Mostrando postagens com marcador Copa do Mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Copa do Mundo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 11 de março de 2019

Porto Maravilha: a solução final

Folha de S Paulo 06-03-2019, por Elio Gaspari

Crivella quer o Porto Jogatina
Venetian Macao Resort Hotel, 
propriedade do bilionário estadunidense
Sheldon Adelson


Num mesmo dia, o prefeito Marcelo Crivella disse que "o Rio de Janeiro é o epicentro da corrupção" e anunciou um futuro radiante para o projeto do Porto Maravilha. Prometeu R$ 10 bilhões em investimentos com a construção de duas torres de hotéis, um centro de convenções e... um cassino.

O prefeito do "epicentro da corrupção" defende a legalização da jogatina para salvar um projeto megalomaníaco atolado na zona portuária da cidade. (..)

O prefeito não joga, não fuma, não bebe e sabe que está apenas criando uma nova miragem para uma cidade ludibriada por fantasias como as da Copa do Mundo e da Olimpíada. (..)

No mundo real, a única pessoa tenuemente interessada nas torres e no cassino prometidos por Crivella é o bilionário americano Sheldon Adelson, que tem complexos de turismo e jogo em Las Vegas, Macau e Singapura. Ele começou a trabalhar aos 12 anos (tem 85) e já juntou US$ 33,3 bilhões (R$ 125,7 bilhões). (..) Dele viriam os R$ 10 bilhões imaginados por Crivella. 

O Porto Maravilha de Eduardo Paes atolou porque era um projeto demófobo. O Rio da zona portuária nunca poderia ter sido o que é o Puerto Madero argentino, como a Barra da Tijuca nunca será uma Miami. Aquela área está num bairro popular e centenário. Quem quiser conferir, que ande pelas ruas da Gamboa e de São Cristóvão. A megalomania imobiliária encalhou porque foram poucos os interessados em levar suas empresas para lá. Ali, o povo do Rio sempre viveu em casas modestas. Miami é em outro lugar.

2019-03-11

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A cidade dos sonhos

Esta é Doha, capital do Catar. Qualquer semelhança com algum, ou vários, dos Grandes Projetos Urbanos contemporâneos, ou com fragmentos deles, não é pura figuração nem mera coincidência.


Clique na imagem para ampliar ou faça ainda melhor:clique no link  

Eu não a conheço, devo admitir. Dizem que é uma cidade. Acredito até que em algum lugar das redondezas deva existir uma cidade. Mas o que aparece ao mundo é um mostruário de centros de negócios e hotéis de luxo verticais dentro de um circuito de Fórmula 1. Os paddocks, ao centro, não me deixam mentir.

Doha é, provavelmente, o paradigma do Grande Projeto Urbano da finança globalizada. Aquilo que todo, ou quase todo, GUP de nossa época gostaria de ser.

O Catar, seguramente, é o país que todo financista gostaria de chamar de seu: um emirado absolutista hereditário comandado pela Casa de Thani desde meados do século 19, com status de protetorado britânico até a independência em 1971 e, desde então, um dos Estados mais ricos da região devido às receitas do petróleo e do gás natural.

A população estimada é de 1,9 milhão de habitantes, dos quais apenas 250 mil nativos cataris. Os demais são trabalhadores de origem estrangeira, especialmente indianos (24%), nepaleses (16%), árabes (13%), filipinos (11%) "bangladeshis" (5%), paquistaneses (4%), "srilankis" (2%) e outros (7%). 

A proporção da população por sexo é: 75,6% masculina e 24,4% feminina - o que talvez explique a atraente - e bota atraente nisso! - arquitetura da futura "Arena Al Wakrah".

Arena Al Wakrah
A renda per capita do país pelo critério PPC (Paridade do Poder de Compra) é de cerca de 88,2 mil dólares, simplesmente a maior do mundo. (A do Brasil é 11,8 mil e a dos EUA 48,1 mil.) 

As posições mais importantes do Estado são ocupadas por membros ou grupos próximos da família al-Thani. Não há partidos políticos, legislativo nem imposto de renda. A terra, eu não sei a quem pertence. Mas - convenhamos - não há muitas opções.

A Copa do Mundo de 2022 vai ser realizada nesta colônia à beira do extraterreno onde, segundo notícias recentes, 1 trabalhador imigrante "empregado" na construção de seus estádios, infraestrutura e equipamentos morre diariamente devido às condições desumanas de trabalho. 

Continuo a meditar nas razões pelas quais a África do Sul, o Brasil, a Rússia e o Catar foram escolhidos, sucessivamente, para sediar a Copa do Mundo da FIFA. 

Continuo a meditar, também, nas razões pelas quais muitos arquitetos e urbanistas, mesmo passados os anos sombrios em que qualquer edifício que brotasse em nossas cidades parecia melhor do que o solo estorricado da recessão econômica, ainda sonham com essa Ilha da Fantasia.  

2013-12-14

_____
Legendas das fotos [Sorin Furcoi/Al Jazeera] de um estudo publicado naquele jornal online em 11-11-2013:

http://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/2013/11/pictures-qatar-construction-workers-2013119134756837268.html
  • Qatar's wealth has led the country to rapidly develop.
  • Qatar is undertaking ambitious development projects as it gears up to host the FIFA World Cup in 2022.  
  • Qatar has the highest percentage of migrant workers in the world. Eighty-eight percent of people living in the Gulf state are citizens of other countries.
  • The vast majority of Qatar's migrant workers come from South and East Asia.
  • Migrant labourers' contracts often differ significantly from what they were promised when they were recruited in their home countries.
  • Employers often confiscate their workers' passports, despite a 2009 law forbidding them to do so.  
  • Many labourers work 12-hour shifts, with one day off per week. 
  • Temperatures regularly reach above 40 degrees during the summer months, making manual labour an often gruelling process. 
  • Some workers are housed in cramped living quarters, with as many as a dozen men sharing a single room. 
  • A lack of safety equipment is a major issue for construction workers.
  • Francois Crepeau, the UN Special Rapporteur on the Human Rights of Migrants, said Qatar's labour laws "still lack implementation on the ground".
  • Crepeau called for the establishment of a minimum wage, a more robust labour inspection system, and the abolishment of the kafala system, which binds migrant workers to a single employer.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Privataria aliada não dói

Deu n`O Globo online 11-04-2013, por Carolina Oliveira Castro  
http://oglobo.globo.com/esportes/dois-consorcios-disputam-licitacao-para-privatizacao-do-maracana-8085772#ixzz2QCEFOz5o
Dois consórcios disputam licitação para privatização do Maracanã 
De um lado, IMX, de Eike Batista, e Odebrecht juntos. De outro lado, OAS e empresas da Holanda e da França. Vencedor da licitação vai gerir complexo esportivo por 35 anos

E, do lado de cá, os idiotas que pagaram para reconstruir o estádio pela segunda  vez em 10 anos, e que o encamparão daqui a outros 10, quando o negócio deixar de ser interessante. 

Há quem chame isso de "economia de mercado". Eu não vejo mercado algum. Vejo duas sociedades financeiras transnacionais associadas a empreiteiras nominalmente nacionais num negócio de exploração de direitos sobre terras, bens e equipamentos pilhados ao patrimônio público brasileiro - com a participação direta do governo estadual, a cumplicidade do municipal e o beneplácito (patrocínio? conivência amiga? distanciamento hipócrita?) do federal.   

Agora, cá entre nós, leitor: você acredita que são, de fato, dois consórcios ou desconfia, como eu, que é um só convenientemente dividido em dois?

PS: Só de olhar para essa cobertura, eu antevejo muitos milhões mais sendo gastos em "reparos" num futuro bem próximo. Duvido mesmo que ela chegue incólume aos Jogos Olímpicos de 2016.    

2013-04-11

sexta-feira, 5 de abril de 2013

G.R.E.S Império das Empreiteiras: "Pão, Circo e Gastança - Prodígios da Gestão Privada dos Recursos Públicos"

Deu n'O Globo online 05-04-2013
http://oglobo.globo.com/
Novo Maracanã já tem cara de estádio

Deu no espn.com.br 05-04-2013 por Por Gabriela Moreira
http://www.espn.com.br/noticia/320968_reformado-para-a-copa-por-r-1-bilhao-maracana-precisara-ser-reformado-para-olimpiada
Copa do Mundo FIFA
Reformado para a Copa por R$ 1 bilhão, Maracanã precisará de novos reparos para Olimpíada
Ofícios enviados pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 ao governo do Estado do Rio revelam que o Maracanã que está sendo reformado para a Copa do Mundo, ao custo de R$ 1 bilhão, não atende a exigências da Olimpíada. Ao todo, de acordo com os documentos aos quais o ESPN.com.br teve acesso, o Rio 2016 pediu a alteração de 39 pontos, entre modificações nas obras e mudanças na licitação. A maior parte, no entanto, não foi contemplada no edital cujo vencedor será conhecido na próxima semana.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O urbanismo está de férias II

A white elephant in 19th century Thai mural painting
"Perdemos a chance de desenvolver cidades para investir dinheiro em estádios"
Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, responsável pela construção da Arena do Grêmio, comentando a intenção da CBF de obrigar os times da Série A do Brasileiro a jogar em futuros estádios que ficarão subutilizados após a Copa do Mundo de 2014.
Fonte: Lancenet, 05-12-2012, por Igor Siqueira http://www.lancenet.com.br/minuto/Clubes-intencao-CBF-Serie-elefantes_0_822517927.html#ixzz2EBGFhqHX


Veja  também, em Uma estranha e gigantesca ave sobre Barcelona: 

"No caminho dos elefantes"


"Copa e Olimpíada: política anti-crise, de desenvolvimento ou de prestígio?"

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Se a memória não me falha e se a vista não me pisca, era tudo pra ser feito com dinheiro do Batista!

Deu no Destak SP 04-05-2012
Custo inicial com estádios triplica e vai a R$ 6,9 bilhões
Se bem me lembro, primeiro vieram as indefectíveis declarações dos interessados diretos de que seria tudo feito com dinheiro privado, ante o silêncio conivente das autoridades federais, estaduais e municipais, todas perfeitamente conscientes de que tal promessa não passava de uma conveniente mentira - como no Pan2007.

Todavia, um aspecto incontornável da política de gastos públicos (se não é política é o que?) com a Copa do Mundo e as Olimpíadas é deixarem-se de lado, ou postergarem-se, projetos alternativos. A propósito, vale refletir sobre  a notícia, publicada n'O Globo há algum tempo, de que o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro está quatro anos atrasado e terá o dobro do preço - de 536 milhões para mais de 1 bilhão! [*]

O trade off governamental entre  infraestruturas críticas e estádios de retorno duvidoso é um  interessante tema para um futuro desdobramento do artigo “Copa e Olimpíada: política anti-crise, de desenvolvimento ou de prestígio?”
postado em Uma estranha e gigantesca ave sobre Barcelona em 09-10-2011. 

O leitor pode acessá-lo pelo link

2012-05-25


terça-feira, 10 de abril de 2012

Legado olímpico é a alegre empulhação das sociedades emergentes

Deu no Destak SP

Montagem: Àbeiradourbanismo
Sem uso, Ninho de Pássaro acumula prejuízo

“Quatro anos após os Jogos, o Ninho de Pássaro sofre com a falta de uso. Sem futebol e atletismo, o estádio já abrigou até rodeio e um parque temático de inverno. O governo [chinês] calcula que vai precisar de 30 anos para recuperar o investimento de R$ 1bilhão”


Muito já se falou sobre o legado da olimpíada de Atenas, que, fora os estádios vazios e as instalações sucateadas, deu uma substancial contribuição para a bancarrota do país, sob os auspícios da UE e seus bancos, principalmente franceses. Agradecidos pela generosidade dos banqueiros e clarividência dos governantes, os trabalhadores gregos vão pagar [quase tudo] com cortes voluntários em seus próprios empregos e salários e comemorar um ano inteiro com desfiles e fogueiras por toda Atenas.

Muito se tem falado também sobre o legado da Copa do Mundo da África do Sul: mais estádios vazios, instalações sucateadas e uma imensa dívida que, se não parece suficiente para uma passagem até o Hades grego, certamente contribuirá para aprofundar o apartheid sócio-econômico em que ainda se arrasta o país. Mas que importa, diria Bush, se nos bantustões já se pode até votar? 

Agora é a vez de Pequim, literalmente, “abrir o bico”. Se o que diz a matéria acima for verdade, a situação nem é tão ruim. Afinal, 30 anos para recuperar um investimento de 1 bilhão de reais parece até aceitável num horizonte de projeto público. Resta saber se um estádio de futebol poderá, de fato, retornar um investimento de R$ 1 bilhão com rodeios e parques temáticos sazonais. É melhor, nesse caso, os chineses acrescentarem Neymar e Michel Teló à sua pauta de importações brasileiras.

Um bilhão de reais é, também, quanto vai custar (fora os aditivos) a demolição-reconstrução do Maracanã. E para sermos minimamente honestos com a contabilidade pública, teríamos de agregar a essa conta o custo da reforma para o Pan-Americano de 2007 – devidamente transformada em pó. 

Tudo bem. Ninguém fará mesmo essa conta e, no final, Eike, o Grande, futuro concessionário do Brasil, poderá explorar à vontade o fabuloso legado olímpico e copal multi-uso, novinho em folha, oferecendo ao público rendosos espetáculos de rodeio, missas campais, ex-roqueiros em atividade, cultos evangélicos, campeonatos de curling e patinação no gelo, Galvão UFC Bueno e até comícios de Primeiro de Maio – porque não? –, além de futebol, é claro - sem ter investido um único tostão.

$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$. 

Delícia... delícia... Ai, se eu te pego!

2012-04-10

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Raeder, Sávio: "Grandes eventos esportivos no contexto brasileiro: elementos iniciais para o debate sobre impactos e legados urbanos decorrentes de Jogos"

Atendendo generosamente a um pedido meu, o geógrafo Sávio Raeder, estudioso dos impactos dos grandes eventos urbanos da indústria do entretenimento sobre as cidades, envia ao blog um breve texto sobre o tema, cuja leitura recomendo.

O ANO DE 2007 é marcante na história brasileira com 3 acontecimentos significativos no campo dos esportes: (1) a realização do Jogos Pan-americanos na Cidade do Rio de Janeiro, (2) a vitória da candidatura brasileira como sede da Copa Mundial de Futebol Masculino em 2014 e (3) a candidatura carioca aos Jogos Olímpicos de 2016. Cabe uma análise cuidadosa sobre cada um destes ocorridos que observados em conjunto denotam o grande esforço nacional em promover os maiores espetáculos esportivos do planeta. São 3 espetáculos que se encontram em 3 fases distintas de sua organização e que por isso podem ilustrar as sucessivas etapas de conformação dos grandes eventos esportivos (GEEs).
Neste breve apontamento que tem por fito introduzir alguns elementos sobre o processo de conformação dos GEEs, se abordará as sucessivas fases que compõem estes eventos. Trata-se de um escrito introdutório que pretende servir de base para um debate mais longo que se pretende desenvolver a partir de outros textos de discussão em torno do urbanismo promovido em função dos eventos esportivos, fenômeno que na Cidade do Rio de Janeiro encontra sua maior expressão. Sobretudo importa na proposta deste debate, reconhecer a materialidade da dimensão urbana dos impactos e dos legados destes GEEs que se conformam em grandes projetos urbanos dada a sua complexidade espaço-temporal. O presente texto abre a discussão a partir de um recurso analítico formulado por Brunet (1997 e 2003) que será articulado com o calendário de GEEs brasileiro, que foi pontuado acima. 
A figura abaixo elaborada por Brunet, esboça a conformação do evento olímpico a partir de sucessivas etapas que remetem a uma dimensão temporal que se inicia com a organização dos Jogos. (O autor limita seu recurso analítico aos Jogos Olímpicos, contudo ele é perfeitamente aplicável às versões regionais destes, como é o caso dos Jogos Pan-americanos, como também à Copa do Mundo.) Seu esquema ilustrado é bastante didático no sentido de representar, por meio dos volumes dos círculos, o aumento de recursos materiais e imateriais que irão compor o evento esportivo. Tudo começa com algumas pessoas, e instituições que elas representam, se mobilizando para sediar os Jogos. Esta etapa pode ser dividida em duas considerando que há um período de preparação para a candidatura do GEE e outro que se inicia com o anúncio da vitória da cidade candidata a sediar os Jogos. Já naquele primeiro período os atores envolvidos na organização podem se movimentar com tal intensidade que operações urbanas podem ser realizadas, como a desapropriação de terras para a construção de equipamentos que poderiam vir a ser utilizados em caso de vitória.



Nesta fase preliminar de organização dos Jogos, já se pode reconhecer grande parte das intencionalidades de transformação do espaço urbano pelos agentes envolvidos. Trata-se de uma etapa significativa pois nela são formulados os planos de intervenção urbana que se pretende concretizar para viabilizar a realização dos Jogos. Ainda que haja certa publicidade nesta etapa, demonstrando as intenções dos atores públicos em sediar o megaevento, a discussão sobre a alocação dos recursos públicos na Cidade é limitada.
No esquema ilustrado acima, esta fase aparece pequena mas ela é o próprio coração do que será o legado urbano já que muitas das decisões locacionais serão mantidas ainda que nem todas possam ser de fato executadas. Entre estas decisões com riscos de execução encontram-se aquelas relacionadas com as infra-estruturas de transporte, algumas destas estruturas podem ter sido delineadas de maneira ambiciosa demais para os recursos que os atores virão a dispor na fase seguinte, a de investimentos. As intencionalidades dos atores que protagonizam a luta por sediar um grande evento esportivo, são documentadas no caderno de encargos (candidate city bid dossier) apresentado ao comitê esportivo responsável pela organização do evento.
Pode-se situar a candidatura carioca aos Jogos Olímpicos de 2016 justamente nesta fase embrionária que findará em 2009 quando será anunciada a cidade vitoriosa para sediar o megaevento. Desta forma, está em gestação o caderno de encargos que definirá quais os locais da Cidade que deverão ser contemplados com os vultosos investimentos que viabilizarão o evento. Apesar da pouca atenção dada a esta etapa, ela deve ser vista como a mais importante de todas já que ela pode definir toda uma agenda urbana por um período de quase uma década, definindo quais as áreas prioritárias de desenvolvimento da Cidade. O caderno de encargos é um documento basilar na organização dos Jogos que revela tanto os processos decisórios envolvidos nas pretensas alocações de investimentos, como as intenções de transformação territorial a partir da escolha da cidade como sede dos jogos.
Percebe-se que cada círculo é desdobramento de um outro que apresenta uma dimensão delimitada pela sua fronteira, mas ressalta-se que o círculo menor não se esgota até que o evento seja totalmente realizado, e deixe como permanência o legado. Neste sentido, a organização perdura até o final dos Jogos orientando os investimentos, a captação dos recursos para proporcioná-los e ordenando os impactos produzidos antes e durante os Jogos. É a alocação dos investimentos em bens materiais e imateriais que irá definir os impactos dos Jogos, a sua extensão em tempo e espaço. Tais impactos têm um prazo determinado que é o da realização dos Jogos em si, podendo produzir efeitos em diversas dimensões da vida social com a geração de mais empregos, de maior renda, de maior visibilidade para a cidade sede, de retirada de famílias de suas moradias, de valorização de áreas etc. A produção destes impactos terá uma relação direta com a própria conformação do legado, sendo esta sim a única fase que extrapola a temporalidade dos Jogos, e se consolida como permanência tangível ou mesmo intangível no território. 
Observa-se que o anúncio da Copa de 2014 promoveu justamente uma transição do círculo de organização para o círculo de investimentos, fenômeno que se torna mais evidente com as disputas estaduais em sediar partidas desde evento. Há uma distinção muito clara entre a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, que é a de que nestes últimos há uma concentração espacial, e também uma diversidade maior, dos equipamentos esportivos. Enquanto que nas Olimpíadas o evento se concentra em uma única cidade, na Copa os Jogos ocorrem em diversas cidades de, geralmente, um mesmo país. Trata-se de um fato que não deve ser desprezado nas análises dos GEEs, uma vez que os Jogos Olímpicos e suas versões regionais terão impactos e legados urbanos muito mais significativos do que o referido evento futebolístico. De qualquer forma, são também volumosos tanto os investimentos como a visibilidade que a Copa proporciona para as cidades, sendo a acirrada competição por sediar partidas um claro sinal da importância que o evento assume. 
Já os recém concluídos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, estes se encontram já na fase do legado uma vez que todas as fases anteriores já foram finalizadas sendo a última a dos impactos que corresponde ao período de realização do evento propriamente dito. Este legado está diretamente relacionado com as etapas anteriores, não se restringindo a elas e podendo ainda ocorrer a geração de ações que não haviam sido previstas mas que se considerou adequada ao desenvolvimento urbano pelos atores hegemônicos. Considerando a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre este tema específico, ele será abordado em sua dimensão urbanística no próximo texto de discussão. Buscou-se nestes breves apontamentos situar o leitor no contexto brasileiro de valorização da agenda de GEEs, como também oferecer uma caracterização das sucessivas etapas que compõem tais eventos.

Bibliografia

BRUNET, Ferran. The economic impacts of the Olympic Games. In: BRUNET, Ferran; CARRARD, François; CORRAND, Jean-Albert (orgs.). The Centennial President. Lausanne: International Olympic Committee, 1997. p. 1-10.______. Anàlisi de l’impacte econòmic dels Jocs Olímpics de Barcelona, 1986-2004. In: MORAGAS, Miquel; BOTELLA, Miquel (orgs.) Barcelona: l’herència dels Jocs (1992-2002), Barcelona: Centre d'Estudis Olímpics i de l'Esport - Editorial Planeta, 2003. p. 245-274.