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domingo, 1 de junho de 2014

Transcarioca = T5 + 40

Os jornais deste domingo 1º de junho noticiam, com um compreensível misto de júbilo e desconfiança, a inauguração do Transcarioca, uma das novas linhas de "metrô de superfície" (dito BRT*) em construção no
Rio de Janeiro. 

(A desconfiança, neste caso, provém não da crítica do BRT, mas da certeza de que a sua inauguração no penúltimo domingo anterior à abertura da Copa do Mundo de futebol é mais uma fanfarronada oportunista de nossos governantes: o Transcarioca parece estar ainda longe de pronto e acabado para uma operação adequada).

Visto em perspectiva histórica, o Transcarioca é a fusão do conceito do “Corredor T5” - postulado e difundido, ainda na década de 1970, por uma equipe de urbanistas da extinta Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro liderada pelo arquiteto Milton Bastos como peça chave da macroestrutura físico-urbanística da RMRJ - com o conceito de “metrô de superfície” desenvolvido pelos urbanistas e engenheiros de transporte de Curitiba, mais ou menos a partir dessa mesma década, sob a liderança do também urbanista Jaime Lerner, como alternativa de baixo custo ao Metrô como meio de transporte “vertebrador” de média-alta capacidade. 

A boa notícia, neste caso, é que o sistema de transportes da cidade e da região metropolitana do Rio de Janeiro passa a ter a sua primeira ligação transversal, vale dizer que já pode, ao menos nos planos conceitual e físico, ser definido como uma “rede”. Para qualquer política séria de transporte municipal e metropolitano, a existência de um sistema estrutural em “rede” é um ponto de partida indispensável. Estranha, ou sintomaticamente, não se encontra na Internet nem no site Cidade Olímpica um único grafismo mostrando a inter- relação espacial do Transcarioca  com os trens de subúrbio e a linha 2 do Metrô. (O esquema acima foi improvisado pelo blogueiro). E assim chegamos à má notícia.

A má notícia é que, atrasado 40 anos e parido, finalmente, como "legado olímpico", do ventre de uma cultura de gestão privada dos transportes públicos que privilegia a eficiência comercial de cada linha em particular sobre a eficácia e eficiência relativa do sistema como um todo, o BRT é até hoje, o dia da sua inauguração, uma grande incógnita – em termos tanto da integração operacional e tarifária com o restante do sistema (se é que isso existe, no sentido moderno do termo, em nossa cidade) quanto de seus efeitos sobre a estrutura urbana do Rio de Janeiro e seus impactos urbanístico-ambientais nas regiões servidas.

Eu não estranharia se me dissessem que as únicas coisas de que se tem certeza é que ele poderá ser usado por turistas e representantes comerciais pouco abonados chegados ao Aeroporto Internacional e pelos trabalhadores da Zona Norte e periferia metropolitana que prestam serviços em Jacarepaguá e Barra da Tijuca – em especial nos novíssimos condomínios comerciais e residenciais da Avenida Abelardo Bueno, imediatamente servidos, cujos incorporadores não pagaram, como sempre no governo Paes e em quase todos os outros, um único centavo pela vantagem obtida.


Reconhecendo não estar suficientemente informado sobre o Transcarioca para ir além dessas brevíssimas observações, o que de melhor posso oferecer nesta oportunidade é a republicação da postagem “O Planejamento Olímpico e a Revolução dos Transportes”. O leitor pode acessá-la clicando no link abaixo.
Ressalvado o fato de que ter razão pode ser, às vezes, perversamente gratificante no plano pessoal, eu declaro, para todos os efeitos relativos à imagem pública deste blog, que gostaria de ver desmentidas pelos fatos as análises e augúrios contidos nesse artigo, escrito em abril de 2012. http://abeiradourbanismo.blogspot.com.br/2012/04/o-laboratorio-de-planejamento-urbano-do.html   

Boa leitura.


2014-06-01 

terça-feira, 8 de maio de 2012

Vou mudar de professor

Deu no Lancenet 
05-05-2012
Fim do Autódromo do Rio de Janeiro está mais próximo
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, eliminou o último entrave jurídico para o fechamento e derrubada do Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Jacarepaguá, ao assinar um decreto que permite o uso da área para fins comerciais. Até ontem, o terreno de um milhão e duzentos mil metros quadrados só poderia ser utilizado para abrigar um circuito. 
No decreto n 35.551, publicado ontem no Diário Oficial, a prefeitura do Rio promove, juridicamente, a desafetação do autódromo. Isso significa que, a partir desse momento, o terreno do Nelson Piquet pode ser usado para, por exemplo, empreendimentos imobiliários.  (...)

Peço vênia aos meus amados gurus para mudar de professor. Gestão da valorização da terra urbana é, indiscutivelmente, com o Paes! A mesma terra que valia dezenas de milhões pelo uso “autódromo”, agora valerá centenas, talvez milhares, de milhões pelo uso “apartamentódromo”. Adivinhem quem vai embolsar a parte do leão? 

Eu tiro o meu blog da rede e vou criar galinha em Lumiar se a valorização do solo do autódromo for 100% recuperada pela Prefeitura  do Rio de Janeiro para, dentre outras coisas, pagar moradia bem urbanizada e localizada para os desalojados das obras olímpicas.

Em tempo: a desafetação de bem de uso especial do povo  (ou será apenas "bem de uso especial"?) não pode, que eu saiba, ser feita por decreto. Os vereadores têm de aprovar! Se liga, MP!

$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ Delícia.. Ai se eu te pego!


PS político-urbanístico:
Assim funciona o presidencialismo em geral e o carioca em particular: enquanto o legislativo encena o espetáculo da democracia, o executivo decide napoleonicamente 99% de tudo o que lhe interessa. Não admira que o Plano Diretor da cidade passe, autisticamente, a anos-luz de distância da "revolução olímpica": o prefeito da cidade não se sente minimamente obrigado a consultá-lo para gastar bilhões em obras públicas que convêm ao negócio olímpico tampouco é constrangido a propor, na forma de emendas ao PD, ou mesmo de um novo PD, o plano de cidade que sua "revolução" supõe, ou implica. Tornarei ao assunto.