sábado, 30 de novembro de 2019

Sua Cama Minha Vida

Deu n’A Tarde 
30-11-2019, por Fábio Bittencourt
https://www.atarde.uol.com.br/imoveis/noticias/2110702-vida-sustentavel-e-a-ideia-central-das-futuras-moradias 
Vida sustentável é a ideia central das futuras moradias
Já parou para pensar como serão as casas, a vida em condomínio (comunidade), o dia a dia nas grandes cidades daqui a dez anos? Que papéis terão a tecnologia, a inovação e o conceito de desenvolvimento sustentável no futuro? Quais as tendências e apostas do mercado imobiliário?
Moradia para a vida sustentável
Segundo os especialistas, as respostas para as perguntas acima estão mais relacionadas às necessidades mais básicas do usuário e remetem à ideia de economia e otimização de espaços e recursos, compartilhamento, segurança, comodidade, iniciativas ecologicamente corretas.
(..) Para o CEO da startup Noknox, Joaquim Venancio, as tendências para o futuro próximo, coisa de uma década, nem estarão tão voltadas para a realidade da automação, do uso de drones e robôs; mas sim para pilares como o da sustentabilidade, lógica da economia compartilhada e redução de custos.
“Lavanderias compartilhadas, por exemplo, estão chegando com força aos novos prédios. Espaços de lazer (segmentados), o compartilhamento de vagas e veículos autônomos também serão opções procuradas daqui para a frente. Estamos falando de compartilharmos [sic] espaços para reduzir custos”, diz. (Continua)
2019-11-30


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Bens públicos, negócios privados

Deu n’O Globo
25-11-2019, por Luiz Ernesto Magalhães

Projeto prevê construções de até 20 andares no campus Praia Vermelha da UFRJ
"Em tempos de economia
estagnada e rápida
concentração da renda familiar,
a sina de toda e qualquer terra
urbana bem localizada é se
tornar alvo de empreendimentos
cujos produtos e serviços apelem
aos que consintam em pagar,
por aquela vantagem, uma parte
 de seu cobiçado excedente
orçamentário.

O fato de um imóvel bem
situado estar construído sobre,
ou ser  ele próprio, terra pública
é quase irrelevante: caçadores
de oportunidades especulativas
sempre podem justificar a
 iniciativa como "parceria
público-privada visando a
manutenção e melhoria do
equipamento". Dependendo do
tamanho do negócio, a parceria
pode implicar um simples
"patrocínio" ou reivindicar um
prospecto socialmente grandioso,
como "legado olímpico"".*
A prefeitura está às voltas com mais uma polêmica. Agora, a Secretaria municipal de Urbanismo (SMU) quer autorizar a construção de prédios que podem chegar a até 20 andares em alguns trechos do campus Praia Vermelha da UFRJ, em Botafogo. Se o plano aproveitar integralmente os espaços livres, o entorno da Avenida Venceslau Brás (principal eixo de ligação entre Copacabana e o Aterro), onde se encontra o esqueleto do que foi o tradicional Canecão, poderia ganhar até mil novos apartamentos. A proposta do município atendeu a um pedido da UFRJ, que alega a necessidade de aproveitar o patrimônio imobiliário para melhorar a infraestrutura oferecida aos alunos da universidade.
Durante um ano, o plano foi desenvolvido pela prefeitura e pela UFRJ. Detalhes do projeto, que deve ser enviado à Câmara Municipal, foram apresentados, na semana passada, numa reunião extraordinária do Conselho Municipal de Políticas Urbanas (Compur). A área entre o Palácio Universitário e o Hospital Psiquiátrico Pinel (do município) manteria as mesmas atividades, mas seria interligada por uma nova via. Hoje, a maior parte a ser explorada pela iniciativa privada está desocupada. Deverão ser desalojados o Instituto Deolindo Couto, a ser transferido para o Fundão, e a Casa da Ciência, que deve ser remanejada dentro do próprio campus.
A ideia é que o prédio do Canecão seja demolido, e uma nova casa de shows seja construída dentro da área do campus. A proposta da UFRJ é erguer um local para eventos com 1.500 lugares, a ser explorado pela iniciativa privada. Mas a regulamentação permite que outros equipamentos, como cinemas e teatros, possam ser instalados. (Continua)

___
* “Bens públicos, negócios privados”, À beira do urbanismo 10-08-2019
http://abeiradourbanismo.blogspot.com/2019/08/animal-sensivel.html


2019-11-28


domingo, 24 de novembro de 2019

Laranja agradecida


Deu na FolhaNit
23-11-2019, por FolhaNit
Integração Entre Ônibus e Barca Terá Desconto de R$ 4 a Partir de Dezembro
A partir de dezembro, o passageiro que pegar um ônibus municipal (R$ 4,05) e depois a barca (R$ 6,30) poderá pagar R$ 6,35 pela viagem nos dois modais, ao invés dos R$ 10,35 atuais, um desconto de R$ 4.
(..) O projeto faz parte do Plano Municipal de Mobilidade Urbana Sustentável, que será apresentado no próximo dia 26, e tem o objetivo de incentivar o uso do transporte público. Rodrigo Neves explicou que enviará à Câmara nas próximas semanas o pedido de autorização legislativa para implantar um projeto que pretende subsidiar o desconto nas tarifas e que a integração com o Estado é para que o benefício funcione no mesmo sistema do Bilhete Único.
Moradores de outras cidades que têm o Bilhete Único metropolitano estadual e fizerem a integração de ônibus municipal em Niterói com as barcas também serão beneficiados. Witzel enfatizou a importância de mais uma parceria com a Prefeitura e comemorou a iniciativa do Município. “Estamos trabalhando pelo bem da população.” (Continua)

COMENTÁRIO

A medida, indiscutivelmente, é ótima para os usuários afetados. O subsídio é inevitável porque não há como compensar os custos crescentes dos transportes de metrópoles globalizadas com tarifas pagas por salários latino-americanos.

Mas convenhamos.

Primeiro retalha-se o sistema metropolitano de transportes para entregar cada pedaço a uma concessionária em prejuízo da racionalidade do sistema, com aumento geral de custos a serem repassados às tarifas. Em seguida, põem-se os municípios a competir pela concessão de subsídios!

Será absurdo pensar que estamos assim transferindo recursos dos royalties do petróleo às concessionárias, ficando a população na posição de laranja agradecida aos papais-noéis de plantão? Ou devemos nos limitar a aplaudir o prefeito de Niterói por saber tirar partido da nossa riqueza relativa para melhorar ainda mais a nossa posição?

Imaginemos a situação do morador de São Gonçalo, onde a renda per capita 2010 era R$ 669,30, pagando 4 reais a mais pelo seu deslocamento ao Centro do Rio de Janeiro que o morador de Niterói, onde a renda média 2010 era R$ 2009,29. Caberá a Niterói, a São Gonçalo ou ao Estado do Rio arcar com a ineficiência de criar-se uma nova gambiarra no sistema para compensar tamanha iniquidade?


2019-11-24 



sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Localização: a dança dos preços

Deu no Informe Diário ADEMI 
17-11-2019, por Estadão / Economia 
https://informediario.com.br/2019/11/18/shopping-valoriza-imoveis-mais-que-parque-em-sp/
Shopping valoriza imóveis mais do que parque e metrô em São Paulo
Shopping Cidade Jardim

Ao fundo, as torres residenciais
do Parque Cidade Jardim,
concluído em 2010, cujos
empreendedores anunciam
“o prazer de desfrutar do
Shopping Cidade Jardim e do
SPA Fasano apenas ao descer
do elevador de casa.”
Comprar um lançamento imobiliário perto de um shopping em São Paulo custa até 75% mais do que perto de um centro comercial no Rio. Em contrapartida, morar a alguns passos de uma área verde na capital fluminense pode sair até 62% mais caro do que na capital paulista.
Levantamento do Grupo ZAP a pedido do Estado comparou o preço do metro quadrado em empreendimentos a 300 metros de distância de metrôs, parques e shoppings nas duas maiores capitais do País. A pesquisa considerou o valor atual de unidades lançadas a partir de 2014.
Conforme a amostragem, enquanto em São Paulo o valor médio do metro quadrado de um apartamento novo próximo a um shopping é R$ 13 mil, no Rio é R$ 7.398. No restante da cidade, fora do raio de 300 metros a partir de um shopping, o valor cai para R$ 9.047 em São Paulo, e fica em R$ 7.627 no Rio.
Quando a escolha é ter uma paisagem natural à vista do apartamento, os preços no Rio se sobressaem. Enquanto na capital paulista a média do metro quadrado circunvizinho a parques custa R$ 8.039, para os cariocas o preço vai a R$ 13.073.
Para a economista do Grupo ZAP responsável pela pesquisa, Deborah Seabra, o impacto de shoppings na valorização de imóveis na maior capital doPaís pode estar ligado, além da preferência do consumidor, à falta de terreno e à alta procura no mercado. “O preço é um equilíbrio de oferta e demanda. Existem dois fatores que podem estar impulsionando o preço próximo de shopping. Primeiro, a escassez de terreno. Quando tenho pouco terreno, fica mais caro construir. O segundo é a alta demanda. A gente sabe que São Paulo é um centro comercial e as pessoas valorizam esse tipo de ambiente. Se valorizam muito, vai haver reflexo no mercado”, diz Seabra. 
O professor Eduardo Nobre, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), destaca que existe também um fator cultural na valorização de shoppings na capital paulista. “Tem muito a ver com essa opção de lazer e de consumo que foi criada aqui a partir dos anos 1970. A população de São Paulo gosta de ir ao shopping. Usa-o como espaço de lazer”, diz Nobre.
Já no Rio, a valorização de imóveis próximos a áreas verdes está ligada, em partes, ao perfil carioca de “vida ao ar livre”, explica Ethel Pinheiro, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ). Outro fator de destaque, diz ela, é a segurança de espaços públicos, como parques. “A localização de imóveis perto de locais considerados seguros, que são mais vigiados, acaba pesando. Os parques públicos, hoje, são lugares muito vigiados. Os shoppings não pesam tanto porque a gente gosta da vida na rua. Então, onde a rua estiver policiada e segura, isso vai pesar um pouco mais (no preço).”
A mobilidade é outra amenidade que influencia no momento de se atribuir valor a um imóvel. Na comparação com shoppings e áreas verdes, a proximidade com o transporte público ficou em segundo lugar como fator de valorização tanto no Rio quanto em São Paulo.
Perfil econômico
Para o publicitário Alexandre Tagawa, que atua nos estudos de inteligência de mercado da incorporadora EZTec, a preferência de imóveis pela proximidade com algumas amenidades varia de acordo com o perfil socioeconômico do comprador. “Quando vamos desenvolver uma campanha, esses são motes que agregam valor ao produto: poder acessar um shopping, um parque ou uma estação de metrô a poucos passos. Como a EZTec atua em todas as faixas de consumo, desde o Minha Casa Minha Vida até o altíssimo padrão, cada um desses itens importa mais para um determinado público.” 
Segundo Tagawa, para um imóvel de padrão acessível num bairro como o Brás, no centro de São Paulo, o acesso a metrô tem prioridade. Nas faixas de médio padrão no Tatuapé, zona leste, o transporte divide a preferência com o shopping. Já na linha de alto padrão, em bairros como Moema, os parques são o foco dos clientes.

2019-11-22



quarta-feira, 20 de novembro de 2019

E os patrícios vão morar... nas caravelas (4)

Deu n’O Jornal Económico 
08-11-2019, por Laura León 
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/os-numeros-do-airbnb-ja-nao-sao-desprezaveis-destaca-ceo-da-kw-portugal-511310 
Os números do airbnb já não são desprezáveis, destaca CEO da KW Portugal
O CEO da KW Portugal, Eduardo Garcia Costa, destacou que os números do airbnb “já não são desprezáveis”, acrescentando que constam dos dados do turismo que em 2018 o airbnb alojou 3,4 milhões de turistas, dos cerca 21 milhões que passaram por Portugal.
O CEO da KW Portugal frisou que é importante perceber que fenómenos é que estão a acontecer no turismo, dado que estes também estão intrinsecamente relacionados com as novas dinâmicas no mercado imobiliário, nomeadamente o crescimento do turismo residencial, que têm como consequência o aumento de preços no mercado imobiliário. (Continua)


Clique na imagem para ampliar

2019-11-16 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

De benefício geral a malefício local

Deu no El País / Ciencia
09-11-2019, por Nuño Domínguez
“Las nuevas zonas verdes de nuestras ciudades acaban beneficiando solo a los más ricos”
Isabelle Anguelovski, estudiosa de la gentrificación  
Novo Parque de  las Glories, Barcelona
inaugurado em 06-04-2019

Foto (detalhe) Barcelona al día

(..) Su equipo, de 20 investigadores, ha estudiado el impacto que ha tenido la construcción de zonas verdes en 40 ciudades de EE UU, Canadá y Europa con una población de entre 500.000 y 1,5 millones de habitantes. En España se han analizado Barcelona y Valencia. Aunque los resultados completos del trabajo aún tardarán unos meses en estar listos, la principal conclusión ya está clara: existe una “gentrificación verde” en la mayoría de estas urbes de forma que las mejoras ambientales y urbanísticas acaban echando de sus barrios a los vecinos más pobres, que son reemplazados por gente con mayores ingresos y que, a la postre, son los que se benefician de la operación. 
En el caso de Barcelona, este fenómeno ya está teniendo impactos incluso en la salud de las clases más pobres, asegura Anguelovski (París, 1978), profesora de investigación ICREA que trabaja en el Instituto de Ciencia y Tecnología Ambientales (UAB). Su proyecto se llama Green Lulus, siglas en inglés de “uso local del suelo verde no deseado”, pues en algunas de las poblaciones estudiadas, los nuevos parques o incluso las nuevas paradas de metro en el caso de EE UU han sido recibidas con una fuerte oposición y movilización vecinal porque hacen subir el precio de la vivienda y les acaban echando de su barrio. (Continua)
2019-11-14


sábado, 16 de novembro de 2019

Troque-se a população!

Deu no NSC Total 
04-11-2019, por Ronaldo Fontana
https://www.nsctotal.com.br/noticias/cidades-inteligentes-precisam-de-pessoas-educadas-afirmam-especialistas
Cidades inteligentes precisam de pessoas educadas, afirmam especialistas
Montagem: à beira do urbanismo
Imagem: Pixabay
(..) Entre os mais diversos temas abordados no Futurecom, as novas tecnologias, inovações, produtos de tecnologias e telecomunicações formam o futuro próximo e distante para melhorar a qualidade de vida da população. Para a evolução das cidades é necessário uma conexão entre diversos meios, como comenta o associado do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), professor Paulo Miyagi, doutor em Engenharia de Controles pela Tokyo Institute of Technology.
— Muito se discute que, principalmente na segurança, algumas tecnologias não seriam necessárias caso a população tivesse uma melhor educação. É melhor reforçar a segurança para diminuir os crimes, ou reforçar a educação para que diminua o número de bandidos? A conexão não é só na tecnologia, ela também se faz com a educação da população. (Continua)

2019-11-16


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Meu Túnel Minha Vida


Deu n’O Globo Rio / Bairros
03-11-2019, por Ana Claudia Guimarães
A nova cara do setor imobiliário em Niterói
(..) Agora, falando em números, Bruno diz que o setor vem ganhando fôlego: só a Spin registrou crescimento de 59% em unidades vendidas de janeiro a setembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018. 

Túnel Charitas-Cafubá

— Influem a queda da taxa de juros, os baixos rendimentos das aplicações financeiras e a oportunidade de compra num cenário ainda de baixa de preços — diz ele, citando São Francisco, Charitas e Piratininga como os mais novos queridinhos do mercado. Neste último, haverá lançamentos no verão.

Leia também neste blog

“Vem aí: Jardim Cafubá” (22-05-2017)

“Vem aí o Jardim Cafubá II” (10-06-2017)

“O planejamento olímpico e a revolução dos transportes II” (31-10-2017)

2019-11-14

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Não é mito: as águas vão subir

Deu no NY Times Climate 
29-10-2019, por Denise Lu e Christopher Flavelle
https://www.nytimes.com/interactive/2019/10/29/climate/coastal-cities-underwater.html
Rising Seas Will Erase More Cities by 2050, New Research Shows
Mumbai, Índia, 2050. Previsões inicial e e atualizadaClique na imagem para ampliar

Rising seas could affect three times more people by 2050 than previously thought, according to new research, threatening to all but erase some of the world’s great coastal cities.
The authors of a paper published Tuesday developed a more accurate way of calculating land elevation based on satellite readings, a standard way of estimating the effects of sea level rise over large areas, and found that the previous numbers were far too optimistic. The new research shows that some 150 million people are now living on land that will be below the high-tide line by midcentury. (Continua)

2019-11-05


domingo, 10 de novembro de 2019

Falando francamente

Deu no Radio Alto Minho
31-10-2019, por Radio Alto Minho
Proprietários de Lisboa podem comemorar com o aumento dos preços dos imóveis: 24% desde 2012
Montagem,: à beira do urbanismo 
O mercado imobiliário português recuperou bastante após a recessão de 2008, com os proprietários em Lisboa entre os maiores beneficiários. O mercado tem tido um fluxo de capitais proveniente de vários ângulos, à medida que os portugueses retornam ao seu país e uma onda de investimentos estrangeiros ajuda a manter o gradiente numa ótica ascendente. Esta combinação de proprietários locais e estrangeiros fez reviver em grande parte o mercado, que se encontrava no seu ponto mais baixo desde há apenas 11 anos.
Com a implementação de múltiplos esquemas pelo governo português para incentivar o investimento estrangeiro, a residência e a propriedade registaram enormes retornos económicos. Em particular, o sistema Golden Visa (Vistos Dourados), que foi um enorme sucesso para indivíduos de elevado património provenientes da Rússia, China e de toda a África, pois oferecia a oportunidade de prolongar permanentemente sua estadia em Portugal, uma vez que possibilitavam a solicitação de um visto permanente após 5 anos de residência no país (com a condição de ter realizado a compra de um imóvel por mais de € 500.000). 
Paralelamente ao esquema dos vistos dourados, está o esquema dos residentes não habituais em Portugal, promovendo o fascínio de compradores estrangeiros para que se estabeleçam no país. A iniciativa do governo, voltada para os reformados e pessoas com elevado património, oferece taxas de imposto tentadoramente baixas para a renda local e isenção de valores provenientes do exterior. Inspirando-se nos programas governamentais de Londres, Portugal procurou reforçar o crescimento constante e a segurança do seu mercado imobiliário por meio de investimentos estrangeiros, o que parece estar a levar, de fato, a um sucesso retumbante. (Continua)

2019-11-10

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Sua Casa Minha Vida (3)

Deu no UOL Economia
01-11-2019, por Filipe Andretta
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/11/01/minha-casa-minha-vida-mcmv-projeto-senado-imposto-parcela.htm
Senado corta imposto de casa popular, mas preço de imóvel pode não cair

O Senado aprovou na terça-feira (29)
a redução de impostos sobre 
imóveis que custam até R$ 124 mil.
Isso engloba as duas faixas de 
menor renda do programa Minha Casa 
Minha Vida (MCMV). A medida 
valeria a partir de 2020 e ainda 
depende de aprovação do 
presidente Jair Bolsonaro. 
O imposto cai de 7% para 4%. Esse 
corte vai diminuir na prática o 
valor que a pessoa pagará pela casa?

Segundo estimativas do mercado, 
a medida beneficia as empresas que 
investem no MCMV, mas não deve ter 
impacto significativo no bolso de 
quem comprar os imóveis.

(..) O advogado Almeida afirma que a 
redução do imposto é uma medida que 
vai estimular o mercado imobiliário a 
investir em moradia popular, o que é 
positivo. Mas, como a alíquota era 
ainda menor até o ano passado, 
ele acredita que a medida não deve 
alterar o preço final das parcelas 
pagas nas faixas 1 e 1,5 do MCMV. 
"Acho que a diferença no imposto
fica como margem [de lucro] para 
empresa." (Continua)



Se estivéssemos falando de imóveis de mercado, aconteceria exatamente o que afirma o doutor Almeida: a redução do imposto ficaria como lucro para a empresa. Vale para o IPTU (a redução iria para o bolso do senhorio), para o instituto do foro (a redução iria para os bolsos de vendedores e cartórios) e para a Outorga Onerosa do Direito de Construir (a redução seria repartida entre o incoporador e o proprietário do terreno).

Isto decorre da escassez constitutiva do estoque de bens imobiliários disponíveis nas distintas áreas da cidade, relativamente à capacidade de arrendamento ou aquisição, conforme o caso, dos segmentos sociais que os demandam.

São as máximas ofertas de renda dos demandantes que formam o que chamamos de gradientes de preços e aluguéis dos imóveis-localização, razão pela qual aumentos de IPTU e ônus incidentes não lhes podem ser repassados. (Reduções serão embolsadas pelos proprietários-vendedores porque os inquilinos-compradores continuarão disputando as localizações pelo máximo que estão aptos e dispostos a ofertar). Todo proprietário sabe perfeitamente que aumentos de IPTU e taxas condominiais acarretam redução no valor dos novos aluguéis.

Sendo, porém, o Minha Casa Minha Vida um programa de subsídios governamentais à aquisição financiada de imóveis, caberia a quem subsidia (o governo/Caixa Econômica) estabelecer a quem beneficiará a redução do ônus fiscal. Se não o faz em favor dos adquirentes - cuja capacidade de pagamento é essencialmente inelástica - impondo a redução do preço final dos bens, é porque deliberou fazê-lo em favor dos construtores/incorporadores. Em suma, mais um caso de transferência líquida de recursos estatais para o setor privado.

Faz de conta que é um "efeito de mercado".

2019-11-12


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Enfrentando o déficit habitacional

Deu no Terra 
31-10-2019, por DINO
Mercado de Alto Padrão e luxo em São Paulo dispara em 2019
Montagem: à beira do urbanismo
Em agosto as vendas de imóveis novos na cidade de São Paulo cresceram 34,1% sobre o mês anterior e 70,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). Nesse período foram vendidas 4.405 unidades residenciais novas, ante 3.284 unidades em julho e 2.581 unidades em agosto de 2018.
Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também apresentam dados bastante representativos. A entidade registrou avanço de 9,7% nas vendas e de 4% nos lançamentos residenciais. Sendo as moradias de médio e alto padrões apontadas como as principais responsáveis por esse aumento.
(..) O mercado de alto padrão é menos suscetível a crises, então continuou crescendo nos últimos anos.
"O mercado imobiliário residencial está se recuperando devido ao efeito das baixas taxas de juros", ressaltou Sergio Langer, especialista em mercado imobiliário. (Continua)
2019-11-01


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

De joia ferroviária a sucata imobiliária

Deu no Globo Rio
31-10-2019, por Mariana Teixeira
Estado refaz projeto de revitalização para a Estação Leopoldina orçado inicialmente em R$ 7 milhões
Sem receber passageiros desde 2002, a Estação Leopoldina, construída em 1926, poderá ganhar vida nova. O secretário estadual de Cultura, Ruan Lira, promete revitalizar o espaço, que também deverá abrigar um Museu do Trem e atividades culturais abertas ao público. A imponente construção, tombada pelo Iphan e pelo Inepac, ainda se destaca na Avenida Francisco Bicalho, uma das principais vias do Centro, mas sua beleza está ofuscada pelo abandono.
(..) O edifício principal pertence à Superintendência de Patrimônio da União (SPU) e ao governo do estado. Já as estações de trem, na parte de trás, são da SuperVia, empresa responsável pelos trens urbanos do Rio. 
Devido à negligência do poder público, o Ministério Público Federal entrou com uma ação em 2010 para obrigar os responsáveis a restaurarem a estação já que o imóvel corre riscos de desabamento e até de incêndio. Nove anos depois, nada foi feito. (Continua)


2019-11-07


sábado, 2 de novembro de 2019

A vingança do desenvolvimento desigual e combinado

Deu no La Vanguardia 
01-11-2019, por Eusebio Val
https://www.lavanguardia.com/internacional/20191101/471308432941/paris-departamento-sena-saint-denis-pobreza-francia-ayudas.html
Miseria a las puertas de Paris
Foto (detalhe): Miguel Medina AFP
Lo de ayer parecía un desembarco, el rescate humanitario de un Estado fallido. El jefe del Gobierno francés, Édouard Philippe, y cinco de sus ministros no tuvieron que viajar muy lejos para su misión, apenas una decena de kilómetros desde sus despachos. En la periferia noreste de París, lindante con la capital, se halla el departamento de Sena-Saint-Denis, el más pobre de la Francia metropolitana: 1,6 millones de personas con problemas sociales endémicos muy graves.

Quienes aterrizan en el aeropuerto Roissy-Charles de Gaulle y se dirigen al centro de París en los trenes de cercanías pueden hacerse ya una idea del entorno arquitectónico y humano de los barrios populares que atraviesa. Tiene muy poco que ver con el mítico glamur asociado a París, y peor todavía en una jornada gris y lluviosa de otoño. La pobreza se ve y hasta se huele en los vetustos vagones de la línea RER-B y en las estaciones. 
(Continua)
2019-11-04

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Apontamentos: Rego 2015 - Ebenezer Howard nos trópicos?

REGO Renato L*, “A integração cidade-campo como esquema de colonização e criação de cidades novas: do Norte Paranaense à Amazônia Legal”. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V.17, N.1, p.89-103, Abr 2015

*Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Maringá, PR, Brasil. 

Uma breve pesquisa de textos disponíveis na Internet sobre o planejamento regional no Brasil deixa a impressão de que, para a maioria dos autores, ele nasceu na década de 1950 como instrumento de política econômica do governo federal destinado a alavancar o desenvolvimento pela via do equilíbrio inter-regional. Suas mais conspícuas realizações seriam a criação da SUDENE, em 1959, e da SUDAM, em 1966. As raízes do planejamento regional em nosso país estariam, pois, fincadas no Estado desenvolvimentista do terceiro quarto do século XX.

Por analogia, é como se disséssemos que a história das cidades novas em nosso país se resume à construção de cidades-capitais - Teresina (1852), Aracaju (1855), Belo Horizonte (1897), Goiânia (1933), Brasília (1960) -, por iniciativa exclusivamente estatal. 

Em ambos os casos, fica a pergunta: e o Noroeste paranaense? 

Não é meu propósito enveredar pela história do planejamento regional: a do urbanismo já me apresenta dificuldade suficiente. Ocorre, porém, que o fio da meada das cidades novas do noroeste paranaense nos conduz à política provincial de ocupação da região iniciada em fins do século XIX e, muito especialmente, ao Plano de Colonização da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP 1925) - subsidiária brasileira da colonizadora britânica Paraná Plantations -, depois Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP 1944) [1], em cujo âmbito foram criadas nessa parte do país, entre os anos 1929 e 1960, uma bem-sucedida economia agrícola fundada na pequena propriedade e uma densa rede de 111 pequenas e médias cidades, duas delas (Londrina e Maringá) hoje com características de “pequena metrópole”.

Não por acaso, esse vasto processo de ocupação e assentamento planejados é tema permanente de estudo por parte de uma importante rede de pesquisadores, urbanistas e geógrafos principalmente, oriundos em sua maioria das Universidades de Londrina e Maringá, cujos produtos constituem em si mesmos uma consistente refutação da origem desenvolvimentista do planejamento regional em nosso país. 

Um desses produtos, que aqui introduzo, é o artigo “A integração cidade-campo como esquema de colonização e criação de cidades novas: do Norte Paranaense à Amazônia Legal” (2015), de autoria do professor Renato Leão Rego, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Maringá [2]

Partindo de uma sugestão do geógrafo norte-americano Martin Katzman [3], Rego propõe o Plano de Colonização da CTNP, de inícios da década de 1940, como referência para os projetos de ocupação da Amazônia e de colonização da Gleba Celeste, no norte do Mato Grosso, ambos da década de 1970, o primeiro por iniciativa direta do INCRA, o segundo a cargo da Colonizadora SINOP (Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná). 

Quero crer que , desse modo, embora não reivindique o Plano de Colonização da CTNP como “marco zero” do planejamento regional brasileiro, Rego ao menos implicitamente o coloca como um referente primordial. 

Será, nesse caso, o olhar do geógrafo, ou do urbanista-historiador, mais abrangente e perspicaz que o do economista?

O leitor interessado na história do urbanismo brasileiro encontrará na contribuição de Rego um relevante trabalho de recuperação das propostas e desenhos do arquiteto José Camargo, ligado desde 1955 ao antigo Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) – órgão público federal antecessor do INCRA -, para a “ocupação planejada da bacia amazônica” (Urbanismo Rural). Verá, também, um conjunto de indicações para o projeto da Gleba Celeste, proposto pela Colonizadora SINOP a partir de projeto elaborado pelo engenheiro civil Roberto Brandão, egresso da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, em 1954.


Clique na imagem para ampliar 

Abstenho-me de comentá-los para me deter um momento no meu tema - a proposição central do artigo, apresentada no Resumo:
Ao analisar o Urbanismo Rural, este trabalho mostra que os elementos comuns entre o projeto do INCRA e o esquema da colonização norte-paranaense são precisamente  aqueles derivados do ideário garden city. Notando a adaptação ao empreendimento privado de colonização e à política governamental, este trabalho constata como a ideia original de Ebenezer Howard contribuiu para a ocupação planejada do interior do país[meus destaques]
Na primeira postagem da série “As Sete Vidas da Cidade Jardim”, em construção neste blog, [4] defendi a proposição do professor Renato Rego de que o desenho urbano de Maringá foi influenciado não pela cidade-jardim howardiana, mas pela sua variante parker-unwiniana, nascida, com indiquei mais tarde, das exigências da indústria da suburbanização na Inglaterra de fins do século XIX e por isso esvaziada de sua abrangência regional e seu conteúdo socialmente reformador. Desde então, formei a opinião de que a o programa de Howard é muito mais claramente um pioneiro do regional planning do que do urban design

Explico. 

Embora enriquecido com conceitos e esquemas de desenho urbano que lhe renderam fama duradoura e prestígio mundial, o construto de Howard é essencialmente uma resposta programática à irrefreável migração de trabalhadores do campo para as grandes cidades inglesas. Seu propósito é a ocupação do espaço rural do país por uma rede de pequenas e médias cidades limitadas em população e densidade, funcionalmente autossuficientes e ambientalmente atrativas para o migrante rural, separadas entre si por cinturões agrícolas (green belts), interconectadas por ferrovias e, muito importante, autogeridas e financiadas pela valorização do solo. Essa rede de cidades foi por ele mesmo batizada “social city” na edição de 1898 de seu livro To-morrow: a Peaceful Path to Real Reform - uma dimensão crítica do programa da cidade-jardim quase sempre omitida por seus adeptos. Por essa razão, Howard é por muitos considerado, creio que com certa justiça, o precursor do ambicioso programa de cidades novas britânicas do pós-II Guerra Mundial - não mais destinado a atrair levas migratórias rurais em busca das áreas centrais das grandes cidades, mas a absorver excedentes de população urbana demandantes dos subúrbios em acelerada expansão.

Concluí, nessa ocasião, que as perguntas mais idôneas a propósito da influência de Howard no noroeste paranaense não dizem respeito ao desenho urbano de suas cidades, mas a se (1) o Plano de Colonização da CTNP tem raízes na tradição britânica do planning, (2) em que aspectos estaria materializada essa influência e, finalmente, (3) se ele guarda alguma relação com a social city howardiana. 

O artigo de Rego aqui apresentado responde, enfaticamente, sim ao terceiro quesito, passando ao largo do primeiro e resolvendo o segundo, a meu ver, com base em elementos circunstanciais e analogias conceituais.[5] 

Será de fato o Plano de Colonização da CTNP, de 1939, uma “adaptação do ideário da garden city”? Será válido dizer, que “propagando-se, o diagrama de Howard permitiu a conformação urbana do norte do Paraná” e que, “nos anos 1940, esse esquema inicial [howardiano] de cidade social foi adaptado à nova situação do empreendimento norte-paranaense e ao contexto nacional contemporâneo”? Será razoável afirmar que “enquanto o esquema de cidade social  viu nascer uma dezena de cidades novas planejadas no norte do Paraná, o esquema de cidades satélites, impulsionado pela cultura cafeeira, deu margem a quase uma centena de novos núcleos urbanos”? [meus destaques] [6]

Não estaria o professor Leão Rego transportando do plano do desenho urbano para o do planejamento regional, à maneira de Hall [7], o poder demiúrgico de Ebenezer Howard de moldar o desenvolvimento futuro dos assentamentos urbanos ocidentais? [8]

Inquestionavelmente, as concepções de organização espacial e urbanismo de Camargo para a Amazônia dos anos 1970 são um capítulo obrigatório da história do planejamento urbano e regional no Brasil e sua árvore genealógica matéria de relevante interesse teórico. Esta é, por si só, um notável qualidade da contribuição de Rego. Nessa investigação, a influência howardiana é uma hipótese de trabalho perfeitamente válida. 

São patentes as conexões do Urbanismo Rural de Camargo com as tradições do saber urbanístico moderno - a rede urbana hierarquizada de Howard, o regionalismo de Geddes, o urbanismo ambiental de Radburn, o racional-funcionalismo da Carta de Atenas. O plano de ocupação da Gleba Celeste promovido pela SINOP, por sua vez, remete claramente às diretrizes do Plano de Colonização da CTNP, baseado no fracionamento da gleba em pequenas propriedades rurais dispostas entre as águas dos fundos de vale e as estradas vicinais nos espigões, cabendo à ferrovia, instalada na linha de cumeada, conectar entre si os núcleos urbanos e escoar a produção. 

Juntar tudo isso numa "matriz howardiana" é que não me parece tarefa das mais simples. Por quê? 

Porque julgo problemático estabelecer-se tal conexão sem uma apreciação rigorosa das imensas diferenças de contexto histórico, de conteúdo programático e, principalmente, de objetivos e expectativas dos agentes promotores dos respectivos empreendimentos, aos quais estão inapelavelmente vinculados os autores dos projetos. 

A remissão a um modelo especulativo de um passado a essa altura remoto é um procedimento de projeto muito mais provável, e inteligível, em um programa estatal de forte viés político-administrativo, sob a égide do regime militar-burocrático de 1964-85, do que em um empreendimento privado regulado pela expectativa de retorno econômico a médio prazo – por mais ilustrado e presciente que seja o empreendedor.

No que tange ao Plano de Colonização da CTNP, não vejo como indício suficiente de sua gênese howardiana o fato de que 
“o esquema de colonização pode ser verificado nos poucos planos remanescentes, na proposta do traçado da ferrovia e nos projetos urbanos elaborados por engenheiros e agrimensores – a maioria imigrantes –, mas submetidos à aprovação do escritório londrino da empresa”. (REGO, pág. 95)
E me pergunto: como poderia um modelo de descentralização urbana, com fama de utópico, para o país mais industrializado do mundo de fins do século XIX, tornar-se, 40 anos depois, sem deixar disso qualquer rastro documental, a matriz de um projeto privado de colonização rural num país sul-americano ainda escassamente urbanizado e mal desperto para o processo de industrialização?

Embora não tenha meios de demonstrar o contrário, tampouco previsão de tornar ao assunto a curto prazo, devo admitir que encaro com ceticismo a proposição central de Rego. Primeiro, pela falta de registros documentais da conexão entre a social city howardiana e o Plano de Colonização da CTNP. Segundo, porque em várias contribuições sobre o tema, incluindo este mesmo artigo, abundam exemplos de diferenças entre o Plano de Colonização e o programa howardiano - quanto ao crescimento limitado das cidades, quanto ao design, quanto à base industrial, quanto à existência e função dos green belts e quanto à destinação - rigorosamente oposta - da renda do solo: ao passo que o modelo howardiano propõe recuperar todo o excedente da cobertura de custos de construção e financiamento para a gestão, manutenção e melhorias das cidades-jardim, o esquema da CTNP tem como finalidade precípua a apropriação da totalidade da mais-valia fundiária rural e urbana como lucro privado. Terceiro, porque eu apostaria muito mais fichas nos vínculos do Plano da CTNP com as experiências britânicas de expansão da fronteira agrícola em suas coloniais asiáticas e africanas do que com uma especulação espacial temporã voltada à descentralização urbana da Grã-Bretanha. 

A propósito desse último aspecto, a melhor pista nos é fornecida pelo próprio Rego em seu livro de 2009 As cidades plantadas: os britânicos e a construção da paisagem do norte do Paraná. Simon Fraser, 14o. Lorde Lovat, sócio principal da colonizadora britânica Parana Plantations, era também, nessa mesma época, proprietário promotor do empreendimento algodoeiro sudanês conhecido como Projeto Gezira, baseado no arrendamento de uma grande área de concessão estatal na bacia do Nilo a pequenos e médios lavradores. Não por acaso, seus planos iniciais para o nororeste paranaense tinham a ver com a cultura do algodão, não do café. [9] [10]

A social city howardiana é, em sua concepção, um modelo para a reestruturação do espaço nacional inglês sobre a base da urbanização e da indústria, impraticável senão pela iniciativa do Estado central a despeito das simpatias cooperativistas de seu criador, ao passo que a colonização do noroeste paranaense nasceu como empreendimento privado rural de alcance regional apoiado por uma rede de núcleos urbanos - sendo esta a razão da ausência de autênticos green belts -, ainda que a relação campo-cidade possa ter se invertido com o passar dos anos, mais ou menos inexoravelmente como pareça ao observador de hoje. 

De todo modo, ressalvados a necessidade de uma crítica retrospectiva do plano da CTNP segundo um viés histórico-ambiental e as limitações inerentes ao planejamento urbano e regional em âmbito privado, estou totalmente de acordo com Rego em que “a estratégia de ocupação planejada do norte paranaense foi prontamente reconhecida pelos seus modos modernos de colonização” e que, do ponto de vista técnico, (..) ela é “uma bem-sucedida experiência de colonização e planejamento regional coordenados”. 

Temos aqui, talvez, o primeiro e único caso brasileiro de construção deliberada de uma rede de cidades, iniciada, por necessidade do plano de negócios, como estrutura linear: entre 1929 e 1947 foram fundados, ao longo de uma mesma estrada de ferro e em uma sequência temporal quase perfeita, os núcleos urbanos de Londrina, Cambé, Rolândia, Arapongas, Apucarana, Jandaia do Sul, Mandaguari, Sarandi e Maringá. 

Ouso dizer, a despeito de minha ignorância da matéria, que todas as demais redes de cidades estudadas na geografia brasileira são produto “natural” de ciclos econômicos bem determinados. Ocorrem-me a rede urbana do ciclo do ouro mineiro no século XVIII, as cidades cafeeiras do Vale do Paraíba no século XIX, a rede de centros agro-industriais do interior paulista no século XX e a rede urbana do agronegócio de grande escala do Centro-Oeste no Brasil na virada do século XXI.

Sou tentado a concluir que o Planejamento Regional brasileiro começou no Noroeste paranaense e, para bem ou para mal, por iniciativa estrangeira e mediante a concessão de um considerável pedaço do território nacional a um mega-empreendimento urbano-rural privado. 

Eventuais analogias com certa classe de Grandes Projetos Urbanos contemporâneos talvez não sejam fortuitas, mas manifestação da recorrência, em condições sempre renovadas, dos grandes ciclos econômicos. 

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NOTAS


[1] Por intermédio da CTNP, sua subsidiária brasileira, a empresa britânica Parana Plantations adquiriu diretamente do governo do Paraná 415.000 alqueires em outubro de 1925, ao preço de 8.712 contos de réis; entre 1925 e 1927 comprou 90 mil alqueires de fazendeiros e empresas de capital menor, somando cerca de 515 mil alqueires de terra roxa, em terreno praticamente plano, situadas entre os rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí. No início da década de 1950, a CMNP adquiriu também a Gleba Umuarama situada a oeste da gleba inicial, com 30 mil alqueires. (NUNES 2017 [11])

[2] REGO R L, “A integração cidade-campo como esquema de colonização e criação de cidades novas: do Norte Paranaense à Amazônia Legal”. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V.17, N.1, p.89-103, Abr 2015.

[3] KATZMAN, M. T., Cities and frontiers in Brazil: regional dimensions of economic developmentCambridge: Harvard University Press, 1977.

[4] JORGENSEN P, "As sete vidas da cidade-jardim". À beira do urbanismo (blog), 03-08-2017 
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2017/08/a-sete-vidas-da-cidade-jardim.html

[5] “Ainda que a Companhia de Terras e a Parana Plantations pouco ou nada divulgassem de seu plano de colonização no tocante ao aspecto da urbanização da região, a sua prática parece atestar a afinidade com as ideias britânicas do town planning.” REGO, R L, As cidades plantadas : os britânicos e a construção da paisagem do norte do Paraná. Maringá : Edições Humanidades, 2009. https://www.passeidireto.com/arquivo/26626459/as-cidades-plantadas-os-britanicos-e-a-construcao-da-paisagem-do-norte-do-parana

[6] Seção “Howard nos Trópicos: o esquema de colonização norte-paranaense”

[7] HALL P, Cities of Tomorrow [1988], edição atualizada Blackwell, Londres 1996, Capítulo 1: "Cidades da Imaginação”

[8] Demiurgo. Rubrica: filosofia. Segundo o filósofo grego Platão (428-348 a.C.), o artesão divino ou o princípio organizador do universo que, sem criar de fato a realidade, modela e organiza a matéria caótica preexistente através da imitação de modelos eternos e perfeitos (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Tornarei ao tema no quarto artigo da série "As sete vidas da cidade-jardim", dedicado à suburbanização das grandes cidades norte-atlânticas de fins do século XIX e sua relação com a cidade-jardim howardiana.

[9] REGO R L, “A integração cidade-campo como esquema de colonização e criação de cidades novas: do Norte Paranaense à Amazônia Legal”. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V.17, N.1, p.89-103, Abr 2015.

[10] NUNES Layane, “Os investimentos na colonização do norte do Paraná direcionados pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, e a comercialização das terras”, II Congresso Internacional de Política Social e Serviço Social: desafios contemporâneos, Julho de 2017, Londrina PR.

[11] NUNES, Layane (UEM), "A Companhia de Terras Norte do Paraná e a não obediência ao seu plano geral de colonização”. Anais do III SUUB, Recife Set 2017, pp 214-230. 

2019-11-01