domingo, 19 de janeiro de 2025

A renda da terra é a alma do negócio


Exame 13-07-2023
https://exame.com/mercado-imobiliario/microapartamentos-inundam-sao-paulo-a-maior-metropole-da-america-latina/

Clique na imagem para ampliar
“(..) Embora seja comum em outras capitais pelo mundo, em São Paulo, o boom dos apartamentos de até 30m² é mais recente: entre 2016 e 2022, a oferta saltou de 461 unidades para 16.261, o que representa 21% do total, segundo o Secovi-SP, sindicato de empresas do setor imobiliário do estado. (..) Alguns, com móveis encaixados como peças de tetris ou a cozinha a centímetros do banheiro, se tornaram alvo de piadas e viralizaram nas redes sociais, onde um usuário os descreveu como "cativeiro gourmet". Isso não abalou a demanda, composta principalmente por adultos entre os 20 e 39 anos, de acordo com uma pesquisa da imobiliária digital Quinto Andar. "É um público jovem, profissional, que está iniciando a carreira, a maioria solteiros com um apelo de modernidade, bem localizado, perto dos trabalhos ou transporte público", algo muito valioso em uma cidade com trânsito caótico, explica Ely Wertheim, presidente executivo do Secovi-SP. (..)

A "inundação" de micromoradias é explicada, além disso, pelas taxas de juros, que registraram uma queda entre 2018 e 2021 (de 6,75% para uma mínima histórica de 2% devido à pandemia), diz José Armenio, secretário adjunto da Secretaria Municipal de Urbanismo de São Paulo. Esses níveis elevaram o capital no setor imobiliário e estimularam investidores a comprar imóveis para alugar. Também contribuiu uma redução nas outorgas de construção de apartamentos pequenos implementada pela Prefeitura em 2014, aponta Armenio. O objetivo era aumentar a concentração de habitantes em áreas servidas por transporte público, com moradias mais acessíveis para uma classe menos privilegiada.

Porém, o resultado foi diferente: "Os apartamentos de até 30m² têm o metro quadrado mais caro da cidade", detalha Campos. (..)

*

Esta matéria da Exame, de julho de 2023, ainda me parece atual.

As publicações do mercado imobiliário brasileiro vêm dizendo há algum tempo que a incorporação não está construindo para a ‘classe média’. 

Alegam os juros altos. É certo. Mas não menos certo é que

a) uns estão permanentemente ocupados em construir para o ‘alto padrão’, onde o número de unidades por empreendimento é pequeno, o custo de construção relativamente alto, mas a fração ideal caríssima e a rentabilidade garantida por uma demanda imune às taxas de juros e crises econômicas; 

b) outros em construir para o Minha Casa Minha Vida, onde a fração ideal é barata, mas multiplicada por centenas de unidades com custo de construção relativamente baixo e demanda garantida, pré-aprovada pelo próprio Estado; 

c) e os que construíam para a classe média descobriram a mina de ouro da moradia rotativa pericentral aos velhos e novos núcleos de negócios, que, como bem observa a própria matéria, apesar do tamanho (<30m2) tem o metro quadrado privativo mais caro da cidade - portanto também uma enorme rentabilidade em frações ideais, vale dizer em solo-localização, que é a alma do negócio da incorporação. 

Desconfio que a classe média que demanda moradia permanente terá de esperar o esgotamento do filão.