https://www.nytimes.com/2023/08/15/nyregion/private-equity-apartments-nyc.html
Montagem: Àbeiradourbanismo |
Muitos, nos dias de hoje, enquadrariam o objeto dessa matéria na categoria “financeirização da moradia”. Eu me pergunto se é o caso.
A moradia - creio - é financeirizada desde que passou a ser produzida para o mercado, pela simples razão que são poucos os que podem comprá-la sem financiamento parcial de seu preço. Tradicionalmente, os contratos de hipoteca preveem que o próprio imóvel é a garantia do empréstimo para a sua aquisição.
A financeirização da moradia dá um salto de qualidade quando, com a desregulamentação de fins do século passado, generaliza-se nos EUA e Inglaterra a prática dos empréstimos bancários garantidos pelo valor da residencia para a compra de bens de consumo, viagens, universidade etc. Famílias com rendimentos estagnados, e até decrescentes, passam a consumir… o valor futuro de suas residências! [1] [2] E uma vez hipotecado o imóvel, o título da dívida pode ser vendido pelo banco para credores de que o devedor nunca ouviu falar.
Aqui o que ocorre é algo diferente: a concentração da propriedade imobiliária nas mãos de um pequeno número de firmas de capital de investimento – no caso, alugueis e compra-venda. O senhorio deixa de ser o dono da padaria e passa a ser, digamos, George Soros. Este fenômeno parece ter-se acelerado na última década com a recessão e a baixa generalizada das taxas de juros, na Europa e EUA, subsequentes à debacle financeira de 2007. Em tempos de investimentos produtivos de rentabilidade duvidosa, o aluguel residencial em grande escala pode ser um ótimo negócio. [3]
Poder-se-ia argumentar, no entanto, suponho que com razão, que o investimento em imóveis quitados para fins de
aluguel é, em parte, financeiro. Se, por um lado, a depreciação das benfeitorias requer investimentos regulares que podem ser considerados produtivos, toda receita que
excede o retorno normal dos gastos da empresa em transação, administração, manutenção e reformas dos imóveis é pura renda do solo-localização.
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[1] A indústria do refinanciamento hipotecário foi uma forma de os estadunidenses "tomarem emprestado e consumir como se os seus rendimentos estivessem crescendo". STIGLITZ J, O Mundo em Queda Livre – Os Estados Unidos, o mercado livre e o naufrágio da economia mundial. Trad. José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Cap. 1: A formação da crise
[1] A indústria do refinanciamento hipotecário foi uma forma de os estadunidenses "tomarem emprestado e consumir como se os seus rendimentos estivessem crescendo". STIGLITZ J, O Mundo em Queda Livre – Os Estados Unidos, o mercado livre e o naufrágio da economia mundial. Trad. José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Cap. 1: A formação da crise
[3] “(..) Residential demand shifts mainly with demography and is less buffeted by the business cycle. People will still need somewhere to sleep, says Lawrence Bowles of Savills, a property firm: “You can’t digitalise a bed.” And in an era of low interest rates, steady rental income becomes more attractive. (..)” THE ECONOMIST 28-08-2021 “Big British companies are entering the rental market”
https://www.economist.com/britain/2021/08/28/big-british-companies-are-entering-the-rental-market
2023-08-16