Mostrando postagens com marcador concentração da propriedade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador concentração da propriedade. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Vitalidade dos grandes centros: o dilema


Financial Times 10-10-2023
https://www.ft.com/content/698f41af-0d88-424b-80b0-241be01dac35

O relativo esvaziamento dos escritórios centrais das grandes metrópoles segue sendo tema recorrente na imprensa de negócios 
do mundo norte-atlântico.

Embora a Covid e o trabalho remoto sejam os culpados preferenciais, a situação não seria tão aflitiva se a economia global estivesse numa trajetória de crescimento sustentado, ainda que “por baixo”, e minimamente distribuído.

Transparece mais ou menos claramente nessas matérias já não digo a apreensão dos proprietários de imóveis comerciais com a desvalorização de suas torres, mas, principalmente, o temor de que essa desvalorização provoque efeitos em cadeia na economia, com consequências imprevisíveis.

Nós, urbanistas, costumamos lamentar a “perda de vitalidade” dos Centros de nossas grandes cidades. Mas eu me permito observar que, numa economia cada vez mais tendente à concentração da riqueza e ao trabalho precário, a manutenção disso chamamos de “vitalidade dos centros urbanos” supõe taxas de crescimento econômico que expandirão ainda mais as grandes metrópoles e suas fabulosas deseconomias, aí incluídos os impactos sócio-ambientais que hoje constituem o problema crítico da civilização capitalista.


Pergunto-me todos os dias como escapar desse dilema.

2023-10-12

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Financeirização da moradia ou concentração da propriedade?


NY Times 15-08-2023
https://www.nytimes.com/2023/08/15/nyregion/private-equity-apartments-nyc.html
Montagem: Àbeiradourbanismo

Muitos, nos dias de hoje, enquadrariam o objeto dessa matéria na categoria ‘financeirização da moradia’. Eu me pergunto se é o caso. 

A moradia – assim entendo - é financeirizada desde que passou a ser produzida para o mercado, pela simples razão que são poucos os que podem comprá-la sem financiamento parcial de seu preço. Tradicionalmente, os contratos de hipoteca preveem que o próprio imóvel é a garantia do empréstimo para a sua aquisição.

A propósito vale recordar um instrutivo texto, do ano 1981, em que o economista Martim Smolka descreve a operação de compra-venda de um imóvel como transferência ao adquirente, por parte da imobiliária, a um dado preço, do ‘direito de especular’ no mercado de imóveis [1] - que traduzo como o direito de vender ou alugar por uma renda maior do que a sua dívida.

A financeirização da moradia deu um salto de qualidade quando, com a desregulamentação de fins do século passado, generalizou-se nos EUA e Inglaterra a prática dos empréstimos bancários garantidos pelo valor da residência para a compra de bens de consumo, viagens, universidade etc. Famílias com rendimentos estagnados, e até decrescentes, passaram a consumir… o valor futuro de suas casas! [2] [3]

Uma vez re-hipotecado o imóvel em troca de liquidez a curto prazo, o título da dívida podia ser vendido pelo banco para credores de que o devedor nunca ouvira falar, nos mais diversos países  – a pirâmide financeira que desmoronou em 2007, levando milhões de pequenos investidores, boa parte deles trabalhadores cooptados para a mítica “república dos pequenos proprietários’, à perda de seu capital, isto é, de suas próprias moradias que, afinal, eram o lastro de tudo! 

Aqui o que ocorre é algo diferente: a concentração da propriedade imobiliária nas mãos de um pequeno número de firmas de capital de investimento em alugueis. O senhorio deixa de ser o dono da padaria e passa a ser, digamos, George Soros. Este fenômeno parece ter-se acelerado na última década com a recessão e a baixa generalizada das taxas de juros, na Europa e EUA, subsequentes à debacle de 2007. Em tempos de investimentos produtivos de rentabilidade duvidosa, o aluguel residencial em grande escala pode ser um ótimo negócio. [4]

Poder-se-ia argumentar, é certo, que George Soros é, ele próprio, um financista. Mas isto significa que, sob o ângulo do capital proprietário, a ‘financeirização’ não é privilégio exclusivo da moradia, tampouco do parque imobiliário como um todo: é a forma ‘pura’ do capital que controla todas as grandes cadeias de negócios na economia planetária - indústria, comércio e serviços.

“Desfinanceirizar a moradia” é uma causa que tem o meu apreço; mas seria interessante, nesse caso, que começássemos a discutir do que exatamente estamos falando e, é claro, como fazê-lo.

2023-08-16

____

NOTAS

[1] “(..) al comercializar um inmueble, la inmobiliaria no sólo vende um activo fijo, sino que, además, negocia el derecho que capacita al muevo propietario a especular (..)” [SMOLKA M, “Precio de la tierra y valorización inmobiliaria urbana: esbozo para una conceptualización del problema”. Revista Interamericana de Planificación Vol XV, No 60, Dez 1981, p. 78

[2] A indústria do refinanciamento hipotecário foi uma forma de os estadunidenses "tomarem emprestado e consumir como se os seus rendimentos estivessem crescendo". STIGLITZ J, O Mundo em Queda Livre – Os Estados Unidos, o mercado livre e o naufrágio da economia mundial. Trad. José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Cap. 1: A formação da crise

[3] “(..) no Reino Unido e nos EUA, os empréstimos pessoais garantidos pelas residências (EGR) produziram um aumento do consumo: quanto maior o valor da garantia, maior o nível de consumo. (..) Desde a desregulamentação do crédito na década de 1970, a EGR contribuiu de forma importante para a demanda do consumidor no Reino Unido, ainda que somente nos períodos de alta dos preços da moradia (..) A década anterior à crise financeira registrou níveis sem precedentes de EGR, com proprietários valendo-se do aumento dos preços das residências para tomar mais empréstimos e consumir mais. O sociólogo Colin Crouch (2009) descreveu o fenômeno como uma espécie de 'keynesianismo privatizado': ao passo que no período 1950-70 a demanda foi sustentada pelo Estado pela via da expansão fiscal, no período 1980-2007, de declínio dos salários médios, ela foi alimentada pela dívida hipotecária”. RYAN-COLLINS, LLOYD e MACFARLANE, Rethinking the Economics of Land and Housing. Zed Books 2017, edição do Kindle, p. 146.


[4] “(..) Residential demand shifts mainly with demography and is less buffeted by the business cycle. People will still need somewhere to sleep, says Lawrence Bowles of Savills, a property firm: “You can’t digitalise a bed.” And in an era of low interest rates, steady rental income becomes more attractive. (..)” THE ECONOMIST 28-08-2021 “Big British companies are entering the rental market”
https://www.economist.com/britain/2021/08/28/big-british-companies-are-entering-the-rental-market



domingo, 13 de fevereiro de 2022

El capital en el siglo XXI: rentadicción

Deu no The Guardian
27-01-2022, por Daniel Boffey
https://www.theguardian.com/world/2022/jan/27/large-investors-drive-up-house-prices-in-europes-cities-study-finds

Fonte: (*)

Large investors drive up house prices in Europe’s cities, study finds

The rate at which institutional investors, such as private equity and pension funds, are buying up housing is accelerating in major European cities, driving up house prices, research suggests.


The volume of purchases in Europe hit €64bn (£53bn) in 2020, with about €150bn worth of housing stock conservatively estimated to be in the hands of such large investors.

Berlin, with €40bn worth of housing assets in institutional portfolios, double the value found anywhere else in Europe, is at the top of the league table, followed by London, Amsterdam, Paris and Vienna, according to analysis of the Preqin private database of investors, funds and large transactions. (..)

European central bank data shows that real estate funds in the Eurozone reached €1tn in 2021, the size of Spain’s GDP, from about €350bn in 2010. Within that, residential assets are said to be an increasingly important part. (..)

The private equity company Blackstone, the world’s largest institutional landlord, manages about $730bn in funds globally, of which $230bn was allocated to real estate in September 2021. Blackstone, which posted record profits in October 2021, owns 65,000 residential units across five European countries. (..)”

According to Preqin data, more than 4,000 institutional investors, directed about $3.6tn of their $136tn assets to European real estate in August 2021. Of these, 1,325 investors held residential assets in their portfolios. The value of real estate portfolios that include housing was said to be about $2tn.

___

(*) “House prices: 'Wall of money' hits European real estate”. DW 03-06-2021
https://www.dw.com/en/house-prices-wall-of-money-hits-european-real-estate/a-57765308


2022-02-13


terça-feira, 20 de abril de 2021

Finança petroleira coloniza o Império

Deu no The Guardian
14-04-2021, por D Conn, H Davies e S Cutler

Revealed: the huge British property empire of Sheikh Mohammed

The controversial ruler of Dubai has acquired a land and property empire in Britain that appears to exceed 40,000 hectares (100,000 acres), making him one of the country’s largest landowners, according to a Guardian analysis. (..)

Xeique Mohammed em Ascot, 2019
Foto Facundo Arrizabalaga/EPA/Guardian

The Guardian has mapped these expansive private holdings linked to Sheikh Mohammed, who is vice-president and prime minister of the United Arab Emirates, using Land Registry records and company filings.

The exact scale of his British landholding is not known because most of the properties connected to him are owned via offshore companies in the tax havens of Guernsey and Jersey. That raises familiar questions about the secretive nature of large amounts of property ownership in Britain, and whether it is structured in ways to avoid paying UK taxes when the properties are sold. (..) 

In 2013, one of his family’s companies bought a property in Belgravia’s historic Eaton Square from the estate of the Duke of Westminster, for £17.3m – an illustration of historic British gentry selling to the dynastic billionaires of the Gulf. (Continua)

2021-04-20

sábado, 14 de setembro de 2019

Espanha: concentração da propriedade imobiliária urbana

El País / Vivienda 02-09-2019, por José Luis Aranda
https://elpais.com/economia/2019/09/01/actualidad/1567338637_542150.html

Las empresas cotizadas que alquilan vivienda tienen más de 42.000 pisos

Las socimis han incrementado sus activos un 57% en tan solo un año

Fonte: Belén Trincado / Cinco Días / El País
https://cincodias.elpais.com/cincodias/2019/08/28/companias/1567012097_761629.html
Clique na imagem para ampliar

Las sociedades cotizadas de inversión inmobiliaria (socimis) que se dedican al alquiler de vivienda controlan una parte cada vez mayor del mercado. Según el último informe sobre el sector, presentado a principios de verano por la consultora JLL y Bolsas y Mercados Españoles (BME), las cotizadas del ladrillo incrementaron el año pasado un 57% sus activos. Así, acumularon casas por valor de 7.284 millones de euros. Entre todas suman más de 42.000 pisos, sin contar con el patrimonio de las socimis mixtas, es decir, las que además de viviendas arriendan también otro tipo de inmuebles como hoteles u oficinas. (..) 

El dominio mayoritario de pequeños propietarios en el mercado inmobiliario es fuente de controversia sobre las causas que han encarecido el alquiler en los últimos años. Los grandes dueños de viviendas lo atribuyen al efecto rebote, tras una abrupta caída de precios con la crisis. También recuerdan que, según los cálculos del sector, sus viviendas solo suponen entre un 3% o un 4% del parque. “La capacidad de influir en el mercado es muy pequeña”, señala Alberto Segurado, de la consultora JLL.Sin embargo, un reciente informe del Banco de España cuestionó la base de ese planteamiento al asegurar que el parque de viviendas a nombre de empresas ronda el 10% y “su presencia en las grandes ciudades es más relevante”. (..)

2019-08-03

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Aluguel sem teto multiplica os sem-teto

Terra 26-08-2019, por RC/rtr/afp/dpa

Berlim avalia impor teto aos aluguéis

Berlinenses sem-teto
Imagem: http://mymolo.de/en/2017/11/05/homeless-berlin/
Para conter explosão de aluguéis, (..) Berlim avalia a possibilidade de impor um teto para os valores dos aluguéis na cidade. A secretária estadual de Planejamento Urbano, Katrin Lompscher, planeja limitar a 7,97 euros por metro quadrado (cerca de 36,51 reais) o preço cobrado na locação de imóveis construídos até 2013.
(..) A possível aprovação da proposta gerou preocupação no setor imobiliário. Desde então, as ações das empresas do setor imobiliário vêm sofrendo os efeitos no mercado de valores.

Com mais de 115 mil apartamentos em Berlim, a empresa Deutsche Wohnen se tornou o maior proprietário de imóveis no país, seguido da Vonovia, que possui 42 mil unidades. Desde junho, as ações da Deutsche Wohnung perderam um terço do valor e as da imobiliária Ado Proprieties apresentaram perdas de 30%. A Vonovia confirmou a redução de 10% em suas metas para 2019.

(..) Apesar dos aluguéis ainda serem mais baratos do que em Londres ou Paris, Berlim tem taxas de desemprego e pobreza relativamente mais altas, além de uma média salarial baixa, o que dificulta para muitos encontrar uma moradia pagável.
A Alemanha precisa construir pelo menos 350 mil novas residências por ano para suprir a escassez de moradia, que atinge principalmente grandes centros urbanos como Berlim, Hamburgo, Munique e Frankfurt.
2019-08-27