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sábado, 30 de janeiro de 2021

Apontamentos: Richardson 1969 e a estrutura espacial urbana

RICHARDSON Harry W (1969), "A estrutura espacial urbana" (Capítulo 6), Economia Regional. Zahar, Rio de Janeiro 1975, pp. 127-160.
https://docs.google.com/document/d/1tVEkaG0bwuKXIR8eAJT6eVB3ajvNioCtQAoLw97Py-w/edit?usp=sharing


O texto que aqui disponibilizo é um extrato do Capítulo 6 de RICHARDSON, 1969, Economia Regional, intitulado “A Estrutura Espacial Urbana”.

Embora construído desde uma perspectiva especializada, focada no progresso teórico dos modelos “de equilíbrio” e seus respectivos graus de “operacionalidade”, o capítulo fornece a qualquer estudioso do tema um ótimo sumário comentado dos princípios econômicos da organização espacial urbana. 

O capítulo é concluído com uma resenha dos modelos clássicos da sociologia e geografia urbana de Chicago, que, embora me pareça turvada pelo viés economicista e a-histórico do autor, não deixa de ser uma relevante abordagem da época heróica dessa área do conhecimento urbanístico. Como diz o próprio Richardson no parágrafo de abertura:

“Não se pode esperar que os economistas forneçam todas as respostas a um problema que, na realidade, exige uma análise interdisciplinar.”

Por motivos de ordem prática, excluí todos os parágrafos e passagens contendo equações, gráficos e respectivas análises. O termo [sic] assinala passagens pouco compreensíveis e erros de revisão do original. As notas faltantes na série correspondem às partes omitidas deste extrato. 

*

Capítulo 6
A estrutura espacial urbana

Neste capítulo estamos interessados na teoria econômica das estruturas espaciais urbanas. Assim, temos que examinar como a organização espacial das cidades e vilas é determinada pelas forças econômicas. Sua influência é mostrada mais claramente no conflito entre a minimização dos custos e o desejo de acessibilidade. É preciso considerar, entretanto, que para uma compreensão completa da estrutura das cidades modernas devemos relaxar as hipóteses de mercado livre e tomar explicitamente em conta o planejamento urbano e as decisões do poder público. Não se pode esperar que os economistas forneçam todas as respostas a um problema que, na realidade, exige uma análise interdisciplinar.

1 A hipótese de minimização dos custos de atrito

Dos diversos princípios sugeridos no sentido de dar ordem e regularidade à estrutura espacial urbana, a minimização dos custos de atrito é um dos que vem sendo sustentado há mais tempo e, provavelmente, o que recebeu a maior atenção. Sua primeira formulação definitiva foi feita por R. M. Haig na década de 1920, mas entre seus seguidores encontramos também Dorau e Hinman, Ely e Werhwein, Ratcliff e, mais recentemente e sob forma bastante modificada, Guttemberg. [1] O elemento básico da teoria é que a organização da cidade reflete as tentativas de moradores e firmas para evitar o "atrito espacial". Os custos de transportes são o componente óbvio dos custos de atrito. O transporte é um meio de superar o atrito espacial, e, quanto mais eficiente a rede de transporte, tanto menores serão os custos de transporte e tanto menor será o atrito. Entretanto, o aluguel também se inclui nos custos de atrito. Isso ocorre porque, ao proporcionar acessibilidade, está proporcionando redução dos custos de transportes. Haig, aqui, retoma uma concepção bem mais antiga formulada por R. M. Hurd no início do século e implícita na análise de Von Thünen quando este antecipou a extensão de seu modelo agrário a um contexto urbano. [2] Hurd sugeriu que o valor da terra depende da proximidade, ao passo que Von Thünen afirmava que o aluguel aumentava nas proximidades do centro da cidade porque a maior conveniência dessa localização economizava mão-de-obra e tempo. Assim, o “custo de atrito” se compõe de custos de transporte e aluguéis pagos (considerados como custos negativos de transporte). A contribuição de Haig consistiu em relacionar esses dois elementos. Entretanto, a soma dos dois itens não é considerada como uma constante. [3] Pelo contrário, ele varia de acordo com o local em questão. Teoricamente, o local ótimo para uma atividade qualquer é o que oferece o grau desejado de acessibilidade ao menor custo possível de atrito. Ao que se afirma, o traçado da cidade é determinado por esse princípio. Assim, em condições de concorrência e com perfeito conhecimento, o mercado da terra urbana, ao que se supõe, opera de modo que o valor agregado dos aluguéis dos terrenos existentes e dos custos de transporte para a cidade com um todo, são mínimos. Formulações posteriores sugerem que entre os custos a serem minimizados também se inclui a desutilidade de viajar. Essa sofisticação torna a hipótese mais realista, mas a debilita do ponto de vista de sua capacidade operacional, em grande parte devido aos problemas decorrentes da dificuldade de atribuição de um valor monetário à desutilidade. 
(Continua)

Acesse a íntegra desse extrato pelo link

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Apontamentos: Isard 1956 - a estrutura urbana

ISARD W, Location and Space-Economy - A General Theory Relating to Industrial Location, Market Areas, Land Use, Trade, and Urban Structure. Cambridge, MA: MIT Press 1956.
http://www.economia.unam.mx/cedrus/descargas/locationspaceeco00isar%20(1).pdf



Texto clássico de economia espacial. 

Contudo, apesar do subtítulo A General Theory Relating to Industrial Location, Market Areas, Land Use, Trade, and Urban Structure, as generalizações do autor sobre a estrutura urbana têm de ser pacientemente garimpadas dentro do texto. As breves passagens aqui introduzidas são dois exemplos.

A estrutura urbana básica de Isard não difere em conteúdo das de HURD 1903 e BURGESS 1925. Como eles, Isard parte do princípio da expansão radial a partir do centro. Tal como nos modelos econômicos monocêntricos de Wingo e Alonso, o centro de Isard é dado, concentra os empregos e o preço da terra decresce com a distância conforme a capacidade de oferta de renda da demanda. A diferença é que em Isard ele tem a faculdade de se “desdobrar” a certa altura dos eixos radiais de expansão, formando a cidade policêntrica.

A julgar por Isard, a policentralidade de toda grande cidade não é uma crítica relevante aos modelos monocêntricos da economia espacial: o centro principal se desdobra em subcentros e seus respectivos gradientes de preço / aluguel se interpenetram; aumenta a complexidade, multiplicam-se as singularidades (shopping centers, p. ex.), mas não muda o fundamento: o preço / aluguel decresce com a distância aos focos de interesse da demanda por localizações.

A questão que me parece pendente é: qual princípio, ou combinação de princípios, governa a ocorrência simultânea da distribuição radial-concêntrica das residências e do agrupamento central dos negócios?

Burgess, que era sociólogo, intuindo talvez que o “centro” a partir do qual se dá a expansão periférica supõe a própria periferia, formulou em 1925, tendo em vista a Chicago metropolitana, o conceito de “descentralização centralizada”, que pode ser interpretado como: “na sociedade moderna, centro e periferia são as duas faces de uma mesma moeda, ou manifestações complementares do mesmo processo."

Não sei se algum modelo econômico se propõe a dar conta dessa hipótese.

Por isso me pergunto: seria razoável supor, tendo em mente a "descentralização centralizada" de Burgess, um modelo espacial em que a distribuição radial-concêntrica das residências e o agrupamento central dos negócios apareçam como reciprocamente determinados?

*

“(..) [The] spatial physiognomy of the urban-metropolitan region is a primary concern. Intensity of land use is a function of, among other factors, distance from the core. At the core the pyramiding of activities attains a maximum maximorum. With movement away along radials in all directions the intensity of land use diminishes, but differentially in the various directions. Moreover, the rate at which this intensity falls in any direction changes with distance. In addition, after a point along many of the radials, the intensity reaches a relative minimum, reverses its trend by creeping upward, and attains a relative maximum, only to decline again and perhaps to repeat this undulatory performance. Along a few of the radials, generally the strategic ones along which the rate of decline from the core is among the least for all radials, relative maxima for the entire metropolitan region are realized. These latter represent subfoci from which, for some distance at least, intensity falls off in all directions. The strategic radials also exercise a degree of dominance to the extent that, in directions perpendicular to their course, intensity decreases. 

In short, an urban-metropolitan region comes to comprise an hierarchy of strategic nodal sites, classifiable by order and degree of dominance. This multinucleated body is, viewed from another angle, a network of transport interconnections and hence of interstitial areas each subject to hierarchical order. (..)” [ISARD 1956 p. 11]

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“(..) The businessman interested in producing the commodity or service corresponding to use A also considers other sites as potential locations. Given the same set of values for advertising outlays, price mark-up, quality of product, and other relevant factors, he anticipates for each possible site a dollar volume of sales. (..) In general, it is to be expected that dollar volume of sales falls off with effective distance from the core although at times it rises to secondary peaks only to decline again. [39] (..)

[39] Where the urban structural pattern is set and relatively inflexible, these secondary peaks can be readily ascertained. They appear at those effective distances which separate secondary and satellite commercial and shopping centers from the core. In contrast, where the urban structural pattern is extremely fluid and largely to be determined, it is difficult to identify the effective distances from the core at which secondary peaks occur. Since secondary peaks reflect the juxtaposition of complementary activities and since in this latter setting the spatial configurations of all economic activities including transportation patterns are interdependent, only a general equilibrium (simultaneous equations) approach, which takes into account all aspects of complementarity and competition, yields the effective distances at which secondary peaks occur.” [ISARD 1956 p. 201]

2021-01-18