Mostrando postagens com marcador modernismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador modernismo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Apontamentos: Bottura e Vargas 2020 - o projeto de Palmas e a crítica do urbanismo modernista

Estes apontamentos são parte de um processo de estudo compartilhado. À beira do urbanismo está à disposição dos autores cujo trabalho aqui se comenta para suas considerações.

BOTTURA Roberto e VARGAS Heliana C, “O projeto de Palmas TO frente às teorias urbanas revisionistas pós-1945”. Vitruvius / Arquitextos, ano 21, out. 2020
https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/21.245/7923

Todo estudo que se debruce sobre uma cidade nova tem diante de si a oportunidade de observar alguns fenômenos em um contexto que evidencia de forma mais latente as contradições entre o projetado (desejado) e o realizado (materializado). Aqui, o objeto de análise é Palmas, capital do então recém-criado estado brasileiro do Tocantins, concebida por arquitetos e inaugurada no final do século 20 a toque de caixa em um movimento de ocupação da região norte do país.
(..)
Parte-se da hipótese de que o projeto de Palmas representa um interessante paradoxo, ao reforçar paradigmas da cidade modernista, embora no discurso do plano a negasse plenamente. Conforme descrito em seu memorial, buscava-se revogar atitudes radicais racionalizadoras, bem como setorizações e imposições contra a natureza. No entanto, o traçado, o arranjo das funções e as espacialidades construídas resultaram numa cidade de uma tediosa quadrícula cartesiana em que a falta de usos combinados, a monotonia da repetição, a negação da rua e da calçada e a total priorização do transporte motorizado individual terminaram por moldar o inverso do que se pretendia. (..)

Ótimo artigo. Primeiro por apontar a contradição entre a crítica aos princípios urbanísticos modernistas contida na Memória e a sua adoção, da pior maneira (porque não assumida), no Projeto. Segundo por trazer, de maneira resumida, mas eficaz, um pouco de história e teoria da crítica ao urbanismo modernista na segunda metade do século XX.

***

Embora nunca tenha me dedicado ao tema, eu trago comigo há algum tempo a noção de que o urbanismo modernista é, ao contrário da sua arquitetura, um fracasso histórico, devido à evidente contradição entre o indivíduo e a vida urbana por ele idealizados e a potência autorreprodutiva da urbanização de mercado - que, gostemos ou não, constrói a cidade moderna e conduz a sua operação com a ajuda, não o comando, da mão amiga do Estado.

É precisamente por essa razão que, se concordo com a crítica de Jacobs & Alexander ao
 urbanismo modernista por oposição à dinâmica espacial dos centros metropolitanos dos EUA da década de 1960, também a considero defeituosa por absoluta falta de perspectiva histórica - a começar pelo fato de que, àquela altura, a maior parte da classe média estadunidense, que nunca ouvira falar de Ebenezer Howard, Le Corbusier e Patrick Geddes, já se encontrava voluntariamente segregada em seus baluartes unifamiliares suburbanos.
 
Num plano mais geral, vejo a “cidade diversa” de Jacobs como um recorte espaço-temporal bastante específico da metrópole contemporânea, inexoravelmente prisioneiro do desenvolvimento desigual e combinado da economia de mercado planetária. Já em fins do século XX se lhe opunham, de um lado, o crescimento imparável, principalmente nos países médios e pobres, mas também nas periferias metropolitanas europeias, de grandes manchas de pobreza intercaladas de concentrações do que Milton Santos chamou de “circuito inferior da economia"; de outro, a irreversível tendência ao encastelamento sócio-espacial dos novos abastados da riqueza financeira, aos quais Saskia Sassen, admiradora confessa das ideias de Jacobs, assim se referiu num artigo do ano de 2015:

“(..) hoje, ao invés de espaços de inclusão de pessoas de origens e culturas diversas, nossas cidades globalizadas estão expulsando as pessoas e a diversidade. Seus novos proprietários, muitas vezes habitantes de tempo parcial, são bastante internacionais - o que não significa que representam culturas e tradições diversas, mas sim a nova cultura global do sucesso. Eles são incrivelmente homogêneos, não importa quão diversos em termos de nacionalidade e idioma. Não são os cidadãos que nossas cidades grandes e diversificadas produziram historicamente. São, acima de tudo, cidadãos do “mundo corporativo” global.” (Sassen Saskia, “Who owns our cities - and why this urban takeover should concern us”. The Guardian online, 24-11-2015*)

______
* https://www.theguardian.com/cities/2015/nov/24/who-owns-our-cities-and-why-this-urban-takeover-should-concern-us-all

2023-08-25

quarta-feira, 18 de maio de 2022

MEC, marco cívico no.1 do Rio de Janeiro


Extra online 17-05-2022
https://extra.globo.com/noticias/rio/tombamento-do-palacio-capanema-impede-venda-25511580.html

Elegante e plebeu, combinação perfeita de edificação e praça pública em meio às sóbrias ruas-corredor da Esplanada do Castelo - expansão republicana do Centro do Rio de Janeiro planejada por Alfred Agache na década de 1920 -, o MEC (originalmente MES)*, oficialmente denominado Palácio Gustavo Capanema, é com certeza uma das mais belas e relevantes criações da arquitetura modernista em todo o planeta.

E considerando o papel de proa da arquitetura - como do futebol e da música - na construção da nacionalidade brasileira na cena global de meados do século XX, ouso dizer que o MEC, criação coletiva de Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernani Vasconcelos, Jorge Machado Moreira e Oscar Niemeyer, é o mais importante marco cívico edificado do Rio de Janeiro, à altura das Bachianas de Villa-Lobos e dos dribles de Mané Garrincha.

Em tempos de emergência climática e democrática, não importa o mérito jurídico da decisão: com ou sem razão, sua excelência está mais do que certa em tirar o MEC do alcance da metralhadora giratória de Bolsonaro-Guedes, ídolos de uma burguesia tão ignorante e mesquinha que é incapaz de reconhecer, que dirá compreender, valorizar e proteger, as raras façanhas históricas de seu regime social. 

Só não entendo o motivo pelo qual o Instituto dos Arquitetos do Brasil, muito especialmente a sua seção carioca, não esteja movendo uma ruidosa campanha internacional não simplesmente em defesa do MEC, mas por sua transformação em sede de alguma instituição à altura do seu valor: Museu Internacional da Arquitetura Modernista, Sub-sede da ONU na América Latina, Paço das ONGs do Brasil ou algo que o valha.

E ainda que o Programa Reviver Centro, da prefeitura do Rio de Janeiro, esteja compreensivelmente concentrado em atrair empreendimentos imobiliários residenciais para esta parte da cidade, não é admissível que a correta destinação e o pleno aproveitamento do MEC para uso e desfrute da cidadania não seja, a essa altura, o símbolo maior de sua revivescência como centro urbano.   

Clique na imagem para ampliar
___
* Ministério da Educação e Cultura / Saúde (1943). 

2022-05-18

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Arquitetura desenvolvimentista

Publicado na Vitruvius
Ano 21, ago. 2020, por Diogo Augusto Mondini Pereira

“O imaginário das estações rodoviárias modernistas nas décadas de 1960, 1970 e 1980 - Arquitetura como grande praça coberta” 

Rodoviária de Jaú, 1973, arquiteto Vilanova Artigas
“(..) Desde os primórdios da república um dos pilares desta pretensa modernização nacional foi a tentativa de implementação de um sistema rodoviário capaz de interligar o território nacional. Buscava-se, através da rodovia, romper com a condição de arquipélago agrário-exportador historicamente constituído no território nacional. Neste plano de modernização nacional composto também pela industrialização e urbanização, a estação rodoviária colocava-se como materialização espacial deste fenômeno nas cidades brasileiras.
Não parece, portanto, fortuita a decisão de Lucio Costa na implantação da Plataforma Rodoviária, “transformando o próprio centro geométrico da cidade em terminal local e interestadual; de certa maneira sendo Brasília a capital, é quase como se postulasse um centro do país”. Costa propunha mesclar a função do terminal rodoviário com a própria cidade, nas palavras do arquiteto a Plataforma deveria ser “o centro de diversões da cidade (mistura em termos adequados de Piccadilly Circus, Times Square e Champs Elysées)”.
Esta concepção urbana proposta por Lucio Costa se repetiria na construção das novas estações rodoviárias.” (Continua)

Sobre o tema “estações rodoviárias”, leia também neste blog
O Porto Maravilha, o trem-bala e o trambolho” (06-07-2011)

2020-08-21


domingo, 30 de setembro de 2018

Arquitetura madrilenha

Deu no El País / Guía del Ocio
01-10-2018, por Silvia Álvarez

Fascinantes edificios modernistas y ‘art déco’ de Madrid

Cine Barceló, Madri
Foto Silvia Álvarez/El País

CINE BARCELÓ 
El cine era el espectáculo moderno de la época y sus templos ocuparon una parte importante en el trabajo del ya conocido miembro de la Generación del 25, Gutiérrez Soto. El Barceló es su cuarta sala dedicada al séptimo arte, y él mismo la consideró como una de las más logradas de la arquitectura racionalista madrileña. En sintonía con las obras de Mendelsohn, destacan las franjas horizontales de su fachada que recuerda la iconografía naval. Su terraza también se diseñó para exhibir películas al aire libre. Pero la actividad cinematográfica y su interior se transformaron, dando paso ahora a una discoteca que, tras varias denominaciones, ha retomado la original y ahora se hace llamar Teatro Barceló.
El Cine Europa, la desaparecida piscina La Isla o el antiguo aeropuerto de Madrid fueron algunos otros proyectos suyos.
Fecha: 1930 Arquitecto: Luis Gutiérrez Soto Dirección: calle Barceló, 11. Madrid

Acesse a matéria completa pelo link


2018-09-30


terça-feira, 16 de maio de 2017

Modernismo classicista ou classicismo modernista?


Deu no The Guardian
14-05-2017, por Oliver Wainwright

Le Havre, a short break built on concrete chic
Le Havre is celebrating its 500th anniversary, but its architectural gems are modern masterpieces built from the ashes of war – and now a world heritage site
Avenida Foch, Le Havre
Fonte: The Guardian 

Few cities make you want to stroke their walls, but in Le Havre it’s hard to resist caressing the concrete. All but obliterated by allied bombing in the second world war, France’s second-largest port city was entirely rebuilt according to the meticulous vision of Auguste Perret, supreme master of liquid stone and tutor of Le Corbusier.
It is a place where concrete is treated with the care and attention usually given to fine timber panelling, where joints between columns and beams are expressed with the precision of carpentry, where surfaces are variously polished, bush-hammered, washed and brushed, creating tactile textures that range from gnarled rock face to lustrous velvet. Anyone yet to be convinced that concrete can be beautiful might find a weekend in Le Havre does the trick.
Centro Cultural Le Havre - Le Volcan (O Vulcão),
inaugurado em 1982. Projeto Oscar Niemeyer 
Celebrating its 500th anniversary this year, Le Havre is promoting itself as something of an architectural hotspot, home not only to Perret’s celebrated master plan, but also as home to one of the few European projects by the great Brazilian architect Oscar Niemeyer in the form of Le Volcan, a swooping white volcano-shaped theatre, nicknamed the “yoghurt pot”. There are a clutch of other recent buildings in the docklands too, including a fun swimming pool and spa, Les Bains des Docks, by Jean Nouvel (only skin-tight trunks or Speedos allowed), a brooding black wedge of a naval college, and some rather grim student flats in shipping containers – the usual mixed bag of waterfront regeneration, which only serves to throw the elegance of the town centre into relief.
As one of the few modern sites to be given Unesco status, the 130-hectare centre of Le Havre stands as a hymn to the mid 20th-century faith in modular construction and prefabrication. It is a serene place of broad avenues lined with slender colonnades of tapering columns, supporting finely proportioned blocks of apartments above, in shades of cream, terracotta and ochre. Look closely and you’ll spot the attention to detail, like the faceted geometric column capitals which vary from street to street, and the careful concrete panelling – echoing skirting boards, dado rails and wainscoting – that lines the buildings’ entrances. (Continua)

Acesse a matéria completa pelo link

Auguste Perret Wikipedia

2017-05-16