Deu no Guardian
07-07-2020, por Peter Beumont
'We squandered a decade': world losing fight against
poverty, says UN academic
Goal to eradicate poverty by 2030 ‘completely off track’,
says outgoing special rapporteur, with Covid-19 likely to impoverish millions
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A child in Kabul,
Afghanistan, which is among the poorest countries in the world.
Foto e texto: Altaf Qadri / AP /
The Guardian
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Sou incondicionalmente favorável a iniciativas e programas
governamentais compensatórios e redistributivos, em todos os campos a começar do meu - a gestão urbana -, incluindo aqueles cujos resultados são modestos, como a Outorga Onerosa do Direito de Construir e seus congêneres, aos quais dediquei bastante reflexão e certa quantidade de artigos neste blog.
Muito especialmente, defendo a renda mínima, a educação e a saúde universais.
Como, porém, as políticas redistributivas, compensatórias elas próprias da concentração persistente da renda, são ciclicamente revertidas pela crises recessivas (como deixa claro a América Latina dos anos 2000 e 2010), resulta que esses pacotes, praticados ad infinitum, acabam por normalizar a pobreza e a desigualdade numa época em que a ciência e a técnica, muito especialmente o cálculo e o planejamento econômico, permitem prover a humanidade de tudo o que é necessário e muito mais - sem sacrifício do meio ambiente planetário.
Há muito que a pobreza e a desigualdade não provêm da escassez, mas da inércia reprodutiva de
um regime social incapaz de absorver, que dirá distribuir, a abundância por ele mesmo criada; um regime para o qual é um imperativo econômico - não uma opção ideológica, como quer Piketty - a destruição preventiva ou catastrófica de toda riqueza socialmente produzida que não conduza à valorização dos capitais privados concorrentes.
Esperar que o capital erradique a pobreza e a desigualdade e reverta a degradação do meio ambiente planetário é um exercício de
auto-engano, tendente, eu temo, ao negacionismo científico. Muito mais provável é ele acabar com o que entendemos como civilização.
Este deve ser o quadragésimo fracasso em 40 anos das metas da ONU para a erradicação da pobreza. Precisamos passar à próxima fase. Resta saber como.
2020-07-14