desde o início do século XIX, o uso da malha urbana ortogonal pela indústria da urbanização tem raízes mais antigas e menos plebeias. Em seu clássico La Ciudad en la Historia, Mumford observa que
Stuttgart 1794, Edimburgo 1773, Berlim 1789
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El único hecho que lo hace [este tipo de trazado urbano] más notorio en los Estados Unidos que en el Viejo Mundo es la ausencia, excepto en zonas como las de los establecimientos iniciales de Boston y Nueva York, de tipos anteriores de planificación urbana. A partir del siglo XVII, las extensiones de ciudades occidentales, tanto en Stuttgart y Berlín como en Londres y Edimburgo, se hicieron del mismo modo, excepto donde antiguos cursos de agua, caminos o límites de campos habían establecido líneas que no era fácil anular. (..) Estos planos servían únicamente para una rápida división de la tierra, una rápida conversión de solares en lotes y una rápida venta. La carencia misma de adaptaciones más específicas al paisaje o a las necesidades humanas solo aumentaba, por su misma imprecisión e indeterminación, su utilidad general para el mercado. [1a] 

O que, por outro lado, não se pode deixar de observar, e que os textos sobre a grade ortogonal em geral desconsideram, é o fato de que a "economia da ocupação do solo", tão bem descrita pelo articulista, que fez da grade ortogonal o traçado padrão da moderna urbanização de mercado, é obrigada por essa mesma urbanização de mercado a coexistir com estruturas de acessibilidade urbana de tipo radial-concêntrico derivadas da “economia da localização” - como representada, por exemplo, no modelo geral da distribuição dos usos do solo na metrópole contemporânea, sintetizado por William Alonso na década de 1960. [1b]

Imagem: Àbeiradourbanismo

Essa relação nem sempre amigável entre as estruturas espaciais da apropriação/ocupação do solo para fins urbanos - que remontam aos primórdios das cidades e variam significativamente conforme a época e o lugar - e da moderna acessibilidade urbana - que são essencialmente as mesmas em todo o planeta - constitui a meu juízo um aspecto capital e inescapável do urbanismo de nosso tempo. 
Em artigo recente, escrevi:

 “(..) As forças que regem a organização sócio-espacial das metrópoles modernas não se subordinam, apenas se adaptam na medida da necessidade, aos traçados pré-existentes. A "economia da localização" se sobrepõe mais ou menos despoticamente à "economia da ocupação" segundo regras que lhe são próprias. As leis da organização sócio-espacial urbana são as mesmas, e seus efeitos análogos, na cidade radiocêntrica de Porto Alegre e nos vastos reticulados de Barcelona e Chicago. (..)” [2]


Corrijo-me, agora: as leis da “economia da localização urbana” são as mesmas em todas as cidades modernas, vale dizer construídas pela economia de mercado, mas os efeitos de sua coexistência com as regras da "economia da ocupação do solo” variam - segundo a resistência que esta última lhes ofereça. Em 1903, Hurd postulou tal relação nos seguintes termos: as cidades crescem em todas as direções a partir do ponto de origem salvo quando obstaculizadas pela topografia ou pela estrutura da propriedade fundiária pré-existente. [3] Na década de 1920, Burgess reafirmou o postulado acrescentando, como fatores de resistência, eventuais elementos construídos (ferrovias, aquedutos) e, muito importante, as próprias comunidades previamente assentadas no território. [4] 
Falta acrescentar um aspecto capital: os planos reguladores.

Se defrontadas por um rígido plano regulador de urbanismo, como em Brasília, as leis da economia da localização impor-se-ão à metrópole em expansão como coroa exterior de cidades satélites. 
Brasília - Plano Piloto e cidades satélites
Montagem: Àbeiradourbanismo
  


Montagem: Àbeiradourbanismo
Em face de uma grade parcelária pré-estabelecida, como no caso de Chicago, o arruamento e o reparcelamento do solo para fins urbanos acompanharão a grade e a preferência locacional dos usos residenciais recairá, como observou Burgess num texto de 1929,[5] sobre as principais artérias ortogonais de acesso ao centro de negócios, com a desvalorização relativa dos lotes urbanos situados nas direções diagonais. 
Por esse exato motivo, observou Burgess no mesmo texto, as manchas urbanas de cidades de planície do Meio-Oeste dos EUA tenderam a se expandir em forma de cruz de malta. Nos dois casos citados, Ft. Worth e Columbus, o próprio grid parece ter sido ajustado para deixar aos obstáculos geográficos as direções diagonais. 

Esse efeito é particularmente nítido na expansão das cidades argentinas nascidas do processo de colonização agrícola do Pampa Bonaerense na segunda metade do século XIX, como Chivilcoy, situada a 160km de Buenos Aires. Como mostra o mapa de Qualidade da Vida Urbana de DICROCE et al, [5a] Chivilcoy, com cerca de 56 mil habitantes em 2010, se expande ao longo das ortogonais principais de acesso ao Centro muito mais rapidamente do que nas direções diagonais, inclusive no que tange às quadras de maior qualidade de urbanização, consequentemente de maior rendimento familiar. A expansão da urbanização de melhor qualidade ao norte deriva,
Acréscimos e montagem: Àbeiradourbanismo
provavelmente, da proximidade da Estação Rodoviária, que desde 1975 dá acesso à capital em substituição à Estação Ferroviária Norte. Para as camadas empobrecidas, a acessibilidade ao centro urbano proporcionada pelos prolongamentos das ortogonais principais aparece aqui como determinante absoluto, a despeito da maior distância. A concentração de quadras de urbanização precária a sudeste, por sua vez, estaria relacionada à presença da Estação Ferroviária Sul, que serve a um ramal destinado ao transporte de cargas. 
Na ilustração acima, construída sobre o mapa original de DICROCE et al, são perceptíveis dois aspectos da expansão tendencialmente radio-concêntrica da cidade contemporânea: (1) a distribuição decrescente dos padrões de urbanização e rendimento familiar por coroas circulares e gradientes de preços da terra resultantes; (2) a formação de um “cone de altos rendimentos” [5b] para além do núcleo fundacional na direção norte. A singularidade que distingue Chivilcoy das cidades de crescimento "orgânico" é a ocupação da totalidade (180 graus) do núcleo fundacional pelas famílias de mais altos rendimentos, produto da enorme diferença histórica de padrão de urbanização relativamente ao seu entorno.

Na Barcelona de Cerdà, a comunicação direta e projetualmente privilegiada da cidade medieval-renascentista com a Vila de Gràcia determinou tanto 
Montagem: àbeiradourbanismo
a formação do corredor principal de acesso ao novo centro de negócios (Plaça de Catalunya / Portal de l'Àngel) quanto
 a preferência da localização residencial: o Passeig de Gràcia e a Rambla de Catalunya eram os endereços das mais importantes residências burguesas da primeira metade do século 20. Décadas mais tarde, a cidade radial-concêntrica se manifestaria em sua plenitude, como em todas as demais metrópoles, na configuração de seu sistema de Metrô.


Tal como as redes ferroviária e metroviária, o sistema rodoviário principal da grande metrópole também tende a apresentar a disposição radial-concêntrica determinada pelo princípio geral da menor distância, ou, mais exatamente, da maior acessibilidade das localizações residenciais ao centro urbano principal - superposto, por meio de obras públicas de 
grande envergadura, ao arruamento legado pelos ciclos de parcelamento e ocupação privada do solo que o precederam. [6] 
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Na ausência de ocupação prévia, de obstáculos físicos naturais e construídos, de grandes propriedades e de institutos reguladores, a urbanização de mercado imporá o princípio
Porto Alegre 1928 - linhas de bonde
geral
dos gradientes de custo-distância na forma “pura” da expansão radial-concêntrica – caso clássico da Porto Alegre de inícios do século XX. Abrindo-se em leque para ocupar toda a “coroa de 180 graus de terra firme disponível para a expansão urbana” [6a], a capital pós-colonial formou uma rede orgânica de vias radio-circunferenciais que ensejou a criação, no terceiro quarto do século XX, tanto de seu sistema de vias perimetrais quanto da região de planejamento batizada “cidade radiocêntrica”.

*

Um caso singular de adaptação da estrutura radial-concêntrica às redes urbanas herdadas do passado é o centro comercial e de negócios. Devido às vantagens econômicas da aglomeração, os negócios tendem a se beneficiar da ocupação dos arruamentos pré- ou proto-modernos, mais ou menos irregulares, mas altamente concentrados. Nas palavras de Hurd: 

"Há quem pense que quanto mais larga mais valorizada é a rua, devido à maior capacidade de tráfego. Mas em uma rua comercial, a largura é praticamente irrelevante (..). A pouca largura facilita o intercâmbio entre os dois lados, o que é de alguma forma vantajoso para os negócios quando não implica em limitação à altura dos edifícios". [7]
Boston 1814 (esq, acima), Boston CBD 1896 (esq abaixo) e Devonshire St atual (dir)
Essa propriedade dos arruamentos herdados do passado pré- ou proto-capitalista das metrópoles contemporâneas suscita uma interessante questão: serão os traçados regulares das cidades ex novo, com amplas avenidas centrais, ruas largas e baixa densidade construída um fator historicamente inibitivo do desenvolvimento de suas aglomerações comerciais e, por extensão, da própria economia urbana? 

Cruzamento da Av Soárez com Alvear, centro comercial de Chivilcoy, Argentina
Imagem Google 07-2023 

*

Em sua forma ‘pura’, vale dizer ‘determinada pelos imperativos fundamentais da 'economia da ocupação do solo' e 'da economia da localização urbana’, a estrutura físico-espacial da metrópole capitalista pode ser descrita como uma malha viária radial-concêntrica ‘preenchida’ por uma colcha de retalhos de parcelamentos reticulados de distintos tamanhos e padrões projetuais, tendo ao centro, ou em área contígua ao centro de negócios, o tecido remanescente das cidades pré- e proto-capitalistas. 

Nas metrópoles reais, essa estrutura impõe a sua soberania, que procede do capital em geral, de maneiras infinitamente diversas, amoldando-se aos fatores de resistência geográfica, econômica, social, cultural e política herdados do passado próximo ou distante.


*

Retornando ao artigo que deu origem a essa postagem, a ideia de que “o grid está em declínio” me parece uma dedução meramente circunstancial relacionada, se tanto, às práticas correntes da indústria estadunidense dos loteamentos suburbanos - que orientam a parte final do texto. Relativamente a qualquer outro país, o grid não pode estar em declínio nos EUA: ele é o marco regulador, indelével e indestrutível até onde alcança a perspectiva histórica, de seu singular processo de urbanização, simbolizado nas icônicas imagens de aglomerados de arranha-céus em meio a vastos reticulados urbanos de baixíssima densidade.

Ft. Worth, Texas, década de 1950

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NOTAS

[1] Britannica 1963 V 5 p 816, “City Planning”

[1a] MUMFORD L (1961), “Capítulo XIV - Expansión Comercial y Disolución Urbana, 4. Los especuladores y el trazado de la ciudad”. La Ciudad en la Historia, Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., pp.701-709. [300-304 no link abaixo]
https://istoriamundial.files.wordpress.com/2013/11/la-ciudad-en-la-historia_lewis-mumford.pdf

[1b] ABRAMO P (2001) Mercado e Ordem Urbana: do caos à teoria da localização residencial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 2001, pp. 65-87

[2] JORGENSEN P, “Porto Alegre cidade radiocêntrica (1)”. À beira do urbanismo (blog) 09-04-2019. https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2019/04/porto-alegre-cidade-radiocentrica-1.html

[3] HURD R M, Principles of City Land Values. New York, Record and Guide 1903
https://archive.org/.../principlesofcity.../page/n4/mode/1up

[4] BURGESS E W, “The Growth of the City: An Introduction to a Research Project", em BURGESS, E W e PARK R E, The City:Suggestions for Investigation of Human Behavior in the Urban Environment, The University of Chicago Press, 1984: Chicago e Londres
http://shora.tabriz.ir/Uploads/83/cms/user/File/657/E_Book/Urban%20Studies/park%20burgess%20the%20city.pdf

[5] BURGESS E W, "Urban Areas", em SMITH e WHITE, Chicago, An Experiment in Social Sciences Research, Chicago: University of Chicago Press 1929, pp 113-138

[5a] DICROCE L et al 2008, “Implementación de un Modelo de Calidad de Vida Urbana (MCVU). Caso de estudio: Chivilcoy”. IDEHAB, Universidad Nacional de La Plata.
http://sedici.unlp.edu.ar/handle/10915/94194

[5b] SABATINI F (2003),”La segregación social del espacio en las ciudades de América Latina”. Documentos del Instituto de Estudios Urbanos y Territoriales, Serie Azul Nº 35, Julio 2003, p. 25.

[6] JORGENSEN P, “Porto Alegre cidade radiocêntrica (1)”. À beira do urbanismo (blog) 09-04-2019. https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2019/04/porto-alegre-cidade-radiocentrica-1.html

[6a] [4] VILLAÇA F, Espaço Intra-Urbano no Brasil Cap 5 “A estrutura urbana básica”, p. 132.

[7] HURD R M, Principles of City Land Values. New York, Record and Guide 1903
https://archive.org/.../principlesofcity.../page/n4/mode/1up


2023-03-01

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Transição econômica: deseconomias urbanas


NY Times 27-12-2022
https://www.nytimes.com/2022/12/27/business/what-would-it-take-to-turn-more-offices-into-housing.html

Montagem: Àbeiradourbanismo
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Mr Bernstein não acredita na revitalização dos CBDs sem "incentivos públicos", vale dizer sem o subsídio da coletividade à margem de lucro das imobiliárias que poderiam investir na conversão dos imóveis comerciais para residenciais.

A pergunta é: por que não financiá-lo com um fundo formado pelos próprios capitais que lucraram com a construção dos CBDs e os que promoveram o seu esvaziamento indo lucrar em outros lugares? Por que não obrigar as montanhas de capital privado investido nas espirais de valorização do solo das grandes metrópoles a arcar com as deseconomias geradas pela competição espacial entre as grandes empresas? Vale para as cidades como para o meio ambiente.

A propósito, cito o instigante artigo “Mudança climática: mercado acredita na Arca de Noé”, por Felipe Sampaio, publicado no Blog do Noblat em 08-12-2022*:

“ (..) sempre que se pergunta quem banca as consequências [do aquecimento global], magoa-se a vaca sagrada do capitalismo (o lucro) e desperta-se um bicho-papão do mercado financeiro (a incerteza). (..) Enquanto algoritmos financeiros calculam como lucrar com finanças verdes, clean business, social bonds, greenwashing e ESG, um investidor distraído pode acordar com Wall Street afogada pela Baía de Manhattan ou cozinhada a 60°C. (..)”

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Home equity loans once more


The Guardian 09-06-2022, por Bob Kerslake

Right to Buy (Direito de Compra) é um instituto em vigor no Reino Unido (salvo Escócia desde 01-08- 2016 e País de Gales desde 26-01- 2019), que dá aos inquilinos das moradias do Estado e de algumas cooperativas habitacionais o direito de comprar, com grande desconto, os imóveis em que residem. Para os inquilinos de imóveis cooperativados construídos com subsídio público após 1997, existe também o Right to Acquire (Direito de Aquisição), com um desconto menor. De 1980 a 1997, mais de 1.700.000 moradias sociais foram vendidas no marco dessa política, tida como uma das principais causas da drástica redução da quantidade de moradia social no Reino Unido, que caiu de quase 6,5 milhões de unidades em 1979 para cerca de 2 milhões em 2017, e como o fator principal do aumento de 15% no índice de casa própria, que passou de 55% dos domicílios em 1979 para 71% em 2003 (63% em 2017 na Inglaterra). [1]

A privatização pulverizada dos estoques de habitação social do Reino Unido no âmbito das reformas econômicas thatcheristas foi um componente-chave da política de sustentação do nível de consumo à base de empréstimos pessoais lastreados na expectativa de valorização do solo nas grandes metrópoles.

Este é um aspecto central de O Mundo em Queda Livre (2009), livro de J Stiglitz, ex economista-chefe do Banco Mundial, sobre a debacle financeira de 2008. Nele se lê que a indústria do refinanciamento hipotecário foi uma forma de os estadunidenses "tomarem emprestado e consumir como se os seus rendimentos estivessem crescendo". [2]

O mesmo juízo reaparece, com uma análise mais ampla e historicamente situada, no livro Rethinking the Economics of Land and Housing, dos britânicos Ryan-Collins, Lloyd e Macfarlane [3]:

“(..) no Reino Unido e nos EUA, os empréstimos pessoais garantidos pelas residências (EGR) produziram um aumento do consumo: quanto maior o valor da garantia, maior o nível de consumo. (..) Desde a desregulamentação do crédito na década de 1970, a EGR contribuiu de forma importante para a demanda do consumidor no Reino Unido, ainda que somente nos períodos de alta dos preços da moradia (..). Tanto Margaret Thatcher (1979-92) quanto Tony Blair (1997-2007) desfrutaram, em seus mandatos, grandes booms de consumo parcialmente impulsionados pelo EGR, que contribuíram significativamente para o crescimento do PIB. A década anterior à crise financeira registrou níveis sem precedentes de EGR, com proprietários valendo-se do aumento dos preços das residências para tomar mais empréstimos e consumir mais. O sociólogo Colin Crouch (2009) descreveu o fenômeno como uma espécie de 'keynesianismo privatizado': ao passo que no período 1950-70 a demanda foi sustentada pelo Estado pela via da expansão fiscal, no período 1980-2007,  de declínio dos salários médios, ela foi alimentada pela dívida hipotecária”. [4]
 
Não surpreende que, como explica Muellbauer no prefácio da obra, "no longo prazo, as famílias altamente endividadas [tenham ficado] vulneráveis ​​à queda dos preços imobiliários". [5] Nos EUA, o colapso financeiro de 2008 significou que "pelo menos 10 milhões de pessoas perderam suas casas, quase 9 milhões perderam seus empregos e, quatro anos depois, 46,5 milhões viviam na pobreza [6].

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[1] WIKIPEDIA: "Right to Buy".
https://en.wikipedia.org/wiki/Right_to_Buy

[2] STIGLITZ J, O Mundo em Queda LivreOs Estados Unidos, o mercado livre e o naufrágio da economia mundial. Trad. José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Cap. 1: A formação da crise

[3] RYAN-COLLINS, LLOYD e MACFARLANE, Rethinking the Economics of Land and Housing. Zed Books 2017, edição do Kindle, p. 146.

[4] “(..) in the UK and the US, the home-equity withdrawal [HEW] channel boosts consumption as existing homeowners are able to finance higher consumption on the back of higher collateral values. (..) Since the credit deregulation of the 1970s HEW has made important contributions to consumer demand in the UK but only in certain periods when house prices have been rising (..). Both Margaret Thatcher (1979–92) and Tony Blair (1997–2007) enjoyed major consumption booms partially driven by HEW, with equity withdrawal contributing significantly to GDP (..) in both their tenures. The decade before the financial crisis saw unprecedented levels of home equity withdrawal as homeowners used rising house prices to increase their borrowing to fund consumption. The sociologist Colin Crouch (2009) has described this as a form of ‘privatised Keynesianism’, with the large injections of mortgage debt via equity withdrawal propping up consumer demand in the face of declining median wages, in contrast to the state supporting demand via fiscal expansion as in the 1950–70 period.”

[5] MUELLBAUER J, "Foreword", em RYAN-COLLINS, LLOYD e MACFARLANE op. cit.
 
[6] “The financial crisis hit 10 years ago. For some, it feels like yesterday”. Los Angeles Times 15-09-2018, por Colleen Shalby

2022-06-15

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Apontamentos: SILVA 2004 e a centralidade perdida

Estes apontamentos são parte de um processo de estudo compartilhado. À beira do urbanismo está à disposição dos autores cujo trabalho aqui se comenta para suas considerações.

CORREIA DA SILVA J O, “4.2.1 Urban Rents and Land Use” (excerto de “History of Spatial Economic Theory”, pp 47-48), em BACKHOUSE R, History of Economic Thought, Programa de Doutoramento em Economia, Faculdade de Economia do Porto, Universidade do Porto S/DATA
https://docs.google.com/document/d/1zbj2l8KUv4gQHpDrLZg0fLoA7P7cjSI3yQV-xMmgVdw/edit?usp=sharing

Montagem: Àbeiradourbanismo 
Chama a atenção nesse excerto que seu autor, depois de observar que os modelos espaciais da tradição de Von Thunen têm o defeito de assumir como dado algo que está por ser esclarecido, no caso a formação do centro urbano, afirme que isso não é tão importante porque, afinal, não se pode esperar que os modelos expliquem tudo! E como para provar que a gênese do centro urbano é problema de pouca monta, recorda que muitas cidades não só não têm um centro único perfeitamente definido como podem ter vários, como Los Angeles, cujas 16 “cidades periféricas eclipsam seus dois centros”.

O problema aqui é que a policentralidade não nega nem esvazia a centralidade, fenômeno basilar da organização do espaço: ao contrário, o manifesta e reafirma em condições particulares, ou certo estágio, de desenvolvimento.  Nessa questão estou com VILLAÇA, para quem, “nas regiões metropolitanas em geral, inclusive nas norte-americanas, continua a haver um centro principal, o tradicional, seja o de Chicago, de São Francisco ou de Nova Iorque, que é mais desenvolvido que os demais e por isso pode, e deve, ser chamado de ‘principal’”. E tenho dúvidas de que, como diz Gottdiener 1985 e parece admitir o próprio Villaça, a polinucleação “tenha como uma de suas consequências ou manifestações o enfraquecimento dos centros principais como aglutinadores do espaço metropolitano”. [1] 

A tendência à dispersão, nos países ricos - não por acaso corriqueiramente chamados de "centrais" -, de subcentros e cidades satélites ao redor dos grandes polos metropolitanos do século XX, resulta precisamente da concentração da riqueza nacional e global em suas áreas de influência, levando a que se expandam a ponto de formar conglomerados urbanos como a Grande Londres (quase diria a Inglaterra inteira), a Grande Paris e a Grande Tóquio, o triângulo Ruhr-Bruxelas-Amsterdam e seu análogo Houston-Dallas-San Antonio, os corredores Boston-Washington D.C, Quebec-Toronto, Osaka-Kioto e Xangai-Nanquim etc. Ao invés de "enfraquecimento", a polinucleação poderia significar a integração das grandes cidades em estruturas múltiplas ainda mais centralizadoras dos fluxos de riqueza global.

Retornando à metrópole, penso que o "modelo americano" não exprime leis de organização espacial urbana distintas das que vigoram no resto do mundo. As diferenças de rendimento familiar determinam, desde os primórdios da urbanização de mercado, tanto a forma geral da distribuição sócio-espacial, que é a ocupação residencial das áreas pericentrais pelas famílias mais desafogadas e a periferização do conjunto inversamente proporcional aos rendimentos, quanto suas manifestações particulares, como a formação de enclaves periféricos de elevados rendimentos com baixa densidade (jardins e alphavilles) e pericentrais de trabalhadores precarizados (cortiços) em alta densidade - configuração antagônica à forma geral da distribuição sócio-espacial, mas compatível com a lei fundamental da economia do espaço: rendas fundiárias decrescentes com a distância ao centro principal e aos subcentros. [2]

Vejo o “modelo americano” vigente, pode-se dizer, há quase um século, como situação-limite da forma geral centro-periferia nas especialíssimas circunstâncias históricas, geográficas e culturais de sua expansão capitalista, que inverte, relativamente à Europa Ocidental, Japão e países intermediários como Brasil, México e Argentina, o foco do poder de preempção locacional das camadas sociais aptas a aceder à moradia pela via do mercado. Dentre essas circunstâncias, cito: (1) uma classe média excepcionalmente numerosa, que inclui a totalidade da pequena burguesia e um enorme contingente de trabalhadores urbanos com significativos excedentes de rendimentos sobre as necessidades básicas; (2) um imaginário social que conserva a propriedade privada da terra de fronteira como ideal de liberdade individual e realização familiar; (3) uma numerosa coleção de cidades expandindo-se sobre terras de baixo preço relativo por m2; (4) o Estado provedor de uma vasta estrutura de acessibilidade automotiva movida a gasolina barata; (5) um setor bancário descentralizado e apto a oferecer crédito em massa a baixíssimo custo para o financiamento de automóveis e moradias; (6) uma formidável base industrial capaz de produzir tudo isso em tempo recorde.

De volta ao início, parece-me tão correto Villaça em dizer que o caráter polinucleado da metrópole estadunidense contemporânea é, em Gottdiener, "uma simples observação empírica, não uma teoria" [3] quanto Silva em sugerir - ainda que de passagem - que a gênese do centro urbano principal, ou histórico, da metrópole capitalista ainda está por ser explicada no domínio da economia espacial alonso-thuneniana. 

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[1] VILLAÇA Flavio, Espaço Intra-Urbano no Brasil. FAPESP São Paulo 2001, p. 245.

[2] “(..) Lo que las compañías navieras descubrieron en el siglo xix, con su explotación de los pasajeros de proa, ya lo habían descubierto mucho antes los propietarios de terrenos: las ganancias máximas no se obtenían facilitando comodidades de primera clase para los que podían pagarlas a buen precio, sino hacinando en tugurios a aquellos cuyos peniques eran más escasos que las libras para un rico. (..)” MUMFORD L [1961], La Ciudad em la Historia. Logroño: Pepitas de Calabaza Ed 2012, p. 695

[3] VILLAÇA Flavio, op.cit., p. 38

2022-04-27

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Morada dos Dinossauros

Deu na Folha de S Paulo
18-02-2022, por Mercado Imobiliáro
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/02/disney-lanca-condominios-residenciais-tematicos-nos-eua.shtml

Montagem: Àbeiradourbanismo

"Enquanto nos preparamos para entrar no segundo século de nossa história, estamos desenvolvendo maneiras novas e empolgantes de levar a magia da Disney para as pessoas onde quer que estejam, passando do storytelling para o storyliving", disse Josh D’Amaro, presidente da Disney Parks, Experiences and Products.

2022-02-25

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A febre do ouro

Deu no Monitor do Mercado 30-11-2021
https://monitordomercado.com.br/noticias/23642-eua-indice-sandamp-p-case-shiller


Preços de imóveis residenciais sobem 19,1% nos EUA

Montagem: Àbeiradourbanismo

O índice S&P/Case-Shiller, que mede os preços de imóveis residenciais nas 20 principais regiões metropolitanas dos Estados Unidos, subiu 19,1% em setembro na comparação com o mesmo período do ano anterior, depois de alta de 19,7% em agosto.

*

Headline inflation, including food and energy, rose at a 4.4% annual rate in September, the fastest since 1991. Core inflation, which is the Fed’s preferred gauge, increased 3.6% for the 12 months, the same as in August but still also the fastest pace in 30 years. Personal income declined at a faster pace than expected (..). (CNBC)

2021-12-07

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

quinta-feira, 1 de julho de 2021

O arruamento de Manhattan

Extraído da Wikipedia
21-06-2021, por Wikipedia


Commissioners' Plan of 1811

The Commissioners' Plan of 1811 was the original design for the streets of Manhattan above Houston Street and below 155th Street, which put in place the rectangular grid plan of streets and lots that has defined Manhattan to this day. It has been called "the single most important document in New York City's development," and the plan has been described as encompassing the "republican predilection for control and balance ... [and] distrust of nature". It was described by the Commission that created it as combining "beauty, order and convenience."

The plan originated when the Common Council of New York City, seeking to provide for the orderly development and sale of the land of Manhattan between 14th Street and Washington Heights, but unable to do so itself for reasons of local politics and objections from property owners, asked the New York State Legislature to step in. The legislature appointed a commission with sweeping powers in 1807, and their plan was presented in 1811.

The Commissioners were Gouverneur Morris, a Founding Father of the United States; the lawyerJohn Rutherfurd, a former United States Senator; and the state Surveyor General, Simeon DeWitt. Their chief surveyor was John Randel Jr., who was 20 years old when he began the job.

The Commissioners' Plan is arguably the most famous use of the grid plan or "gridiron" and is considered by many historians to have been far-reaching and visionary. Since its earliest days, the plan has been criticized for its monotony and rigidity, in comparison with irregular street patterns of older cities, but in recent years has been viewed more favorably by urban planners.

There were a few interruptions in the grid for public spaces, such as the Grand Parade between 23rd Street and 33rd Street, which was the precursor to Madison Square Park, as well as four squares named Bloomingdale, Hamilton, Manhattan, and Harlem, a wholesale market complex, and a reservoir. Central Park, the massive urban green space in Manhattan running from Fifth Avenue to Eighth Avenue and from 59th Street to 110th Street, was not a part of the plan, as it was not envisioned until the 1850s. The numbering was also extended through Manhattan and the Bronx. (Continua)

  • History of the gridiron
  • History of New York City
    • Private developments
    • The surveying of the Commons
    • The Mangin–Goerck Plan
  • The Commissioners' Plan
    • Genesis
    • Surveying the island
    • The plan
    • Executing the plan
  • Modifications and extensions
    • Central Park and other alterations
    • Above 155th Street
    • The Bronx
    • Avenues and streets
    • Broadway
  • Reaction
    • Criticism
    • Praise
  • See also
  • References
Acesse o texto completo pelo link


2021-06-27

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O mapa da mina

Deu no NY Times
02-02-2021, por Alice Park, Charlie Smart, Rumsey Taylor e Miles Watkins

An Extremely Detailed Map of the 2020 Election
 

Este precioso mapa mostra em detalhes um aspecto bastante comentado a respeito da eleição de Biden nos EUA: num ambiente de acirrada polarização, prevaleceu o peso das multidões urbanas, inclusive em estados tradicionalmente arquiconservadores.

Faz-me pensar num aspecto crítico da grande metrópole no mundo contemporâneo. O marxismo cultural não existe, mas o socialismo cultural sim, num sentido muito preciso: não como ideologia, mas como força material. É nas grandes metrópoles que o caráter social da (re)produção capitalista - fundamento de todas as variantes do socialismo moderno - torna-se visceralmente perceptível e faz emergir direitos coletivos como saúde pública, educação gratuita, moradia e transporte subsidiados e toda sorte de prerrogativas democráticas e reivindicações igualitaristas como aspectos “naturais” e imprescindíveis da vida dos cidadãos-trabalhadores. 

Eis aí a contradição essencial da grande metrópole contemporânea, essa armadilha civilizacional concentradora, diria quase monopolizadora, de crescimento econômico, inovação e acumulação de riqueza, portanto também de imensas deseconomias, desemprego, precariedade e pobreza.

Como livrar aquela força material das muralhas que a contêm é, já faz quase dois séculos, a “questão de um milhão de dólares”. Mas essa é outra história, que transcende em muito o escopo deste blog.  

2021-02-08