quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Bens públicos, negócios privados

Deu n’O Globo
25-11-2019, por Luiz Ernesto Magalhães

Projeto prevê construções de até 20 andares no campus Praia Vermelha da UFRJ
"Em tempos de economia
estagnada e rápida
concentração da renda familiar,
a sina de toda e qualquer terra
urbana bem localizada é se
tornar alvo de empreendimentos
cujos produtos e serviços apelem
aos que consintam em pagar,
por aquela vantagem, uma parte
 de seu cobiçado excedente
orçamentário.

O fato de um imóvel bem
situado estar construído sobre,
ou ser  ele próprio, terra pública
é quase irrelevante: caçadores
de oportunidades especulativas
sempre podem justificar a
 iniciativa como "parceria
público-privada visando a
manutenção e melhoria do
equipamento". Dependendo do
tamanho do negócio, a parceria
pode implicar um simples
"patrocínio" ou reivindicar um
prospecto socialmente grandioso,
como "legado olímpico"".*
A prefeitura está às voltas com mais uma polêmica. Agora, a Secretaria municipal de Urbanismo (SMU) quer autorizar a construção de prédios que podem chegar a até 20 andares em alguns trechos do campus Praia Vermelha da UFRJ, em Botafogo. Se o plano aproveitar integralmente os espaços livres, o entorno da Avenida Venceslau Brás (principal eixo de ligação entre Copacabana e o Aterro), onde se encontra o esqueleto do que foi o tradicional Canecão, poderia ganhar até mil novos apartamentos. A proposta do município atendeu a um pedido da UFRJ, que alega a necessidade de aproveitar o patrimônio imobiliário para melhorar a infraestrutura oferecida aos alunos da universidade.
Durante um ano, o plano foi desenvolvido pela prefeitura e pela UFRJ. Detalhes do projeto, que deve ser enviado à Câmara Municipal, foram apresentados, na semana passada, numa reunião extraordinária do Conselho Municipal de Políticas Urbanas (Compur). A área entre o Palácio Universitário e o Hospital Psiquiátrico Pinel (do município) manteria as mesmas atividades, mas seria interligada por uma nova via. Hoje, a maior parte a ser explorada pela iniciativa privada está desocupada. Deverão ser desalojados o Instituto Deolindo Couto, a ser transferido para o Fundão, e a Casa da Ciência, que deve ser remanejada dentro do próprio campus.
A ideia é que o prédio do Canecão seja demolido, e uma nova casa de shows seja construída dentro da área do campus. A proposta da UFRJ é erguer um local para eventos com 1.500 lugares, a ser explorado pela iniciativa privada. Mas a regulamentação permite que outros equipamentos, como cinemas e teatros, possam ser instalados. (Continua)

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* “Bens públicos, negócios privados”, À beira do urbanismo 10-08-2019
http://abeiradourbanismo.blogspot.com/2019/08/animal-sensivel.html


2019-11-28