segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Patrimônio, Moradia e Dinâmica Imobiliária na Área Central do Rio de Janeiro: Notas para discussão sobre projeto urbano e planejamento

Por Henrique Barandier (Comunicação ao I ENANPARQ - Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Rio de Janeiro, 29/11 a 03/12 de 2010). 

Dando continuidade à apresentação de trabalhos acadêmicos recentes sobre a dinâmica urbana do Centro do Rio de Janeiro, À beira do urbanismo reproduz para os seus leitores uma relevante contribuição - disponível na Internet - do arquiteto e urbanista carioca Henrique Barandier.
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Nestas notas, cuja introdução segue abaixo junto com o link para o original completo, Barandier esboça uma imagem do desenvolvimento urbano recente do Centro da cidade por justaposição de suas dimensões histórico-cultural, demográfica e imobiliária, conformando-se um “território de territórios” a demandar um programa de iniciativas públicas de planejamento e projeto que tenha como princípio diretor o respeito à diversidade historicamente constituída no espaço. Nas palavras do autor:
"Para a área central, um dos grandes desafios que está posto é o da construção de uma agenda que busque a difícil conciliação entre a atuação do mercado imobiliário com a preservação do patrimônio histórico e a ampliação da oferta habitacional para diferentes classes sociais, de modo a evitar processos de “gentrificação” e homogeneização. E neste sentido é preciso estar atento, pois num ambiente de maior dinamismo da economia e do mercado imobiliário, a produção da cidade se faz também, e sobretudo, no varejo do dia a dia e não apenas pelas grandes intervenções conduzidas pelo poder público.”
A comunicação está dividida em três partes:
· Patrimônio histórico e cultural na área central do Rio de Janeiro – notas sobre as APACs como instrumento de preservação de conjuntos urbanos

· Moradia na área central do Rio de Janeiro – notas sobre dados de população residente

· Dinâmica imobiliária na área central do Rio de Janeiro – notas sobre alguns empreendimentos recentes
Boa leitura.


Patrimônio, Moradia e Dinâmica Imobiliária na Área Central do Rio de Janeiro: Notas para discussão sobre projeto urbano e planejamento
Por Henrique Barandier

Introdução
O presente trabalho tem por objetivo apresentar contribuições para o debate sobre projeto urbano e paisagem na metrópole, a partir do olhar sobre a área central do Rio de Janeiro1. O enfoque adotado recai sobre temas que, de algum modo, estão também na pauta das demais áreas centrais das metrópoles brasileiras: patrimônio histórico e cultural, moradia e dinâmica imobiliária.
A área central do Rio de Janeiro passou, em pouco mais de um século, por diversos processos de transformações urbanísticas que resultaram num espaço múltiplo e complexo. Nessa trajetória, o núcleo urbano inicial da metrópole carioca foi marcado pelas intervenções higienistas e de embelezamento do início do século XX, pela verticalização a partir dos anos 30, pelo rodoviarismo dos anos 50 e pelas ações de recuperação e preservação do conjunto arquitetônico urbanístico desde os anos 80.
Carregada de simbolismos e de uma expressiva concentração de atividades econômicas, a área central carioca caracteriza-se como um espaço em que se sobrepõem diversos processos simultâneos de valorização/ desvalorização/ revalorização do solo, em seus vários “nichos locacionais”. Tais processos formam uma complexa trama de iniciativas públicas e privadas que conformam a história urbana, combinando estratégias de renovação e reabilitação, substituições e permanências, inovações locacionais etc.
A expansão periférica da metrópole, apesar do baixíssimo crescimento populacional das últimas décadas, produziu espaços de subutilização e obsolescência em toda a área de urbanização mais antiga da cidade, da área central aos subúrbios da Leopoldina. No momento atual, entretanto, verificam-se, ao mesmo tempo, fatores que impulsionam a expansão periférica e fatores que parecem favorecer as políticas de reafirmação do centro, constituindo campo fértil para a proposição de projetos urbanos que redesenhem a cidade existente e para a revisão das bases do planejamento e da própria gestão urbana. Trata-se de um momento de crescimento econômico, em que o país vive um novo ciclo de caráter desenvolvimentista.
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é, hoje, objeto de investimentos de grande porte (públicos e privados), tais como o novo complexo petroquímico da Petrobrás, o Arco Metropolitano, a construção da CSA Siderúrgica do Atlântico em Santa Cruz, entre outros, que, acompanhados de ações do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento e do Programa Minha Casa Minha Vida, indicam a reconfiguração do espaço metropolitano. Apesar de se constituírem como forças centrífugas, que provavelmente contribuirão para a dispersão da metrópole, simultaneamente poderão reforçar o centro do Rio de Janeiro como o grande centro metropolitano, de negócios, financeiro e o local de instalação de sedes de empresa.
No período recente, novos lançamentos imobiliários residenciais e não residenciais na área central sinalizam alterações na dinâmica urbana, aliando construção de novas unidades com a transformação de uso de edifícios em avançado estado de deterioração – retrofit. É nesse novo contexto que pensar o papel do projeto urbano e o próprio planejamento parece relevante e necessário.
Não é demais lembrar que, em outros períodos de forte desenvolvimento econômico, desastres urbanístico-ambientais foram promovidos na Cidade do Rio de Janeiro, associados, sobretudo, à abertura de vias para favorecer o modo de transporte rodoviário e individual. Nas últimas duas décadas, os gestores municipais alimentaram o desejo de empreender grandes transformações urbanísticas na área central, com a previsão de construção de espaços espetaculares, tais como novos centros de negócios, grandes museus, arenas multiusos etc. Contudo, invariavelmente não conseguiram levar a cabo suas intenções e, nesse processo, a própria idéia de revitalização da área central assumiu diferentes significados. Em alguns projetos ou discursos assumindo caráter mais preservacionista do ambiente cultural e social existente e em outros, em especial nos grandes projetos urbanos, enfatizando a perspectiva de formação de novas centralidades no espaço pericentral, a partir da oferta de novos produtos imobiliários.
Neste trabalho são apresentadas algumas breves considerações sobre o contexto acima esboçado. Não há, aqui, evidentemente, a pretensão de abordar de modo tão aprofundado os temas do patrimônio, da moradia e da dinâmica imobiliária, mas sim destacas alguns aspectos sobre os mesmos que parecem importantes para a discussão do presente e do futuro da área central do Rio de Janeiro. (Continua)
Henrique Barandier é Mestre em Urbanismo, pesquisador do PROURB/UFRJ e Coordenador de Ensino de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - ENSUR/IBAM

Para acessar a íntegra do texto, clique no link 
http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/214/214-840-1-SP.pdf


2013-12-30