segunda-feira, 30 de julho de 2018

De volta ao Porto Maravilha

A recente decisão da Caixa Econômica Federal de instalar sua nova sede no Rio de Janeiro numa torre corporativa da Rua do Passeio, Cinelândia, e não em algum edifício já disponível no Porto Maravilha - sua criatura adotiva desde a aquisição, em nome do Fundo de Investimento Imobiliário do Porto Maravilha (FIIPM/FGTS), da totalidade dos direitos de construção no perímetro da Operação Urbana Consorciada - é a insólita culminação de uma longa série de desacertos no planejamento e gestão dessa intervenção urbana municipal, lançada pelas autoridades, como tantas outras em nossa época, sob o signo altissonante da “parceria público-privada”, aqui incluída a interveniência generosa e decisiva do governo federal.

Foto Jerri Cardoso (28/06/18) / Diário do Porto
Matéria publicada na Folha de São Paulo e reproduzida no Bem Paraná em 23 de julho assegura que a Caixa atendeu, desse modo, a uma reivindicação de seus próprios funcionários, que “se queixavam da falta de serviços no Porto, [da] dificuldade de acesso e [d]a possível insegurança na área.” [1]

Sou levado a concluir que, dois anos depois de inaugurado, com pompas olímpicas e romarias cidadãs, como novo pólo turístico e cultural internacional e futuro centro empresarial da metrópole, o Porto Maravilha é reconhecido por seu investidor monopolista como uma região urbana que não tem serviços, não tem transporte, não tem segurança; vale dizer, não é cidade. E continuará não sendo pelos próximos 15 anos, a julgar pelo prazo do contrato de aluguel da CEF-Rio com o novo senhorio!

Qual poderia ser um indício mais claro da metástase galopante, quem sabe do iminente desmanche dessa intervenção urbana na forma como a conhecemos?

Já nas últimas semanas, a ansiedade dos paladinos do Porto Maravilha com o encalhe dos certificados de potencial construtivo (CEPACs) que deveriam financiá-lo - expressa por O Globo em 28 de maio e 4 de julho, clamando pela continuidade do projeto [2] - dera lugar a uma constrangedora lavagem pública de roupa suja entre a Caixa Econômica, a prefeitura do Rio, a Companhia de Desenvolvimento do Porto e a concessionária Porto Novo (sociedade de empreiteiras responsável para execução das obras de infraestrutura e dos serviços urbanos na região) decorrente da suspensão dos repasses do FIIPM-CEF por falta de recursos.

De repente, toda a formidável engrenagem institucional criada para a revitalização do Porto se revela tão frágil quanto um castelo de areia e tão inútil quanto um avião sem asas: com a imundície já tomando conta das ruas, a prefeitura foi simplesmente obrigada a reassumir suas tradicionais obrigações com a manutenção daquela parte da cidade [3], mobilizando a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente, a Secretaria Municipal de Transportes, a Companhia de Engenharia de Tráfego, a Rioluz, a Fundação Parques e Jardins e a Comlurb - que, aliás, já vinha executando o serviço de coleta de lixo e limpeza urbana como contratada da concessionária; a intermediação era paga, como tudo mais, com dinheiro do FIIPM-CEF à conta da venda futura dos CEPACs.

Contudo, os problemas do Porto Maravilha não são de ontem - nem de anteontem. Os mesmos jornais que situam a suspensão dos repasses em janeiro de 2017 garantem que o FIIPM já está insolvente há pelo menos dois anos, o que nos faz recuar a junho de 2016. Não espanta. Em dezembro de 2015, o jornal Extra trazia um relatório publicado no DO da União dando conta da revenda aos investidores-incorporadores privados, até aquela data, de ridículos 8,79% do total de CEPACs adquiridos pelo FIIPM-CEF à prefeitura do Rio de Janeiro, como resultado do “declínio do mercado imobiliário”. [4] A essa altura, a marolinha já virara um tsunami.

Com a situação praticamente inalterada, é de se supor que, passados sete anos, o FGTS continua credor dos R$ 3,5 bilhões investidos em 2011 na compra da totalidade dos direitos de construção válidos para os 500 hectares do Porto Maravilha, acrescidos de outros R$ 4,5 bilhões em obrigações de infraestrutura e 15 anos de serviços urbanos previstos no leilão, sem contar a indispensável aquisição de terrenos (por preços que eu suponho descontados do custo dos próprios CEPACS) sem os quais possuir CEPACS é como voar num Boeing cujo pouso depende de negociar com os aeroportos disponíveis a taxa de serviço. Abordaremos essas questões numa próxima postagem.

Pergunto: como aceitar, em tais circunstâncias - sobre as quais pairam ainda graves acusações de manipulação política e pagamento de propinas em benefício das empreiteiras envolvidas -, que os poderes constituídos (ainda de pé!!!) não se sintam na obrigação de vir a público prestar contas desse imbróglio? De assumir a responsabilidade pela aplicação de recursos do FGTS, às vésperas de uma recessão econômica anunciada, em um pacotaço de direitos de edificabilidade que hoje ninguém quer comprar? De abrir um debate amplo e transparente, para variar, sobre as opções escolhidas, a situação atual e o futuro do projeto?

*
Esta postagem não me saiu como planejada. Era para ser mero preâmbulo, curto e sóbrio, de uma série de comentários que pretendo aqui publicar nas próximas semanas sobre aspectos dessa Operação Consorciada relacionados não à política em geral (que hoje envolve obrigatoriamente a esfera policial), mas à política urbana e ao urbanismo subjacentes - e bota subjacentes nisso!

Ainda que os fatos sigam conspirando em sentido contrário, tentarei me ater a esse plano.

Antes, porém, faço questão de recordar os termos, que considero absolutamente atuais e pertinentes, de uma postagem publicada neste blog há cinco anos, por ocasião do anúncio da Operação Urbana Consorciada Centro de Niterói, empreendimento natimorto que, já em plena crise recessiva, flertou com a possibilidade de reproduzir o milagre, aqui esboçado, da mobilização das empreiteiras com pródigos adiantamentos da Caixa Econômica Federal lastreados em CEPACs de retorno duvidoso:
Em todas as grandes cidades do mundo paira, acima dos governos, uma compacta e intrincada rede mundial de concessionárias, empreiteiras, imobiliárias e proprietários de grandes eventos, além, é claro, de financeiras e bancos privados.
Como deixa claro a crise turca, é cada vez mais frágil e precária a barreira que hoje separa as reivindicações elementares das populações urbanas dos grandes cataclismos políticos. A culpa não é, decerto, do blogueiro furibundo. Mais provavelmente, é do papel crítico que tem, na economia contemporânea, a exploração privada cada vez mais predatória dos bens públicos, dos serviços essenciais e não essenciais e da renda da terra urbana; e, consequentemente, da influência que costumam adquirir seus principais beneficiários diretos e indiretos no governo das grandes cidades.
É por isso que, em se tratando das grandes operações urbanas contemporâneas, cada caso está longe de ser um caso. Ao contrário, cada caso é, em princípio, o mesmo caso. E cabe ao réu provar que é inocente.
___
https://oglobo.globo.com/opiniao/o-porto-maravilha-tem-que-continuar-22719405

2018-07-30


terça-feira, 24 de julho de 2018

Mico Maravilha

Bem Paraná 23-07-2018, por Folhapress

Caixa escolhe nova sede no RJ na Cinelândia e ignora revitalização do porto

Foto: Marcelo Sayão/ EFE
Fonte: Internet*
A Caixa Econômica Federal escolheu a sua nova sede no Rio de Janeiro atendendo a pedido de funcionários, mas ignorando o projeto de revitalização da zona portuária, na qual já investiu mais de R$ 5 bilhões do FGTS.
A decisão contrariou membros da Prefeitura do Rio de Janeiro. Eles esperavam que a Caixa escolhesse o Aqwa Corporate, da Tishman Speyer, que fica na região portuária. A ida dos cerca de 2.000 funcionários para o local ajudaria a movimentar a região, que sofre com a falta de projetos imobiliários.

A decisão da Caixa vai ao encontro, contudo, do pleito de funcionários do banco. Eles se queixavam da falta de serviços no porto, dificuldade de acesso e a possível insegurança na área.

Os valores do negócio não foram anunciados. No mercado especulava-se que a oferta de ambos os imóveis eram semelhantes, de cerca de R$ 2 milhões mensais. A Caixa vai deixar sua sede na avenida Almirante Barroso onde atualmente paga R$ 4,2 milhões mensais a um fundo gerido pelo BTG Pactual.

O contrato firmado com a BR Propetiers é de 15 anos (..)

2018-07-24


[*] https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/album/2014/09/22/mico-leao-dourado-resiste-a-extincao.htm#fotoNav=8

Veja mais sobre o Porto Maravilha no "Dossiê Porto do Rio", coluna à esquerda, e nos marcadores "Porto do Rio" e "Porto Maravilha", coluna à direita.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Com os burros n'água

Ademi na imprensa / O Globo 05-07-2018, por Luiz Ernesto Magalhães 

Porto sem fundo 
Montagem à beira do urbanismo
Imagens originais Internet
Idealizado como uma Parceria Público-Privada (PPP) que viabilizaria uma revolução urbana sem o uso de recursos públicos, o projeto Porto Maravilha já custou R$ 280,5 milhões à prefeitura desde junho de 2016. E os gastos vão aumentar. Com a saída, na semana passada, da concessionária que cuidava da área de um milhão de metros quadrados - o equivalente aos bairros de Copacabana e Leme -, o município teve que assumir os serviços de limpeza, operação de trânsito, iluminação pública e manutenção de vias, uma despesa que pode chegar a R$ 140 milhões por ano, de acordo com o previsto no contrato de concessão.

O projeto está à deriva porque o Fundo Imobiliário administrado pela Caixa Econômica Federal, que deveria financiar as obras de infraestrutura e a manutenção, encontra-se insolvente há dois anos. Por isso, deixou de repassar recursos à Concessionária Porto Novo. A prefeitura já teve que injetar dinheiro na PPP em dois momentos. No início de 2017, o município pagou R$ 62,5 milhões, a fundo perdido, para ressarcir despesas com conservação. Depois, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp), ligada à prefeitura, comprou R$ 218 milhões em cotas do fundo, tornando-se "sócia" do negócio. Agora, o sistema de financiamento voltou a naufragar, e a concessionária deixou o projeto. (..).

2018-07-05

Veja mais sobre o Porto Maravilha no "Dossiê Porto do Rio", coluna à esquerda, e nos marcadores "Porto do Rio" e "Porto Maravilha", coluna à direita.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Legado olímpico

O Dia online 19-06-2018, por Cassio Bruno

Estádio Célio de Barros vira parque de diversões
Nada contra os parques de diversões, que hão de ter o seu lugar em nossa aldeia urbana; só não posso deixar de registrar, uma vez mais, a convicção de que o legado olímpico alardeado pelas autoridades federais, estaduais e municipais organizadoras do evento e prazerosamente repercutido pelos potentados empresariais beneficiários era de fato, no fim das contas, pura e simples empulhação da cidadania.

Leia também, neste blog:

Atenas, Pretoria, Pequim e Rio de Janeiro: “Legado olímpico” é a alegre empulhação das sociedades emergentes (10-04-2012)

Legado olímpico se aprende na escola (22-02-2013)

Julio Delamare e Célio de Barros: NÃO à destruição dos bens do patrimônio desportivo e educacional brasileiro (01-04-2013)

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Holocausto carioca

Poluição visual ameaça Paisagem Cultural Mundial do Rio no Morro/Mirante do Pasmado
É possível fazer, hoje em dia, uma construção de 22 metros de altura em cima de um morro carioca, à beira da Baía da Guanabara, e que compõe a Paisagem Cultural Mundial do Rio? Claro que não!

Mas, a polêmica da construção de um monumento em memória ao holocausto dos judeus, na Europa, na 2ª Guerra Mundial, no Morro do Pasmado, chegou finalmente à grande mídia. Ainda bem que chegou, porque, até o momento, o assunto vinha sendo empurrado nos gabinetes da Prefeitura e nos corredores da Câmara Municipal sem que a sociedade civil tivesse sido consultada ou ouvida.

A sociedade civil, que tomou conhecimento do assunto por notícias esparsas, vem se manifestando, no mínimo, estarrecida. Vê-se isto nas páginas do Facebook do movimento SOS Patrimônio, na página da Associação de Moradores de Botafogo (AMAB), e nos comentários de sítios como a UrbeCArioca. Porém, nada oficial. 
(Continua)

2018-06-15


terça-feira, 12 de junho de 2018

La economía del siglo XXI: rentadicción

Deu no DN Opinião
11-06-2018, por Anselmo Crespo
A bolha
(..) O dinheiro, na altura, chegava para tudo. Para comprar casa, mobilá-la e ainda para umas férias no Algarve. "O banco empresta e isto são só mais 50 euros por mês, não custa nada." Claro que correu mal. Muito mal. Com a crise veio o desemprego, com o desemprego começaram a chegar aos bancos molhos de chaves de casas que as pessoas já não conseguiam pagar e para as quais os bancos não tinham destino. São os tais NPL (non performing loans), ou créditos incobráveis, para os quais o Banco de Portugal vem, ainda agora, alertar: "O stock de NPL ainda é significativo e a elevada exposição à dívida pública e ao imobiliário tornam o setor particularmente sensível a evoluções desfavoráveis nos preços destes ativos". Ou seja, os bancos ainda não se curaram da loucura anterior e já estão a meter-se noutra.
Senão vejamos: contava-me um amigo no outro dia que lhe ligaram do banco. "Para me dizerem que eu tinha um crédito pré-aprovado de 300 mil euros para comprar casa e se não queria aproveitar." O espanto na cara do meu amigo, que ainda está a pagar um empréstimo, foi equivalente ao meu quando li no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal que "os bancos portugueses não são os principais dinamizadores do mercado imobiliário". Se isto não é dinamizar o mercado, não sei o que seja.
Ainda assim, o Banco de Portugal avisa que podemos estar à beira de uma bolha imobiliária. Carlos Costa não tem bem a certeza, mas suspeita que isso possa vir a acontecer. Talvez porque ainda não lhe pediram dez mil euros por metro quadrado, ou 150 mil euros por um apartamento do tamanho de um quarto. Talvez nunca ninguém tenha pedido a Carlos Costa 1200 euros por um T1 nas Laranjeiras, ou 600 euros por um quarto de estudante. Mas, se o governador do Banco de Portugal lesse as notícias, ficava a saber que não estamos apenas à beira de uma bolha. Já estamos dentro dela. (Continua)


2018-06-12


sábado, 2 de junho de 2018

PIU / São Paulo: gestão privada da cidade?

Deu no Labcidade
25-05-2018 por Paula Freire Santoro e Flávia Nunes
Projetos de Intervenção Urbana (PIUs) em São Paulo: transferência de terras para exploração comercial por terceiros

Imagem: Prefeitura de São Paulo
Um novo instrumento está sendo largamente utilizado na política urbana de São Paulo: o Projeto de Intervenção Urbana (PIU). Em uma de suas versões, a do PIU dos terminais, concessionários privados podem definir áreas e imóveis no entorno dos terminais de ônibus que desejam desapropriar para explorar comercialmente. Além de alargar para a exploração privada um instrumento (desapropriação) que era de uso exclusivo do Estado, e com fins estritamente de promover obras e equipamentos públicos, a atuação através de PIUs se dá de forma fragmentada e muito pouco transparente. Com processos decisórios cada vez mais enxutos, os projetos de intervenção urbana (PIUs) buscam afastar o debate público na elaboração e implantação de projetos que provocam transformações significativas nas áreas onde são implantados.

Nos últimos dois anos, a Prefeitura de São Paulo colocou 35 Projetos de Intervenção Urbana (PIUs) em debate, sendo que alguns deles foram oriundos de propostas dos proprietários de glebas, através de Manifestações de Interesse Privado. Se aprovados, podem afetar cerca de 102 km² ou quase 10% de toda área urbanizada da cidade. São muito fragmentados, de distintos tamanhos e tipos, que podem ser organizados em alguns grupos: (Continua)

2018-06-02

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Em se plantando tudo dá

Segs 17-05-2018, por Deivid Souza

Impulsionando retomada, agropecuária influencia positivamente mercado imobiliário
 
Montagem: à beira do urbanismo
Imagens originais: Internet
Se ao longo de três anos de crise o agronegócio foi o responsável para que o PIB brasileiro não alcançasse resultados ainda piores, com um crescimento de 13% em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este setor da economia é também o grande propulsor da atual retomada do crescimento do País. E isso traz influência positiva em outros setores, um deles é o mercado de imóveis.

Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontam que os estados ligados ao agronegócio, entre eles Goiás, estão puxando a recuperação do mercado imobiliário no Brasil desde 2017. Em virtude dessa influência do agrobusiness, segundo a Abecip, a Grande Goiânia registrou um crescimento no número de lançamentos de 12,5%, enquanto que nacionalmente a queda foi de 13%. E tem mais: [segundo] dados da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), as vendas de imóveis no estado de Goiás cresceram 127% em 2017 quando comparadas ao ano anterior. O volume de negócios chegou a R$ 2,5 bilhões.

2018-05-28

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Compromisso com a sustentabilidade

G1 Goiás 17-05-2018, por Vanessa Martins

Roberto Carlos diz que empreendimento de luxo em Goiânia do qual é sócio será 'o melhor possível'
Família goiana entrevistada
 pelos incorporadores garante
 que o Horizonte Flamboyant
 é um produto que atende à sua
 demanda de sustentabilidade:
mamãe vai trabalhar de cozinheira
 e papai de zelador, enquanto os
pequenos ficam em casa,
amarrados ao pé da mesa,
 ouvindo o Rei Roberto cantar
 "Vou  chegar mais cedo em casa"
free Family Clip Art
O projeto é o primeiro, perto do Parque Flamboyant, em seis anos e já vendeu mais de 40 das 152 unidades antes do lançamento. O empreendimento de luxo fica em uma área de cerca de 4 mil metros quadrados e tem apartamentos de 177 e 204 metros quadrados, localizado na região nobre do Jardim Goiás, na Avenida H.
"Sou muito detalhista em tudo que eu faço, olho tudo pessoalmente. Digo que se não fosse cantor e compositor seria engenheiro ou arquiteto. Tenho um paixão pela área", declarou.
(..) Um dos sócios do empreendimento, Guilherme Pinheiro destacou que um dos principais chamativos da obra é exatamente a série de novidades sustentáveis. “O Horizonte é um produto que, mesmo sendo de alto padrão, atende à demanda da sustentabilidade. (..)”

(..) “Pensamos o tamanho dos apartamentos baseado em entrevistas com a família goiana. Além disso é um projeto novo, versátil, temos o maior lobby de entrada da cidade, elevadores exclusivos para todas as torres. É um empreendimento criado para o alto padrão goiano”, detalhou.

2018-05-24


segunda-feira, 21 de maio de 2018

Belgrado Waterfront II

Deu no Estado de S Paulo
03-05-2018, por Barbara Surk / NY Times
http://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,plano-para-construir-a-dubai-dos-balcas-irrita-moradores-de-belgrado,70002291828

Plano para construir a Dubai dos Balcãs irrita moradores de Belgrado
“Queremos restaurar a antiga glória de Belgrado, fazer dela uma cidade grande e respeitável novamente, depois dos anos de vergonha que vieram com os conflitos e guerras”, disse o prefeito de Belgrado, Sinisa Mali.
Antes do começo da construção, há dois anos, 231 famílias foram realocadas por causa do projeto, mas algumas se recusaram a sair. Certa noite, cerca de 30 homens mascarados com tacos de beisebol e ferramentas pesadas apareceram no local. Ao amanhecer, vários prédios residenciais e comerciais tinham sido demolidos para permitir o início das obras.
O ataque de 2016 chocou os sérvios, que levaram sua raiva às ruas, denunciando o que afirmavam ser práticas corruptas da elite. Os protestos se transformaram nas maiores manifestações contra o governo desde que uma revolta popular derrubou o poderoso Slobodan Milosevic, em 2000.
(..) Os primeiros proprietários dos prédios residenciais a serem concluídos em breve deverão pagar até 7 mil euros por metro quadrado, em um país com um salário médio mensal de 375 euros. Ao todo, 5.700 residências e oito hotéis serão construídos no empreendimento, na área entre o rio e as ferrovias.
Placas de cimento foram colocadas ao longo do rio para formar um calçadão repleto de escorregadores para crianças, um ancoradouro, um restaurante, uma ciclovia e uma fileira de cartazes gigantes que mostram os prédios a serem construídos nos próximos 30 anos. Entre estes, o maior shopping center dos Balcãs.
“Estamos tentando fazer tudo novo, sem romper os laços da cidade com o passado”, disse Mali.
Mas Bojan Kovacevic, presidente da Academia de Arquitetos da Sérvia, chamou o empreendimento de “crime contra o planejamento urbano”.

2018-05-21

Leia também

“To Build Dubai of the Balkans, Serbia Deploys Bulldozers and Baseball Bats”. NY Times 29-04-2018, por Barbara Surks

“Controversy surrounds Belgrade Waterfront development”. BBC online 21-06-2016, por Guy Delauney

“Belgrade's 'top-down' gentrification is far worse than any cereal café”, The Guardian 10-12-2015, por Alex Eror

“Belgrade Waterfront - the dark side of 'urban renewal'. Open Democracy 26-11-2015, por Marko Aksentijevic


quarta-feira, 16 de maio de 2018

Apontamentos: Navascués 1969 - Soria dos pés para a cabeça

Estes apontamentos são parte de um processo de estudo compartilhado. À beira do urbanismo está à disposição dos autores cujo trabalho aqui se comenta para suas considerações.

NAVASCUÉS PALACIO Pedro, "La Ciudad Lineal de Arturo Soria". Arquivo Digital UPM: Villa de Madrid n. 28, 1969, p. 49-58
http://oa.upm.es/7682/1/Villa_28.pdf


Clique na imagem para ampliar
Ao contrário do que se costuma encontrar nas fontes não especializadas, e por vezes até nas acadêmicas, Navascués situa, neste texto de 1969, a Ciudad Lineal de Soria y Mata no contexto da acelerada e problemática expansão geográfica, populacional e edilícia de Madri de fins do século XIX: ao iniciarem-se, em 1857, os trâmites de seu ensanche, a cidade ainda convivia com o cinturão de muros e portas erguido na década de 1800 com a fútil pretensão de deter os exércitos de Napoleão.

O estudo de Navacués nos permite apreciar a realização de Soria "dos pés para a cabeça", isto é, como projeto de urbanização antes que como utopia, mais exatamente especulação, urbanística, ambiguidade que a define, quem sabe ao lado da cidade-jardim howardiana, como híbrido histórico: pode-se discutir se é o programa de reforma social que para poder sair à luz se adapta às exigências da nascente indústria da suburbanização ou se é esta que, ainda debutante, se apresenta aqui e ali em trajes de colônia semi-rural destinada ao aperfeiçoamento físico e moral das classes laboriosas. 

Com o devido registro da primazia atribuída por Soria ao problema da locomoção, “do qual derivam todos os demais problemas da urbanização”, Navascués nos remete a um programa urbanístico supreendentemente complexo envolvendo elementos de economia espacial, de sociologia urbana, de planejamento urbano, de gestão de serviços públicos, de financiamento e empreendedorismo privado, de desenho urbano, de arquitetura residencial.

O artigo finaliza com uma discussão sobre o “estatuto” de Ciudad Lineal na Madri do último quarto do século XX e as opções de planejamento e projeto ao alcance da Administração: o fato de que “infelizmente, à parte o traçado pouca coisa resta da primitiva Ciudad Lineal” não a torna menos digna de um tratamento à altura da fama que ostentam o seu modelo e o seu projeto na história do urbanismo moderno. 

Acesse o artigo de NAVASCUÉS pelo link
http://oa.upm.es/7682/1/Villa_28.pdf


2018-05-16


sexta-feira, 11 de maio de 2018

Pergunte ao Dr Mercado

BBC Brasil 10-05-2018, por Letícia Mori

Por que existem tantos prédios abandonados em São Paulo?

(..) "O centro de SP está em piores condições que os de todas as grandes cidades da América Latina", diz o arquiteto e urbanista Álvaro Luis Puntoni, professor da Faculdade de Arquitetura da USP e da Escola da Cidade. "A região é um retrato da degradação."

(..) Para a arquiteta Nadia Somekh, professora emérita da Faculdade de Arquitetura do Mackenzie e ex-diretora do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), o problema é que "não há priorização para questão da habitação" por parte do poder público. "Não há recursos, não há gestão adequada. Tem que mudar o foco. Há muito investimento em asfaltamento, que dá voto com a classe média, e em limpeza urbana, porque as pessoas não têm educação ambiental." 

Puntoni também acredita que é preciso dar mais atenção à questão da função social. "A lei deveria ser aplicada. Em Portugal, se um edifício fica 5 anos abandonado, ele automaticamente passa para o governo", exemplifica. Ele também diz que a solução para o déficit habitacional passa, necessariamente, pelo reaproveitamento dos prédios abandonados. (..)

*

A foto ilustrativa da matéria mostra um edifício que, embora decrépito e em precárias condições de habitabilidade, está claramente ocupado.

O problema, por outro lado, não é que haja muitos edifícios abandonados, mas que existam nas grandes cidades populações inteiras para as quais os edifícios abandonados aparecem como solução de moradia – algo que não tem, a meu ver, solução no âmbito do urbanismo ou das
políticas urbanas, ainda que estas possam e devam intervir para dar o indispensável suporte às famílias ocupantes como para salvaguardar, na medida do possível, o interesse coletivo em face das prerrogativas dos proprietários dos imóveis.

Em São Paulo mesmo, conforme artigo veiculado no Arch Daily de 01-0-2018 [1] a prefeitura anuncia “um programa de locação social para abrigar moradores de rua em edifícios desocupados do centro da cidade em troca de benefícios aos proprietários dos imóveis, que poderão ter suas dívidas de IPTU abatidas e deixarão de pagar o IPTU Progressivo para imóveis vazios”.

Não me parece claro que ajudar proprietários a conservar a titularidade de frações de solo que ancoram benfeitorias economicamente irrecuperáveis é melhor política do que ajudar a municipalidade a adquiri-las, ainda que progressivamente, pela via da execução fiscal. Até porque a ocupação de edifícios abandonados não atende mais do que precária e provisoriamente à necessidade habitacional de ninguém. 

O processo de deterioração física e funcional que leva edifícios, quadras, às vezes regiões urbanas inteiras – como em Detroit –, ao status real ou aparente de "abandonado” é por vezes referido como “espiral de desvalorização”, um tema de economia e sociologia urbana de grande relevância e não menor complexidade com o qual este blog contribuirá reunindo, na página Arquivos de Política Urbana, material disponível na internet.
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sábado, 5 de maio de 2018

Ocupar é dar uso, habitar é preciso

Deu no Marco Zero,
28-03-2018, por Luiz Carlos Pinto, com C Monteiro, I Campelo, S M Buarque
Centro em Disputa
Dívidas de R$ 346 milhões de IPTU expõem abandono e cobiça no Centro do Recife
ocupação Marielle Franco, do Movimento de Trabalhadores Sem Teto, colocou o dedo na ferida: há uma acirrada disputa pelo centrão do Recife. Cerca de 200 famílias ocuparam o edifício SulAmerica, de propriedade da Empresa Nacional de Hotéis LTDA na segunda-feira, 19. Localizado na Praça da Independência, 91, o edifício tem seis pavimentos e faz uma curva suave na direção da Avenida Dantas Barreto, bairro de Santo Antônio.
Mapa dos imóveis com dívidas do
 IPTU acima de R$ 500 mil na RPA1
Fonte: Marco Zero
A escolha de um imóvel desocupado no centro não foi aleatória. O edifício tem dívidas acumuladas no valor preciso de R$ 1.507.771,03, dos quais R$ 1.416.641,17 inscritos na dívida ativa do município. Está entre as 30 maiores dívidas de um total de 3.740 imóveis devendo o imposto na Região Político Administrativa 1 (RPA1) – que compreende Santo Antônio e mais 10 bairros. O edifício estava desocupado há mais de 10 anos, portanto sem cumprir a função social exigido pela Constituição brasileira.
Tornou-se lugar comum afirmar que o centro da cidade do Recife está abandonado. Na verdade ele tem partes abandonadas – lugares fora das ideias que conduzem o planejamento urbano da cidade –, e partes que têm sido cobiçadas pelo mercado e apoiadas pelo poder público, com investimentos e incentivos. Para esses lugares há ideias, mobilização, planos, projetos, maquetes e negociações.
(..) O valor da dívida na RPA 1 é comparável ao que a atual gestão municipal estima angariar em 2018 em toda a cidade – cerca de R$ 382 milhões. É também equivalente ao custo de construir mais de 4 mil unidades habitacionais no padrão do Programa Minha Casa, Minha Vida. Imagine um investimento desse montante no centrão da capital pernambucana – praças, esgotamento, habitação, boulevards, escolas… (Continua)
Acesse a matéria completa pelo link


2018-05-05


quarta-feira, 2 de maio de 2018

Missão: Tudo é possível

The Guardian 29-04-2018, por Robert Booth e Frankie Crossley

Nearly 100 London councillors have links to property industry

Almost one in 10 councillors work for consultancies involved in planning or construction firms 

Ravi Govindia, Wandsworth Council
Elected by the Conservative Council Group in 2011
Councillor since 1982
Montagem: à beira do urbanismo
Some of the councils with the highest levels of hospitality or declared interests in property companies are producing levels of affordable housing that fall short of the London Mayor’s 35% target in the capital. In Wandsworth, where 17 councillors declared interests or entertainment with property companies, 19% of new homes built between 2013 and 2016 were affordable. In the City of London, where 12 councillors declared interests, only 3% were affordable.

Ravi Govindia, the leader of Wandsworth, strongly denied any link, stating that 1,700 affordable homes will be completed in the next three years and that “to suggest that we are not playing our part in delivering the low-cost housing London needs is complete and utter fallacy”.

Govindia, who is director of a gorilla safari business, was entertained by property companies 11 times in 2016 and the first half of 2017 including at Simpsons in the Strand and the Ned. He said: “It is important that we engage with property companies, housing associations and senior government officials so that they better understand our housing needs and priorities.” Govindia said he was “wholly open and transparent in my dealings”. (..) 

2018-05-02

Acesse o Relatório Anual de Monitoramento do Plano de Londres 2015-16 pelo link
https://www.london.gov.uk/sites/default/files/amr_13.pdf

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Gente pra morar que é bom...

Deu no Extra online
18-04-2018, por Pedro Zuazo

Imagem: Internet
Porto Maravilha vai ganhar roda-gigante inspirada na London Eye 
A empresa Gramado Parks, que venceu licitação para explorar um terreno no Porto Maravilha, pretende construir uma roda-gigante na Zona Portuária do Rio. A atração será uma réplica reduzida da London Eye, tradicional atração turística da Inglaterra, que tem 135 metros de altura — a versão carioca terá 88 metros. O equipamento será instalado em um espaço com 2.459,26m² de área, situado ao lado do AquaRio.
O certame ocorreu no último dia 9 e teve apenas duas empresas participantes. (Continua)
 



2018-04-19

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Bens públicos, negócios privados

Deu no Valor Econômico online
10-04-2018, por Rodrigo Carro

Galeão dá início a investimento imobiliário 
Montagem: à beira do urbanismo
Imagens originais: Internet
Num momento de sobreoferta de espaços comerciais no Rio de Janeiro, a concessionária RIOgaleão deu início a um projeto de desenvolvimento imobiliário para aproveitar uma área superior a 900 mil m2 no entorno dos terminais do Aeroporto Internacional Tom Jobim e ao longo da sua principal avenida de acesso. Um primeiro contrato foi assinado para a instalação de dois novos hotéis da rede Accor no prédio que já abrigou a sede da Infraero no Rio. Com base em dois estudos sobre o potencial imobiliário da área, a concessionária privada espera atrair até R$ 1,3 bilhão em investimentos, incluindo um shopping center e um hospital.
O projeto se tornou viável a partir da publicação da portaria de número 143 pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, em abril do ano passado. Ajustada posteriormente por outra portaria (nº 323), a 143 permite aos aeroportos concedidos estabelecer contratos comerciais com prazo maior que a duração da concessão. (Continua)


2018-04-10


quinta-feira, 22 de março de 2018

Gosto não se discute

G1 09-03-2018, por Em Movimento (Informe Publicitário)

Saiba por que espaços menores tornaram-se atrativos
Arquitetura se adapta às novas formas de morar com apartamentos compactos e funcionais
Montagem: àbeiradourbanismo
Imagens originais: Internet
“A gente percebeu que o prédio é uma continuação da casa da pessoa. Em vez do jeito antigo, que projetava prédios desconexos, com salões de festas ociosos e espaços que ninguém usava, enxergamos o prédio como algo que faz parte da casa da pessoa”, explica Alexandre Frankel, CEO da Vitacon, incorporadora que no ano passado anunciou em São Paulo o lançamento dos menores apartamentos da América Latina, com 10m².

(..) A arquitetura interna das unidades é funcional, com espaços prontos para receber móveis práticos e com utilidades diversas: sofá-cama, paredes que viram mesas, portas de correr e todo tipo de estrutura para otimizar o espaço, como degraus para armazenar sapatos. A única divisória entre cômodos é a separação do banheiro.

“Quando as pessoas compram um apartamento assim, o que elas esperam é ganhar tempo. Ela vai passar menos horas no trânsito, por ser em regiões centrais, e então sobra mais tempo para fazer o que importa. Ela não gasta com manutenção, ela economiza tempo na limpeza. A vida fica mais prática e funcional, e bem mais interessante”, afirma Frankel.

2018-03-22

Leia neste blog

"O Coeficiente de Aproveitamento e a valorização do solo",
https://abeiradourbanismo.blogspot.com.br/2013/02/o-coeficiente-de-aproveitamento-e.html

"A braços com as peculiaridades da mercadoria terra urbana"
http://abeiradourbanismo.blogspot.com.br/2012/01/bracos-com-as-peculiaridades-da.html

quinta-feira, 15 de março de 2018

Eterno vilão

Portal Plural 14-03-2018, por Sílvio Brasil
https://portalplural.com.br/2018/03/14/iptu-sera-cobrado-no-cemiterio/

IPTU será cobrado no cemitério
Famílias terão que pagar taxa anual no valor de R$ 150,00 para manter o jazigo de seus entes

Montagem: À beira do urbanismo
Imagem original: Internet

2018-03-15