Metrópoles 08-12-2022, por Eduardo Fernandez Silva
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2022-12-28
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Não custa lembrar que quanto menor e relativamente mais central a unidade habitacional, maior é a proporção localização (solo) / benfeitoria no valor do aluguel. Ou seja, aquilo que para as “co-housing start-ups” pode ter o aspecto de “economia de escala” - multiplicar o número de unidades habitacionais com a mesma área construída -, para os inquilinos é uma autêntica deseconomia - pagar mais por menos espaço.
O jornalismo de negócios invariavelmente trata como concorrencial um mercado em que os bens ofertados - habitações de distintos padrões em localizações urbanas específicas - são irremediavelmente escassos.
2022-12-21
“A declaração que o primeiro-ministro fez na quarta-feira sobre o possível fim dos vistos gold deixou promotores e investidores imobiliários preocupados. Em entrevista ao jornal Eco, o presidente da APII (Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários) critica a possível decisão do Governo, declarando que "é "descabido estar nesta altura a reequacionar o programa de vistos gold, quando todos os países estão a concorrer pela captação de todo o investimento internacional que puderem". Hugo Santos Ferreira diz que as palavras de António Costa são "ruído que vem dar uma grande instabilidade ao mercado imobiliário" e que prejudicam "seriamente a captação de investimento estrangeiro e, portanto, a entrada de riqueza em Portugal", recordando que o programa dos vistos gold já totalizou mais de seis mil milhões de euros de investimento. (..)
A painting by abstract Dutch artist Piet Mondrian has been hanging upside down in various museums since it was first put on display 75 years ago, an art historian has found, but warned it could disintegrate if it was hung the right side up now.
The 1941 picture, a complex interlacing lattice of red, yellow, black and blue adhesive tapes titled New York City I, was first put on display at New York’s MoMA in 1945 but has hung at the art collection of the German federal state of North Rhine-Westphalia in Düsseldorf since 1980.
The way the picture is currently hung shows the multicoloured lines thickening at the bottom, suggesting an extremely simplified version of a skyline. However, when curator Susanne Meyer-Büser started researching the museum’s new show on the Dutch avant garde artist earlier this year, she realised the picture should be the other way around. (..)
Artigo simples, claro e didático, sem a costumeira bobagem de que “a outorga onerosa permite edificar acima dos índices construtivos estabelecidos em lei”.
A escorregada vem no fim, com a afirmação "o
planejamento urbano é a força vital que determina o ritmo, as dinâmicas, o
funcionamento de uma cidade” e seu corolário “com Planos Diretores mais
robustos e inovadores, as cidades têm nas mãos o poder de traçar seu próprio
caminho rumo a um futuro mais humano e sustentável."
O planejamento urbano em geral é indispensável e os Planos Diretores instrumentos necessários de ordenamento urbano. Mas serão tanto mais eficazes quanto menos poderes mágicos lhes atribuamos.
2022-10-26
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“Una ciudad en la que no hay ninguna especie de centro solo puede existir en el plan ideal, como en una sociedad desarrollada fictícia donde no hay mercado, o en el plan teórico de una sociedad sobredesarollada igualitaria más allá del mercado. La centralidad es una norma reguladora constitutiva del mercado de suelo, es decir, que no ha sido creada por ningún gobierno; una forma de escasez que yace en el corazón de la economía del espacio socialmente construído, es decir histórico, y es su propio modo de ser.” [*]
The ministries area of Egypt’s new capital last month. Credit...Khaled Elfiqi/EPA/NYT via Shutterstock Montagem: Àbeiradourbanismo |
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Uso do solo, Londres século XVIII Clique na imagem para ampliar |
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Many urban geographers would probably consider that the emergence of a distinctive and specialized shopping center is the key process in the patterning of the central area of the city. This is so because the development of the wide range of other specialized areas was functionally related to it, for it was the prime generating influence monopolizing the most valued land at least insofar as its core coincided with peak land values. The priority of the shopping centre is derived from the presumed ability of retailers to pay the highest prices for city-centre locations. Historically, however, that priority lacks conviction for, to use Sjoberg’s categories, it is a feature of the industrial rather than of the pre-industrial city (Sjoberg, 1960). In the latter political and religious elements were predominant in shaping the centre, arrogating the most prestigious locations. It follows that it is impossible historically to retain a constant significance for the role of the retail area and the shopping function. To a degree this echoes Vance’s argument for a pre-capitalist rather than a pre-industrial city (Vance, 1971). Vance contends that before the growth of modern capitalism land was not owned and regarded as a property investment, but rather it was held and evaluated in terms which were primarily social. In the town in particular it gave access to the guilds which initially had mainly a social and convivial basis and only later became trade associations. In this way participation in city life was a consequence of land-holding. Moreover, given their origins, the location of the guilds within the city was fortuitous and specialized trade areas developed bearing no relationship to any economic order based on a central point or peak land-value intersection which are products of the later capitalist order. If pre-industrial or pre-capitalist cities present a different suite of forces controlling their central area land-uses from those of later cities then it is sensible to divide examination of those uses into two sections. The break point is a matter of some debate for pre-industrial and pre-capitalist refer to different points of inflexion, but in most general terms it is possible to contrast the evolution of retailing with the later evolution of shopping and use it as a preliminary basis. (Continua)
“Naquela mesma tarde em que o deixamos na sua casa de Botafogo, terminado o jantar, mandou aprontar o tílburi e voltou à cidade. Seu aparecimento àquela hora na Rua do Ouvidor causou estranheza: um leão de raça, como ele, não passeia ao escurecer, sobretudo no centro do comércio, onde só ficam os que trabalham.” [2]
"Uma verdadeira patuscada esse passeio à cidade! (..) Ninguém tomou bonde; e por toda a viagem discutiram e altercaram em grande troça, comentando com gargalhadas e chalaças gordas o que iam encontrando, a chamar a atenção das ruas por onde desfilava a ruidosa farândola. [3]
“De manhã tinha o relógio parado. Chegando à cidade, desci a Rua do Ouvidor, até a da Quitanda (..)” [4]
As duas primeiras décadas do século XX marcam, no Brasil, o nascimento das metrópoles capitalistas, cujo traço distintivo é a urbanização de mercado: de um lado as empresas loteadoras, construtoras e prestadoras de serviços públicos urbanos, de outro uma classe média ascendente - comerciantes, militares, funcionários, especialistas, artesãos e trabalhadores qualificados - capaz de arcar com custos de transportes e financiamentos a longo prazo. (..)
É a indústria da urbanização, ou urbanização de mercado, que dá conteúdo e forma à urbe radiocêntrica. É ela que converte as chácaras semi-rurais em bairros residenciais, os antigos caminhos rurais em vetores radiais de expansão, os aldeamentos satélites estrategicamente situados em embriões de futuros subcentros e, finalmente, a própria “cidade” em “centro”! [5]
Não se trata de que inexistam tendências radiocêntricas na cidade colonial, isto é, de que sua organização sócio-espacial não manifeste a lei do menor custo-distância, mas de que aqui ela é uma força débil relativamente a outros determinantes - a pré-existência de um traçado fundacional, a pequena extensão dos percursos, o máximo aproveitamento das quadras e parcelas -, materializando-se via de regra como expansão linear ao longo da via principal do assentamento e, em menor medida, como reprodução mais ou menos regular da quadra padrão no sentido transversal. [6]
Essa mesma configuração está presente no relato alencariano do processo expansivo do Rio de Janeiro colonial (1659) contido nas crônicas ficcionais reunidas em Alfarrábios, de 1873. Trocando momentaneamente o chapéu de ficcionista pelo de historiador-geógrafo, diz Alencar:
"Com o incremento natural da população, foi a cidade descendo das encostas da colina e estendendo-se pelas várzeas que a rodeavam, sobretudo pela orla da praia que cinge o regaço mais abrigado da formosa baía, e corre em face à Ilha das Cobras. Aí, fronteiro ao ancoradouro dos navios, com o fomento do comércio, se ergueram as tercenas e os cais, onde não tardaram a agrupar-se em volta das casas das alfândegas e dos contos as lojas e armazéns dos mercadores. Após essas, embora já mais arredadas da beira-mar, vinham as outras classes trazidas pelo desejo de estarem mais próximas ao centro do povoado, onde é mais ativo o tráfego." [8] [destaques meus]
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“Ficou o Ivo como queria, vivendo à mangalaça pelas ruas de São Sebastião, e nos arrabaldes, que a pouco e pouco se foram transformando em bairros, e estão agora dentro da cidade.” [destaque meu]
Este mapa de 1907, aparentemente produzido e editado nos Estados Unidos, se intitula “Rio de Janeiro City – Commercial District”, expressão que naquele país precede em algumas décadas o contemporâneo CBD - Central Business District. Fonte: ImagineRio https://www.imaginerio.org/iconography/maps/2589147 |
A começar pela separação de comércio e residência, o advento da urbanização de mercado modifica radicalmente a dinâmica espacial da expansão urbana, e com ela a sua geometria, à qual o núcleo reticular herdado do período colonial é obrigado a se adaptar - o que, em se tratando da urbe, é um processo secular.
Para além de seus aspectos estritamente urbanísticos, e da ideologia subjacente tantas vezes assinalada, o conjunto de obras modernizadoras executadas no Rio de Janeiro ao longo do século XX - abertura das avenidas Mem de Sá (1906), Beira-Mar (1906), Rodrigues Alves (1910), Presidente Vargas (1944), Av. Chile (1960) e Parque do Flamengo (1960) - são intervenções destinadas a consolidar a estrutura radiada de acesso ao Centro da metrópole.
Direções de expansão do Rio de Janeiro colonial e republicano, lançadas sobre mapa do ano 1935 |
Um importante marco da transição de uma a outra modalidade de expansão no Rio de Janeiro é a inauguração, em 1858, do primeiro trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, que "permitiu, a partir de 1861, a ocupação acelerada das freguesias suburbanas por ela atravessadas" - o que supõe o advento de um mercado de terras periféricas à 'cidade', uma nova classe média capaz de adquiri-los e uma estrutura empresarial capaz de financiá-los -, seguida, em 1868, da implantação das primeiras linhas de bondes de tração animal, que vieram a "facilitar a expansão da cidade em direção aos bairros das atuais zona sul e zona norte". [9]
A mudança da matriz espacial da expansão urbana, de ortogonal a radial, e a consequente transformação da 'cidade' em 'Centro', é, portanto, um problema tanto de forma quanto de conteúdo. Aqui vale a pena recuperar, do mesmo texto sobre Porto Alegre, a discussão sobre a ideia de 'centro' na transição da cidade colonial-imperial para metrópole capitalista tal como interpretada por Villaça. Ele nos diz:Quando, nos primeiros vinte anos deste século, o quadro imobiliário do centro de nossas cidades foi totalmente renovado com a demolição do colonial e a implantação do neoclássico e do ecletismo, não houve alteração na estrutura urbana, pois esses centros não perderam sua importância, sua posição, natureza nem localização. [10]
Porto Alegre: direções de expansão (1) expansão cartesiana: planta de 1772 (2) transição sobre planta de 1881 (3) expansão radiada: planta 1928 |
Por não considerar o salto qualitativo contido na transição da urbanização mercantil-escravista para a urbanização capitalista, Villaça perde de vista que é assim que nasce o “centro” no que até então era a “cidade”. Embora não perca a sua "localização, importância e posição", o velho núcleo colonial-imperial perde, sim, a sua “natureza”: sobre a cidade que comanda o campo ao seu redor, nasce o centro que comandará a metrópole. O novo centro da urbanização de mercado começará, então, a se estender na direção da migração dos abastados e a se desdobrar em subcentros em todas as direções. Em algum deles poderá se fixar, muito mais tarde, o novo polo financeiro da metrópole. [12]
Refluindo sobre o núcleo colonial-imperial, a cidade radiocêntrica em contínua expansão e adensamento o revoluciona de acordo com as necessidades da economia de mercado e as exigências culturais e estéticas dos novos segmentos sociais econômica e politicamente dominantes, vale dizer pela renovação acelerada do estoque edificado, pela multiplicação de edifícios de escritórios e galerias comerciais, pela formação de um hipercentro financeiro, pela busca incessante de uma arquitetura própria dos arranha-céus, pela inserção da cidade no circuito das exposições agrícolas e industriais, pela elaboração de um Plano de Melhoramento e Embelezamento da Capital e por intervenções urbanas modernizadoras como a ampliação do porto, o ajardinamento do Campo da Redenção com base em projeto de Alfred Agache e, fechando com chave de ouro este primeiro ciclo, a abertura da Avenida Borges de Medeiros, a partir de 1925, para a ligação do núcleo urbano ao bairro do Menino Deus e daí a toda a margem sul do Guaíba, aí incluída a construção do Viaduto Otávio Rocha - provavelmente a obra urbana mais emblemática da história de Porto Alegre. [13]
(..) uma mudança geográfica radical e meteórica na escala temporal da modernidade urbana, portadora de uma percepção coletiva do espaço inteiramente renovada ainda que pouco acessível aos hábitos mentais das antigas gerações: sua transposição para a linguagem corrente levaria ainda algumas décadas para se completar. Trata-se, mais exatamente, de uma revolução semântica fundada na mudança de percepção da estrutura do espaço em que se vive: não mais uma coleção de arraiais ao redor da cidade, mas uma única urbe expandida por justaposição de parcelamentos lindeiros a vias radiais servidas por transportes mecânicos, que tudo ligam ao que agora é “centro”. [15]
Ainda na minha infância, na Niterói na década de 1960, meus pais diziam “vamos à cidade”. O ônibus 30 era a linha Martins Torres-Cidade. [16]
Havia três acessos do núcleo colonial para o núcleo urbano já existente, que era chamado de “cidade” (..). A Sede [área verde da figura abaixo] (..) foi concebida com a finalidade de constituir um prolongamento da “Cidade” e, por este motivo, esses lotes eram denominados “urbanos”. [17] [Aspas dos autores]
O crescimento recente da cidade e a expansão de suas atividades conduziram à modificação da fisionomia do centro, provocando o aparecimento de grandes edifícios, construídos nos espaços vazios, ou substituindo velhas casas. É a esse conjunto que os baianos chamam "A Cidade", quando se referem à parte alta, e "O Comércio", quando falam da parte baixa do centro de Salvador. É aí que a vida urbana e regional encontra o seu cérebro e o seu coração." [19]
“(..) Não nos esqueçamos de que a palavra "ville", para designar aquilo que chamamos de cidade, é muito tardia. Até os séculos XI e XII, escreve-se quase que estritamente em latim e, para designar uma cidade, usa-se "civitas", "cite". Ou urbs, a rigor, mas basicamente civitas. E, quando as línguas vernáculas aparecerem, o termo "cite" vai permanecer por muito tempo. "Ville" tomará o sentido urbano apenas tardiamente, já que, como você lembrou, antigamente a palavra designava de fato um estabelecimento rural importante. Uma "villa" - não se deve pensar numa casa de subúrbio atual - é o centro de um grande domínio. Do ponto de vista dos materiais, a construção permanece em geral bastante modesta, mesmo quando se usa a pedra: não se pode falar de castelo. Enfim, a villa é um domínio com um prédio principal que pertence ao senhor; em consequência, é um centro de poder, não apenas de poder económico, mas também de poder em geral sobre todas as pessoas, os camponeses e os artesãos que vivem nas terras ao redor. Desse modo, quando se passa a dizer, em francês, "Ia ville" (o italiano conservará o termo citta), marcar-se-á bem a passagem do poder do campo para a cidade. O termo "villa", esse se aplicará à aldeia nascente a partir dos séculos IX e X. (..)”
Os custos de habitação, os salários baixos e o mercado imobiliário sufocado pelo turismo são os principais fatores apontados.
De acordo com um estudo publicado em junho, pela iVisa, Lisboa é considerada a cidade mais feliz do mundo. No entanto, segundo a revista norte-americana “Jacobin”, é também um dos locais menos viáveis para habitar. Parece paradoxal, mas os custos de habitação e os salários baixos levaram à classificação da capital portuguesa como a terceira mais inabitável do mundo, segundo o ranking elaborado em março pela seguradora imobiliária britânica CIA Landlord Insurance citado pela publicação.
“Os custos de habitação em Lisboa são tão elevados que é ainda mais inviável para os inquilinos do que Nova Iorque”, começa por mencionar a publicação internacional. A esta informação, o geógrafo Agustín Cocola-Gant acrescenta que os residentes “têm que dedicar entre 50 a 60 por cento do seu salário à renda, se tiverem um emprego bem remunerado”, um cenário que exclui da equação quem recebe o salário mínimo.
Nos últimos anos, assistiu-se à crescente redução da população residente na cidade. Muitos jovens optam por viver em localidades mais acessíveis da área metropolitana, a população idosa é forçada a sair dos bairros onde passaram toda a sua vida — graças à gentrificação — e Lisboa tornou-se refém de políticas de turismo que agravam os problemas habitacionais. (..)
Texto: Farah Stockman/NYT Imagem: Álvaro Bernis/NYT |
“Em todas as civilizações, o capital desempenha duas grandes funções econômicas: permite que as pessoas tenham onde se abrigar (..) e serve como fator de produção para confeccionar bens e serviços (..). Historicamente, as primeiras formas de acumulação capitalista parecem envolver tanto ferramentas (sílex etc.) como o aperfeiçoamento da terra (..), além de formas rudimentares de habitação (..), antes de evoluir para outras acumulações mais sofisticadas de capital industrial e profissional, assim como para locais de moradia cada vez mais elaborados.” [destaque meu] (p. 209 ed Intrínseca, Rio de Janeiro 2014).